Quebrando o ESPELHO do PRODUTO de uma vez por TODAS!
Nada como sentar com amigos de longa data. Avalia-se o tempo, momentos tristes, alegres, os mais depressivos como os mais eufóricos. E, no final, a prova de que o inverno está chegando e o velho companheiro me lembra "não está na hora de renovar as suas Timberlands"?
Nada como sentar com um amigo recente. Ele te revela tudo aquilo que você mais temia a respeito da tua imagem girando por aí, mas tinha medo de perguntar. "Putz, aquela atriz que trabalhou com você…..deus do céu! Você não tem idéia do que ela espalha a teu respeito!". Indignado e surpreso, mas curioso ao mesmo tempo eu insisto, "mas o quê, espalha o quê?"
"Você não tem idéia de como você é visto pelas pessoas, ou melhor, você não tem idéia de como é a tua imagem por ai". É verdade. Não tenho mesmo. A auto-imagem é o grande problema da modernidade. Talvez o grande problema dos psicanalistas, eles mesmos alvos dessa patologia, ou seja, a deformacao da auto-imagem. Num mundo onde o invíduo é nutrido de humilhações e falta de identidade, aquele que se pronuncia, que emite opiniao, vira, automaticamente, alvo de toda a sorte de fofocas.
Tudo bem. Posso dizer que não me importo. . Mas não estaria dizendo a verdade. Me importo sim, principalmente com aquelas (olha o feminino!) que dizem ter me conhecido profundamente através do trabalho ou através de um contato mais "pessoal" (geralmente são pessoas que sequer me viram pessoalmente) e saem por aí dizendo coisas. Fui tachado de polemico logo cedo na minha vida. Polemico, na imprensa, pra mim significa que o jornalista eh preguicoso.
"Nossa, ele é um grosso, viciado, come todo mundo, um alcólatra". Fazer o que com essa mitologia ao contrário? "Um mitonomo"!"Viado"! Ate de uso de heroina ja ouvi! Heroina, que loucura! "uma "ex" faz anos chegou pra outra "ex e disse: "Ele eh esteril, nao pode ter filhos". Essa mesma "ex" so tinha merda ou ciumes na cabeca quando disse isso, porque presenciou uma miscarriage (aborto natural) quando uma outra "ex" italiana estava internada no Hospital Publico de Taormina (Sicilia) onde a Compania se apresentava. Sofri com os varios abortos. Um outro em Graz, Austria e uns outros que nao valem a pena mencionar. NOJO! Não adianta dizer mais nada: é como se defender de um fantasma. Inúmeras reportagens, tanto na mídia impressa quanto na televisiva já indicaram o contrário: atores celebrados como "monstros sagrados" já deram seus depoimentos: "ele é tão carinhoso, cochicha em nossos ouvidos, está sempre no palco com a gente, nunca senta na platéia como os outros diretores, tem a dinâmica do ator, já que autora o texto no momento exato em que estamos ensaiando". No entanto, tudo isso parece evaporar-se como a fumaça que uso no palco. O que parece sobreviver é a imagem de um monstro.
Então, que assim seja. Vou começar a vivê-lo. Digo, vou começar a satisfazer a imagem pública que fazem de mim. Chega de me desculpar. A partir de agora, farei jus a esse espelho torto que construíram a meu respeito. Nao so irei vive-lo como tambem quebra-lo. Estou achando tudo muito engraçado. Vou desligar o telefone na cara de todo mundo, entrar sem cumprimentar ninguém, não respondo mais emails, virarei aquele "inatingivel" que me pintam ser. Acho que assim me "vendo" mais caro! Antipatia eh o que querem? Subira o meu preco!
Eu ia escrever uma coluna linda sobre o recém-falecido jornalista Ed Bradley, do 60 Minutes, da Rede CBS, e do fato dos Democratas terem ganho as duas casas. Mas da maneira como minha auto-imagem está enaltecidamente cortejada, o jeito mesmo é "ficar" antipático, arrogante, orgulhoso. Já que não importa mesmo que as pessoas nao me conheçam na intimidade e não saibam dos meus sacrificios diários de sobrevivencia….entendi de uma vez por todas que uma pessoa pública é assim mesmo: uma "coisa" um "produto". E produtos não choram lágrimas e nem se despedem!!!
parecido com o do diretodaredacao.com
comentario de um ator fabuloso:
Lembro como te olhava de longe, quando estudava teatro no Rio, final dos anos 80, nao tinha coragem de chegar perto… anos depois, em Copenhagen, voce com "As Fernandas" se apresentando, eu, estudando, me aproximei, morrendo de medo da "persona", que desde aquela época já existia, mas voce me convidou pra jantar, anos depois trabalhamos juntos e voce, ate hoje, "apesar de tudo, tudo, tudo, tudotudotudo" nunca deixou de responder a um email, ou um telefonema e eu, "apesar de tudo, tudotudotudotudo" (era um texto de uma peça, pessoal), nunca deixei de me importar . Gerald, voce sempre teve essa "persona publica" te acompanhando mas nunca deixou de estar presente na vida das pessoas "que te/se importavam". Nao sacrifica isso nao… os caes ladram e a carruagem passa. o que fica para o público é o legado artístico e para os amigos, os verdadeiros momentos de risos, lágrimas, coxias sussurantes, dores de barriga e de alma… beijao!
Marcello Bosschar
Nestes tempos sem-graça, tempos sem brilho ou delicadeza… Nestes dias de profunda solidão entre mulatidões em que nós, artistas, nos entimos pregadores no deserto, doidos num manicômio falando com as paredes (ah se elas tivessem mesmo ouvido…) Nestes tempos em que a linguagem corporativa toma conta do nosso dia-a-dia, em que as pessoas trabalham confinadas em baias e não saem de casa sem serem monitoradas pelo celular, pelo msn, peloskype ou pelo radar… e ao mesmo tempo não se comunicam!!!Enfim, nesta época tão becketiana dizer a verdade tem um preço, ser genuíno tem um preço, falar o que se pensa, então?!?!? Para milhões de formigas operárias há sempre uma cigarra que canta (não de forma irresponsável, mas como alerta – reparou como o canto da cigarra mais parece uma sirene?)Gerald, você é a nossa sirene. Sempre foi.
Gerson | gerson.steves