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VERSÃO IMPRESSA
(O Vampiro de Curitiba na edição)
“Não, não… não é o que vocês estão pensando. Não, não é isso. De certa forma… quero dizer, de alguma forma, é o que vocês estão pensando, sim. Não posso negar. De alguma forma, o que vocês estão vendo agora, confirma exatamente isso (o que está no palco, vida, política, jornais, etc), e confirma também o que vocês estão pensando.
Engraçado. Triste. O desmoronamento. Várias obras de arte têm essa cara. Melhor, o PODER tem essa cara também.
O Poder e a Arte tem a cara da destruição!”
E por aí vai a narração inicial de “O CÃO QUE INSULTAVA MULHERES, Kepler, the dog” que estreou semana passada (apresentação única) em Sampa e pelo IG.
Muita coisa pessoal aconteceu na minha vida desde que comecei a ensaiar o espetáculo. Muita coisa aconteceu desde que ela foi ao ar.
Às vezes devemos dar uma parada em tudo. Zerar. Lubrificar o corpo. Postar a alma diante do espelho como o mais angelical dos seres ou o mais diabólico deles e perguntar: “o que estamos fazendo aqui? Pra quem e pra quê? Quem são nossos amigos? Quem são os oportunistas? Quem são nossos inimigos?”
As respostas podem vir na hora. Outras podem demorar algum tempo. De uma forma ou de outra, quem vive uma ‘vida pública’ assim como eu, já deve dormir com um olho aberto. Quem se aproxima… hummm, deve se aproximar porque deve querer alguma coisa.
INÍCIOS DE TUDO
Vejo uma geração (aliás, duas) inteira de pessoas fingindo que estão acontecendo coisas. Uma, a mais velha, FINGE que há um NOVO INÍCIO de TUDO, como se os tempos de hoje fossem a nova Gênese. Bosta. Não tem nada de novo acontecendo além do fingimento oportunista desses alguns que querem estar desesperadamente correndo em busca de um tempo perdido.
E tem de fato a geração de hoje, a nova, que não sabe porra nenhuma mesmo e que olha qualquer negócio com aquele olhar bestial de novidade. Dá preguiça? Não sei. Dá pena. Mas sempre foi assim. Schoenberg já escrevia sobre isso. Outras dezenas também. E sei lá quem escrevia que o “tempo contemporâneo traz memórias pra serem preenchidas”. Ah, tem cara de ser Wittgenstein, mas posso estar chutando.
“Hedonismo perverso”
Mesmo assim, exausto da estréia do Cão que insultava e insulta, fui ver o espetáculo que Jô Soares montou no “Teatro Vivo” com o Wilker e cia. E o quê? Me surpreendi como o Wilker está ÓTIMO, como o Jô deixou o texto de Albee de pé, sem pretensões de querer cultuar um manifesto em torno de si mesmo. Ah sim, nem tudo é perfeito, mas… quem sou eu para estar escrevendo sobre perfeição ou cultos sobre o diretor, etc.?
Encontrei no camarim um Jô Soares tão doce, tão simpático e tão aberto a tudo que, complementar ao texto do Albee e a interpretação inesperada de Wilker, deixa em aberto se não devemos nos olhar mais no espelho todos os dias um pouco menos. Vou repetir. Olhar MAIS no espelho um pouco MENOS (essa frase é melhor em alemão). Olhar menos no espelho e testar nossas idioTsincrasias e daqueles que consideramos amigos, inimigos ou da tchurma ou da antiTchurma ou de pessoas que consideramos hostis ou da nova FASHION Actor ou Fashion ACTRESS ou do Pink is the new Black. E por quantos anos olharemos para fora ao invés de para dentro para constatar uma coisa, uma única e só coisa?
Sylvia, a cabra, é uma paixão impossível porque ela não existe.
A questão mais profunda e mais dolorosa entre nós da humanidade seria: temos realmente alma suficiente para amar ou entregar, para colocar nosso coração à disposição de alguma outra pessoa em qualquer momento de nossas vidas? Ou o MOTTO do “Kepler the dog” está mesmo certo: ”Não, nao é o que vocês estão pensando. Sim, é o que vocês estão pensando, sim. O que está colocado na frente de vocês e na minha frente agora é isso! E se está colocado na sua frente, tem que ser comido, atacado, digerido, possuído e depois… CAGADO FORA!
XEQUE-MATE!
Gerald Thomas,
Depois de uma longa conversa sobre “amizades da oportunidade” com João Carlos do Espírito Santo.
PS: “O CÃO QUE INSULTAVA MULHERES, KEPLER, THE DOG”, AO QUAL O TEXTO SE REFERE, PODE SER VISTO AQUI:
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PEDÓFILOS – Parte 1 e DOW Jones CAI 600 pontos HOJE. Leia em baixo, em inglês, parte da rejeição – do NY Times
Do blog do Reinaldo Azevedo:
Domingo, Setembro 28, 2008 |
Falanges do ódio
Gerald Thomas responde em seu blog às falanges do ódio, que resolveram, agora, patrulhar a nossa amizade – ou, no caso, censurá-lo porque “tem a coragem” de se dizer meu amigo.
Eis aí. Quando eles não podem silenciá-lo, ameaçam-no, então, com a solidão, com um solene “não gostamos mais de você se você não odiar todos aqueles que odiamos”. O que é que essa gente sabe sobre celebração, encontro, decência? Nada! Esses caras estão urrando cedo demais, não é, Gerald? Talvez devessem esperar um pouco…
DOW JONES CAI 600 PONTOS HOJE, FINAL DE TARDE DE SEGUNDA-FEIRA: House Rejects Bailout Package, 228-205; Stocks PlungeWASHINGTON — In a moment of historic import in the Capitol and on Wall Street, the House of Representatives voted on Monday to reject a $700 billion rescue of the financial industry. The vote came in stunning defiance of President Bush and Congressional leaders of both parties, who said the bailout was needed to prevent a widespread financial collapse. Matthew Cavanaugh/European Pressphoto Agency
House Speaker Nancy Pelosi walked through the Capitol building on Monday. Details of the Rescue BillAndrew Councill for The New York Times
Senator Judd Gregg, Republican of New Hampshire, said of the new plan, “If we don’t pass it, we shouldn’t be a Congress.” Readers’ Comments
The vote against the measure was 228 to 205, with 133 Republicans joining 95 Democrats in opposition. The bill was backed by 140 Democrats and 65 Republicans. Supporters vowed to try to bring the rescue package up for consideration again as soon as possible, perhaps late Wednesday or Thursday, but there were no definite plans to do so. Stock markets plunged as it appeared that the measure would go down to defeat, and kept slumping into the afternoon when that appearance became a reality. By late afternoon the Dow industrials had fallen more than 5 percent, and other indexes even more sharply. Oil prices fell steeply on fears of a global recession; investors bid up prices of Treasury securities and gold in a flight to safety. House leaders pushing for the package kept the voting period open for some 40 minutes past the allotted time, trying to convert “no” votes by pointing to damage being done to the markets, but to no avail. The vote was a catastrophic political defeat for President Bush, who was described as “very disappointed” by a spokesman, Tony Fratto. Mr. Bush had put the full weight of the White House behind the measure and had lobbied wavering Republicans in intensely personal telephone calls on Monday morning before the vote. Both presidential candidates also supported the plan. Supporters of the bill had argued that it was necessary to avoid a collapse of the economic system, a calamity that would drag down not just Wall Street investment houses but possibly the savings and portfolios of millions of Americans. Moreover, supporters argued, a lingering crisis in America could choke off business and consumer loans to a degree that could prompt bank failures in Europe and slow down the global economy. |
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Um torcedor do Corinthians desce a pé a Brigadeiro Luis Antonio, feliz da vida. Um vulto sozinho neste frio sábado à noite, nesta rua cinza, cidade cinza, sombras além do cinza, garoa fina e cinza ele toca nos postes como se fossem pessoas. Seu time ganhou.
A cena não deixa de ser sublime, apesar de estranhamente triste e tristemente cinza, assim como Beckett sonhava o mundo. Estranho esse sentimento passageiro de “vencer”, de “ganhar”. Sempre nós, os homens, querendo vencer ou ganhar. Ou colocando nossas mulheres como cavalos ou éguas de Tróia para vencer nossa batalha por nós. Ele, o loner torcedor-sozinho, fantasiado de pierrot, poderia também estar vindo da convenção dos Democratas ou dos Republicanos.
Caramba! Como estou exausto de política! Como estou exausto de retórica. Como estou podremente exausto dessa guerra de nervos que somente se resolverá mesmo é através das urnas, em novembro, nos EUA. E, até lá, será um deus-nos-acuda, um deus-nos-acusa, um rebola hesbollah, um índio a menos ou a mais na tribo. Exausto.
Nessas convenções todo mundo está certo e orgulhoso de que alguém irá “vencer”, “levar o título”, “ocupar o trono”. Nesse catch as catch can, uma mulher estava sendo cogitada por anos, a Hillary, e eis que outra, no partido oposto (um coringa, uma incógnita), a Sarah Palin, leva a cartada. Golpe sujo. Golpe baixo. Política já foi outra coisa?
Como pergunta pertinentemente alguém (será Larry King?): “Ela está preparada para ser a Comandante Chefe?”
A pergunta já inclui a resposta.
Muitas respostas já incluem a pergunta.
Não agüento mais.
O nome “Lula da Silva” me enoja, e todo seu ministério! Mas nada mais tenho a dizer a esse respeito. O Real está forte, os restaurantes desta triste Paulicéia estão cheios. São Paulo enche a pança! É o que se faz aqui. O que mais se faria perto da Brigadeiro Faria Lima? Ah sim, os pequenos teatros alternativos que imitam os grandes teatros de GRUPO alternativos do mundo: mas aqui eles adicionam um pouco de cor a esse gris sur gris!
Ainda me preocupo muito em ler e ouvir análises disso e daquilo, mas entro facilmente em nada! De tanto golpe baixo em golpe baixo a coisa vai, que nem me importo mais se McMain pega uma mulher que só viu duas vezes na vida antes… Bah! Política!!! Eu deveria me importar depois de tanto que sofri com o Obama nesse último ano. E agora? Agora é esperar as eleições! Não adianta mais sofrer por antecipação ou por frustração.
A “Sinfonia dos DesDitos” – que pequena revolução!
Escreve o Comandante Peter Lessman, 27 anos de Varig e agora na “Arab Emirates”:
“Tendo a triste lembrança da política Brasileira como pano de fundo, assisti emocionado à Convenção Nacional do Partido Democrata nos EUA oficializando a escolha do seu candidato a Presidente e Vice, assim como também no dia seguinte o show de retórica de Obama aceitando a indicação.
Não consegui desgrudar um minuto daquele espetáculo de democracia e esperança em estado bruto. Do meu quarto de hotel em Bangcoc, acompanhei totalmente fascinado a cobertura da CNN nos mostrando de todos os ângulos possíveis os rostos, expressões e palavras das grandes e pequenas figuras humanas em um grande momento da sociedade americana, comprovando mais uma vez a sua incrível capacidade de reagir efetivamente, e com extremo vigor, quando insatisfeita com os rumos do seu governo e de seu país. Sem contar a grandeza da sua grande adversária derrotada na feroz disputa, Hilary Clinton, quando vigorosamente conclamou a todos para se unirem em torno de Obama, pelo bem do país!
Viajando há quase 30 anos literalmente pelo mundo, este acontecimento mais uma vez confirma o que eu não canso de repetir:
O que realmente diferencia o chamado “Primeiro” mundo do restante não é o dinheiro ou os eventuais rios de petróleo no “pré-sal” de cada país; mas acima de tudo na capacidade, ou não, de cada cidadão entender que a sua conduta e engajamento individual têm um impacto decisivo na qualidade da sociedade na qual ele está inserido, e conseqüentemente o futuro da sua nação…
O sistema deles funciona e se aprimorou ao longo dos anos com muita luta e até de uma guerra interna, e onde mulheres e negros, por exemplo, só conquistaram o pleno direito ao voto há menos de 100 anos.
Mas há duas características fundamentais por trás deste sucesso: os simples e sólidos princípios básicos quando a Constituição deles foi criada há mais de 200 anos pelos chamados “Pais Fundadores da Nação”, e o total comprometimento e vigilância de cada um dos cidadãos para com o seu fiel cumprimento.
E é este mesmo engajamento que tornou possível o “fenômeno” Obama, e TODOS os comentaristas políticos são unânimes em concordar, através do que eles lá chamam de “grass roots movement”. Um movimento “de raízes”, de “base”, onde através do trabalho “de formiguinha” de dezenas de milhares de voluntários de TODAS as camadas sociais país afora, ele obteve o apoio e arrecadou milhões de dólares para ao seu movimento chamado de “Change” (Mudança).
Assim como levou milhões a repetir em coro ao longo da campanha pela indicação de candidato pelo partido Democrata o “yes we can” (nós podemos sim). Com certeza fará o mesmo na Campanha Presidencial contra o candidato Republicano McCain.
E ele reconheceu a importância deste trabalho em um dos momentos marcantes do seu discurso de aceitação da candidatura Democrata ao afirmar: “O que alguns ainda não entenderam é que tudo isto que está acontecendo (o movimento CHANGE que ele lançou) não trata da minha pessoa (it’s not about ME), mas é sobre vocês! (it’s about YOU!)”, em uma extraordinária lição de humildade e liderança que já começou a fazer história.
Pois é, meus Brasileiros e Brasileiras: cada país tem o “Fenômeno” que merece certo?
Será que NUNCA aprenderemos a reagir??
Abraços esperançosos de muito longe,”
Peter Lessman.
Minha companhia de teatro finalmente “aconteceu”: ontem, sábado, lá no SESC Paulista. O que significa acontecer? Significa fazer a cena acontecer! Significa entrar no groove, entrar no vivo da natureza viva e nunca morta. E estamos vivos. E o projeto que já mudou de nome (depois de muita raiva minha e muitas dissidências de atores) esta lá, de pé, assim como o teatro está de pé desde Sófocles!
E como o torcedor do time desta capital descendo uma de suas avenidas principais numa falsa alegria passageira, eu, numa falsa alegria passageira, comemoro um dia de vitórias dramáticas sabendo que o povo de New Orleans está fugindo do “Gustav”, marido da “Katrina”, 3 anos depois da devastação, pois é disto que nós somos feitos:
Festas
Vitórias
Devastação
Gerald Thomas
Abaixo, um texto de Artaud (mandado por Marina Salomon) em resposta á minha ira de anteontem no “ Geração Careta”:
“Jamais, quando é a própria vida que nos foge, se falou tanto em civilização e em cultura. Há um estranho paralelismo entre essa destruição generalizada da vida, que encontra-se na base da desmoralização atual, e a preocupação com uma cultura que jamais coincidiu com a vida, e que é feita para governar sobre a vida.
Antes de retornar à cultura, observo que o mundo tem fome, e que ele não se preocupa com a cultura; e que é apenas de maneira artificial que se quer dirigir para a cultura pensamentos que estão voltados unicamente para a fome.
O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência jamais salvou um homem de ter fome e da preocupação de viver melhor, e sim extrair disso que se chama de cultura idéias cuja força viva seja idêntica à da fome.
Nós temos necessidade sobretudo de viver e de acreditar naquilo que nos faz viver e que alguma coisa nos faz viver ¤ e aquilo que sai do misterioso interior de nós mesmos não deve retornar perpetuamente sobre nós mesmos, em uma preocupação grosseiramente digestiva.
Quero dizer que se para todos nós é importante comer, e já, nos é ainda mais importante não desperdiçar nesta única preocupação imediata de comer nossa simples força de ter fome.
Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as idéias, os signos que são a representação dessas coisas.
Certamente não são sistemas de pensamento que nos faltam; o seu número e as suas contradições caracterizam nossa velha cultura européia e francesa: mas quando é que a vida, a nossa vida, foi afetada por esses sistemas?
Não diria que os sistemas filosóficos são algo que se possa aplicar direta e imediatamente; mas das duas, uma:
Ou esses sistemas estão em nós e somos impregnados por eles a ponto de viver deles, e neste caso o que importam os livros? ou nós não somos impregnados por eles, e neste caso eles não merecem nos fazer viver; e de
qualquer forma, que importa seu desaparecimento?
É necessário insistir sobre esta idéia da cultura em ação e que se torna em nós como um novo órgão, uma espécie de segunda respiração: e a civilização é a cultura que se impõe e que rege até mesmo nossas ações mais sutis, é o espírito que se encontra nas coisas; e é de maneira artificial que se separa a civilização da cultura, e que há duas palavras para significar uma única e idêntica ação.
Julgamos um civilizado pelo modo como ele se comporta, e ele pensa da maneira como se comporta; mas já sobre a palavra civilizado existe uma confusão; para todo o mundo, um civilizado culto é um homem esclarecido quanto aos sistemas, e que pensa através de sistemas, de formas, de signos, de representações.
É um monstro em quem se desenvolveu até o absurdo essa faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos atos, em vez de identificar nossos atos com nossos pensamentos.
Se falta amplitude à nossa vida, ou seja, se lhe falta uma constante magia, é porque gostamos de observar nossos atos e de perder-nos em considerações sobre as formas sonhadas de nossos atos, em vez de sermos impelidos por eles.
E essa faculdade é exclusivamente humana. Diria mesmo que é essa infecção do humano que nos estraga certas idéias que deveriam permanecer divinas; pois, longe de acreditar no sobrenatural e no divino inventados pelo homem, creio que foi a intervenção milenar do homem que acabou por nos corromper o divino.
Todas as nossas idéias sobre a vida devem ser modificadas, numa época em que nada mais adere à vida. E essa penosa cisão é motivo para que as coisas se vinguem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos mais encontrar nas coisas ressurge de repente pelo lado mau das coisas; e jamais se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só pode ser explicada por nossa impotência em possuir a vida.
Se o teatro existe para permitir que nossos recalques tomem vida, uma espécie de atroz poesia se exprime através de atos bizarros, onde as alterações do fato de viver demonstram que a intensidade da vida permanece intacta, e que bastaria melhor dirigi-la.
Porém, por mais que queiramos a magia, no fundo temos medo de uma vida que se desenvolvesse toda sob o signo da verdadeira magia.
E é assim que nossa ausência enraizada de cultura espanta-se com certas grandiosas anomalias e que, por exemplo, em uma ilha sem nenhum contato com a civilização atual, a simples passagem de um navio, somente com pessoas sadias, pode provocar o aparecimento de doenças desconhecidas nessa ilha, e que são uma especialidade de nossos países: zona, influenza, gripe, reumatismos, sinusite, polinevrite, etc., etc.
Do mesmo modo, se achamos que os negros cheiram mal, ignoramos que para tudo aquilo que não é Europa somos nós, os brancos, que cheiramos mal. E eu diria mesmo que exalamos um odor branco, branco assim como se pode falar de um “mal branco”.
Como o ferro aquecido ao branco, pode-se dizer que tudo o que é excessivo é branco; e para um asiático a cor branca tornou-se a insígnia da mais extrema decomposição.
Dito isto, podemos começar a traçar uma idéia da cultura, uma idéia que é antes de tudo um protesto.
Protesto contra o estreitamento insensato que é imposto à idéia de cultura ao se reduzi-la a uma espécie de inconcebível Panteão; o que resulta em uma idolatria da cultura, da mesma maneira que as religiões idólatras colocam deuses em seu Panteão.
Protesto contra a idéia separada que se faz da cultura, como se existisse, de um lado, a cultura, e de outro a vida; e como se a verdadeira cultura não fosse um meio requintado de compreender e de exercer a vida.
Pode-se queimar a biblioteca de Alexandria. Acima e além dos papiros, existem forças: podem nos roubar durante algum tempo a faculdade de reencontrar essas forças, mas não podem suprimir a sua energia. E é bom que muitas das grandes facilidades desapareçam e que certas formas caiam no esquecimento; assim a cultura sem espaço nem tempo contida em nossa capacidade nervosa ressurgirá com uma energia amplificada. E é justo que de tempos em tempos se produzam cataclismas que nos incitem a retornar à natureza, ou seja, a reencontrar a vida. O velho totemismo dos animais, das pedras, dos objetos utilizados para aterrorizar, das vestimentas bestialmenteimpregnadas, em uma palavra tudo o que serve para captar, dirigir e desviar as forças, é para nós uma coisa morta, da qual sabemos apenas tirar um proveito artístico e estático, um proveito de fruidor e não um proveito de ator.
Ora, o totemismo é ator porque se move, e é feito para atores; e toda verdadeira cultura apoia-se sobre os meios bárbaros e primitivos do totemismo, cuja vida selvagem, ou seja, inteiramente espontânea, quero adorar.
O que nos fez perder a cultura foi nossa idéia ocidental da arte e o proveito que dela tiramos. Arte e cultura não podem andar juntas, contrariamente ao uso que universalmente se tem feito delas!”
Antonin Artaud
(O Vampiro de Curitiba na edição)
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Neste blog tudo é possível! Eu disse Blog? Esquece! Quero dizer: mundo útil. Esquece! Mil desculpas. Eu quis dizer… MUNDO FÚTIL.
Por exemplo: tenho uma namorada chamada Geórgia: Ela está sendo estuprada por uma amiga lésbica que tínhamos em comum, a Rússia. Estupro violento. Pior! Além da violência, da porrada, das partes mortas (minha namorada está sem rim, fígado, já teve perna amputada e está sangrando….) a Rússia, agora, ainda está mandando um ultimato: que a Geórgia se renda por total, se desarme: “Se solta, boneca. Vai, se libera, caramba!”.
Mas quem se interessa pela Geórgia? Ninguém, né!? Em época de Olimpíadas e numa sociedade cada vez mais imbecilizada pelo nada, pela “falta cultura nessa falta de cultura” e/ou noção histórica (cheguei a ouvir atrocidades no último ensaio em Londres! Já estou de volta a NY onde ninguém sabe nada mesmo), qualquer notícia tem o valor daquele dia. E somente o valor daquele dia, nada mais!
“Esse cara lá em cima, lá, olha… lá em cima daquele poste enorme o… Nelson, Almirante Nelson… alguma idéia?”
Bem, se a minha namorada Geórgia não estivesse em frangalhos e a Rússia não continuasse o estupro (e eu, covarde, me divertindo a passear em Londres), quase ligo pra ela pra que se juntasse a nós, para uma boa lição de história!
Caminhamos até Whitehall e Westminster, e as Casas do Parlamento (House of Commons, grudada ao House of Lords). Me ocorreu uma idéia pirotécnica: “alguém já ouviu falar em Guy Forks? Ou em Cromwell?”
Nenhuma reação!
Bem, fico com o “History Channel” que colocou a Magna Carta (1215) junto com o Monty Python no seu release das “50 coisas” que você simplesmente PRECISA saber nessa era turbulenta do NADA.
Não, a rainha Victória não está na lista (pra fúria da “Regina” de mais longo e criativo reinado no trono britânico). Winston Churchill e outras brincadeiras sérias também foram deixadas de fora, como o descobrimento do “admirável MUNDO NOVO”, as Américas. (vamos lá, blogueiros indignados, aos comentários!)
A CNN também foi deixada de fora.
Eis algumas das 50:
43 ad – A invasão romana
1610 – Shakespeare (não sei porque escolheram esse ano: um ano antes dele escrever sua última peça, “A Tempestade”)
1829 – o Bobby, (policial britânico)
1927 – A BBC.
1973 – A Grã-Bretanha se junta à Europa. (!!!!)
Enfim, fico por aqui com a lista. John Cleese e sua turma têm, pelo menos, um senso crítico, áspero, cáustico da História e sabem o que fazem e onde pisam… fico pensando se realmente Napoleão, Hitler , Stalin, Franco e Fidel (que parecem não terem entrado), são meros passageiros de um trem dos horrores de Coney Island. Ah, sim, Coney Island, pra ser destruída, junto com a minha namorada Geórgia, é/era um dos maiores parques de diversão do mundo!
Já o resto de nós, digo, dos turistas, entram nos museus e galerias, mas na verdade estão querendo entrar na Prada e não no Prado. Querem seus celulares funcionando pra mandarem torpedinhos imbecis, querem parar na frente das lojas da Porsche e ficar babando. Tate Modern? O que é isso? Ah, é o “Moma” daqui? “Moma” é Museu de Arte moderna, né? Temos que ir, não é? Lá tem o que, mesmo? O… aquele… o… aquele pintor… o Beethoven, né? Muito bom o Beethoven, rapaz! Gosto muito dele! De vanguarda, né merrrrmo? Vem cá, onde que fica a Marcos e o Spencer mesmo? Parece que tão liquidando tudo!
Geórgia, heeeelp ! Dá um sinal de vida!
Antes que você seja transformada na Guernica de Picasso, pintada a barril de petroeuros, fala comigo: Alô! Alô! AAAAlôôô!
Putz! Meu celular da T-mobile está sem conexão e o da Orange também. Ainda bem que a British Airways perdeu minha bagagem! Eu não preciso de pôrra nenhuma mesmo, a não ser de um pouco de paz!
Gerald Thomas
(Vamp na edição)
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Testemunho pessoal:
Morreu a maior de todas. Essa que teve a cara, coragem e o PEITO (nu) de enfrentar todos os preconceitos; a de enfrentar os piores insultos por ser uma absoluta pioneira no que fez.
Agüentou ser injustiçada até os últimos dias de sua vida. Inconformada com sua “falta de reconhecimento pelos intelectuais” como ela me confessou uma vez (em voz grave, triste) no camarim após um de seus shows no Canecão do Rio, Dercy era uma pessoa muitíssimo temperamental.
Quando encenei Gal Costa em “Sorriso do Gato de Alice”, em 1994, e tivemos aquela linda cena do “peito de fora” durante a música de Cazuza (Brasil, mostra a tua cara), ela foi ver o show e, depois nos visitou aos berros e abraços, e disse “me imitando né?, cambada de filhos da puta!!!!”
Morremos de rir. Morríamos de rir, nas pouquíssimas vezes em que nos vimos. Pouquíssimas mas riquíssimas!
Foi quando dirigi Marco Nanini na peça que escrevi pra ele, “Circo de Rins e Fígados” em 2005 que fiquei sabendo mais e mais sobre nossa grande diva. Foi com ela que Nanini aprendeu, “no sopapo” a arte de entrar em cena!
O resto ele conta melhor.
O que posso dizer é que A SENHORA Gonçalves era a NOSSA Grande Diva, nossa Jane Mansfield, uma boca pro mundo, sem reservas, o melhor que o Brasil tinha pra dizer. O Brasil eterno, aquele que se manifesta, aquele que ainda fazia passeatas, aquele politicamente incorretíssimo. Sendo ex-genro de Fernanda Montenegro, às vezes, morríamos de rir da coragem que ela tinha de ir direto ao ponto, de não ter medo de nada.
Quantas pessoas têm essa coragem? Digo, quantas pessoas no MUNDO tem essa coragem, a de dizer TUDO aquilo que merece e DEVE ser DITO sobre justiça e injustiça no momento exato, mesmo que depois pese profundamente sobre elas?
Poucas.
Morreu hoje um Bastião da CULTURA brasileira. Sim Dercy. Você conversava com nós todos porque o teatro, o cinema, a arte em geral deve muitíssimo a você.
O Brasil deve MUITISSIMO a você.
Talvez a sua presença só será notada agora, uma vez que você não esta mais entre nós. Mas você sabia disso desde o início. Continue amarga e nos xingando aí de cima. Estaremos te escutando, so que dessa vez, aos prantos.
LOVE
Gerald Thomas
Lindissimo comentario (publicado domingo 14;10h)
Enviado por: O Fantasma do Rio de Janeiro
Essa é a minha primeira aparição. Morri num urinol. Mas fui condenado a vagar até que os crimes cometidos em meus tempos de vida tenham sido purgados, se transformando em cinzas, ou fumaça. Meu menino Gerald Thomas a tua palavra e ação, bem como as de Dercy, narra os segredos das profundas, e, nos revela a nossa historia. A tua palavra sobre a vida e a arte arranca as raizes da nossa alma. E gela o sangue da nossa falsa juventude. A fetuoso Gerald Thomas a espontaneidade exige rigor, que Deus conserve essa tua caracteristica: afeto e rigor. Que Deus também te proteja desses que te apredejam. Desses, que lançam pedras, o que é mais importânte de observar não é o que as palavras dissem, mas sim o que elas ocultão. Até porque não têm nenhuma argumentação plausivel em suas respostas, apenas: agresividade gratuida, choro com raiva, inveja de pessoas que se escondem por atras de uma parede de humanos. O teu olhar é belo e acido permanentemente atual pela força com que trata de problemas fundamentais da nossa condição humana. A obsessão de uma vingança, desses anonimos, é porque a duvida e o desespero, aflorados pelas tuas palavras, expõe a impressionante dimensão tragica dessas pessoas. Você é importante, obrigado por existir e exigir.
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