Monthly Archives: October 2006

Do www.diretodaredacao.com

A meninada Londrina acha que a grama nasce mais verde em Nova York. E vice versa. Tudo continua sendo um sonho ou um pesadelo

Londres – É engraçado notar como, de fato, o gramado é sempre mais verde no jardim do vizinho. São 7 da manhã e eu tomo um expresso na Patisserie Valerie, na Old Compton Street, no Soho de Londres. Esse lugar é muito conhecido entre boêmios, artistas e quem passou a noite em claro e está tentando colocar os pés na terra de novo. Aqui – geralmente – se vê de tudo. Desde ex-integrantes de bandas de rock que se apresentavam no Marquee, aqui perto (na Wardour Street na Belle Epoque dos Yardbirds, e do UFO na Tottenham Court Road), onde Eric Burdon, do The Animals, conseguiu convencer Paul McCartney a ver um concerto de Jimi Hendrix, e que mudou a história do mundo….até figuras como o autor e ator Steven Berkoff ou casais gays e travecas que fazem ponto aqui nesse bairro que contém quase todas as produtoras de filmes inglesas. Ah, sim, aqui os traficantes de crack cospem o produto de suas bocas, nos pequenos saquinhos plásticos na mão dos compradores. A quantidade de heroinados e 'homeless' é mais visivel que em NY. Mas os ingleses acham que é justamente o contrário. É bizarro.

Aqui me encontro com Bruce Griffiths, um 'stand up comic' australiano, cabelos longos encaracolados, óculos, parecídissimo comigo. "Estou aqui para ver uma banda de rock tocar hoje à noite no 100 Club, na Oxford Street e, no entanto, ainda não consegui tempo para montar meu website. Estou com 43 anos e minha desorganizacão é terrivel", diz ele.

Outro sentado na mesa é um jovem produtor de teatro chamado Tom, que acha que Nova Iorque é que é o lugar 'quente'. Se decepciona com o que ouve quando eu conto o que acontece: "a maioria das produções estão vindo daqui de Londres, Tom. Tem espião de teatro aqui em tudo que é lugar", eu digo a ele.

Eu me lembro que há algumas semanas, no Chelsea Hotel de Nova York, alguns roqueiros chegavam a Nova Iorque deslumbrados com a cidade: "we're going to make it here!". Nada aconteceu. Hoje eles estão de volta a Londres com o rabo entre as pernas, com ódio de NY jurando que jamais votarão.

O mesmo acontece com um grupo de teatro que permaneceu em NY por duas décadas: os Bluelips, um grupo de travecas muitíssimo engraçado que interpretava os clássicos e se baseava no Theater for The New City, na Primeira Avenida. Agora estão de volta e seu fundador voltou a ser um dos atores da Royal Shakespeare Company.

Quentin Crisp, lembram? Criou uma amargura tremenda em relação à Inglaterra pelo tratamento que recebeu por ser gay. Se instalou no East Village de NY e de lá nunca mais saiu.

Ainda existe esse mito de ter que vencer em NY. No entanto, o maior sonho que os grupos de teatro novaiorquinos têm é o de poder se apresentar em Londres. Não é estranho esse espelho as avessas? O mundo não ficou mais perto com a internet e os meios de comunicação.

Tony Blair está meio de saída. O Embaixador Bustani e seu attaché cultural, Felipe Fortuna, também. Ontem à noite, numa festa de despedida, perguntei ao magnifico Paul Heritage (uma das pessoas mais importantes do teatro brasileiro: um dia irão reconhecer sua importância!): "Que fim levou Lindsay Kemp?" (Kemp foi um dos fundadores do teatro de dança décadas antes de Pina Baush aparecer. Adaptou Genet para o palco e suas apresentações no Saddler's Wells eram tão disputadas quanto um concerto de Eric Clapton). Heritage me disse: "não sei".

Eu tambem não sei. O mundo caminha depressa demais e nossa memória seletiva não guarda os verdadeiros heróis que formaram nossas ideologias, nosso banco de referências e de gostos. Entre Londres e Nova Iorque não existe nenhuma diferença, já que ela está em nossas cabeças. Um dia, infelizmente, perguntaremos a alguém: "e o que aconteceu a Godard?". E esse alguém responderá: "Quem?" Deverá ter virado o Dr. Smith do "Perdidos no Espaço".

Gerald

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GOL X Legacy por Peter Lessmann Parte 1

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Gol X Legacy por Peter Lessmann Parte 2

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FESTIVAL DE TEATRO DE VITORIA

eh o maximo! Parabens pra Secretaria de Cultura de Vitoria, Maria Helena Signorelli porque ela – alem de trazer companias de fora, faz uma poltica cultural de incentivar os grupos locais (alguns interessantissimos, alias!). Maravilha! Parabens a voces todos e obrigado pela experiencia! Acho que a imprensa nacional deveria virar os olhos a partir de agora pras proximas edicoes desse festival que cresce e promete ser um dos mais interessantes do pais.

Gerald Thomas

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Folha-Tendencias e Debates

A tragédia dessas nações

GERALD THOMAS

O "americano" tem, apesar de tudo, orgulho de si e de sua nação. No Brasil, com os maus exemplos, o povo tem a auto-estima rebaixada

QUER DIZER que, dessa vez, o sr. Lula não se esquivou do debate, não é? Será que perdeu um pouco da arrogância? Viu que não é assim tão fácil "abocanhar" uma eleição "de prima"? Sei, claro, que estamos em plena era elizabetana ou pré-colombiana, que as cortes são corporativas e que os bancos têm mais lucro do que nunca. E o povo elegeu Collor! E Maluf! Santo Deus! O que quer dizer isso? Como contraponto, graças a alguma força divina, o Rio elegeu Fernando Gabeira.
Aqui nos EUA, o escândalo do ex-deputado republicano (gay e pedófilo confesso que já apelou para tudo para explicar o fato de ter "paquerado" os "pages", garotos que trabalham no Congresso, tipo office-boys) Foley está partindo um partido já em conflito com si mesmo: o Partido Republicano. Assim, justamente assim como o PT, no Brasil, um "partido".
Parece uma peça que Shakespeare não escreveu. Ruim demais. Nem seria propriamente uma tragédia. Se o mestre britânico da dramaturgia tivesse estômago para estar vivo no mundo nojento da política fora da ilha dos loucos, a Inglaterra, ele diria: "Existe o Lula e existem os escândalos de um certo partido que o cerca. Esse partido partidíssimo e repartido está envolvido em escândalos escabrosos, mas o digníssimo Sr. Inácio diz de nada saber. Na nossa colônia recém-descoberta, a América, parece ser igual. Um certo Bush age de forma igual! Olha para o outro lado".
Quando Bob Woodward lançou seu bombástico livro na semana passada, o genial "State of Denial", a Casa Branca não tinha como não dar uma resposta. Um dia antes da publicação, Dick Cheney ligou para Woodward e exigiu que não publicasse o livro. Que piada! Com a resposta negativa do nosso herói (que, com Bernstein, trouxe abaixo Nixon e fez com que ele renunciasse antes do impeachment, no escândalo de Watergate), Cheney soltou um enorme "bullshit" e desligou na cara de Woodward.
A administração não quer ouvir nada que não esteja em sua "agenda". Lula também não. Quem será o Bob Woodward brasileiro? Será que ele teria igual impacto? Pensem só na auto-estima do brasileiro. Melhor ainda. Pensem no exemplo que ele tem a seguir. Se Woodward é um repórter investigativo e tem enorme impacto na mídia e no eleitorado, e as longas e entediantes CPIs, que prometiam "corrigir" alguma coisa, não deram em nada, como é que o povo brasileiro ainda tem no que acreditar? A lenta destruição da máquina do desejo judicial virou um lento processo de corrosão moral.
Nesse sentido, o da farsa, Woodward e todas as investigações "iluminam" o eleitorado, mas nada conseguem fazer contra os eleitores que se confessam "religiosos crentes" ou aqueles cujos valores políticos só se podem medir pela quantidade de dólares que têm no bolso. Nesse sentido, não há diferença entre os dois países. Quem tiver a grana ganha. O melhor ator terá seu solilóquio.
Mas, apesar de, nos EUA, grande parte do povo estar desencantado com as mentiras do Pentágono e da Casa Branca, o "americano" tem muito orgulho de si e de sua nação. Ao contrário do Brasil, onde ouço as pessoas reclamando das autoridades, sejam elas as mais baixas ou as mais altas: ser polícia no Brasil é pior que ser bandido. Não há nação que se construa sobre esse tipo de pilar!
Os EUA são um país contraditório: daqui saem bombas e porta-aviões em direção a todas as partes do mundo não só para "proteger os interesses americanos" mas também para "conquistar e remodelar uma nova geopolítica e construir e desconstruir novos líderes políticos nas regiões mundiais consideradas sensíveis". É um país que ama seu Exército. Quase todo seriado de TV é sobre a polícia, o FBI ou a CIA. Os EUA amam a guerra e estão em constante êxtase com tudo que se construiu nessa nação de rebeldes e anticolonizadores de outrora.
Sim, falei dos enormes erros de por Bush. Mas a história dos EUA está calcada em outras fundações. Sem uma história rica, com a Guerra da Independência e a luta pelas liberdades civis, a dinâmica desse país não produziria a alta auto-estima que produz -na ciência, na economia, enfim, no próprio estilo de vida, tão invejado (e odiado) por todos nesse mundo em que os políticos se escondem atrás de lobbystas das anônimas e "terríveis" corporações, prontos para o ataque final numa estonteante armada munida de retórica teatral, força bélica e um arsenal de dinheiro.
No Brasil de hoje, esse arsenal de dinheiro anda escondido e está sempre sendo descoberto com pessoas ligadas ao sr. Inácio. Com esse exemplo, o povo brasileiro tem sua auto-estima rebaixada. Não tendo nenhum respeito pelo próprio país e por seu passado, a saída mais conhecida sempre será, como sempre foi, tristemente, a exacerbada xenofobia.


GERALD THOMAS é autor e diretor de teatro.

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