Monthly Archives: April 2005

Estréia no Rio, em 5 de agosto, no teatro Villa Lobos

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homeless, miseraveis

Minha pergunta, ou indignacao eh a seguinte: conto pelas ruas das capitais brasileiras pelas quais caminho um numero horripilantemente crescente de homeless, sem teto, sem terra, sem agua, sem porra nenhuma. Nao resisti e conversei com um pai de familia, na esquina da Maria Quiteria com Visconde de Piraja: "Ha quanto tempo o senhor estacionou aqui?"

– "Estou aqui faz um mes, desde que perdi o meu barraco no alto da Rocinha. Tavam me cobrando caro demais e nao tive mais pra onde ir"

-"O Sr estava empregado?"

-"Nao. Fazia uns bicos aqui e ali, mas emprego nao. Eu esperava que as coisas fossem melhorar, mas pra mim so pioraram. Nunca deixei de ter o meu barraco e de dar comida pras minhas criancas (3)."

A cada dia que ando, conto o numero de "aglomerados", esse amalgamo de humanos que cresce pelas ruas dos centros urbanos brasileiros. Entao o que ha? As paginas dos cadernos de economia estao fazendo o que? Fazendo igual aos tempos da DITADURA MILITAR em que se divulgava nota oficial e isso valia e ia pro prelo?

Quero saber dos dados reais, porque se os centros urbanos sao algum tipo de termometro, o que nao sera o mundo agreste? O que nao sera o mundo real dos MST e daqueles que, analfabetos sequer sabem pra onde ir? A verdadeira imprensa, na minha inocente opiniao, assim como o "60 minutes" iria atras desse pessoal, ao inves de ficar soltando dados estatisticos que nao servem de porra nenhuma. Sao ilusao pura, enganam a alma, confundem a mente e mentem como toda propaganda. Goebbles era muito bom nisso. Cheney e Rove tambem o sao. Sera que todo mundo esta comprando na mesma barraca dessa mesma feira?

Gerald Thomas

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Terrorismo carioca style

Quatro semanas de Rio de Janeiro: digo com tristeza e autoridade: basta! Nao eh somente a tal chacina que matou trinta. Merval Pereira, um brilhante colunista, cunhou o termo certo para o que se vive aqui nessa cidade: "terrorismo". Nem um pouco diferente (talvez somente em estilo, pois ainda nao tem homem/mulher bomba ou carro bomba), do que se vive nos paises do Oriente medio. O medo, a tensao, o panico constante fazem com que a gente se esconda o tempo todo. Nao ha prazer em sair de um ensaio, por exemplo, e ir jantar com a troupe teatral como nos velhos (recente velhos) tempos se fazia. Eh pegar logo um taxi e se trancar no hotel. Ivo Meirelles (que compos um hino nacional sambado lindissimo pro final do espetaculo) me contou que na Mangueira ou na Parada de Lucas, enfim, na Zona Norte a coisa eh muito pior: basta ver o que acontece com essas chacinas. E basta adivinhar aquilo que nem sai nos jornais porque nao eh noticia, pois fica abafado ali mesmo.

Nao tem solucao. Seja com quem eu esteja falando, todos aqui estao desencantados. Essa Rosinha/Garotinho conseguiram transformar o Rio num antro de vinganca e de corrupcao e de ferrugem (como nos velhos moldes do Esquadrao da Morte do Le Coq, Sivuca, Mariel Mariscot e outros, lembram?), que gera um ciclo que raramente tem volta. Eh um cao come cao, ate que isso vire um Coliseu de Roma.

Pena. Pena, porque nesse exato momento Roma calha de ser o lugar mais pacifico do mundo, com 200 lideres mundiais , sentados lado a lado, em torno de um defunto carismatico que lutou ate o fim para se expressar. O papa eh mais noticia do que qualquer outro evento mundial. Guardadas as devidas proporcoes (com internet, tv a cabo, etc) nao sei o que seria hoje o homem pisando na Lua ou a morte de JFK. Mas uma coisa eh certa. Nao ha meio de comunicacao no mundo que conserte esse ERRO que o Rio de Janeiro virou nesses ultimos anos. Deus me livre. Qualquer que seja o clero, qualquer que seja o deus: que ele encarne ali no Cristo Redentor logo de uma vez e faca alguma coisa pois essa cidade esta BICHADA!

Gerald Thomas

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Chacina no Rio, Uma semana depois

Muitos leitores ficaram endoidecidos pelo fato de eu ter escrito sobre a morte do Papa, e sofrido por isso. Me cobraram – na hora – que eu comentasse tambem a chacina aqui na Baixada Fluminense. Eu preferi nao responder na hora, pois os assuntos nao se cruzam. A morte de um Papa eh um momento unico e se formos escrever sobre a violencia no Rio, acho que nao se saberia onde comecar ou parar. Sim, sofro quando esses massacres horrorosos acontecem. Mas quais serao as fronteiras geograficas da minha emocao? Nao deveria tambem sofrer pela Africa inteira? ou por todos os esfomeados no Brasil (enganados pelo projeto Fome Zero), e pelos reprimidos na Coreia do Norte e os inocentes Iraquianos que, diariamente levam bomba na cara, seja de um lado ou de outro….ou das vitimas de um Tsunami….ou de todos os povos oprimidos pela cor de suas peles, deuses em quais creem ou racas as quais pertencem?

Andar pelas ruas do Rio de Janeiro eh uma barra pesadissima. E nao pensem voces que so me movo pela Zona Sul. I move around. Sei do que acontece e as antenas estao ligadas. E, repito, o sistema esta tao corrompido e o rancor tao enraizado, que aqui a palavra MATAR ficou tao trivial quanto "antipasto" numa tratoria na Toscana. Uma loucura. Nao saberia onde comecar ou onde terminar. Eh tao simples ou tao complexo quanto isso, porque – como diria Haroldo de Campos: aqui "tudo eh tudo e nada eh nada" na medida em que marginal eh policia e vice versa. Eh o esqadrao da morte tudo novamente. Dobrar uma esquina pode ser o seu fim. E eh justamente por isso que focar uma materia sobre a morte do Papa, sem colocar todas as miserias do mundo no mesmo saco, fica mais limpo, mais inteligente e mais sabio.

FIM

Gerald

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Danilo Santos de Miranda

A imprensa, toda vez que pode, evita publicar (só deus sabe porquê): "Um Circo de Rins e Figados" só é possível, devido a uma única pessoa: DANILO SANTOS DE MIRANDA. Como ja falei em inúmeras ocasiões, e na entrevista da TV UOL, esse ser maravilhoso é o verdadeiro Ministro da Cultura do Brasil. Ele faz mais pelo teatro do que todos os ministérios colocados juntos. Além do mais, parabéns Danilo: ele acaba de ser avô:"ela" se chama Tereza.

O que eu e todos os diretores, autores de teatro do Brasil (e de algumas partes do mundo também), coreógrafos, instaladores, multimídias, até cineastas contamos com sua ajuda é incalculável.

O que eu tenho a te dizer é aquilo que os jornais omitem: Danilo, MUITO OBRIGADO!

Gerald

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a morte do Papa

Muita gente "explica" esse Papa. O fato eh que eu sou judeu e estou profundamente comovido com a sua morte. Digo, comovido mesmo, a ponto de me pegar em frente a TV, aos prantos. Mas, logicamente, sempre me vejo cercado de gente que aplica a logica em tudo e deixa a emocao de lado.

E essa logica, razao sempre desemboca em longas "explicacoes" e "erros profundos" cometidos por ele, pelo Vaticano, and so on. Claro, nao sejamos inocentes: O Vaticano eh uma Corporation. Mas e dai? Se morre um C.E.O.de uma corporacao de quem eu gosto, eu choro. Se morre algum chefe de Estado de quem eu gosto (apesar da politica ser ferrugem pura), eu choro.

Sempre se tem razao quando se "explica" alguem, seja esse alguem um politico, um filosofo, um heroi ou um artista. Qualquer um desses alguens tera suas contradicoes e essas contradicoes terao um efeito domino incrivel, principalmente em se tratando do Vaticano e seus milhoes de believers world over. Entao, do ponto de vista frio/calculista e analitico, os explicadores tem toda razao.

Mas nao somos feitos disso, ou seja, frios calculistos e analiticos somentes.

Somos tambem seres emotivos, criativos e observadores.

E, eh ai que me encaixo: A Polonia nao tinha cara. Durante seculos esse pais foi o centro dos conflitos de uma futura Europa. Suas fronteiras e, portanto sua identidade oscilava conforme a guerra local ou mundial. Ora uma ponta dela falava alemao, ora frances ora polones mesmo e ora russo. Pombas!

Auschwitz que leva a fama de ser o maior campo de concentracao do mundo eh na polonia e sao eles que arcam com aquele kharma. Mas foi a SS e a Gestapo que instalaram aquilo la, porque o Terceiro Reich se esticava ate la.

E vindo de Katovice, e depois Cardeal de Cracaw (onde eu morei ensaiando Zaide, de Mozart) o Papa teve sim uma ENOME importancia no movimento de Lech Walensa. Entao procuro ver o que ele fez pela Solidarienosk. Pela identidade que deu a uma Polonia mais uma vez reprimida por Jeruselski. Eu, Gerald, posso ate ser socialista, mas determinadamente nao sou Stalinista (deus me livre) e ele, o Papa, foi fundamental em destruir aquilo ali.

"MR Gorbachov tear down this wall" dizia Reagan……..

Nada disso teria acontecido se, por traz do pano nao houvesse esse Papa chamado de retrogrado (e certamente o eh por causa de questoes sexuais bizarras inacreditaveis nessa era da AIDS).

Eu continuo comovido, pois as associacoes sao imensas, ja que Beckett ainda eh a maior referencia. E o esforco feito pelo homem em se comunicar nos ultimos dias de sua vida, tentando pronunciar uma palavra sem consegui-lo (e em pensar como tudo entra em colapso tao rapidamente) me choca e me faz chorar. Eh como o Hamm, em Fim de Jogo, de Beckett ou a pintura de Francis Bacon, real demais no meu mundo irreal das meias verdades. Mas com uma coisa eu nao consigo conviver: com a morte. E principalmente a morte de alguem que eh um icone pra tanta gente e que eu mesmo acompanhei, por bem ou por mal, nessas duas ultimas decadas e meia. Sim, estou profundamente comovido.

Gerald

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O Globo : Segundo Caderno

Gerald reinventa Thomas

No Rio ensaiando Marco Nanini, diretor anuncia projetos e ataca Gil

Roberta Oliveira

Gerald Thomas parou de fumar.- Um dia, cheguei no quarto de hotel e não havia um só cinzeiro onde apagar o cigarro. Fiquei com nojo e larguei – conta o diretor.

E esta não é a única transformação por que Thomas vem passando. Há três semanas no Brasil – ele mora em Nova York – ensaiando com Marco Nanini a peça "Um circo de rins e fígados", que estréia no dia 29 de abril, em São Paulo, o diretor garante que, pela primeira vez, seu texto segue uma estrutura "linear".

– Claro que na medida que uma peça minha pode ter começo, meio e fim, ? – acha melhor esclarecer ele.

Além de dar às peças começo, meio e fim, o diretor vem se divertindo em escrever não mais dramas, como antes, mas comédias rasgadas. É, é isso mesmo: comédias rasgadas.

– Criei um estilo, esse estilo que se vê por aí imitado por outros diretores; marquei uma época, como todo mundo que deixa uma marca faz – avalia Thomas, explicando a mudança de rumo. – Chegou o momento de deixar esse estilo para esses imitadores, procriadores. Afinal, trágico seria se continuasse com o mesmo estilo, se eu não saísse do lugar.


Como dramaturgo, mais econômico, rápido e objetivo

Quando fala em estilo, Thomas refere-se mais à escrita do que à encenação, é bom deixar claro. Segundo ele, a mudança já vinha se operando nos últimos anos, mas determinante mesmo foi "Anchorpectoris", espetáculo que ele estreou em março de 2004 no La MaMa, teatro experimental nova-iorquino em que trabalha.

– Como tinha apenas dez dias para pôr "Anchorpectoris" de pé, tive que me obrigar a ser econômico, rápido e objetivo, ou seja, tudo o que não era antes, quando usava e abusava de efeitos – compara Thomas. – O texto passou, então, a ser mais linear. Daí, a opção pela comédia, porque ela te obriga a chegar a concluir um pensamento.

Previsto para estrear no Rio em agosto, "Um circo de rins e fígados" é o primeiro espetáculo do novo Gerald Thomas, mas a lista para 2005 é extensa. Para Luiz Damasceno, ator de sua Companhia de Ópera Seca, para quem já escreveu "Nowhere man" e "Glauber", o diretor fez "Um bloco de gelo em chamas". A peça se passa no set de um filme B, que uma estrela do cinema nacional (o próprio Damasceno) é obrigada a fazer para salvar a carreira do marido cineasta.

– Quando falo em linearidade não estou dizendo que ando escrevendo uma historinhas nos moldes de Arthur Miller – esclarece Thomas. – Não tenho nenhum pacto com o teatro da verdade. Sou linear da mesma maneira como Borges ou Cortázar eram.

Com "Anchorpectoris", Thomas também passou a fazer outro mea culpa .

– Só com a maturidade é possível perceber o quão sedutor o teatro é para um diretor que quer espalhar só seu ego no palco – assume Thomas, que está com 50 anos. – Hoje, vejo que é com o tempo que se aprende. Não é à toa que Antunes Filho fez "Macunaíma" com 48 anos. É claro que uma peça é o reflexo do coração, da mente do diretor. Não estou deixando isso de lado e ser objetivo, mas estou me focando mais nos atores.

E Thomas está de olho em outros intérpretes este ano. E até nele mesmo. Depois de desistir de ter Serginho Groissman em "Um circo de rins e fígados", por causa da agenda tumultuada do apresentador, o diretor optou por escrever um monólogo para ele: "Brasas no congelador". No palco, Groissman vive um mendigo que constrói seu mundo dentro de uma caixa de papelão.

Outro monólogo, "Terra em trânsito", foi escrito para Fabiana Guglielmetti, sua atual mulher. Já "Asfaltaram o beijo", outro espetáculo-solo, teria sido para Fernanda Montenegro, que, no entanto, recusou.

– Ficamos horas no telefone, ela disse que nem quando éramos sogra e genro tínhamos tido uma conversa tão séria, mas, gentilmente, disse não – conta Thomas, que, agora, está pensando em fazer ele mesmo a peça, na pele de um ator que precisa do ponto para lembrar histórias do passado. – Será minha estréia como ator.

Sem conseguir acompanhar o que vem sendo feito no teatro carioca ("estou indo dormir tarde e acordando cedo"), Thomas está com os olhos em São Paulo, especialmente no secretário municipal de Cultura, Emanuel Araújo. O diretor quer homenageá-lo realizando uma série de workshops . Mas sabe que, assim, pode despertar a ira de parte da classe artística paulista, que vem atacando Araújo, por ele ter acabado com a Lei de Fomento, que apoiava companhias estáveis.

– Se a classe quiser conversar num debate sem gritaria, estou disposto – desafia Thomas. – Mas quero apoiar Araújo, porque acho que ele é o primeiro artista que assume de verdade um cargo político.

Mas e Gilberto Gil?

– Mais do que ministro da Cultura, Gil é o ministro da Propaganda, um Goebbels ( responsável pela estratégia de marketing de Hitler ) brasileiro – alfineta Thomas, para quem o cantor e compositor matou o teatro e a classe teatral. – Ele está se aproveitando do Ministério, sendo ministro dele mesmo. Como, na verdade, ele não é nada além do cartão-postal da cultura brasileira, deveria estar dando mais shows do que já está.

O diretor aproveita a lista de convidados para o Ano do Brasil na França para pôr mais lenha na fogueira.

– Tudo o que está lá já viajaria de qualquer maneira, mesmo que não existisse esse Ano do Brasil na França. É um pleonasmo, estão botando açúcar em caldo de cana – ataca Thomas. – É uma bobagem pasteurizar assim a cultura brasileira. Acima de brasileiros, somos artistas. Um dos grandes momentos da Companhia de Ópera Seca foi aquele em que o jornal publicou que nós éramos uma companhia internacional.

E Thomas também está negociando a publicação de "Suicide note", livro autobiográfico contendo matérias de jornais, desenhos e escritos. Quer ensaiar em Nova York a peça "Catwalk tragedy", também de sua autoria, e "Diário de Honduras", de Ruy Coelho. Precisa estar na Alemanha em outubro e em dezembro para ensaiar duas óperas. E está negociando trabalhar no Brooklin Academy os Musica (BAM), o que significaria sua saída do La MaMa. Ufa!

– Preciso fazer tudo este ano, porque vou morrer em 2006 – dramatiza.

Pelo menos não de fumar.

– Olho para quem fuma e penso que estão pondo asfalto para dentro, mas é claro que daqui a seis meses posso ter mudado de idéia – diz.

Claro.


Matéria publicada no Jornal O Globo 2º caderno

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