Monthly Archives: August 2009

Morre o Leão do Senado Americano

 

 

New York- Morreu ontem à noite o “último” dos Kennedys. Irmão mais novo de John e Bob (ambos assassinados), Ted foi um dos maiores combatentes a favor dos direitos humanos.

Todos sabíamos que já estava muito mal, sofrendo de um tumor no cérebro, tanto é que não conseguiu participar da campanha do Presidente Obama o quanto quis participar.

Num jantar estratégico (e Obama já eleito) na Casa Branca, servido para pouquíssimas pessoas, Ted passou muito mal e teve que ser retirado.

Os Kennedys têm ou tiveram uma vida trágica e uma complicada relação com o álcool. No caso de Ted Kennedy o álcool provocou um acidente de carro em Chappaquiddick, em que sua secretária (e amante) acabou morrendo. Ele nadou e se salvou. E isso quase lhe custou a carreira política.

O namoro com a morte entre os Kennedys é tão famosa quanto é triste e inclui aqueles que se agregam à ela, como Jackie ou a família Shriver: na medida oriental do yin e yang, eles são tão fortes quanto são fracos.

Robert Kennedy, o irmão do meio, assassinado em 1968, teria sido um dos maiores lideres e pensadores políticos desse país. Sua causa era justamente a de quebrar a barreira da cor (naquela época), do preconceito racial. Ted, de certa forma seguiu seus passos, mas timidamente.

Até os Republicanos o respeitavam. Coisa rara num país dividido entre conservadores e liberais.

O “leão do Senado”, como era chamado, conseguia alianças em todas as áreas porque era um homem brilhante e porque vinha de uma família brilhante! E não media esforços em sua própria batalha no campo dos direitos civis ou da educação e da saúde.

Agosto ou o câncer? Ou os dois? Tem sido triste que – quarenta e cinco anos depois que seu irmão mais velho, John, iniciou o projeto que iria colocar o homem na Lua, ainda estamos perdendo pessoas notáveis e não notáveis para o câncer! É de dois em dois dias, abrir o jornal pra ver a desgraça!Michael Jackson, Pina Bausch, Merce Cunningham, Eunice Shriver, Walter Cronkite, Don Hewitt e…

Ted Kennedy disse, na posse de Obama: “Eu vi a luz”. Qual terá sido ela? A “era Obama” ou a luz que vem com a morte?

Gerald Thomas

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Um dia na (in)Justiça Brasileira

Quando se “vive” Kafka

New York– Há uns 9 anos eu devo ter cometido um enorme ERRO: falei a verdade.

E me “pegaram”. Logo eu que posso dizer absurdos no palco, onde não existem limites verbais ou visuais, fui “pego” numa entrevista coletiva em Curitiba. Mais especificamente: numa entrevista ligada ao Festival de Teatro de Curitiba, no ano 2000, quando o mundo ainda era outro e brincávamos de brincar. Já haviam se passado décadas desde a minha “Trilogia Kafka” (que viajou o mundo). Já haviam se passado mundos desde o meu encantamento por esse autor que transcendeu a figura humana logo na primeira página e, assim, Gregor Samsa, acorda um inseto.

Mas em Curitiba foi assim: cheguei, como sempre chego, daqui de NY, exausto, depois de baldeações, conexões em aeroportos e vôos atrasados. “Eu queria subir pro quarto e tomar um banho rápido, trocar de roupa, já que estou em transito faz umas 16 horas”.

Cheguei lá em cima e não tinha água quente. A cidade estava fria. A janela não fechava. E não tinha papel higiênico. Deixei a água do chuveiro (na verdade, uma jacuzzi), correr por algum tempo… e nada. Caguei, literalmente, sem papel, e fui me lavar na água gélida do tal hotel. Morri de frio, especialmente ao sair. Batendo os dentes, percebi que as antigas janelas não fechavam.

Bem, desci pra coletiva (uns 20 ou 25 jornalistas me esperavam) e alguém passava o aspirador de pó bem ao lado dessa sala. Além do mais, as janelas dessa sala também não fechavam.

Bem, eu não estava de bom humor.

Um jornal local noticiou passo a passo do meu mau humor e relatou as minhas reclamações, uma a uma.

Meses depois, no Rio, uma oficial de Justiça veio ao Sesc- Copacabana entregar uma intimação, ou sei lá como chama isso.

Liguei pra amigos (já que, na época, eu não tinha advogado no Brasil), e me indicaram alguém. Bem, relaxei.

Anos se passam e nada ouço. Nada.

Assim como no Processo de Kafka, durmo um sono tranquilo do Joseph K. quando sou acordado, em 2007, por uma voz alarmante dizendo que “minha conta havia sido bloqueada pela JUSTIÇA BRASILEIRA”.

Como?

Fomos falar com o gerente do banco, que, mexendo no seu computador, descobriu se tratar de um processo que “perdi” em Curitiba. Um hotel havia me processado. E havia processado o jornal que havia publicado que “não havia papel higiênico, as janelas não fechavam e não havia água quente”. Tudo isso num caderno cultural e não turístico, ou seja: ninguém iria deixar de ir ao maldito hotel por causa das minhas declarações.

Ah sim. O tal advogado que me indicaram. Um alcoólatra que perdeu todas as datas. Não foi a audiência nos dias certos e não isso e aquilo e.. portanto, perdi.

O resultado por me expressar? Algo em torno de 83 mil reais. Como não tenho esse dinheiro, coloquei um outro advogado atrás do erro do primeiro. Dias atrás, descobri que em TODAS as instâncias, não tem jeito mesmo. Nao poderei pagar e jamais poderei ter conta no Brasil.

Surreal? Kafkiano?

Tenham todos um bom dia Sarney Brasileiro!

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Gerald Thomas

 

AGORA NOTEI QUE OS COMENTARIOS ESTAO DIVIDIDOS EM PAGINAS 1,2, 3 E 4. NOTEI POR ACASO

VAMOS MANTER A CALMA: ESTAMOS SENDO “RATOS DE LABORATORIO” DE ALGUM EXPERIMENTO BIZARRO

LOVE

G

PS de domingo 2 PM do BR

NAO ERA A TOA QUE EU ESCREVI UM POST KAFKIANO. AGORA ESTAMOS TODOS PRESOS.

PS 

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O Reality Show do Woodstock + materia do G1

 

 

New York – Pois é! Quarenta anos se passaram. Mas quarenta anos se passaram desde o homem na Lua, desde que os Beatles isso e aquilo, desde o assassinato de JFK, desde…

 

Quando é que vamos parar de contar ou contabilizar numericamente as coisas, os eventos? Daqui a pouco serão 50 anos.

 

Então, voltando  a Woodstock, sim, peguei o último dia. A maior parte já estava voltando e eu ia na contramão. Com 15 anos de idade nas costas (mas me sentindo maduro como uma Susan Sontag) subi a colina e coloquei os pés na lama e… e o quê?

 

Encontrei um lugar sereno, com menos de meio milhão de pessoas, onde “tudo era permitido”.

 

E esse “tudo era permitido” não é uma questão tão simples. Pelo menos não era. Um ano antes, 68, foi pauleira. As polícias do mundo inteiro pegaram estudantes e manifestantes do mundo inteiro de PORRADA!

 

“Como pode então uma polícia passiva?”, pensava eu, vendo todo mundo fumando seus joints e tanta gente nua, muitos trepando ali, em tendas abertas.

 

E hoje? Como estamos?

 

Estamos bem? Bem, não tivemos ainda nenhuma GUERRA MUNDIAL, então, por esse termômetro, estamos… razoavelmente bem.

 

Mas, culturalmente, estamos PÉSSIMOS! Duchamp, que morreu em 68, e que já havia ironizado a pintura e arte em geral, não podia prever que em 2009 estaríamos com 2000 (dois mil) canais a cabo mostrando merda. E qual merda? Reality shows do PIOR NÍVEL ou então, o que é mais triste ainda, quando comparado a Woodstock, o tal “Vale Tudo”, the Ultimate Fighting, onde homens enjaulados se atracam e partem pra cima dos outros com toda espécie de golpes e sangue e quebras de tudo que seria um avanço, aos urros do público! Uau!

 

Ficamos mais cínicos, mais hipócritas e mais imbecis: claro, os demographics do mundo duplicaram! A maior parte do mundo encaretou! E nem sabe direito que Woodstock não foi somente uma grande festa e celebração de uma geração que levava porrada por PROTESTAR contra a guerra do Vietnam e lutar pela PAZ. PEACE, Man, Peace! Não se tratava simplesmente de um conglomerado de meio milhão de pessoas celebrando a paz (e em paz), debaixo de chuva ou sol, ao som de Hendrix, do Who, de Crosby, Stills, Nash and Young e Joplin e Santana e Country Joe and the Fish e tantos outros: tratava-se de uma afirmação! Estávamos mudando o rumo do mundo.

 

Mudamos?

 

Nada.

 

O ser humano mata golfinhos, esses seres que falam conosco.

 

O ser humano mata racoons (espécie de cães: os dois posts abaixo) e lhes arranca a pele enquanto VIVOS, ao som de Hendrix.

 

Se mudamos o rumo do mundo, mudamos esse mundo por três dias. Ou nos nossos sonhos, assim como numa peça de Shakespeare. O encantamento dura enquanto o espetáculo dura. E foi somente isso. O resto? É a glorificação do passado. Somos, como sempre fomos, um Weapon of self Destruction. E isso não poderemos medir em quarenta anos.

 

 

Gerald Thomas

 

 

 

 

(Vamp na edição)

 

Matéria do G1: Gerald Thomas em Woodstock: ‘melhor show foram 8 violões e uma lata de lixo’

Dramaturgo diz ao G1 que esteve no festival quando tinha 15 anos.
Brasileiros que viveram a época refletem sobre efeitos na contracultura.

O diretor e dramaturgo Gerald Thomas (Foto: Agência Estado) 

 

 

“Cheguei no último dia, algumas pessoas estavam indo embora, mas eu encontrei muita gente ainda lá. Hoje se fala entre 400 mil e 500 mil pessoas. Na época, a gente não pensava assim – pensava: ‘meu Deus, quanta gente, que loucura!’”.
 
A recordação é do diretor e dramaturgo Gerald Thomas, que diz ter estado em Woodstock no último dia do festival (domingo, 17 de agosto de 1969). Nascido em Nova York, em 1954, o diretor de “Um circo de rins e fígados” e “Príncipe de Copacabana” veio ainda bebê para o Rio de Janeiro com a família. Aos 13 anos de idade voltou para a Grande Maçã e tinha 15 anos quando pegou a estrada rumo ao festival em Bethel, comunidade rural no estado de Nova York.

“Uma das lembranças mais fortes que eu tenho, além da lama e do fedor, foi a passividade dos policiais diante de tudo o que estava acontecendo. Pouco tempo antes, a polícia espancava pessoas em Berkeley. [Woodstock] foi o momento em que eu – e, acredito, muita gente – pensei: ‘Caramba, o mundo está mudando’. A impressão era nítida, como nunca tinha sido antes”, conta Thomas em entrevista por telefone ao G1, de Nova York, onde mora atualmente.

Fã de Jimi Hendrix e The Who (que tinha esperanças de ver ao vivo – o que não aconteceu, uma vez que a banda se apresentou no dia anterior), Thomas diz que sua apresentação musical favorita no festival não aconteceu no palco principal, no centro da fazenda. “Foi de um grupo de pessoas sentadas no gramado, não foi no palco. Acho que eram oito violões e uma lata de lixo virada ao contrário usada como tambor. E era um som absolutamente impressionante. Nunca vou saber quem eram.”

O diretor lembra que a cena era comum. “Durante a troca das bandas, a gente não tinha muito o que fazer, demorava horas, às vezes quase duas horas. E as pessoas iam se aglomerando em volta desses pequenos grupos. Fiquei perto desse grupo e achei uma coisa incrivelmente linda.” 
 


Público no Festival de Woodstock (Foto: AFP/AFP)

Paz, amor… e brigas
Por outro lado, Thomas não acredita que houve em Woodstock tanta paz e amor quanto é lembrado por alguns dos frequentadores. Segundo ele, havia brigas acontecendo na plateia. Como exemplo, ele cita o caso do ativista Abbie Hoffman, que foi expulso do palco pelo The Who, no sábado.

“Não vi porque cheguei no dia seguinte, mas foi o próprio Hoffman quem me contou a história mais tarde. Ele havia subido no palco para denunciar o Who como ‘vendidos’ e começou a fazer um discurso. O Pete Townsend [guitarrista da banda], que é um cara imenso de grande, deu-lhe uma guitarrada e jogou o Hoffman para fora do palco. Em 1971 saiu o disco ‘Who’s next’ com a música ‘Won’t get fooled again’ e o verso: ‘Conheça o novo chefe/ É igual ao velho chefe’”.

Thomas se mostra, em certa medida, decepcionado e cético em relação às mudanças provocadas pela contracultura. “O que aquela geração se tornou? Um bando de loucos que jogam na Bolsa de Valores e transformam a bolsa nisso que você viu acontecer em setembro, outubro do ano passado. Um monte de companhias falidas, uma economia desastrosa. Ou seja, nada mudou, porque o ser humano é assim.”
 
‘Sabíamos que a dor estava lá fora’
Assim como Gerald, outros brasileiros que viveram a época lembram de Woodstock como um marco, um divisor de águas. Joel Macedo, escritor e correspondente da primeira versão da revista “Rolling Stone” brasileira, entre 1972 e 1973, morava na Califórnia em 1969 e não conseguiu atravessar o país para chegar a Woodstock, mas sentiu seus efeitos.
 
Macedo enxerga no festival um componente político importante. “Woodstock até foi sexo, drogas e rock‘n’roll, mas foi também o grito de uma geração contra o sistema capitalista (…). As pessoas quebraram as cercas que afastavam o festival do povo, invadiram a fazenda e transformaram um evento que teria um lado comercial numa mega e mitológica celebração tribal. Não foram os superstars que fizeram do Festival de Woodstock um mito, foi o povo”.
 
De Bethel à Mooca
Com a barra pesando na ditadura no Brasil e as mudanças significativas que ocorriam no exterior – com Woodstock à frente, mostrando a nova força do movimento hippie –, muitos brasileiros partiram para o exílio, imposto ou voluntário. Foi o caso do artista plástico Antonio Peticov, que, preocupado com o regime militar nacional se auto-exilou em Londres em 1970, em partes, inspirado por Woodstock.

“Na época as informações chegavam lentamente para nós no Brasil, era complicado. Então, para um garoto de classe média baixa da Mooca (bairro de São Paulo) saber que aconteceu um festival daqueles, programado para 50 mil pessoas e para o qual chegaram 500 mil, foi um estalo: ‘somos uma nação!’.”

Peticov acabou indo ao festival da Ilha de Wight na Inglaterra em 1970, onde encontrou os amigos Gilberto Gil e Caetano Veloso. “Foi uma coisa mágica”, define. Mas, apesar dos ótimos shows e de conhecer uma “nação hippie” maior ainda (o público total de Wight foi de 600 mil pessoas), o artista percebeu que o clima já havia mudado. “Lá já havia o grande problema da questão do comércio. Todo mundo ganhando dinheiro às custas dos hippies”.

Thomas também concorda que Woodstock foi diferente de outros festivais. “Foi um evento quase espontâneo, eu não sei o que reuniu aquelas pessoas. Porque foi único. Altamont não foi assim, Monterrey não foi assim, o festival da ilha de Wight não foi assim. Ele foi único na sua vontade de mostrar para o mundo que a nossa geração tinha força.”
 


Americanos reunidos para a posse de Barack Obama, em janeiro de 2009 (Foto: AFP)
 
‘Obamastock’
O diretor acredita que o festival não foi só um marco mas que é algo que precisa voltar a acontecer. “George Bush foi um retrocesso tão grande que voltamos à uma época pré-Woodstock. Agora com Obama no poder a gente vai avançar de novo no tempo. Teria que haver um novo Woodstock”.

A referência ao novo presidente dos EUA não é à toa – Thomas trabalhou por um ano na campanha do democrata. E acha que encontrou seu próprio “novo Woodstock”, maior e mais inclusivo. “Com a vitória do Obama eu desci para Washington no dia 20 de janeiro (dia da posse do presidente) e chegando lá eu disse, por alguns minutos: ‘isto aqui é Woodstock no inverno’. Um Woodstock com um p… frio, mas ninguém estava sentindo frio, estavam todos sentindo um enorme calor humano. E era quatro vezes Woodstock, porque eram dois milhões de pessoas”, compara.
 

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Nojo!

 


Miami – Essa série de fotos (que o Pacheco me enviou) de matança de golfinhos ou pequenas baleias (não sei ao certo) me deixou num estado de… de que nada mais vale a pena: de que somos uma raça de merda mesmo! E isso, cometido pelos Dinamarqueses! Apresento-me na DK desde 1990, com certa regularidade. Conheço seus atores, seus ministros da Cultura, seu público. E confesso que não dá!

 

Temos leis, não temos? O ultimo post (aqui embaixo) gerou enormes discussões: sobre a “liberdade de se expressar” fumando ou não!

 

Muitos dinamarqueses dirão que “vivem” da pesca. E que é um livre direito deles cometerem esse tipo de “GENOCÍDIO” absurdo que vemos nas fotos: esse Mar Vermelho, quase bíblico.

 

Aliás, muita gente vive de muita coisa. E mais da metade desse trabalho é “bárbaro” no sentido do primitivismo da coisa, da barbárie da coisa. Eu, particularmente, cheguei num certo limite: não aguento mais.

 

Não sei se porque a data de hoje me lembra a morte da minha mãe, ou a minha covardia em enfrentá-la (a morte), ou em enxergar esses movimentos obsessivos e redundantes nos quais nos vemos envolvidos (M.O.R.T.E. espetáculo meu de 1990, vai fazer 20 anos).

 

Crise. Crise total.

 

As praias de South Beach estão vazias pra essa época do ano: o calor está completamente insuportável. E estou numa dessas fases onde não acredito mais em nada: leio os jornais ou ligo a TV e é tudo sempre igual: as mesmas discussões sobre isso ou aquilo.

 

Somos mínimos. Somos ainda menores que mínimos. E imperfeitos. E eu, ainda sob o impacto daquele auto-retrato de Rembrandt, feito aos 55 anos de idade, continuo minha jornada não sei como.

 

E esse “não sei como” está repleto de dor.

Dor do mundo, como se diz. Não combina muito com o mar de Miami e com a beleza da “cultura do corpo” daqui, com a nudez do lugar, com os corpos bronzeados, já que vejo tudo como uma breve passagem. Uma breve interrupção.

 

Como seres humanos, sempre nos posicionando de maneira tão rígida, numa fila de opiniões disso ou daquilo, a favor disso ou daquilo outro, me sinto como se estivesse num enorme campo de futebol, cercado de mil jogadores felizes, por terem essa tal de bola que eu não consigo enxergar.

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Gerald Thomas

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(O Vampiro de Curitiba na edição)

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Cortina de Fumaça

        

São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009 

              

 

Cortina de fumaça

Ecoando discurso de um fumante inveterado, seu personagem em “Restos”, monólogo de Neil LaBute que estreia em São Paulo dia 20, ator Antonio Fagundes critica a Lei Antifumo e diz que vai “peitar” a medida e acender cigarro em cena

 

Rafael Hupsel/Folha Imagem

Antonio Fagundes, 60, que vai estrelar o monólogo “Restos’, sob direção de Márcio Aurélio; ator encarna fumante que, durante velório, relembra a relação com sua mulher, vítima de câncer
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LUCAS NEVES

 

DA REPORTAGEM LOCAL 

 

Se todo ator incorpora traços dos tipos que interpreta, parece que Antonio Fagundes, 60, escolheu o que levar de seu personagem em “Restos”, de Neil LaBute, antes da estreia no dia 20, em São Paulo, no teatro Faap: o ataque à patrulha antitabagista.
Em cena, dirigido por Márcio Aurélio (“Agreste”), ele encarna um fumante inveterado que repassa -com suspiros saudosistas e certa birra dos modos contemporâneos- as fases de sua relação com a mulher cujo corpo está sendo velado.
Ela morreu de câncer, ele está na fila. Pouco importa. “Guardem seus panfletos ou qualquer outra merda sobre o assunto, ok? A vida é minha, pelo menos o que resta dela”, diz à plateia.
O texto de LaBute é farto em rubricas que pedem um cigarro à mão. Mas a Lei Antifumo que entra vigor na sexta no Estado de São Paulo impede que atores fumem em cena sem autorização judicial. É aí que Fagundes toma emprestado o tom incisivo do personagem:
“Vou peitar isso e fumar. Temos um problema de censura. É um precedente grave se a gente não fala nada. Fiquei surpreso que os fumantes tenham ficado quietos. O brasileiro está muito quieto para tudo. Espero que os fumantes não votem nas pessoas que aprovaram essa lei. É engraçado, porque parece que o [governador José] Serra é ex-fumante. Não tem coisa pior do que ex”.
Para Fagundes, “começa assim; amanhã, vão dizer que não pode beijar na boca porque passa gripe suína; depois, não pode mostrar assassinato [em cena], porque é contra a lei. As pessoas ainda não perceberam, a liberdade não se perde de uma vez. Os puritanos proibiram o teatro na Inglaterra por décadas pois achavam que era satânico. Caminhamos para isso”.
Sem patrocínio para a montagem de “Restos”, o ator também tece críticas ao debate sobre a reforma da Lei Rouanet, que concede às empresas que investem em produções artísticas isenção de parte do Imposto de Renda devido.
“As pessoas que redigem a lei deveriam entender o mecanismo de produção de teatro, saber quanto custa manter um espetáculo em cartaz, anunciar num jornal. Não tem ninguém nessas comissões que já tenha feito teatro? [Quando se fala em mudar a lei] Dá a impressão de que é um movimento rancoroso, do tipo “só estes caras que não precisam [por serem famosos] recebem dinheiro”. É claro que precisam!”
Por conta das restrições previstas na Rouanet aos gastos com divulgação, os espetáculos estreiam, segundo Fagundes, com “morte anunciada”. “Você fica em cartaz por pouco tempo. Ou seja, se antes se falava em espetáculos de elite, agora são peças para a elite da elite, porque não são só para quem pode pagar, mas para quem corre para pagar”, observa.Seu Zé e Dona Maria
Ao longo dos 43 anos de carreira teatral, transitou com desenvoltura entre a dramaturgia engajada do Teatro de Arena, musicais da Broadway, montagens de clássicos (como “Macbeth” e “Gata em Teto de Zinco Quente”) e empreitadas de risco, como “Carmem com Filtro”, estreia de Gerald Thomas na cena paulistana. Sempre com uma piscada de olhos para “seu Zé e dona Maria” -como se refere ao espectador pouco familiarizado com teatro.
“Estamos acostumados a ensinar filosofia a quem não sabe ler. Parte-se do princípio de que quem foi lá [ao teatro] sabe tudo”, afirma. “Defendo a tradição teatral para um público que não a conhece. Sempre pensei assim: só vou fazer experiência na minha vida quando tiver feito o resto todo. No Brasil, parte-se para a inovação antes de se ter experiência.”
Daí seu descontentamento com o abandono “da cortina, da sala convencional”. “Criaram-se espaços que não são teatros. Você pode inovar sem deixar de dar ao público conforto. Já cansei de sentar em cima de prego. Não acho interessante. A gente não tem mais maquiagem, grandes figurinos, cenários, efeitos. O próprio texto deixou de ter surpresas.”
Não é o caso de “Restos”, dotado de uma reviravolta que, nos momentos finais, atira no colo do público um segredo oculto pela cortina de fumaça. 

 

Proibição do cigarro no teatro incomoda artistas

Lei que entra em vigor esta semana exige autorização judicial para fumar em cena

Exceção a cultos religiosos não se aplica a espetáculos cênicos; para atores e diretores, legislação ameaça liberdade artística

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Onde tem fogo tem fumaça. E é na boca de cena que a coisa começa a esquentar. A partir de sexta-feira, dia 7 de agosto, entra em vigor em todo o Estado de São Paulo a lei que proíbe fumar em ambientes fechados de uso coletivo.
No extenso rol de lugares proscritos estão cinemas, bares, lanchonetes, boates, restaurantes, hotéis, centros comerciais, bancos, supermercados, açougues e… teatros.
Quem quiser acender um cigarro, cachimbo ou charuto “cenográficos”, deverá pedir autorização judicial, explicando o porquê de a fumaça ter que se espalhar pelo palco. Ao juiz caberá decidir se o fumo é de fato imprescindível na construção dramática.
A medida vem preocupando alguns atores e diretores, que veem na lei um cerceamento da liberdade artística. É o caso da atriz Mika Lins, que está em cartaz no Sesc Consolação com a peça “Memórias do Subsolo”, uma adaptação do livro de Dostoiévski. “Eu fumo dois cigarros em cena, a frente do cenário tem um monte de bitucas. Faz parte da concepção do espetáculo, é quase um acessório de pensamento”, afirma.
“Acho o fim. É um absurdo essa história de ter que se justificar. Sei que tem multa, mas estou disposta a pagar ou recorrer na Justiça”, diz a atriz. A penalidade deve recair sobre o dono do estabelecimento.
Antonio Rocco, que dirige o teatro N.ex.t. -para onde Lins muda sua peça a partir do dia 11-, diz não estar preocupado. “É uma lei de saúde pública. Não foi pensada para espetáculos teatrais. Isso vai mudar.”
Salvo-conduto
Já o ator e diretor Celso Frateschi, em cartaz com duas peças no teatro Ágora -que não utilizam cigarros-, diz achar “patética” a lei. “Se tiver que usar cigarro em cena, vou usar sem dúvida. É uma hipocrisia uma cidade que não controla a poluição dos carros fazer isso. É quase revoltante”, comenta.
Além de tabacarias e afins, cultos religiosos “em que o uso de produto fumígeno faça parte do ritual” têm salvo-conduto.
“É uma incoerência que soa quase como um privilégio. Por que não há uma exceção de natureza artística?”, pergunta o diretor José Henrique de Paula. Sua peça “As Troianas”, em cartaz no Instituto Cultural Capobianco até dia 16, usava cigarros em cena, mas eles foram retirados a pedidos da instituição. “Não era um objeto crucial para a narrativa. Era um elemento que apenas ajudava numa concepção mais realista da peça”, conta.
O diretor do teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa, que está ensaiando a peça “Cacilda!!”, com cenas em que se usa o cigarro, dá outra interpretação para a lei: “O teatro é um culto religioso, dionisíaco. Então, tá liberado!”.

 

“Teatrinho realista”
Rodolfo García Vázquez, diretor da peça “Justine”, que entra em cartaz no final do mês no Espaço Satyros, engrossa o coro: “Eu não sei qual a diferença entre ato religioso e artístico… Por que proibir só na arte?”.
Quem tem opinião diferente é Gerald Thomas. Radicado em Nova York, o ex-fumante acha a lei “ótima”. “O cigarro é uma merda, não dá barato, só traz câncer e miséria. As pessoas têm que parar de ver seus ídolos fumando”, diz Thomas. Para ele, não é só questão de saúde. “É uma besteira esse teatrinho realista, que precisa de uma mesa, de uma cadeira, de um cigarro. O artista tem que transcender isso tudo.”
  

PS: Moral da história: Se não formos capaz de fazer teatro, poesia, qualquer coisa “dependentes” de um “prop”, ou seja, de um objeto cênico ou uma mamadeira qualquer, é porque o ator é muito ruinzinho mesmo, ou porque não consegue mesmo usar o pouco que tem da sua imaginação para criar metáforas e deixar o PÚBLICO pensar ou imaginar coisas. Não é à toa que ninguém aguenta mais essa caretice: pior, essa caretice traz CÂNCER!!!!! Não, Zé Celso, nem TUDO é dionisíaco (tadinho de Dionísio! Daqui a pouco batida de tânsito também é “dionisíaco!”). E beijar, como diz o Fagundes, nada tem com fumar. Não se tranta de censura e sim de BOM SENSO. O público precisa de “roles models”. E os role models podem se beijar à vontade, mas não às custas da maldita indústria tabagista!

 

Gerald Thomas

 

(O Vampiro de Curitiba na edição)

 

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