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Um dia na (in)Justiça Brasileira

Quando se “vive” Kafka

New York– Há uns 9 anos eu devo ter cometido um enorme ERRO: falei a verdade.

E me “pegaram”. Logo eu que posso dizer absurdos no palco, onde não existem limites verbais ou visuais, fui “pego” numa entrevista coletiva em Curitiba. Mais especificamente: numa entrevista ligada ao Festival de Teatro de Curitiba, no ano 2000, quando o mundo ainda era outro e brincávamos de brincar. Já haviam se passado décadas desde a minha “Trilogia Kafka” (que viajou o mundo). Já haviam se passado mundos desde o meu encantamento por esse autor que transcendeu a figura humana logo na primeira página e, assim, Gregor Samsa, acorda um inseto.

Mas em Curitiba foi assim: cheguei, como sempre chego, daqui de NY, exausto, depois de baldeações, conexões em aeroportos e vôos atrasados. “Eu queria subir pro quarto e tomar um banho rápido, trocar de roupa, já que estou em transito faz umas 16 horas”.

Cheguei lá em cima e não tinha água quente. A cidade estava fria. A janela não fechava. E não tinha papel higiênico. Deixei a água do chuveiro (na verdade, uma jacuzzi), correr por algum tempo… e nada. Caguei, literalmente, sem papel, e fui me lavar na água gélida do tal hotel. Morri de frio, especialmente ao sair. Batendo os dentes, percebi que as antigas janelas não fechavam.

Bem, desci pra coletiva (uns 20 ou 25 jornalistas me esperavam) e alguém passava o aspirador de pó bem ao lado dessa sala. Além do mais, as janelas dessa sala também não fechavam.

Bem, eu não estava de bom humor.

Um jornal local noticiou passo a passo do meu mau humor e relatou as minhas reclamações, uma a uma.

Meses depois, no Rio, uma oficial de Justiça veio ao Sesc- Copacabana entregar uma intimação, ou sei lá como chama isso.

Liguei pra amigos (já que, na época, eu não tinha advogado no Brasil), e me indicaram alguém. Bem, relaxei.

Anos se passam e nada ouço. Nada.

Assim como no Processo de Kafka, durmo um sono tranquilo do Joseph K. quando sou acordado, em 2007, por uma voz alarmante dizendo que “minha conta havia sido bloqueada pela JUSTIÇA BRASILEIRA”.

Como?

Fomos falar com o gerente do banco, que, mexendo no seu computador, descobriu se tratar de um processo que “perdi” em Curitiba. Um hotel havia me processado. E havia processado o jornal que havia publicado que “não havia papel higiênico, as janelas não fechavam e não havia água quente”. Tudo isso num caderno cultural e não turístico, ou seja: ninguém iria deixar de ir ao maldito hotel por causa das minhas declarações.

Ah sim. O tal advogado que me indicaram. Um alcoólatra que perdeu todas as datas. Não foi a audiência nos dias certos e não isso e aquilo e.. portanto, perdi.

O resultado por me expressar? Algo em torno de 83 mil reais. Como não tenho esse dinheiro, coloquei um outro advogado atrás do erro do primeiro. Dias atrás, descobri que em TODAS as instâncias, não tem jeito mesmo. Nao poderei pagar e jamais poderei ter conta no Brasil.

Surreal? Kafkiano?

Tenham todos um bom dia Sarney Brasileiro!

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Gerald Thomas

 

AGORA NOTEI QUE OS COMENTARIOS ESTAO DIVIDIDOS EM PAGINAS 1,2, 3 E 4. NOTEI POR ACASO

VAMOS MANTER A CALMA: ESTAMOS SENDO “RATOS DE LABORATORIO” DE ALGUM EXPERIMENTO BIZARRO

LOVE

G

PS de domingo 2 PM do BR

NAO ERA A TOA QUE EU ESCREVI UM POST KAFKIANO. AGORA ESTAMOS TODOS PRESOS.

PS 

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Um Ano de Blog no IG

 .

 .          (Antes do Blog, em Paris)                                      (Depois do Blog)

 

New York – Miami: Cinco anos e meio de Blog corrente, de conta corrente que não se esgota, graças a vocês! Hoje, exatamente hoje, esse Blog comemora um ano aqui no IG.

E, no entanto, os espelhos!  Estejam lá onde estiverem (os espelhos), são somente humanos. Retratam nossa dor. Retratam nosso humor. Retratam nossa estima. Meu medo? Quem estaria ou estará atrás desses espelhos! Quem nos vê da maneira que ninguém mais nos vê. Ou seja: Quem enxerga MESMO, de verdade, nossa alma?

Alma, aquilo que poucos conseguiram até hoje retratar.

Esse ano passou como uma flecha! Foi um ano devotado, praticamente todo ele, á eleição de Barack Obama. Foi, de minha parte, uma tensão doida!

Tem um corpo morto no chão, aqui do meu lado, enquanto escrevo. Sou eu mesmo. Não me reconheço mais. Parte de mim se foi. E não estou tentando brincar com palavras, não estou tentando fazer joguinho com as parolas. Sim, morri de várias formas. Fui traído por vários amigos. Ainda não sei muito bem por quê. Talvez um dia saiba.

Blog traz dessas coisas: em teatro temos um mundo muito EXPLOSIVO. Ele se mostra na hora. O aplauso ou a vaia são ali mesmo, no final, quando cai o pano! Sabemos dos cochichos, sabemos do veneno, mas “sabemos”. Nossos inimigos, por assim dizer, se tornam nossos maiores amigos assim, da noite pro dia, como se nada jamais tivesse acontecido. E aceitamos isso.

A Decadência dos tempos de hoje, com tanto artista legal fazendo tanta bobagem, me choca! Deixa-me triste! Meu corpo morto aqui do lado ainda não foi achado pelo time de “Law & Order Special Victims Unit”. No momento em que encontrarem esse meu corpo em decomposição, constatarão que ele foi molestado, espancado, torturado por tanta, mas tanta burrice, tanta besteira e tanta pobreza cultural que ele leu nesse último ano. E o médico legista não terá um diagnóstico! Aliás, não há!

É de se questionar tudo mesmo: em que ponto de nossa cultura estamos? Como nos vemos? Quem nos vê? Como somos enxergados? Se Richard Wagner nos visse hoje (seu aniversário, by the way), como ele nos veria?

Obama tenta imprimir nessa linda terra nossa uma proposta de um NOVO SISTEMA LEGAL em que terroristas  poderiam ser presos ou detidos por um tempo prolongado DENTRO dos USA (sem julgamento em vista). Qual a diferença entre isso e Guantánamo? É que aqui dentro eles teriam acesso ao sistema judicial. “Ou se prova que são culpados, ou deixa-os andar”.

A Arábia Saudita está conduzindo um programa de reabilitação de ex-membros do Al Qaeda. Entre erros e acertos, a margem é de 80 por cento.

Meu corpo morto aqui do lado, infestado de Kafkas, de Becketts, de Orwells, de uma literatura praticamente obsoleta quando olho essas estantes (retornei pra casa ontem e ainda olho tudo numa ressaca terrível), vejo esses volumes de Joyce, de Gertrude Stein, de sei lá quem. Não nasci com um nome bom. Quem dera. Deram-me um nome vulgar.

Sim, agradeço muitíssimo aos meus mestres! E como! Eles têm nomes sonoros. Mas na autópsia desse corpo não sairão sons. Nunca sai som, a não ser o som do vento armazenado nas entranhas, nos intestinos, o som dos gases, o som gutural do tempo perdido de Proust, o som de certa amargura por não ter sido entendido por A, B ou C.

Escreve o leitor “José Augusto Barnabé”: 

“O Gerald, chegou a hora definitiva de a arte e a criação representar pelos seus meios, o futuro.Acho que Da Vinci foi o último, nos seus escritos e desenhos, que geram até hoje controvérsias e discussões.Não há mais espaço para Inquisições, que se mostrou uma fraude política.O Artista tem que achar forças para se desvincular do Sistema, ser um pouco Iluminatti, escancarando até essas próprias sociedades secretas, também fraudulentas, e criar.Na imaginação está o nosso gene, e o artista que tem o dom da sensibilidade, a aplica melhor.O Planeta está mudando rapidamente, e não é coisa para 500 anos como na época do Da Vinci. É coisa para já.Se os artistas não perceberem, vão deixar de existir e continuar sendo os BOBOS DA CÔRTE.Ficção? não sei. E o Sistema não o é?Você não tem nada para comentar, porém tem muita coisa a fazer, se não desocupa a moita, meu caro”.

Difícil, muitíssimo difícil responder qualquer coisa que coloque Leonardo Da Vinci no meio. Até Shakespeare, em sua última peça, “A Tempestade” (praticamente autobiográfica), se viu num espelho e enxergou um futuro não sangrento. Foi a única tragédia desse magnífico gênio não sangrenta: Prospero, o personagem principal, era um Leonardo. Mas era também um Duque deposto. Era um ILHADO, era alguém que tinha o poder da mágica reduzido aos confins do palco.

Tudo é sempre uma metáfora.

Há um ano, nesse blog, escrevo parte em metáforas, citando meus mestres, citando minhas angústias. Criei um enorme e lindo círculo de amigos. Vocês, os leitores.

Mas as metáforas estão fadadas a ter um limite, a esbarrar na moldura do espelho ou refletirem a luz que vem de fora e, portanto, ofuscarem a imagem real que o espelho deveria estar mostrando. Sim, escapismo.

Escreve o “Capitão Roberto Nascimento”:

Gerald Thomas meu querido cabeludo, que beleza esse texto rapaz! Não é um texto de moleque, de fanfarrão!!É UM TEXTO PARA QUEM USA FARDA PRETA E COLETE; MAS É PARA SE REFLETIR SOBRE O QUE ESTÁ ACONTECENDO.Eu penso: no BOPE, a gente não pode pensar muito NA HORA; mas devemos pensar antes, no treinamento, para que a ação seja EFICAZ COMO O SILÊNCIO DO FUNDO DO MAR.Nossa missão é subir o morro e deixar corpo de narcotraficante no chão. Pode parecer nazismo, mas, para mim, NAZISMO É DEIXAR OS NAROTRAFICANTES DOMINAREM O MORRO, OPRIMINDO CENTENAS DE MILHARES DE POBRES FAVELADOS.O teu silêncio, Gerald, chega como um abraço. O teu silêncio é o silêncio do preto da minha farda, do frio do meu fuzil, antes da ação.E nós agimos em silêncio Gerald. Quem faz festa é bandido. Quem solta rojão é traficante.A lei é fria e silenciosa. COMO O TSUNAMI QUE NASCE NO FUNDO DO MAR.”

Tudo é sempre uma metáfora. Nem tudo sempre é uma metáfora. Muitos de vocês, leitores, lidam com a vida REAL. E isso, muitas vezes, me assusta. Por quê? Não sei.

Ontem, ainda em Miami, a caminho daqui, um velho, obviamente cubano, enrolado na bandeira americana, trazia, trêmulo, a sua bandeja com um croissant, café, um ovo, etc. Sua cara marcada pelo tempo e sua elegância deixavam claro não tratar-se de um “daqueles” milhões de cubanos que povoam Miami (pra onde eu vou 3 vezes ao ano). Tive uma enorme vontade de cobrir-lhe de perguntas. Muitos milhares de perguntas. Ele me olhava. Eu o olhava. Estamos em pleno feriado de “Memorial Day”, dia dos caídos em combate, em guerras passadas. Os USA em guerra constante!

Mas pensei e pensei. Não, melhor não. De repente, assim como já foi com tantos outros seres interessantes, ele vai vir com uma dessas “verdades universais” ou com a “ordem do universo” e despejar tudo isso sobre a minha bandeja. Isso me aconteceu no Arizona com indígenas que “ouviam deus” ou na Chapada da Diamantina e mesmo na Cornualia.  São seres simples e que tremem, elegantes. Mas que quando perguntados, são verdadeiras “torneiras da verdade”. E eu não suporto mais a quantidade de verdades que existem por aí.

Tive medo de fazer perguntas a um simples ser que poderia ter me contado a sua história de vida. Mas tive medo. Arreguei.

Como pode ser isso? Medo de seres místicos? Eu? Medo de ouvir sobre Eric Von Denicken e os deuses que eram astronautas? Logo eu? Quem te viu e quem te vê, Gerald!

Já ouvi que a minha cara era o mapa de Hiroshima. Então, do que ter medo?

Exaustão chama-se isso. Falta de espaço aqui dentro. E isso me preocupa.

Sim, assim como no texto anterior: “Sinto-me como uma massa, como uma pasta, irregular, inexplicável, triste, vazia, ruidosa, sem nada a declarar e, no entanto, querendo dizer tanta, mas tanta coisa e… sem conseguir dizê-lo.”

Nem tudo sempre é uma metáfora. Às vezes esse corpo morto aqui do meu lado tentou atravessar o espelho vezes demais ou tentou atravessar espelhos espessos demais.

Faz parte da minha profissão: o risco. Como me sinto? Esgotado. Acabado. Esse (que ainda vive) olha praquele que está morto e pensa: será esse o meu futuro? Caramba!

Parece mesmo um conto de Poe! Ou um Borges mal escrito. Somos tantos e não somos porra nenhuma. No texto anterior, “NADA A DECLARAR”, fiz uma declaração de amor a tudo que sinto, de verdade, ao vazio, ao TUDO a Declarar, como o Pacheco detectou.

Mas e agora, José? Um ano e não sei quantos artigos. A partir de hoje estamos sem contrato. Como diria meu mestre Samuel Beckett: “Não Posso Continuar: Hei de Continuar!”

Em inglês soa melhor:

I Can’t Go On. I’ll Go ON!

Muito Obrigado por tudo!

Coberto de emoção e lágrimas vendo o mundo numa relativa paz e, no entanto, atravessando o maior período de mediocridade em décadas, se desmanchando num milk shake insosso e azedo, esperando um Moisés que ainda nem subiu o Monte Sinai, porque lá nada existe!

O deserto está realmente repleto de areia mesmo. E ela está em nossos sapatos.

 

LOVE

Gerald

 

Gerald Thomas, 23/Maio/2009

  

(O Vampiro de Curitiba na edição)

 

 

 

 

 

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We Won’t Get Fooled Again!

 

We Won’t Get Fooled Again! (The Who)

 

Obama propõe “novo começo” a Cuba

Na abertura da Cúpula das Américas, presidente americano prossegue o xadrez de reaproximação com inimigo da Guerra Fria. Como Raúl Castro, ele diz querer diálogo direto, mas não “falar por falar” aos vizinhos. Diz que EUA não podem ser culpados de tudo.

Querem saber? Estou feliz nesse momento.  Cuba não representa nada. Uma reaproximação com a Ilha poderá, no máximo, tirar a “tirania” (nossa, que português horrível!) do poder e reestabelecer os mínimos, que sejam, valores democráticos à Havana.

Que seja! Mas não seremos enganados de novo, como berrava, girava com sua guitarra, Pete Townsend em “We Won’t Get Fooled Again”. Aliás, não há nada como os deuses do Rock. Eles nos inspiram até hoje.

Quando leio o mundo de hoje, leio isso: um setor INVESTIGA O OUTRO! Parece um Kafka mal resolvido ou um Orwell mal sentenciado. Todos investigando todos. Aqui em New York temos os escândalos óbvios, mas temos a LUZ de Obama! Kafka pediu que se queimasse sua obra. Graças a Max Brod, seu grande amigo, nós a temos! Orwell reportava da Guerra Civil Espanhola, onde Franco queimava uma Espanha desunida. Chamas! Fogo! Uma era se vai.

Penso como era essa era: eu ia ao Filmore East e via o Hendrix de perto. Lá a única coisa que investigávamos era a genialidade do cara! E a nova era. Qual nova era? Pois. Agora em retrospecto, já que estamos todos mortos (porém felizes), a era de uma superhomem-idade/andróginia e PAZ, sim, a paz. NÃO, NÃO POSSO RIR ENQUANTO DIGITO!!!! Eu via o Cream tocando no Marquee, na Wardour Street e tento não rir. É que Eric Clapton e Jack Bruce e Ginger Baker não se falavam na vida real. Mas éramos todos do “bem” e do “amor” e não queríamos saber que EXISTIA  a flor do mal, ou melhor, o MAL,  e que CUBA, essa mesma, a da Revolução de Sierra Maestra, era ‘mocked” (satirizada) pela Carnaby Street e pelas lojas aqui da Saint Mark’s Place, nas tirinhas de Jules Feiffer e nas tironas de Crumb! Ah o mundo!!! 

Não posso chorar enquanto digito! Eu era aquele que catalogava os mortos, desaparecidos, exilados, mutilados, etc. na Amnesty International em Londres na década de 70, poucos anos depois de ver o Hendrix ao vivo. A Bibba, loja incrível, tinha acabado de fechar as portas na High Street Kensington e “Blow Up” (de Antonioni, com Jimmy Page e Jeff Beck) estava nas telas. Nova era BIPOLAR. Na Bibba o que se mais vendia era uma camiseta com a cara de Che estampada enorme, em autocontraste! E Mao também!

Deixei uma de minhas “ex”, a modelo americana Ellen Kaplan, plantada em Viena e voltei para Londres, arrombei meu próprio carro (teto de lona, era um MG, que eu deixava estacionado no aeroporto de Heathrow) para não perder o show do Led Zeppelin no Earl’s Court Arena.

Foi a maior e melhor coisa que já vi. Nunca nada igual. EVER! Meu olho ficava nas mãos de John Bonham (morto), no ritmo que saía “daquilo”, porque no Rio, quando jovem, eu havia subido a Mangueira e sabia o que era um SAMBA! E como sabia! E meu outro olho ficava na guitarra de Page imaginando o inimaginável, porque em “Kashmir” todas as sinfonias se reuniam, de Beethoven até Cezar Frank. Até mesmo uma Ária de Wagner estava lá. Kashmir ainda é o maior problema entre o Paquistão e a India (ambas nações nucleares, nuclearizadas!) e, digamos assim, a constante “missile crisis” ou em estado de “Bay of Pigs”, da região deles, delas. Entra ano, sai ano, Paquistaneses, independetistas e Indianos brigam por Kashmir. E eu, eu aqui, usando um cachecol de cachemera…. Mas não! Esse é de ovelha escocesa! Sim, na época, todos quebravam suas guitarras, colocavam fogo nelas! (óbvio, nada como o capitalismo dentro da contracultura: haviam outras novinhas lá atrás). Ah, o mundo!!! As vacas sagradas da India e as vacas abatidas em Cuba! O fazendeiro que mais abatia vacas em Cuba era capa do jornal cubano que quase provocou o love affair entre Nikita Khrushchev e Kennedy, lembram? Sapatos histéricos na ONU e tudo? Éramos ou tentavamos ser vegetarianos (comiamos carne escodidos uns dos outros nos subsolos ou nos porões da contracultura: ou seja, oito andares abaixo no nivel da terra: fundo demais até para poder respirar, éramos nós e os ratos). 

E agora? E AGORA? Depois de Hendrix, Zeppelin, Who, Cream… essas bandinhas de merda DE HOJE usam a mesma cozinha, a mesma merda reciclada. Não é à toa que se ouve mais Rolling Stones que nunca, mais… ah não, deixa! Um dia o Sting falou assing (com g no final mesmo, porque tudo que ele diz tem g no fim): “Lennon was nothing. Ringo was everything. Pay attention to the Beat”. Era tudo rubbish. Sting só fala bobagem, assim como eu. Mas o Police era o máximo! Não, não era não! Não era nada, comparado às bandas de antes! Música e Política. Alquimia e Religião (Carl Jung),  Pintura e Revolução (Barthes, que nada), podemos juntar as partes de um quebra-cabeça de um Guatary que nunca houve ou qualquer tratado surrealista de Breton: nada será como antes: A LUZ de OBAMA ! Estamos vendo o desempenho de um novo PRESIDENTE.

QUE LOUCURA ESSES PRIMEIROS CEM DIAS!!!! O animado xadrez político-diplomático que virou a distensão das relações entre EUA e Cuba, congeladas por quase meio século, ganhou lances decisivos nas últimas horas e dominou a abertura da 5ª Cúpula das Américas, ontem em Trinidad e Tobago. Em discurso na abertura da cerimônia, Barack Obama disse que os Estados Unidos buscavam “um novo começo” com Cuba.
“Eu sei que há uma longa jornada que precisa ser percorrida para ultrapassar décadas de desconfiança, mas há passos críticos que nós podemos tomar em direção a um novo dia”, afirmou. “Eu já mudei políticas em relação a Cuba que fracassaram em avançar a liberdade do povo cubano”, continuou, referindo-se à recente decisão de liberar viagens, remessa de dinheiro e comunicações entre cubano-americanos e seus parentes na ilha caribenha.
Em resposta à declaração da véspera, de Raúl Castro, que se disse disposto a conversar sobre “tudo” com os EUA, ele afirmou: “Deixe-me ser claro: não estou interessado em falar apenas por falar. Mas eu acredito que nós podemos levar a relação entre EUA e Cuba para uma nova direção.”



 

Sênior e júnior 

Não há mesmo! Somos todos juniors. Ou então, estamos mortos. Se não estamos ABERTOS  PARA MUDANÇAS, melhor nos considerarmos mortos.

Viva Obama, por ter a coragem de abrir novas fronteiras e quebrar paradigmas retóricos! Afinal, Cuba em si, nada significa além do nada. Quanto às bandas de rock, estamos ávidos – assim como em todas as outras artes – para termos um BARACK OBAMA DO ROCK!!!!!

 

Gerald Thomas 

 

 

Ps.: Quero agradecer imensamente aos mais de 800 comentários do post anterior!

 

 

(O Vampiro de Curitiba na edição)          

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Bastardos: O Brasil Virou o Paraíso da Bandidagem Judicial

O triste caso dos BASTARDOS

(Continuação do texto de ontem sobre a pena de morte – que por sua vez era a continuação do texto sobre o casamento de Gisele Bündchen: vejam a que ponto nós chegamos!!!)

Ou: “O guia de Deus ou do Diabo?” (Não, esse é o título do livro de Walter Greulach, um genial escritor Argentino (seguindo a tradição de geniais escritores argentinos).

New York– Mas, sim. Quem nos guia? Deus ou o diabo? Ou passou mesmo a onda e o maniqueísmo morreu com a dialética. Nada! Queremos ver UMA COISA somente! Não agüentamos a dúvida. Não agüentamos as meias verdades, apesar de vivermos nelas e criarmos um mar de mentiras ao nosso redor.

E  se perseguimos a “versão única”, por que ouvimos os dois, três, quatro lados da mesma estória? É um desespero. É por isso que nos desesperamos e é por isso que brigamos. Por que será que nada pode ser contado assim como é?

Mas como é?

Porque Pirandello não deixa ser. Porque… Kafka não quis que fosse. Porque Bob Fosse. Ah, o Bob Fosse! Porque Orwell instalou um olho (não da “Historia do Olho” de ontem, mas esse que, quem assiste ao Big Brother e pronuncia esse nome nem sabe quem foi George Orwell: bastardos!

Sento aqui e vejo os barcos passarem no East River e penso no que vi ontem no “Larry King Live”, assim como vejo há 25 anos no “Larry King Live”. Só que ontem, algo inusitado:

O triste caso de David Goldman e Bruna Bianchi (ele americano, ela brasileira).

Eu estava fazendo hora para mudar de canal (pra NBC, para ver um novo episódio de “Law & Order”) pois já não agüentava mais ouvir falar nesse idiota do Rush Limbaugh (mais sobre ele abaixo), quando o Larry apresentou um caso tristíssimo envolvendo a (in)justiça brasileira: uma criança ‘raptada’ pela mãe (agora estranhamente morta durante o segundo parto no Rio).

Ihhh, é complicado!

Começa assim: David e Bruna eram casados aqui e moravam aqui em New Jersey, pelo que me parece, com o filho de 4 anos. Um belo dia, como é normal, os pais dela vieram visitar. Ela resolve passar férias no Brasil. Ele, o David, iria buscá-la e o filho, no final das férias, e voltariam para cá.

Mas a vida não é assim. Deus ou o diabo ou os grandes autores não querem que seja!  David recebe um telefonema. Ela diz que quer se separar. Ela já tem outro cara. Outro cara aí no Brasil. Um advogado (ihhhh!). O cara aqui fica bastante desesperado por causa do filho, óbvio.

Tenta contato. Cada vez mais o contato fica restrito.  Até que vem a BOMBA: Ela já está grávida do outro.

Ela vai parir. Ela MORRE durante o segundo parto, no Rio. E o filho do David? Bem, depois de oito viagens e tentativas, nada. Oito tentativas: como num conto de Kafka, ” O Processo” ou “Castelo”, cara na porta ou QUILOS de documentos e carimbos e selos e 350 mil dólares gastos em NADA! Sorrisos e tapinhas nas costas e mais nada. Conheço bem. Sei como é isso.

MESMO ele sendo o pai BIOLÓGICO, a (in)justiça brasileira deu custódia ao OUTRO. Digo, ao padrasto que, agora nada tem a ver com o filho do David, uma vez que a mãe biológica está morta. Bem, aí, numa certa altura do programa, aparece um brasileiro sinistro falando de Seattle. Sim, é o irmão do OUTRO!  Difama o David. Tentativa de difamação de caráter dizendo que ele não pagava pensão alimentar: ÓBVIO que NÃO: pagar pros SEQÜESTRADORES DO SEU PRÓPRIO FILHO SERIA JUNTAR KAFKA A ORWELL e ainda colocar uma pitada de Pirandello no meio!

Juro que é triste ver o Brasil sempre envolvido em confusões assim, em misérias ou porcarias ilegais desse jeito. Acabamos de ver a tal Paula na Suíça e a não extradição do italiano mafioso… e agora esse caso (que já se arrasta há anos) e… se fôssemos investigar a fundo o sistema jurídico brasileiro, teríamos que chamar o TOM WOLFE para acender a “Fogueira das Vaidades”.

O Brasil virou o paraíso fiscal da Bandidagem Judicial?

Ainda bem que vocês não têm aí uma figura NOJENTA chamada Rush Limbaugh: um porco humano, que se comporta e respira como um suíno (ex-viciado em Oxy-Contin) que o David Letterman chamou de mafioso russo, pois de tão inchado e grosso, suas gravatas pretas lhe soltam do corpo, o suor pula da testa. Mas quem é? Nada mais que um IRADO  radio talk show host tão, tão, tão, tão à direita da direita dos republicanos que ele chegava a ser contra o John McCain!!!! Agora diz que quer que o Obama FALHE! Essa frase poderia ser enquadrada como ato de traição, se não levássemos essa caricatura de imbecil na brincadeira. O redneck (de tão obeso, não dá nem pra ver se tem nuca ou não)… é o suíno que fala. Mas por que mencionei Rush Limbaugh? Ah, porque estava entalado na minha garganta e pronto! Certos assuntos têm que ser vomitados senão viram câncer. Limbaugh é um deles.

 

“New York – New York”, um belo livro por Denny Yang: 

Quando criança, eu havia visto, ou lido, alguma coisa sobre a guerra. Eu achava que nunca viveria o bastante, ou que ninguém mais iria presenciar um momento de guerra...” (…) “Talvez fosse assim que ela me visse, como um mero amigo, que saiamos juntos para nos divertir como fazíamos no passado.

Denny Yang é um brasileiro que mora em Taiwan. Seu livro maravilhoso (que estou há tempos para resenhar) se chama “New York, New York”. Não fica claro se o autor já esteve aqui em NY, ou não. Mas isso não importa. O que importa é uma imagem utópica dessa cidade. Tão utópica quanto esse OVNI que vocês vêem no topo da página que vem a ser um detalhe art deco (telhado do hotel Delano em Miami). No livro NY é um lugar onde “férias prolongadas” se iguala com o paraíso perdido ou com um lugar montanhoso. “Que raios de liberdade seria esse que eu não pudesse, se eu quisesse viver nas minhas montanhas?” O livro desinibe o inibido autor e passa a ser um berro de guerra contra o mundo, uma prisão. O livro é ficção. Mas toda ficção está nas entranhas do seu autor. 

Não muito distante da realidade da vida de David Goldman, Denny vive um exílio auto-imposto na ilhota chinesa.

Continua Yang: Não sei. O cara vinha aqui sempre, ficava aqui no bar, sentado sem beber nada… só olhando quieto”. 

Em sua dedicatória para mim ele escreve: Para GT, um americano-brasileiro, que deve compreender este livro de um escritor brasileiro-taiwanês. Um abraçoDYang

Sim, entendi e amei. O blog dele está linkado  a esse.  Mas amar um livro deve querer dizer entendê-lo ou ter algum nível de compreensão do que está se passando com o autor ou personagem (assim como numa sinfonia de Beethoven ou numa peça de Cage ou num quadro de Jackson Pollock, o estado emocional é o termômetro e basta).

Arte não se entende, mas se percebe e se intui. Às vezes caímos na burrice de construir castelos teóricos sobre essa intuição como Clement Greenberg o fez na década de 50. Mas, graças a deus, logo chegou um Warhol e fez piada de tudo isso, assim como o Duchamp havia feito piada de tudo décadas antes! 

Estou num estado de raiva e de “justiçamento” que não tem explicação. Deve ser a idade. Ou a menopausa. Sim, devo estar passando pela menopausa. Nem mais um minuto a perder. Viro-me, me mexo, pulo para várias áreas de Manhattan (várias fechando por causa da recessão), mas tenho me concentrado em reconhecer talentos. Os verdadeiros talentos: os escritos que me caem aqui nessa enorme mesa de metal.

Danny Yang, Walter Greulach, Judith Malina sobre Erwin Piscator, uma pilha de novos scripts e Hard Shoulder prosseguindo com o cenário sendo feito na Polônia.

Estranho?

Por que seria?

 

Justiça Brasileira: RETORNEM o FILHO de David GOLDMAN para ele JÁ! Ou o Tribunal de Haia (tratado que vocês assinaram em 2003) passará a ver o Brasil como infrator! Mais uma vez. O Brasil como país de gangsters: Sinatra com um ticket na mão “hey babe… let’s flee and fly to Rio”.

Brasil: um paraíso Limbaugh da Bandidagem Judicial. Ronald Biggs deu um belo exemplo, não?

 

Gerald Thomas, 05/Março/2009 

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(Vamp na edição)

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New York – Pequeno Diário de Bordo 1

 

New York –  (Com um PS. no final: Maureen Dowd, do NYTimes de domingo, com uma pérola!)

 

O Artista é Sempre Um Estrangeiro ou A Bandeira de Lugar Nenhum

 

Andando pela cidade ainda atordoado, como sempre, resolvi dar uma volta em torno do reservatório d’água, no Central Park. É oval, circular. Hoje ainda estava cheio de poças d’água. Os joggers, aqueles corredores doentios conectados ao iPod, correndo atrás de suas vidas, ou mais para perto da morte, berravam “room please” e todos nós, os mortais, abríamos caminho. Eles passam correndo, trotando e eu andava rápido, muito rápido, pensando na vida: “nunca irei me acostumar com o skyline dessa cidade. Mesmo vivendo aqui, no Rio e Londres e Alemanha, desde sempre, nunca irei me acostumar a lugar nenhum.

 

Kafka, certamente um dos maiores autores da humanidade, mas que ultimamente circulou pelos blogs por motivos imbecis, é autor de uma frase que adoro: “Quando vou dormir à noite, me certifico de que tudo está em seu devido lugar. Quando acordo, acho estranhíssimo que tudo esteja no mesmo lugar em que deixei ao ir dormir”.

 

A turistada tá foda, aqui! Em Londres, semana passada, a turistada também tava foda. Sempre foi assim? Não, acho que não. O dólar está baixíssimo e isto torna Nova York mais acessível para todos: uma brasileira (sem a menor idéia do que estava dizendo) exclama: “Isso aqui é a minha cara!” 

 

Quer dizer que ela é a cara do Chrysler Building, construído no auge do período “dark” da arquitetura “art deco”? Quer dizer que ela sabe exatamente quem era Frank Lloyd Wright e sabe o que ele fez com o concreto protendido, quando experimentou com o seu “Guggenheim” em espiral? Quer dizer que ela sabe o que a Lower East Side (Essex Street com Delancey, por exemplo) significa no calendário de um lituano imigrante? E ela sabe o que aconteceu com a “sua cara” (com sotaque de Vila Nova Conceição) em Saint Mark’s Place na década de 60 e 70? Não. Ela não sabe. Mas, mesmo assim, NY é a “sua cara”! E o pior é que é mesmo! Trump é democrático! Barbara Walters, que caminha anônima aqui ao lado, também é. (Acaba de pisar numa poça). Mas turista quer ver arquitetura, prédio, art deco? Claro que não! Turista vem aqui pra… fazer COMPRAS!!!!! E fazer BARULHO! E subir no Empire State Building para tirar fotos. E compram ingressos pra shows da Broadway sem nem saber que as origens dessa tradição foram contrafóbicas reações ao musiktheater, uma reação ao teatro musical europeu. Trocando em miúdos, o musical da Broadway vem a ser uma versão “action movie”, uma versão light da ÓPERA européia. Pasmem! Mas… a Macy’s está lotada! E a Bloomingdales também!

 

A Valéria me mandou um trecho que faz parte de um texto que escrevi pra Folha  e esta publicado no livro o “Encenador de Si Mesmo” (Editora Perspectiva,1996) – Haroldo de Campos fez a curadoria a respeito de minha obra. Esse trechinho era a respeito do artista plástico Jasper Johns, um dos maiores, da turma do Raushenberg (morto faz pouco tempo), ambos descobertos pelo Leo Castelli, aquele que montou sua galeria na West Broadway, aquela via que divide o SoHo entre vivos e quase mortos!

 

Mas nesse sábado ensolarado aqui em NY eu endosso isso que escrevi há mais de 14 anos. Eu sou ele, o Johns. Ele vira eu. Somos todos feitos da mesma coisa: New York é uma mistura linda!

Essa mistura incoerente é, em si, uma celebração. Celebrações podem constatar momentos tristes. Como festas. Festas podem ser coisas tristes, como os lamentos do samba, os lamentos do jazz. Os lamentos do Blues. Só não ouve quem não quer.

Eis o texto: “O artista é sempre um estrangeiro”. Isso está no capítulo “A Bandeira de lugar nenhum”

 

O “elemento terra”, no artista, flutua sobre camadas espessas de influências, maleáveis e pessoais, a ponto de sofrer do mal itinerante (necessário) que os povos nômades sofreram no desesperador esforço de acumularem sofisticação durante seu percurso”.

 

Criar inimigos sempre foi e sempre será a tática de todos aqueles que não conseguem mais se olhar no espelho ou tolerar a entrada de imagens estranhas àquelas que se admiram. E a cara do inimigo geralmente compreende todos os traços que a sua não tem. Tudo aquilo que a moldura do espelho contém pode ser chamado de “estrangeiro”. Alguns se penteiam perante o estrangeiro e se embelezam para ele. Outros jogam pedras no estrangeiro e o estilhaçam, confirmando mais uma superstição.

 

Toda arte produzida em grandes centros é descaracterizada de nacionalidade. Ela é urbana simplesmente. Essa urbanidade compreende a falta de identidade, a confusão étnica e mística que as vias de concreto propõem…”

 

A produção artística dos centros urbanos é a natureza mais que morta, decrépita, mas, paradoxalmente, essa decrepitude contém todos os aspectos do homem moderno, suas várias nacionalidades – tudo justaposto, aglomerado, anárquico e fora de ordem, neste disfarce democrático fica difícil distinguir até o sexo da obra, quanto mais a sua origem étnica”.

 

O artista é sempre um estrangeiro”. Isto está no capítulo “A Bandeira de lugar nenhum”.

 

New York de então

New York de agora

 

O estado de espírito de sempre.

 

Gerald Thomas (alheio aos sons de Phelps e Spitz e ovações em Beijing, sorry: Pequim, Atchim!

 

(Vamp, ainda na edição)

 

 

PS 1- Maureen Dowd – Considerada a mais (ouch) “polêmica” colunista do New York Times escreve sobre… bem, leiam trechos, chama-se “A RÚSSIA não é a JAMAICA!”.

“A América está de volta à Guerra Fria e “W” (George Bush) entrou em férias novamente (…) Depois de oito anos ele continua ignorando a realidade; deixando de prever ou se previnir ou mesmo se preparar contra “disasters”: interpetando mal ou não interpretando os “reports” das agências de inteligência (…)

Ele passou 469 dias de sua presidência no rancho, dando coices, 450 dias em Camp David “dando pinta” (…) Isso tudo está acontecendo enquanto a Rússia avança para dentro da Geórgia (…)”

Trechos da BRILHANTE colunista que pega no pé de todo mundo, geralmente não sobre alguém específico: não adianta dizer que ela é isso ou aquilo: ela é simplesmete MateMática, como 1+1 são 2: Maureeen Dowd.

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Bem vindos ao novo blog!

New York – Meus queridos: não posso deixar de dizer que é um pouco estranho mudar de casa, ou de host. Em princípio nada muda, já que é uma só tela, essa, a do computador. Mas vivemos num “nonsense surround system”, ou seja, o que nos importa, nos dia de hoje, somos nós mesmos, os dias do i-isso, iPod, iPhone, I-não pode, e meus vizinhos aqui no i-G…sei não! Sei não! Sei SIM. Caio Tulio é meu amigo e mestre desde 1853 quando Richard Wagner compunha o Anel dos Nibelungos e resolveu fazer uma pausinha pra compor (a pedidos de Dom Pedro II), o Tristão e Isolda (pago com dinheiro brasileiro pra inaugurar o Theatro Municipal do Rio de Janeiro: infelizmente o Municipal só veio a abrir as portas em 1908). Enfim, estamos nessa era em que tanto se monta NO Beckett (que escreveu EU NÃO) “not I”, que se esquecem um pouco da essência e do conteúdo de sua escrita.

Venho escrevendo em Blog há mais de quatro anos. Recebendo e ouvindo e lendo comentarios, os mais incríveis e os mais diversos, elogios e insultos de admiradores até detratores, assim como é no teatro.

É. Assim como é no teatro. Aliás, quando comecei com essa coisa de Blog, ninguém sabia muito bem o que era. Hoje, tem mais blog no mundo do que gente! Eu mesmo, confesso, não tenho saco pra ler, digo, outros blogs. Tem que ser MUITO MUITO exótico mesmo pra chamar minha atenção! Ou seja, leio o mínimo necessário porque está provado que blog, jornal, mídia em geral faz mal a saúde. Deveria ser tudo interditado pelo Ministério da Saúde. Êpa! O que foi que eu disse? Ministério? RETIRO!!!!

Odeio governos! Não. Também não é verdade. “Sou” pelo Obama aqui nos US, mas não gosto aí do Sr. Lula da Silva, e sei que isso – aqui no IG – cairá mal. Bem, vocês me contrataram, então terão que conviver com essa ovelha negra aqui dentro: vai ser duro ser “companheiro” de página de Zé Dirceu. Já tive pesadelos a esse respeito. Confesso que tive. Ao mesmo tempo, cheguei a um ponto de cinismo onde já não acredito mesmo em que a “arte” ou opnião possa mais fazer a menor diferença (como um dia já fez: exemplo, Bertold Brecht, Living Theater, enfim, a arte da “demonstração” da “agitprop”, panfletagem, aquela que saía da “clausura” da bilheteria e realmente ia pras ruas reclamar ou clamar sua liberdade ou a liberdade de alguma coisa: sim, Sartre se foi e a Simone também.

” Fail. Fail again. Fail better.”

“Falhar. Falhar de novo. Falhar melhor”
Samuel Beckett.

O tempo passa e os escritos desse homem (na frente do qual tive o privilégio de sentar algumas vezes) ficam cada vez melhores e mais “wise” , mais …. (“Oh palavras que me faltam” última frase da ópera “Moisés e Arão” de Arnold Schoenberg” que dirigi em 98 na Áustria….tão vendo? Não olho pra trás, não reviso meus textos, vou escrevendo assim como vou dirigindo meus atores, sejam eles brasileiros, sejam eles da Baviera, sejam eles dinamarqueses ou daqui, do East Village ou de….. (pausa pra uma lágrima cair)… Londres….onde meu coração ficou…de onde meus pés, na verdade, nunca saíram, ou melhor, a minha alma nunca saiu. O resto é uma miragem, deve ser. Esse que perambula por aí é esse “Nowhere Man” (peça que escrevi pra Luis Damasceno em 1996), e que finge estar em casa no Rio, em Sampa, aqui em NY, ou em qualquer lugar do mundo mas não está.

– Onde estou? No lugar perfeito. No lugar virtual. Nessa coisa que, um dia, um vírus vai comer, “nhac”, e pronto! Estaremos de volta a estaca zero: papel e lápis.

Seremos obrigados a ler Kafka de novo. Nao poderemos mais entrar no “google” e fingir que sabemos tudo sobre todos. Teremos que sair pra comprar um livro todo amarelado de Joyce, ou de Guimarães Rosa, ou de Shakespeare, ou mesmo de Harold Bloom sobre Shakespeare ou do Haroldo de Campos sobre Joyce porque….Por que? Porque no fundo estamos perdendo nossa identidade. Sim, com esse “evento global” com esse information overload, esse excesso de informação, acabamos nao entendendo muito de nada ou nada de nada mesmo e “nhac”.

Muito de nada. Nada de nada. Assim como Beckett que usava seis palavras e sobravam quatro. Ou Heiner Müeller que usava mais de três mil palavras num jorro hemorrágico, mas no final, também só sobravam quatro.

Sejam super-bem vindos a esse novo blog. Teremos colaboradores. Estarei, como sempre estive, escrevendo, berrando, de tudo quanto é canto do mundo. Ainda estou estranhando um pouco o layout mas….. Nada que uma breve clicada de olhos ou um breve trocar de lágrimas não obrigue a vista a se acostumar.

Espero, sinceramente, não decepcioná-los. Mas, se for o caso: uma bela vaia também é bem vinda
LOVE
Gerald

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