Monthly Archives: October 2004

Cem andares abaixo do underground

ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK


– Steve Ben –

Se você é capaz de imaginar alguém rebelde o suficiente para ser expulso do Living Theater (em suas épocas mais rebeldes, logo após o aprisionamento do grupo no Brasil, em 1970) e continuar a sua rebeldia pacífica, poética e sobreviver dela fazendo uma espécie de "stand-up comedy-tragedy act", esse ser existe e se chama Steve Ben Israel. Seu objetivo não é fazer com que a platéia ria, mas que se comova e se veja refletida na excêntrica figura do ator e na patética era em que vivemos.
Não é à toa que seu espetáculo só fica em cartaz dois dias e acontece, literalmente, num subsolo de um teatro marginal do East Village, o Theater for the New City.
Conheço Steve desde que dirigi o Julian Beck, líder do Living Theater, em "That Time", de Beckett, em 1985. Já nessa época tentava sobreviver desses "stand-up acts". Nos parava na rua com seu jeito exacerbado, achando que a sua falta de sucesso era culpa de todos, dos porto-riquenhos, dos católicos, dos negros, dos russos…
No espetáculo que estreou na semana passada, "Non Violent Executions", ele finalmente chega à conclusão de que os problemas do mundo "sou eu". "Perdão mundo! Vou tentar melhorar!"
Aos 70 anos, com rabo-de-cavalo enorme e sotaque beatnik, Ben Israel me comove extremamente quando deixa seu ego de lado e faz filosofia com coisas cotidianas.
"Holy shit!" (Sagrada merda, uma expressão muito usada aqui no EUA). "Quem terá sido a primeira pessoa a empregar o termo? Será que a merda teria vindo de algum… budista? Ou será que alguém viu alguma aparição pairando no ar que parecesse merda e fez a associação entre o sagrado e o excremento?"
Steve descreve muito de sua vida pessoal e como conseguiu transformar a raiva em paz.
No último grande protesto contra a guerra e contra a convenção republicana, aqui na cidade, ele -marchando com os outros 100 mil- notou que os policiais estavam realmente "pissed off" (emputecidos), num calor infernal. Mas, pregando a paz sempre, soltou uma frase (diz ele que sem querer): "Hey, hey, why not get the police a better pay" (Por que não dar à polícia um salário melhor). O coro foi pegando, e os tais policiais emputecidos esboçavam um sorriso. "Viram? Fiz contato! é sempre possível fazer contato."
Mesmo tendo deixado o Living Theater, a filosofia de Julian Beck nunca o abandonou. "Non Violent Executions" nos fala da criança Steve Ben Israel com a mãe, imigrante russa tendo de engolir que ele seria ator em plena era da contracultura hippie e beatnik. Fala da tortura que sofreu no Brasil, de Chico Mendes e de como o mundo moderno lhe é hostil, de como até hoje resiste ao computador e termina numa emocionante homenagem ao século 20.
Se o bug do milênio tivesse acontecido, ele teria voltado a 1914 e proposto a Joyce e outros intelectuais uma maratona pela paz mundial. Voltaria para 1929 e criaria uma estatuto abolindo o dinheiro. Então enumera as datas catastróficas do século e as substitui por movimentos artísticos e políticos facilmente resolvíveis se o ser humano não tivesse esse excesso de ódio, sede pelo poder etc.
"Não quero que vocês saiam daqui rindo, apesar de eu me proclamar um stand-up comic." É, eu não sai rindo. Steve Ben Israel é o que há de underground sem truques de vanguarda, sem projeções, sem trilha sonora, nada. Somente ele em pé, por duas horas e uma garrafa de suco. E um texto comovente e brilhante. Um sobrevivente. Comovente.


Gerald Thomas é diretor teatral

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Tanto Bush quanto Gil odeiam o teatro

Tanto Bush quanto Gil odeiam o teatro

GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Até o momento do meu embarque para o Brasil, participei, aqui em Nova York (escrevo esse texto em pleno vôo), de um plebiscito, reunião, convocação de última hora, sei lá -da classe teatral off-Broadway e off-off-Broadway sobre o que fazer se Bush for reeleito. Tenho que dizer, com tremendo pesar, que o consenso entre os autores, atores e diretores do assim chamado teatro "downtown" é que não há mais jeito: a reeleição é tida como praticamente certa.
"Os americanos estão ficando cada dia mais imbecis e, apesar dos livros de Richard Clarke, Bob Woodward, do filme de Michael Moore, da comissão 11/9 e da catástrofe que o Iraque está se provando, o povo americano prefere ser enganado por aquele sorriso "creapy" desse canalha e de sua gangue", me dizia um diretor (por acaso) da Broadway, mas que morria de medo de ter seu nome publicado.
Essa reação está se tornando comum a muitos. Há um certo clima de caça às bruxas no ar da era de macarthismo, de J. Edgar Hoover voltando à tona.
É como se Tom Ridge e o Patriot Act estivessem trazendo aquele pesadelo de volta e, não seria surpreendente rever o famoso julgamento de Bertold Brecht, só que desta vez com um nome como David Mamet, por exemplo.
Ou Chaplin e a demissão daquela enorme lista negra que incluía centenas de escritores, atores e diretores de cinema e de teatro. A Casa Branca, aliás, já deve estar preparando a sua, com a ajuda de Arnold Schwarzenegger. O clima é absurdo e de pavor.
A reunião tinha enormes paralelos em comum com o que está acontecendo agora no Brasil, com esse Ministério da Cultura sem política definida, justamente quando um artista, Gil, assume a liderança de um cargo de tamanha responsabilidade.
Esse Mistério da Cultura no Brasil também poderia se chamar "ministério de si mesmo".
A palavra TEATRO não consta em nenhuma declaração que eu tenha lido em entrevistas de Gil. Por que será, Gil? Você tem ódio pessoal dessa arte que eu pratico? Você percebe que ela também é "áudio" e também é "visual"?
Será que você não entende a arte que compreende todas as outras artes, inclusive, a sua? O teatro é a obra de arte total e inclui a música, Gil.
Mas claro, você não tem tido tempo para se dedicar ao assunto, na medida em que passa pouco tempo no ministério, eu entendo. Falta de tempo. Sei como são essas coisas. Hobby é fogo!
Nessa reunião em Nova York, a grande questão era como conseguir subsídios, já que as verbas distribuídas pelo National Endowment for the Arts estão sendo descaradamente desviadas para entreter as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.
Coisas que Bob Hope ia fazer no Vietnã há quatro décadas….. Lembram? Imaginem Shakespeare montado por uma troupe de amadores de Seattle nos arredores de Fellujah. Não sei se não é grotesco demais pra rir.
Não sei se não é grotesco demais para rir ou chorar quando um gênio da música como Gilberto Gil ocupa um cargo como esse, e a cultura teatral se vê num estado petrificado, estagnado, sem saber para onde ir.
Talvez seja simplesmente porque a Brasília de Lula não entenda o teatro e o cinema de RISCO e só quer o novelão, a choradeira, o drama barato e a dramaturgia de superfície. Chama-se isso de populismo e DEMAGOGIA ou, então, quem sabe, falta de vivência empírica talvez ou, ainda, orientadores desorientados ou corrompidos por um algum pacto do além, que prefiro desconhecer e que deve desembocar neste verdadeiro ódio por essa arte, assim como o rei Cláudio, em "Hamlet", que paranóico que só ele, assassino que era -tinha ódio de tudo e todos, uma vez que chegara ao poder.

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ENCONTRO CULTURAL

Gerald cercado pelos VERDADEIROS MINISTROS da CULTURA, ABRAÃO e DANILO SANTOS DE MIRANDA, do SESC – SP

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VARIG

Eu estou de saco cheio de ver brasileiros esnobando a Varig. A Varig eh um PATRIMONIO NACIONAL. Mas o passageiro brasileiro se sente no direito de insultar os (as) comissarios de bordo, falar mal dos servicos dessa companhia aerea – que vem a ser uma das mais respeitaveis e dignas do mundo. E porque?

Antes que algum idiota me acuse de jaba, quero deixar claro que eu PAGO todas as minhas passagens. Nunca viagei de graca. Agora, ouvir de passageiros, asneiras como "certa vez, tive que esperar 18 horas no aeroporto e nem um sanduiche me deram" ou, "logo apos a decolagem, o aviao retornou pro aeroporto e foi uma confusao tremenda ate que nos acomodaram em hoteis…."

Pois fiquem sabendo o seguinte: poucos viajam pelo mundo o tanto quanto eu. Eu pego Lufthansa, Ryanair, Easyjet, British Airways, United, Singapore e o diabo a quatro e vou ja ja apontar as diferencas:

-atrazos, principalmente depois dos ataques de 11 de setembro – em que a industria aerea sofreu como um todo, sao normais. A VARIG eh a que MENOS atraza.

-Ja fiquei parado na pista com a Lufthansa, coma United, e turbinas ja pegaram fogo com a Austrian e ja retornei em pleno voo (sem a menor explicacao do piloto) com a TWA ou com a Virgin Atlantic.

_ E querem saber mais? A VARIG nao usa maquillagem. Querem louras burras, falsas, frias e com aquele sorriso brega estampado na cara, que te joga um saco de Doritos na cara? Otimo, essa nao eh a VARIG. Os (as) comissarios de bordo da VARIG tem CULTURA, sabem lidar com os passageiros, entendem o mundo, entendem as culturas e etnias do mundo (ao contrario de muitas companhias que sentem NOJO de populacoes terceromundistas. A VARIG ainda eh uma companhia aerea HUMANA. Nao mete aquelas bolas de ferro (aquela falsa massagem que ja arruinou as costas de muita gente na classe executiva) e nao instala (gracas a deus) 89 canais de videogame no assento da frente. Nada pior do que ter um vizinho acordado a noite inteira jogando aquilo, porque aquela merda brilha no teu olho. Acho que a Varig entende que o passageiro quer DORMIR.

Acho um desrespeito que quando vejo brasileiros voando para o exterior via qualquer outra empresa

Desculpem, mas eu precisava desabafar.

Gerald Thomas

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morte de DERRIDA

Fiquei muito triste em saber que Derrida morreu. Vai ter muita gente ao redor do mundo fazendo lucro com isso. Um, em particular (um charlatao) de nome Marshall Blonsky, que ja eh milionario, ira triplicar sua fortuna, fazendo palestras e palestras mundo afora sobre o ilustre desconstrutivista.

Pena. Pena pra todos.

Gerald Thomas

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