Monthly Archives: March 2004

DA VAIDADE

''vaidade, tudo é vaidade''(Eclesiastes)

por Adrilles Jorge

A primeira coisa que fazemos quando acordamos é nos olharmos no espelho.Geralmente a imagem não é muito agradável.Lavamos o rosto, nos penteamos, tentamos nos recompor,enfim.É a evidência mais primária daquilo que nos alimenta: nossa vaidade.

Nossa vida toda é calcada nesta metáfora elementar.Tentamos nos recompor,através de nós mesmos, para nós mesmos e para os outros, do caos sem sentido que é a vida.Nunca nos satisfazemos.O mais narcisista, o mais egocêntrico dos seres nunca está plenamente satisfeito consigo mesmo.A satisfação é a própria morte.

A vaidade é a base primitiva do próprio artista.Sejamos francos:o mais culto dos seres não sabe muita coisa além de si mesmo.É a partir de si próprio que um artista interpreta e INVENTA o mundo.Não há escapatória deste narcisimo elementar a que estamos condenados, e de que um artista se alimenta.

Mas passemos da mais nobre das funções para uma mais baixa:a de jornalista.Em princípio, um jornalista deve ser uma ponte, uma condução à informação.Aparentemente, nada menos narcisista,não?Nada mais falacioso, meus caros.Alguém que detém o poder da informação tem a ãnsia de interpretar o que vê, de dizer, do seu ponto de vista, o que é o mundo.Tão narcisista quanto um artista, mas certamente mais inocente e ingênuo, e por isto mesmo mais perigoso(no pior sentido da palavra).Não existe objetividade.O universo é construído de um enorme ''sujeito'' estilhaçado em bilhões;um mundo de subjetividades únicas e distintas.

O caos ,então?Não.Há apenas uma maneira de nos libertarmos deste universo de incomunicabilidades.Através do amor.Reparem:a única vez que conseguimos nos libertar de nós mesmos é quando amamos alguém.Quando nos apaixonamos ou quando temos um filho, e esta pessoa a que amamos torna-se para nós mais importante do que nós mesmos.E o que importa se somos todos seres solitários?compartilhemos então nossa solidão, nossos egos, nossas vaidades.A generosidade da arte reside justamente aí, nesta vaidade compartilhada, doada, comunicada a todos.Que se dane a objetividade.Entreguemo-nos como sujeitos que somos.

É preciso ler com mais cuidado o mandamento cristão que diz que devemos amar o próximo como a nós mesmos.COMO A NÓS MESMOS.Primeiro é preciso aprender a SE amar antes de amar os outros, ou seja, a vaidade é intrínseca ao amor.Se nos libertamos de nós mesmos ao amarmos nossos filhos e nossos(as) amantes, é porque este amor é fruto de nossa própria personalidade.O objeto amado não é mais fundamental do que aquele que ama.E isto sem falar das vezes que amamos sem sermos correspondidos.

Mais que um instinto, maternal, sexual, o que seja, é preciso lembrar que ,sim, escolhemos a quem amamos.O que é urgente é que saibamos ampliar esta escolha. é que aprendamos a amar como os artistas, reparo, com os VERDADEIROS artistas, não com meros fabricantes de entretenimento.Invejo os artistas porque eles, com seus narcisismos, com suas megalomenias, são os únicos que sabem amar realmente.Através, e unicamente através deles mesmos.E que amor.

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Espiritualismo e ateísmo

por Tathiana Lessa

Não se pode dizer, de maneira absoluta, que toda democracia seja espiritualista e que toda a autocracia seja atéia. Na verdade, diz Jaques Maritain que a democracia está ligada ao cristianismo e que o impulso democrático surgiu na história humana como uma manifestação temporal da inspiração evangélica. Explica Maritain que isso não significa que a democracia derive do cristianismo como "credo religioso", mas como "fermento social" na profundeza da consciência humana, como anseio de igualdade, de liberdade e de dignidade.
Em face dessas idéias, é fácil observar que nas democracias floresce um intenso espiritualismo, seja nas várias correntes do cristianismo seja em outras formas de religião.As democracias asseguram a liberdade de pensamento e religião, entre as várias expressões de Liberdade, e, assim permitem ao cidadão atender as inclinações profundas de sua personalidade para as elucubrações da vida sobrenatural, seguindo tradições dos antepassados.
Quanto às autocracias de esquerda e de direita, há que lembrar, em primeiro lugar, que têm tradições espiritualistas todas as latino-americanas. O problema surge nas autocracias de esquerda, de que a Rússia e a China são as expressões maiores:nesses países, toda a atividade religiosa se acha afetada pela filosofia marxista-leninista dominante. Aliás, dentro da concepção marxista, todos os fenômenos sociais são uma decorrência de fenômenos ou estados econômicos e só estes têm importância. Para Lênin , a religião era o "ópio do povo". O ateísmo, com o correr dos anos,assim ganha campo nos países comunistas, porque as gerações novas já têm contato com padres ou missionários ou ministros de qualquer culto.
O sistema democrático de governo, ao estabelecer a separação entre a Igreja e o Estado, veio assegurar a todos os cidadãos o direito de ter ou não ter uma religião. O que contraria a dignidade da pessoa humana é vedar-lhe a expressão de seu anseio mais íntimo e mais profundo – o anseio de Deus. Disse-o bem Fulton Sheen, um escritor famoso durante a última Guerra: "O coração humano tem sede de absoluto." E, como disse Voltaire, se o homem não tivesse Deus, criaria um Deus para si.
O cristianismo tem no Amor a síntese suprema de toda a conduta humana e é essa lição que ressumbra dos Evangelhos.Daí as palavras de Maritain, para quem a democracia se funda na transcendência espiritual da mensagem de Cristo. Todas as democracias modernas, assegurando as liberdades civis, asseguram também a de crença, um dos "direitos inalienáveis", a que aludia Jefferson, na proclamação da independência americana. E constitui inominável violência dar "a César o que é de César", e negar "a Deus o que é de Deus".
Os cristãos repudiam o marxismo-leninista, entre outras, pela razão essencial de negar a vida espiritual, fundado no materialismo dialético.Eis um poema do alemão Bertolt Brecht, onde o mesmo nos dá uma idéia de salvação em que a própria capacidade de crer passa a ser objeto de dúvida.


Hino a Deus


No fundo dos vales escuros morrem os famintos.
Mas você lhes mostra o pão e os deixa morrer.
Mas você reina eterno e invisível
Radiante e cruel, sobre o plano infinito.

Deixou os jovens morrerem, e os que fruíam a vida
Mas os que desejam morrer, não permitiu…
Muitos daqueles que agora apodreceram
Acreditavam em você, e morreram confiantes.

Deixou os pobres pobres, ano após ano
Porque o desejo deles era mais belo que o seu céu
Infelizmente morreram antes que chegasse com a luz
Morreram bem-aventurados, no entanto – e apodreceram imediatamente.
Muitos dizem que você não existe e que é melhor assim.
Mas como pode não existir o que pode assim enganar?
Se tantos vivem de você, e de outro modo não poderiam morrer-
Diga-me, que importância pode ter então que você não exista?

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texto do Adrilles Jorge

SOBRE ALGO
Penso diariamente em suicídio.Por mais absurdo que possa parecer., é a única maneira de manter minha lucidez.É difícil conviver com a falta de sentido e do total esgotamento intelectual humano.Todos os humanismos foram contestados, todos os sistemas políticos, toda a filosofia, absolutamente tudo foi posto em cheque no século passado.
O que sobrou?Nada mais que este porre absoluto chamado relativismo.Dá até saudade de um certo conservadorismo que dizia (que ainda diz) que há princípios incontestáveis, que há valores indiscutíveis.
Mas não dá para voltar atrás.Como acreditar piamente em uma moral cristã depois de Nietzsche?Como pensar em uma república utópica de Platão depois de termos inventado esta mídia imoral que fabrica meias verdades?(Fatos, eles dizem, atenham-se aos fatos.Mas o que são os fatos sem uma compreesão maior?''os fatos me entediam'', já dizia Paul Valéry.).A história das idéias parece ser uma constante humilhação de teses passadas, uma permanente autofagia que se alimenta de si própria e nos lança , cada vez mais , em um vácuo.
Não sou cético, apesar de o parecer.Meu problema é justamente este:tenho esperança.Em princípio, todos(os que permanecem vivos) temos.Me alimento exclusivamente deste câncer ''salutar'' chamado esperança.É preciso saber tirar lições do absurdo em que vivemos.É urgente a criação de uma nova didática que obedeça aos moldes da arte.Sim, da arte mesmo.Platão expulsou os artistas de sua ''república''.Talvez fosse melhor expulsar os pensadores.Não há mais espaço para um pensamento cartesiano, lógico, racional.É preciso reinventar o modo de se pensar, e talvez este modo seja a poesia.As tensões da nossa era ''pragmática'' estão se rompendo.Vivemos em um mundo bárbaro travestido de civilização.''O mais forte sobrevive''.Força econômica, força de poder.Nada mais.Apenas um arremedo do sistema feudal da idade média.E ainda nos chamamos de ''pós-modernos''.
Vivemos, aparentemente, em um mundo supostamente melhor do que foi antes.Aqui, na terrinha ,desfrutamos de um regime democrático que dá voz à todos.Mas de que adianta o direito à voz, se quase ninguém tem o que dizer?Não há voz, mas apenas um grunhido animalesco e inaudível.O que se observa é uma multidão de apáticos que seguem ordinariamente a voz daqueles que JULGAM ter razão, o que é muito pior.Yeats dizia que ''os piores sempre são radicais, enquanto aos melhores falta convicção''.Tendo a concordar.
E ficamos nós aqui, intelectuaizinhos desencantados mastigando nossa própria desilusão.É preciso agir, é preciso sim ser infantilmente utópico, é preciso lutar contra moinhos de vento, é preciso ser patética e ridiculamente quixotesco.Ou então seremos esmagados por esta razão medíocre, por esta sanidade tediosa que nos ensinam desde o berço e que deu no que deu.Cá para mim, prefiro o meu ridículo.
Adrilles Jorge

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a solidao e a perseguicao

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Harold Bloom, Don Quixote e o debate

Depois de um debate tao tumultuado sobre o que eh e o que nao eh……eu queria so copiar algumas linhas aqui de Harold Bloom a respeito da nova traducao de Don Quixote por Edith Grossman:

" Qual eh a natureza exata da QUESTAO de Don Quixote? Essa questão não tem resposta. Quais eram os os motivos reais, autênticos de Hamlet? Igualmente, nos – o publico – não temos acesso a resposta. Não sabemos, simplesmente. Já que a QUESTAO magnífica do cavaleiro de Miguel de Cervantes tem um leque cosmológico de reverberação e nenhum objeto lhe parece fora de alcance."

Pois eh, estou encantado com essa nova versão de Don Quixote e, principalmente com a introdução de Bloom. Desde "Invention of the Human" onde ele pega as obras completas (ou quase completas) de Shakespeare, e as analisa de um ponto de vista pesssoal e desconstrutivista (mas sem ser chato ou pretensioso), esse monstruoso gênio tem o mesmo dom que o "nosso" Harold", o Haroldo de Campos também tinha: o de somar as questões político-socias e literárias de diversas épocas históricas, e apresenta-las numa única pagina, fazendo com que o UNIVERSO se apresente sucinto, claro, como se visto pelo telescópio de Palo Alto, ou pelo Hubble.

Eh a única forma através da qual nos – pequenos e medíocre que somos – podemos medir nosso tamanho vis-a-vis aquilo que consideramos ser o nosso ANTI-MESTRE, ou seja, a nossa anti-imagem ou imagem MAIOR (o que alguns querem chamar de Deus).

Estamos virando nossa maior anti-materia, assim como o buraco negro esta brincando conosco, tendo como finalidade ultima, engolir-nos a todos. Mas, enquanto isso não acontece, a gente vai se deleitando com questões dialéticas, com as varias interpretações de Hegel, com as mil e quatro interpretações de Freud e com as 330 intepretacoes de se Godot era mesmo o "Deus" (God….ot) que não chegava ou um ciclista no Tour de France chamado Godeaux que, em 1938 simplesmente não chegou em Champs Elisee……(Beckett me contou isso pessoalmente).

Estou adorando o que esse Blog esta virando. Acho que esta na hora do Adrilles Jorge mandar um texto propriamente (não acha?) e a Ana Peluso publicar aquele triangulo epistolar que rolou por uns dias…….

Fora as malcriacoes que acontecem nas melhores famílias, estou orgulhosíssimo de que isso aqui, finalmente virou um FORUM de discussões e passou da janela egocêntrica que anunciava em que estagio eu estava no meu dia a dia.

Agradeço aos meus contribuidores profunda e calorosamente.

LOVE

Gerald Thomas (segunda feira meio dia em Nova York um sol de rachar)

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Desabafo critico, por Tathiana Lessa

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o dialogo das Anas

Ana Guimaraes e Ana Peluso

Ufa! Estou ha horas lutando aqui com esse blog desde que voltei do jantar tentando postar uma materia mas o Blog diz que o numero de caracteres eh excessivo. MENTIRA. Ja escrevi o TRIPLO e entrou sem problemas. Enfim, mandei copia de tudo pra Ana Peluso e espero que ela, com as magicas internauticas dela, consiga. Fiz de um email dela um dialogo entre nos.

Tambem gostaria de ver o triangulo epistolar entre o Ardilles e a Ana e a Tathianna publicado aqui. Eh otimo e nao precisa (a nao ser que os autores se oponham) ficar reduzido a escuridao do anonimato dos emails.

Agora vamos a Ana Guimaraes: pessoa apaixonante mesmo Ana (peluso) (gente, eh tanta Ana….). Nos conhecemos no Rio ha uns anos, por causa da minha coluna num jornal local. Eh uma inteligenterrima psicanalista lacaniana (deu pra sacar), mas nem tudo eh tao simples e tao claro quando se quer ler ou se pretende ler aquilo que ja eh o "imaginado e conscientemente concebido" , assim como a minha obra, ou a obra de qualquer artista considerado artista da era pos-Freudiana, desconstrutivista ou conceitual. Claro, a leitura que ela fez do DRY e do WET foram otimas (pena que a critica do Antonio Quinet de Anchorpectoris ainda nao tenha saido em nenhum jornal e agora…perdeu seu momentum……), mas nada/tudo/seco/molhado e os opostos no chamado quadraro semiotico nem sempre se estabelecem como sendo pontos convergentes quando se trata de arte.

As vezes a arte esta na frente da psicanalise ou da ciencia. Tanto eh que eles nos estudam e sao inspitados na nossa obra. Claro, o oposto tambem eh verdadeiro. O video que vi sobre Derrida semana passada bate muita coisa,. Bateu na minha cara, Mas Derrida nao eh- exatamente – um paiscanalista. Mas diz que eh tudo. ER mais um pouco.

Ana Guimaraes me foi muito preciosa num momento de crise (quantas ne?) e eh uma mente brilhante e fico feliz de ver voce aqui. Mas o termo neurose eh um termo complexo. Prefiro o approach de Canetti quando fala de uma complexidade indisvendavel chamada "pacote humano" ou o poeta Paul Celan quando simplesmente usa a simplicidade das atrocidades holocausticas e reduz a Alemanha a um leite negro. Neurose? Claro que sim. Mas a poesia e a arte em geral sao uma especie de anti virus pra ela. Assim como o suicidio.

LOVE

Gerald

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o debate, e eu como uma puta num jantar

Parabens pelo debate que se alastra como um incendio (no bom sentido) como um rabino que coloca fogo na cozinha kosher numa sexta de Shabath…..Me faz sentir como se, de alguma forma, eu ainda sirvo pr'alguma coisa "real" por assim dizer. O resto eh so teatro teatro teatro.

Agora, daqui a uns minutos la vou eu cumprir o meu papel de "putinha de plantao" intelectualoide num jantar de milionarios. Como odeio isso. Mas sempre na esperanca de que isso renda algo pra Dry Opera Company, la vou eu, ser a arvore de natal, pronta pra cuspir o Hegel do momento, ou inserir o Kant da hora e todos irao rir com o comentario pois ninguem ali jamais leu porra alguma de tao PODRES de RICOS que sao.

NOJO!

By the way. Nao percam seu tempo precioso com Ricardo Campos. A vida dele eh dedicada a azucrinar a vida de qualquer colunista ou jornalista no mundo (ou mundinho dele), pra ele nao existe mesmo diferenca. Deixa ele pra la.

O debate esta interessantissimo, ja que – talvez – estamos falando de Israel, uma terra que (so Deus sabe) nao exista mais por muito tempo. Evidentemente, como judeu, nao eh o que quero. Quero ver Sharon em Haia, junto com Slobodan Milosovic.

LOVE

Gerald

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agora o blog comeca a ficar interessante

Estou lendo os comentarios de todos. A discussao esta me interessando, e muito. Quando "ameacei" terminar o Blog, faz dois dias, era justamente por FALTA dessa friccao. Por favor entendam o seguinte: eu vejo o mundo atraves da arte dramatica, do teatro, da friccao, do conflito.

Adorei a resposta de Adrilles Jorge sobre o lider do Hamas. Adrilles esta certissimo. Nem tudo que eu escrevo eh necessariamente o que eu penso. Muitas coisas sao provocativas, sao provocacao pura. Nao que eu queira necessariamente incendiar uma piscina, entendem? Eh evidente que aquele homem era um absoluto e total canalha e – sim – incitava uma violencia horrivel.

Mas volto a falar do ponto de vista de um povo que se instalou naquela regiao (ou foi instalado) em 1948. Como se isso nao fosse suficientemente conflitante (olha so….o que acontece desde entao: conte os corpos..conte os defuntos), atraves de uma resolucao internacional dos aliados (Churchill, etc) e agora esta usando taticas absolutamente MAIS aterrorizantes do que os terroristas em volta. O que eu quero dizer eh o seguinte: nao vai sobrar ninguem.

Ja existiu alguma possibilidade entre Rabin e Arafat. O Camp David Accord…….O Oslo Accord…..e varios outros deram certo ate certo ponto. Sharon esta colocando fogo em tudo isso.

Tathiana Lessa: parabens pelos argumentos (todos eles)

LOVE pra todos

Vou salvar e publicar antes que a tela se apague e (assim como na Tempestade de Prospero) o aplauso ou a vaia, apaguem o espetaculo

Gerald

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Sabado

Eu adoraria poder responder a todos. Gostaria tambem de poder escrever imensos artigos. Alias, de madrugada, logo apos escrever o artigo sobre o Yale Club, comecei a escrever um sobre a ABSURDA politica de Ariel Sharon e o assassinato do lider do Hamas. E…que esse ciclo de violencia e a construcao da replica do MURO de Berlin dentro do Estado de Israel eh uma coisa abusrda e que o povo judaico JAMAIS deveria permitir (escrevo sendo eu mesmo um judeu).

Ai, de repente, a tela se apagou.

Nao ha nada mais frustrante.

Geralmente, quando tenho tempo, preparo tudo em disquete e ai copio pro Blog. Mas eh muito mais espontaneo fazer assim, como estou fazendo agora. Corro, de novo, o risco, de tudo se apagar. Como diz o Jorge Cardoso, abaixo, eh tudo virtual mesmo. Como nao fica em nossas cabecas, nao fica na tela, nao existe no mundo, nao existe e ponto final.

Israel talvez passe a nao existir daqui a pouco se esse maluco do Sharon nao segurar sua sede de sangue. Agora imagine como se deve sentir um cidadao israelense. Cercado por inimigos. Sim, porque atacando e sempre tratando PALESTINOS como vermes, ja era um horror. Agora, matando um lider espiritual do Hamas, ele tem o povo ARABE INTEIRO contra ele.

POr isso, as demonstracoes nas ruas de Cairo, de Damascus…etc.

Nem tudo eh virtual.

Algumas pessoas reclamam de que esse Blog eh dificil de navegar, etc: vou deixar algo muito claro. Eh o seguinte: o UOL me ofereceu esse espaco. Com ele, eu faco o que posso. Sou diretor de teatro e opera e eventual colunista. Minha ultima opera no Brasil foi Tristan e Isolde no Municipal do Rio (lembarm? o caso da bunda, etc). Nao entendo porra nenhuma de internet, de Blog, de como navegar em Blog, de como facilitar navegacao em Blog……Se esse Blog esta defeituoso, desfaco, desconstruo as palavras de Jorge Mautner e peco descukpas.

LOVE

Gerald

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Flavia Soufer

Tem um recadinho pra voce la em baixo, perto da tua reclamacao…

LOVE

Gerald

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de uma amigo da Escandinavia

Gerald,

Tudo bem cara? Olha, eu vou te falar uma coisa que eh um tipo de advice star dust. E canja de galo não faz mal, como dizem. Eu jah escrevei em um Blog, cara, logo que o primeiro modelo saíu, fazem uns dois anos. Sabe quanto tempo eu continuei com aquilo? Graças a Deus apenas 1 mês. Acho que este sucateamento tecnológico estah levando as pessoas a perderem os parâmetros. Hoje um Blog é o que há de mais trash para a produção cultural e intelectual. Por quê? Por que não fica. Jah leste Foucault, Derridà via tela de computador? Não fica nada na sua cabeça, tem que ser livro, papel.

Informações efêmeras, apenas. E ainda controladas. Por que perde-se tempo e se eh drenado emocionalmente dentro dos Blogues? Por que são muitos, e se dissipam. Quase como videogames. Por que eu parei de escrever no meu Blog? Eu notei que eu escrevia esperando uma resposta de seja lah quem. Como o Blog é fácil de se aacessar corre-se o risco do sujeito mas interessante se autofagocitar, os estúpidos se viciam e os que tem algo a dizer são vampirizados por uma cambada de panacas. O Blog é uma ilusão, um movimentador de lugares nenhum pois o terreno eh sem dono[ NET.democaracy] uma casa da sogra isso sim onde qualquer um entra e dah sua opinião. Odeio democracia, cá pra nós.

Se vc calcular o tempo que tu gastas bolando uma notícia, um texto aplícavel para o formato de um blog, vc não tem idéia que poderias estar escrevendo, ou lendo, ou escutando uma ótima música, olhando as pessoas subindo a Lexiton apenas. Vc não sabe como eu torço para que vc volte para o JORNAL. Eu digo, papel. Um cara com a sua agudeza intelectual que estah na Roma contemporânea , não deve perder nem se chatear sendo sugado por leitores de Blogues. Mas veja bem, Blogues e Sites não tem nada a ver uma coisa com a outra hein! Um site é uma vitrine, um blogue um guardanapo de papel.

Te desejo ótima sorte, e que decidas para o melhor

Abraço

do seu leitor

Jorge Cardoso.

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Sabado de madrugada

Depois de uma noite no Yale Club

….com Marshall Blondsky. Wow. Alem de poder aprender muito sobre o "poder" (sim, com todos os portraits dos presidentes americanos ali, olhando pra nos), Marshall eh um semiologo, um descunstrutivista incrivel. Aluno de Barthes, ele tem muito o que dizer e tenho a honra de ser o diretor de algo que (com trocadilho e tudo) se chamara de "Marshall Arts". Eh sobre a vida dele, claro. E que vida!

Mais eu nao digo.

Eu nunca tinha estado no Yale Club. Claro, eu nao sou de Yale, nao me formei em Yale, alias nao me formei em lugar algum. Mas depois de cinco horas de conversa e duas garrafas de vinho, estavamos recitando o Inferno de Dante em italiano.

Ah sim…tambem tomamos algumas decisoes:

1-Roma eh a cidade mais interessante do mundo.

2-a Dry Opera Company sera mesmo sediada aqui e nao devera sair pra nada, nem pra excursionar.

3-Dei de cara com o Warren Hoge do New York Times logo na entrada do Yale Club que estava la velando um amigo e concorda mesmo que o lugar da Companhia eh aqui.

Porque? Porque nao abvro mao da minha integridade. Se cheguei ate os 50 anos sem apertar um suborninho na mao de pseudo executivos ate agora, nao o farei agora. Mas vomitarei morrendo e escrevendo o Suicide Note, provavelmente a ser publicado pela Yale University Press (atraves do Drama department, nada a ver com o Marshall). Quando sair esse livro, o sorriso de muita gente vai se abrir ate a boca estourar. E, ao mesmo tempo muita gente vai estourar, aguardem.

Gerald

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ultimos dias do BLOG

Sexta de manha

Estou meio desencantado dessa ideia de Blog. Adorei no inicio. Achei que era uma janela linda pro mundo. Mas me vejo decepcionado com tao pouco interesse e tao pouca interatividade (um , dois, tres comentarios). Entao….dou mais esse fim de semana e depois tchau. Tenho mais o que fazer.

Eh como teatro. Se nao tem plateia, se cancela. Entendem?

LOVE

Gerald

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o que nao coube no texto de baixo

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saudades de um pais e nunca mais (Brasil). Hello New York!

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artepalavra de Antonio Junior

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indo dormir com um pe atras

Ando lendo o belissimo livro do ANTONIO JUNIOR. Daqui a uns dias escrevo uma resenha. Mas ler tres livros ao mesmo tempo eh gostoso, estranho, confuso, mas nunca foi diferente comigo, desde os tempos da adolescencia no Museu da Biblioteca Britanica, na Great Russell Street. Antonio Junior eh o maximo!!!!

Mas o pe na frente e outro atras eh porque a trilogia literaria no momento eh constituida de uma (relativamente nova) traducao de Dom Quixote de Cervantes (por Edith Grossman) e um livro Fascinante de Marshall Blonsky entitulado American Mytholgies – com prefacio de Umberto Eco.

Procuro um lar permanente para a nova Dry Opera Company aqui em Nova York. Varios lugares em potencial.

O meu elenco vai permanecer mais ou mesmo o mesmo que foi, em Anchorpectoris, com a adicao de George Bartenieff que acaba de aperecer em "Law and Order" seriado na NBC em que fez o convidado da vez (um nazista perfeito, apesar de George ser judeu e ter sido um dos ultimos a terem escapado em 1939), George fez comigo os Becketts de antigamente e Quartett de Heiner Mueller, em 1986.

Muita ansiedade, muita.

Um telefonema do Marco Nanini hoje, do Rio me deixou muito feliz. Pensei nele como sendo um dos atores mais BRILHANTES que ja conheci.

Mesmo assim, vou dormir com um pe na frente e outro atras. Minha cama, aqui na 23 com o FDR Drive, deve ser uma cama estranha, nao?

LOVE

Gerald

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ZE Celso e eu em Oh que Belos Dias

GERALD THOMAS, 1996
VIEW BY WORK

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os erros de gramatica

me perdoem os erros de gramatica, mas eh que escrevo sem rever. Se isso eh bom ou ruim? Tanto faz. Nao escrevo pra imortalidade e sim pra expressar esse momento. Mesmo assim, noto que existem imperfeicoes. E eh por elas que eu, Gerald, sempre me apaixonei.

Detesto a beleza.

LOVE

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o que eu sinto

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Nessa quarta feira a noite…..

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Ontem a noite, sexta, apos o espetaculo, fui num barzinho no Bowery esquina da rua 1 (perto de onde William Borroughs passou grande parte de sua vida, nos lavatorios desativados do YMCA) pra ver a JUDITH MALINA e Hanon REZNIKOV lerem seus poemas e se reinstalarem em Manhattan como sendo sua base, depois de um longo exilio (auto imposto) na Italia.EMOCIONANTE! Judith e eu temos um longo passado em comum: 20 anos. Ela, ex-mulher de Julian Beck (os dois são os fundadores do incrível LIVING THEATER, que mudou a historia do teatro no mundo, perguntem ao Zé Celso, perguntem ao Boal, perguntem ao Mundo), eh a ultima SOBREVIVENTE de uma geração de Resistentes como Allan Guinsberg, Borroughs, Keruac, Tim Leary, Bowles, etc. Sem eles não teria acontecido a contracultura, não haveria Ângela Davies, Gloria Steinen. Germaine Greer, Abbey Hoffman, Jerry Rubin.

Sem eles nao teria havido Andy Warhol.

Ontem Judith lia poesias de Julian Beck e eu, comovido ate não poder mais, me lembrava dos tempos em que o dirigi em "That Time", peca de Beckett no mesmo La MaMa Annex onde estou em cartaz hoje com Anchorpectoris (gente…acaba amanha!)

Julian nunca havia pisado fora do Living Theater, exceto pra fazer filmes como Édipo Rei (Pasolini), ¿Cotton Club¿ (Coppola) e "Poltergheist". Mas em teatro, fui o privilegiado (não sei ate hoje porque) a te-lo dirigido já nos últimos estágios do câncer.

Judith e Hanon liam seus poemas e eram aplaudidos pelas 30 pessoas que la estavam. Me pergunto sempre se o numero conta. Digo, se quantidade de platéia conta. Afinal, ate hoje, Julio Iglesias lotaria um estádio como o Maracanã. Mas…e dai? Essas 30 pessoas eram muito especiais. Eram intelectuais, eram pessoas que estavam absorvendo cada palavra do que estava sendo dito naquele palco daquele bar.

Judith – alem de fazer o Statement de que o LIVING estava de volta (essa MULHERONA de 80 anos, pequena, frágil, LINDA!), também convocava o publico a fazer uma demonstração pacifica hoje nas ruas contra BUSH, que estará na cidade daqui a pouco por causa da convenção Republicana.

Estou com a CNN ligada e ele ainda discursa suas baboseiras na Florida, apoiando seu irmão, governador de la. Que turma! Que horror. De onde moro hoje, oposto a Williamsburg onde passei 22 anos da minha vida, vejo o FDR drive lotado de carros da policia fazendo um cordão, preparados pra receber el presidente.

Poesia não salva tudo. Talvez não salve nada. Mas ontem a noite lavou minha alma. Cultura e Historia ainda são os UNICOS alimentos nessa época nefasta. Judith Malina em seus 80 anos de RESISTENCIA contra a morosidade, contra os Nazistas, contra os macartistas, contra os CARETAS e contra o establishment em geral, esta de PE.

Quantos de nos podemos dizer a mesma coisa com prosa verso e orgulho?

Gerald Thomas

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Judth Malina e Hanon Reznikov

Ontem, apos o espetaculo, fui a uma poetry reading de Judith Malina. Uma das coisas mais EMOCIONANTES que ja presenciei. Ela leu poemas de Julian Beck, seus proprios, e Hanon fez o mesmo. Chorei (nao me contive) de saudades do Julian (eu o dirigi na sua unica apresentacao fora do seu LIVING THEATER, em 1985, na peca de Beckett "That Time", quando ja morria de cancer).

Num barzinho no Bowery feito pra poesia (do lado de onde William Borroughs passou grande parte de sua vida (os lavatorios desativados do YMCA), Judith e Hanon estavam fazendo seu STATEMENT e o porque estavam construindo seu proprio teatro em Manhattan, depois de um longo exilio na Italia.

Existe luz no fim do tunel, quando se ve essa MULHERONA linda (pequena, fragil) ultima sobrevivente de uma lineagem que inclue Allan Guinsberg, Borroughs, Keruac, Paul Le Mann, Paul Bowles, O Julian, Tim Leary, etc… em pe convocando as pessoas para a passeata HOJE contra BUSH que estara na cidade fazendo merda na convencao republicana.

Estou com a CNN ligada e ele esta discursando na Florida, terra se seu irmao.

Daqui a pouco estara aqui.

VIVA a poesia LIVING

Ainda existe esperanca. Nem que seja entre 20 pessoas. Estamos reduzidos a isso.

LOVE

Gerald

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Sabado, dia da convencao REPUBLICANA em Nova York

Hoje eh um dia de PAZ (espero) mas muita DEMONSTRACAO, PASSEATA e///quem sabe…..pancadaria em NOva York. Bush estar na cidade. Dessa janela ja vejo o FDR Drive lotado de carros da policia formando um cordao de isolamento (a ONU eh aqui do lado). Estou com a CNN ligada e vejo que o monstrengo ainda esta na Florida apoiando o irmao….Daqui a pouco estara aqui.

Amigos meus ja estao a postos, com capacete na cabeca em pontos estrategicos.

Sera que teremos algum publico hoje, um dia antes do termino do espetaculo? Que pergunta idiota, porem pertinente, ja que Bush vira a cidade so pra capitalizar o evento de Setembro 11, 2001. Tentara chegar de limousine a Ground Zero de qualquer jeito. E de qualquer jeito, os ativistas democratas e gente normal como nos que pensamos e temos a cabeca e os miolos no lugar, irao tentar para-lo. Mas a policia estara la para remover tais pessoas. Bush sempre tem seu helicoptero a postos. Presidentes sempre sao presidentes e o PODER sempre eh o PODER e a AneriKa nao brinca. Veja o mundo onde esta!

Ontem, apos a nossa apresentacao, fui a uma "poetry reading" de Judith Malina e Hanon Reznikov num bar no Bowery (do lado de onde Wiiliam Borroughs morou durante anos, ou seja, os lavatorios desativados do YMCA). Que coisa emocionante, EMOCIONANTE! JUDITH, com 80 anos, ex- mulher de Julian Beck (que eu dirigi em seu ultimo espetaculo – morreu durante as apresentacoes de "That Time" (aquela vez) de Beckett, em 85, eh a alma viva e POTENTE do LIVING THEATER.

LUCIDA, linda e maravilhosa, Judith estava ativa e lia seus poemas e os do Julian. Chorei pra burro. Nao tive como me conter. Vai fazer 20 anos que conheco essa TOURA, esse animal maravilhoso e ativo da RESISTENCIA. Eles, o Living Theater INVENTARAM uma outra forma de teatro. Re-inventaram o teatro. Perguntem ao Ze Celso. Perguntem ao Boal. Perguntem ao MUNDO. E ontem, na frente de umas 20 pessoas, Judith e Hanon estavam nesse barzinho justificando sua volta pra Nova York (anos de exilio auto imposto na Italia onde sao reconhecidos) e a construcao de um teatro deles proprios em Midtown Manhattan.

Foi uma noite de esperanca.

Ainda existe luz no fim do tunel quando se ouve a ultima sobrevivente de uma geracao de Batalhadores que teve soldados como Alan Guinsberg. Borroughs, Keruac, Julian Beck, Paul Bowles, Tim Leary, Bob Dylan (mais jovem,) e……os subsequentes Jerry Rubin, Angela Davies e Abbey Hoffman…todos crias desses ICONES maravilhosos, POETAS LUCIDOS e brilhantes/

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os ultimos dias……

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Quinta de madrugada nevando em Nova York

Quanta tristeza

Anchorpectoris mal teve sua estreia e ja esta chegando a sua reta final. Eh uma total loucura essa coisa de se fazer temporada de tres semanas. Um esforco fenomenal de "construir" um espetaculo em 12 dias, agitar as adrenalinas de todo o sistema nervoso……Espera-se pela critica e a anti-critica, vem o publico, e mais publico, vem os emails de gente que ja viu e ja viajou de volta pros seus respectivos paises e…..de repente…pronto! Hora de acabar. Nos, essa "familia" que se forma em torno do espetaculo, esses 12 atores maravilhosos, vao ficar sem solo (inclusive eu) na proxima segunda feira. Quinta a noite vai ser uma noite "TENSA" pois vem a critica do New York Times. E aqui, todo mundo sabe o que isso significa.

Mas nem tudo esta perdido. Ja temos viajens marcadas e os ensaios de "Les Petit de Genet" comecam ja na semana seguinte, simultaneamente com "as 3 Irmas" (todas as tres feitas por Fabiana Gugielmetti). A Dry Opera Company esta o Maximo, mas "perder" Anchorpectoris vai ser……..sei la. Estranho.

Esta tarde. Fico feliz em ter o autor Bahiano Antonio Junior visitando esse Blog (ele eh muito bom! quando eu tiver terminado o livro dele, farei uma ENORME resenha sobre ele). Vou dormir.

LOVE pra todos.

Gerald

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Um breve olhar na grandiosa ANCHORPECTORIS de Gerald Thomas.

……E no peito do morto
em lugar do coração
uma âncora enferrujada
não é humano, pensaram
o morto sorriu………


De onde nos vem tanta angústia?Aquela sensação de ter uma âncora no peito a nos inflingir ansiedades, pânico, questionamentos contínuos? Mas estamos questionando o quê? Ou quem? A nós mesmos? Aos outros? Nosso Eu mais profundo não responde. E, se responde, a fala não vem clara. Quase inaudível ou rebuscada de metáforas, esconde-se entre murmúrios pálidos. Ficamos a ver navios, se me permitem o clichê. E o tempo se vai, a Nave de Felini se vai, e o nosso coração, pressionado a mais não poder, não nos deixa esquecer os questionamentos. Do mundo, do estar por aqui, do Ser em conflito com sua própria identidade, com a sociedade, com o meio-ambiente, com as loucuras que afligem o Planeta. A âncora pesa, a alma tenta esvoaçar. Ficamos pendurados entre duas possíveis realidades paralelas, enquanto no profundo de nosotros, algo se estilhaça. Queremos a todo o custo, juntar os cacos, pra quê, não sei. Mania de reconstrução. Missão dificil, pra não dizer impossível. Já nos esquecemos da forma antiga e, ainda que não tivéssemos esquecido, essa forma já não tem lugar num país comandado por um cowboy-ventríloquo fantasiado de presidente.

Muito tenho refletidosobre Anchorpectoris a fantástica peça escrita e dirigida por este gênio que se chama Gerald Thomas. Assisti à estréia e vou voltar ao La Mama para, mais uma vez, tentar captar nem que seja um fresta do estranho labirinto proposto por Thomas. Um labirinto de paixão escaldante, que não se sabe onde começa. Terminar, nem pensar. O espetáculo – entre luzes e sombras, à medida que examina/questiona a política americana, alienação, consumismo, falta de memória histórica, contradições nossas e alheias, isolamento, o lugar do Teatro na atualidade – vai se incorporando ao nosso íntimo, como uma tranfusão de sangue de lobo, quente e excitante. Somos energizados de tal maneira que temos vontade de pular da cadeira, ir para o palco e se juntar àquele grupo que ousa trazer à tona, dúvidas e temores subterrâneos, estações passadas de nossa fase umbelical. Gerald Thomas, ele próprio, se expõe sem receio, se abre corpo/alma para quem quiser ver e ouvir e tocar suas angústias, terrores, descrenças – contidas em "Notas de um Suicida" (livro autobiográfico). Acompanhamos Thomas (ou tentamos acompanhá-lo) pelas estradas ínvias dum mapa doloroso mas, ao mesmo tempo, pontilhado de humor, sarcasmo, poesia.

A âncora pesa.Queremos arrancá-la mas sabemos que, como uma flexa certeira, penetrou fundo em nossa carne, que não é tão tenra assim. Também sabemos que, ao arrancá-la, a danada vai dilacerar nossas entranhas e, de quebra, ainda leva nosso coração, trêmulo de incertezas. A dor de tê-la tido conosco, se vai; mas fica outra dor, maior ainda, em seu lugar. A dor do vazio, da insegurança (cadê meu ursinho de pelúcia, mãe?), a dor da tormenta de se estar vivo sem ter um papel definido no Coliseu moderno. Mas… que papel é esse? Precisamos dum papel? Todo mundo tem que ter um papel? Isso está escrito na Constituição do The United States of Mind? Parece que sim. Ah, então não somos nós que dirigimos nossa própria atuação? Parece que não. Então ela é ditada pelo Sistema que, com seus meios persuasivos, invasivos, incisivos, já envenou nosso sangue, infiltrou-se em nosso cérebro? Tudo indica que. Então a gente pensa que está pensando quando, na verdade, a matriz do nosso pensamento já foi alterado? Então a gente luta, grita, protesta, esperneia, gargalha, bebe, arrota, peida, solta fogos, talvez, quem sabe, com uma emoção pré-fabricada à nossa revelia? Não sei. Mas suspeito que.

A âncora é leve.Queremos arrancá-la. Sabemos que podemos arrancá-la mas, o que seria de nós sem a sua presença? Ficaríamos mais leves do que uma pena de garça do Pantanal. Nossa pseudo consistência, aquele "sólido" de que nos fala Thomas se esgarçaria ao mais leve sopro do vento. Impossível conviver com tamanha leveza. Ou seria possível? Não sei. Gerald Thomas nos convida a refletir, a ir fundo no lago azul de um Narciso inventado e, paralelamente nos convida a rir de nós mesmos, a repensar o impensável, a viver, em suma. Ou a morrer, mas… seria esta a solução? Que bobagem a minha, mencionar esta palavra. É tudo o que o Teatro de Gerald Thomas não tenta mostrar. Ao contrário. Nos impele a sair do La Mama com a âncora encravada no peito, com aquela sensação de que a segurança do cais é ilusória. Mesmo assim, recusamos a descartá-la. Vejam só. Nosso medo ancestral a tudo se sobrepõe. Mas também saímos alegres por termos tido a sorte de assistir a uma peça magnífica, montada em apenas 12 dias (outra genialidade de Thomas). Anchorpectoris é um dos raros espetáculos encenados em New York, que sacode nosso comodismo enraizado, e nos impulsiona a ver o mundo sob diferente ótica. Pessimista? Otimista? Não sei. Depende. Ou não depende.Fico eu aqui a tecer conclusões quando no fundo sei que não as possuo. Nem eu, nem ninguém. Anchopectoris não é conclusivo. É elucidativo. Enigmático. Revelador. Provocativo. Cômico. Tudo isso junto e muito mais que talvez eu não tenha entendido. Vem em meu socorro uma frase de Clarice Lispector: "Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento." E eu posso dizer que "vivi" Anchorpectoris,este complexo jogo que não é o da Amarelinha de Cortázar.É um jogo Thomasiano. Brilhante. Original. Único. Que se processa num clima surreal, onírico, fusão do fugaz e do eterno, de incrível beleza sonora e visual. Névoas intercalam-se num espaço dimensionado por uma tela atemporal, onde o corpo é a projeção da sombra. Sombras vivas de força e sedução, eletrizantes. E as luzes? Qual o papel das luzes? A meu ver são personagens em busca duma outra forma de vida. E conseguem. Atuam livremente, nos arrebata para além da cena, para além de nós mesmos, para fora do mundo, e nos traz de volta ao reino do inimaginável.

Estamos todos no palco, como era nosso desejo. Pelo menos, o meu. Ao lado dos admiráveis Stephen Nisbet, Tom Walker, Stacey Raymond e outros atores talentosos. Dançando com Fabiana Guglielmetti, esta fabulosa atriz que transcende a si mesma em seus passos, requebros, mímicas, gestos graciosos e rústicos e cômicos, sobretudo vivos de doer. Fenomenal! Gracias, Fabiana!

Gerald querido, muito obrigada, é só o que consigo te dizer no momento. Ainda estou sob o impacto da magnitude de sua obra incomparável. Através dela andei descobrindo que toda certeza é provisória. A brisa que passa, um bater de asas, uma simples garoa em nossas convicções, podem mudar o rumo da jornada. Somos uma embarcação, não digo à deriva, mas frágil demais pra conter o próprio destino. Esta âncora-dor – unidade dos contrários – me fez relembrar o quanto é vasto o caminho do conhecimento. De nós mesmos. E dos outros. Que somos nós, em ângulo adverso. Thank you very much, Gerald Thomas, por manter viva a imagem desta âncora em nós, esta dor seca e permanente, a nos alertar sobre o perigo mortal do conformismo. Anchorpectoris é uma dor revolucionária. Uma dor que arrebenta limites.

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Tereza Albues
New York, 13 de março de 2004

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Sabado a noite depois do espetaculo…

Surpreso. A plateia nao estava lotada. Um monte de reservas nao apareceram (dificil estacionar o carro num sabado a noite no East Village) e quando apareceram na bilheteria, ja eram 8 da noite (o espetaculo comeca as 7:30 da noite) e……estavamos com 65% da lotacao. Depois da critica do Voice temos uma plateia mais sobria e com menos gargalhadas. Parece que o Voice lhes disse que a peca eh "Bleakly funny" e isso significa "sombriamente engracada" , ou seja, nao suficientemente engracada para rolarem de rir, como estavam fazendo espontaneamente na primeira semana….Ah a critica. Mesmo maravilhosa como essa foi, ela eh sempre um horror. Um julgamento.

E essa monstra maravilhosa da Ana Peluso me da esse presente maravilhoso! LINDO Ana, mais uma vez. Vou degustando-o aos poucos. Luis Damasceno (que aparece na foto canibalizado) eh o ator principal da minha companhia no Brasil e consta no programa do espetaculo aqui com uma dedicatoria especial: Dama, que saudades! Que enorme saudades!

Voces estao comprando essa versao de que o Al Qaeda esta por traz do bombardeio de Madrid? Eh preciso "estar atento e forte" como dizia Caetano na decada de setenta. Mais de 80% do que se publica eh propaganda governamental e ela eh baseada na mentira e em disseminar a paranoia. Mesmo que a ETA ainda nao tenha se pronunciado……acho muito pouco provavel (mesmo com a prisao dos tais arabes: podem prender quem quizer e dizerem que sao eles: olhem o que esta acontecendo ha dois anos em Guantanamo Bay)……Cuidado gente com a manipulacao de informacao.

Cuidado gente com as panelinhas que usam dinheiro publico e o distribuem para os "amiguinhos" atravez de festinhas, repassagem de dinheiro. Lavagem, ne? Alguma diferenca? Que porcalhada!

LOVE

Gerald

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Vou me radicar aqui de vez porque…..

Aqui em Nova York tenho como trabalhar

No Brasil as tais "inscricoes de projetos" nao passam de jogos de cartas marcadas. Nao aguento mais essa palhacada. Eu poderia aqui fazer uma longa lista, uma denuncia de diretores que ja estavam recrutando atores muito antes sequer de seus projetos serem oficialmente serem aprovados. Mas…..pra que? Que se danem nessa PROVINCIA CORRUPTA!

Humilhante eh ter que passar por esse processo e fazer com que outros diretores passem pelo mesmo processo e pela mesma esperanca de achar, ou poder achar que existe luz no fim do tunel quando ja esta tudo combinado dese o inicio.

Mas sao velhinhos tadinhos. Deixem que aproveitem os poucos anos que lhes restam. Tem isso.

Tenho mais o que fazer. "Estou jovem e estou ativo e ainda prefiro o centro do mundo"/ confesso que a corrupcao me tira do serio. E ela esta presente em quase todas as instituicoes que lidam com concursos que abrem as tais concorrencias ou editais…….NOJO!!!!!!! Se houvesse uma imprensa cultural-investigativa e um sistema judicial serio no Brasil, teria um monte de gente atras das grades.

LOVE

Gerald

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