Monthly Archives: February 2007

Depois de SEIS horas dentro do aviao na neve, enfim, o Gigante adormecido

UMA DIFÍCIL CHEGADA
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São Paulo – Eu achei tão pertinente o artigo da semana passada do Eliakim aqui no DR ("A mesmice do carnaval na TV") que me senti vingado. Ou seja, o Carnaval da Sapucaí que tanto já me entusiasmou, já me levou aos prantos e tirou sangue das minhas mãos (que dramático, não?) quando eu saía na bateria, se transformou num bando de gente pulando. Um bando de gente qualquer nota pulando, gente que nem sambar sabe.

O Carnaval mais ou menos acaba refletindo isso, o que todas as festas nesse nosso mundo febril e seco (o Oscar hoje por exemplo) estão virando: um pastiche, um pastel murcho, um bando de mesmices chatas onde o previsível chega a ser um elogio! Gente se exibindo, posando pra fotógrafo, fotógrafo pago por essa mesma gente para estar lá e ser fotografada em seus melhores momentos. E, em seus piores momentos, os paparazzi pagos pelas redações amarelas ou marrons, pegando elas (ou eles) – ilustres – nos seus momentos de decadência, os seus momentos "morgue" ou aqueles que eu chamo de pré-Instituto Médico Legal (ou ilegal, conforme o caso).

Chegar no Brasil…..Deus, como é difícil aclimatar-se! Como fica difícil a conversa. O Brasil se basta. Os horrores daqui levam a patente daqui. E as pessoas chegam a ter ciúme dessa patente. Os horrores do mundo, bem….isso parece não interessar muito a ninguém. Acusar sim. Adoram acusar. Não sabem muito sobre nada, mas fingem que sabem e acusam. É como se vivessem lá, digo, no primeiro mundo: e discursam. O quintal do vizinho, cheio de roupa suja brasileira. Vontade de ficar no quarto de hotel sozinho e calado! Bico calado!!!!

Não há mais como conversar. Digo, manter uma conversa viva. Os assuntos hoje requerem o QI mais baixo possivel, gracas às revistas imbecilizantes e aos programas de televisão. Isso fica ainda mais nítido aqui no Brasil. O choque da chegada, depois de cinco meses de ausência, é tão grande que quase não tenho palavras para descrevê-lo.

Mas entre as colunas sociais (e as boçais), a cultura e a política se resolvem num império de meias verdades, ou das mentiras completas. Quando sento num bar junto com os atores e ouço as conversas que rolam nas mesas do lado, não sei se choro ou me belisco para ver se é mesmo nesse mundo que estou ou se estão pregando uma peça de Augusto Boal em mim: o teatro do oprimido brincando em torno de mim para acusar aquilo que a sociedade tem de mais horrenda.

Sem maquilagem, sem disfarces, a paulicéia com suas peruas, seus carrões, sua miséria, seus mendigos atirados entre os faróis de trânsito, querendo me dizer que pulando e pulando e falando idiotices aos celulares esse mundo continua.

Não aprofunde nada não, porque se chegarmos perto do cerne de alguma questão, talvez a descoberta seja ainda pior. Talvez a descoberta seja a de que os nossos corações irão parar de bater por completo, assim como naquele conto de Kafka, quando descobrirmos o quanto somos rasos de verdade.
Gerald Thomas
do diretodaredacao.com

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Essa porra bate, metra, corre mas o tempo simplesmente murcha tudo

Caramba! O avião que me trazia de Londres quase não conseguia descer aqui em NY de tão catastrófica que estava a tempestade de neve.

Ainda hoje o homem não sabe lidar com o tempo. Essa frase tem duplo sentido. Mas na medida em que a nossa única promessa na vida não é a felicidade e sim a morte, o tempo é o nosso unico metrônomo.

E hoje à noite, quarta, embarco para o Brasil. Fazer o quê? Montar mais um espetáculo. Um novo espetáculo. Juro que não conheço na história do teatro contemporâneo um dramaturgo que tenha escrito, dirigido, iluminado e o escambau, seis novos, brand new, espetáculos num período de menos de dois anos.

Todos querem o novo, o inédito. Não os culpo. O velho ficou velho em menos de meses. O tempo, esse mesmo metrônomo que nos deixa rugas a cada dia, ficou cada dia mais curto. E tudo fica chato em questão de segundos. Celebridades hoje não são mais as pessoas talentosas. Celebridades hoje são as Paris Hiltons, os Donald Trumps e essa pobre coitada e debilóide da Anna Nicole Smith que foi encontrada morta na Flórida: na geladeira de seu hotel, metadona e outras coisas, ilegais e legais, e uma longa lista de mistérios sobre a paternidade da sua filha e a morte do seu filho em setembro passado.

As artes? Somos poucos. E poucos os interessados. Estamos em plena época do gelo, literalmente. Minha descrença é enorme. Mas giro o mundo e ouço as pessoas e leio avidamente os jornais e vejo o cinismo dos editors e percebo a curta memória do público e nada prova nada e nada mais interessa mais a ninguém.

E lá se vai uma longa lista de espetáculos que ficaram na história. A quem pertence? Ao domínio público? Quem vai acessar? Quem se interessa?

Se na minha adolescência eu ainda tinha algum espírito combativo de ir para as ruas de Londres protestar contra o avião Concorde pelas vibrações que emitia, lia avidamente o Blue Print for Survival ou dedicava horas e horas do meu dia a Amnesty International em causa dos presos politicos brasileiros, já naquela época falava-se no efeito estufa. Hoje estamos bem dentro dele.

Pior que isso é a violência no mundo, ou melhor, a violência dentro de nós mesmos. Talvez a gente esteja chegando a um breaking point. Digo isso por causa da falta de interesse de todos por tudo. Ideologia, digo. E justamente por isso, esse tempo, esse metrônomo que nos matará, mais cedo ou mais tarde, está sendo adiantado sadicamente por alguns – em algumas partes do mundo.

Isso porque o bater do metrônomo é simplesmente insuportável.
PS: o aviao que me trouxe (ja escrevendo de Sao Paulo, ficou SEIS horas sentado na pista do aeroporto JFK porque somente UMA maquina de desgelar as asas funcionava!!!!!
Gerald
http://www.diretodaredacao.com

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a morte de Anna Nicole Smith

A vida nos EUA raramente para por um unico motivo (tipo…..novela brasileira). Mas ontem e hoje a vida aqui paralizou. A morte da putona e meio debil (casou com um ultra trilionario de 98 anos – ou teria sido 89?) que veio a morrer logo em seguida………seu filho de vinte e poucos anos morreu em setembro ultimo, justamente quando ela estava pra dar a luz a uma bebezinha linda (disputada por dois pais diferentes!). A vida dela eh uma unica "legal battle". 39 anos e nao sai das manchetes. Ora gorda demais. Ora magra demais e sempre meio drogadona nao falando coisa com coisa: tentou o suicidio se jogando na piscina ano passado: a figura dela lembra, obviamente a M Monroe. Mas Anna Nicole, assim como a Paris Hilton, sao celebridades que existem mas nao tem NADA a dizer. So perambulam diante dos paparazzis e, com os seus batons borrados e oculos escuros, sempre parecem ter saido do inferno (digo, o inferno gostoso). Mas nao dizem nada, nao fizeram por merecer, emburacadas na fortuna!
Bem, agora morreu. E o legista esta la, num lugar paradoxal chamado Hollywood mas nao California e sim numa reserva indigena na Florida!!!!!!
Go figure!
Pararam ate de falar no Iraque ou no confronto hoje entre arabes e israelenses em Jerusalem!
Gerald

de um de meus atores, no reino podre da Dinamarca
Marcello Bosschar] [Dinamarca]
Anna Nicole… Era um clown doente: vomitando, bebendo, falando baixaria em seu próprio Reality show… as pessoas morriam de rir quando ela entregava algum premio na MTV ou qualquer outro totalmente louca, carregada de tranquilizantes, sem dizer coisa com coisa… era o próprio circo, o Romano… tivemos a oportunidade de ver a degradaçao lenta e assustadora de um ser humano na televisao. Nao era óbvio? Que ela precisava de ajuda? Ao inves de terem dado um programa de televisao tinham que ter internado numa clinica, sei lá… nao estou julgando quem ela foi ou o que representava. Quem sou eu? Fico pasmo com a falta de humanidade ou empatia ou pela pura irresponsabilidade de certos meios de comunicaçao que jogaram a carne fraca de uma desmiolada para ser consumida, lentamente por "pessoas comuns" que achavam graça numa vida deprimente e infeliz. Bem, capitulo encerrado

PS: Curioso eh que – no espetaculo "Ventriloquist" O Marcello interprertava um personagem que era uma mistura de padre e Marilyn ou Anna Nicole, ou seja, uma pessoa "ou of it" Num determinado momento do espetaculo, sempre tentando se "equilibrar" o padre eh 'desnudado" e debaixo de sua batina ele traja uma T-shirt com uma ENORME cara de M Monroe estampada em suas costas. Saudades querido.

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The importance of NOT being Ernest

"Falhar. Falhar de novo. Falhar melhor" (Fail. Fail again. Fail better). Esse era o grande "motto" de Samuel Beckett. Os irlandeses sabiam reconhecer seus erros e, de certa forma, se orgulhavam deles.

Acabo de ler Strange Tribe, o livro comovente de John Hemingway, colega de coluna aqui no DR, sobre a relação turbulenta entre seu avô (Ernest) e seu pai, Gregory. Dei um título provisório ao comentário que mandei para o editor desse livro maravilhoso que está para sair: The importance of not being Ernest, citando mais um irlandês, Oscar Wilde e, com isso, fazendo um trocadilho com a vida brutal que o pai de John teve, ou seja, de querer e não querer ser o pai, ter repugnância pelo machismo do grande escritor americano, amante das touradas, da luta de box e eterno nômade, ora em Cuba, ora aqui, acolá, ora cobrindo a Guerra Civil Espanhola e terminando tudo num suicídio. Não, mais não conto. Comprem o livro quando sair.

Quero dizer com isso que somos imperfeitos. Cabe a nós entender isso e não constantemente camuflar isso. O filme "Manda Bala" é um retrato perfeito do Brasil "ladrão de galinhas". Vai ter brasileiro que contra-argumentará: "mas e os EUA, que matam no mundo inteiro, metem o nariz em tudo que é pais, se intrometem na política interna do planeta e acabam criando conflitos mortais em todas as regiões do mundo?"

Argumento certíssimo, se asssim gostarem. Mas nem por isso "Manda Bala" deixa de retratar um Brasil que explora o mais miserável dos miseráveis. Aquele que não tem onde dormir, é espancado pela polícia, torturado por ela, ameaçado e ainda por cima roubado pelos poucos centavos que possui. Isso não se vê aqui nos EUA. Talvez na Nigéria. Talvez em Mumbai. Mas não aqui.

Melhor seria ver o filme, não criar falsos panos quentes e ver o que o Brasil tem de bom. Sabemos o que o Brasil tem de bom: os canais de TV no Brasil nos mostram o lado bonitinho da coisa toda hora: as lindas mulheres, a música entorpecentemente linda (quero vomitar!), paisagens de enlouquecer qualquer sóbrio! O ideal seria ver o filme no melhor estilo "irlandês de ser" e ficar um pouquinho quieto.

O Brasil esta miserável. Cada vez mais. E cada vez mais isso se traduz numa violência nunca d'antes praticada, ou seja, de garoto para menino, de policial para civil, deixando o marginal, como diria Hélio Oiticica, no lugar do verdadeiro herói
Gerald Thomas
do www. diretodaredacao.com

de Ruy Filho
Acabo de voltar do encontro com uma pessoa que há quase trinta anos está dentro da política brasileira. Uma xícara grande de café, três horas de conversa. O brasileiro não se interessa pela Política, mas é o rei da politicagem (nosso tão aclamado jeitinho). E vamos seguindo em frente como dá. Sobrevivendo em alienada monotonia. Criticamos americanos e quaisquer outros por seus erros e atrocidades, usando isso para esquecer as nossas. Sentado no café, debatendo e discutindo, sinto alguém tocar meu ombro e dizer: "dá licença? faz tempo que eu não vejo ele!". Negra, magra, maltrapilha, cabelos quase raspados, suja e fedendo. E um sorriso que preenchia toda a cara, esbanjava viva. Essa garota morou anos na frente da minha casa. Ficamos próximos. Nunca dei grandes trocados, oferecia a conversa, o respeito. Ela saiu pela mesma rua qual veio. E nós, sentados na mesa limpa, com nossos cafés, falando de política, precisamos de cinco minutos para voltar a nos olhar. Saudade das nossas conversas

de Sergio Penteado
Caros, compreendi o que tentaram me dizer e vou pensar a respeito dos comentários. Acho que perguntar induz à reflexão, nem sempre temos que marcar uma posição em relação às coisas pelo fato de simplesmente não a termos. Acredito que a sensatez talvez possa ser mais eloquente através do silêncio e da dúvida, ainda que isso sugira um vazio (certo, Ruy ?). Mas concordo que às vezes deixemos uma desnecessária impressão de sisudez nas pessoas, e creio que o Contrera me entendeu bem. Nós por vezes temos um auto-conceito e uma auto-estima tão elevada que "pontificamos", eu inclusive, foi isso que eu quis dizer, Ana. Voltando ao texto do Gerald, é curioso…hoje completamos dez anos sem o Paulo Francis e essa "crônica" do blog me lembrou fortemente a verve franciana, de radiografar acidamente o Brasil, a meu ver não necessariamente com um propósito destrutivo. Alguns o odiavam, mas na minha opinião, para o momento que vivemos no país, ele faz falta. The importance of not being Ernest.

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