Monthly Archives: November 2019

“Sou uma Carmen Miranda nascendo das cinzas de Brunhilde” (Gerald Thomas)

GT- BUTTERFLIES (photo by Adriane Gomes)

Mas, quanto a ser uma espécie de extensão, de continuação dessa vanguarda, me acho mais próximo ao próprio Haroldo e Augusto de Campos ou ao Hélio Oiticica e suas “Warholsisses”, mais próximo a Duchamp e Joyce. Claro que eu me formei (aqui dentro) a partir desses nomes acima, juntando ainda meu mestre, Beckett, Bob Dylan e a contracultura (essa que vi e vivi desde seu inicio – lá em Tennessee. Sim, o Tropicalismo triste, uma Carmen Miranda nascendo das cinzas de Brunhilde, um sambista acanhado no meio de Woodstock, um Artaudiano em busca da sanidade perdida em Auschwitz.

GT- NYC Nov 27, 2019

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DIGESTIVO CULTURAL – Jardel Dias Cavalcanti entrevista Gerald Thomas

Terça-feira, 10/12/2019
Entrevista com Gerald Thomas

 

 

O dramaturgo e encenador Gerald Thomas lança dia 11 de dezembro, no SESC da paulista — SP, o livro Um Circo de Rins e Fígados com grande parte dos textos de suas peças (mais de 20 entre as mais de 80 peças que criou). O livro está sendo publicado pela editora do SESC e vem acompanhado de parte da fortuna crítica e de excelentes ensaios que aprofundam uma leitura de seu teatro. Entre os ensaístas estão Danilo Santos de Miranda (que apresenta o livro), Adriana Maciel, Dirceu Alves Jr. e Flora Süssekind.

Das peças podemos encontrar, entre outras, Carmen com Filtro 2Eletra Com CretaThe Flash and Crash DaysPragaMatogrossoM.O.R.T.E. Império das Meias VerdadesVentriloquistUnglauberGargóliosEntredentes e Dilúvio.

É um acontecimento extremamente importante, dada a relevância que seu teatro tem no Brasil (Haroldo de Campos o coloca como um dos mais importantes criadores e inovadores do teatro brasileiro). Com a publicação de suas peças, teremos a oportunidade de reviver a criatividade e a ousadia de seu teatro a partir dos textos ousados e transgressores que criou.

Aproveitamos este momento para fazer uma entrevista com o dramaturgo, que mora em Nova York, e que estará no Brasil em dezembro especialmente para o lançamento do seu livro.

JARDEL – Com o lançamento do livro Um Circo de Rins e Fígados, com mais de 20 de suas peças (e você já encenou mais de 80 peças), qual é a sensação de estar diante do resultado organizado de anos de trabalho intenso, não só de montagem, mas de elaboração de uma escrita bastante pessoal para o seu teatro?

GERALD THOMAS – Sabe Jardel, esses últimos anos, especialmente depois de uma enorme crise depressiva que resultou numa tentativa de suicídio em 2015, eu tenho tentado pensar nesse “conjunto” de coisas que me trouxeram até aqui: desde que comecei a rodar o mundo e “achatá-lo” com as minhas próprias mãos, até os dias de hoje. É, no mínimo, bizarro testemunhar essa “coisa” que sou (pro mundo de fora), visto a partir daqui desse mundo de dentro. Aqui dentro eu ainda acho que sou um amador, acho que sou alguém com muita vontade de fazer coisas, tenho 2 mil ideias por segundo, mas a exaustão do corpo não deixa que eu realize tudo isso.

Sim, montei mais de 80 espetáculos pelo mundo. Mas, se você levar em consideração que a maior parte dessas montagens entraram em turnê, eram montadas e desmontadas a cada semana…. acho que devo ter “sentido a pressão da estreia” pelo menos 3 mil vezes na vida.

Mesmo assim, nas artes a gente não gradua nunca. Todo santo dia é um mistério. Minha escrita mudou muitíssimo desde, digamos, EletraComCreta até hoje. Tenho tentado não ser mais tão irônico e, principalmente, tenho tentado não mostrar o quanto sei ou seja, tenho me colocado na posição do espectador. Beckett me dizia “o público pressupõe”. Não se preocupe porque ele pressupõe. Eu já acho que não. Acho que estamos vivendo um período de didatismo necessário (tamanha a burrice disseminada pela social media).

O resultado? Parecido com aquele quando Entre Duas Fileiras foi lançado. Eu só pensava nos capítulos que não entraram e naqueles 80% que foi cortado do original. Eu achava, como ainda acho, que naquilo que não foi publicado residia a “verdadeira” autobiografia. Acho, portanto, que as cenas de peças que foram cortadas ou as peças e textos que não entraram nesse livro….” aha! É lá que reside o verdadeiro Gerald Thomas”.

JARDEL – O seu teatro funciona dentro de uma correlação riquíssima entre texto, imagem, performance corporal e música. Não te angustia ver o texto separado daquela vibração única que é a apresentação ao vivo da peça, sem todos esses elementos que citei?

GERALD THOMAS – Dá sim uma certa angústia. Mas mesmo durante o ano em que passei pela revisão do livro, eu lia e relia os textos pensando ou relembrando como era a coisa montada e como cheguei nos textos (muitos deles, os textos, foram escritos depois de vários ensaios de marcação de cena. Foram concebidos pra caber naquele espaço. Como eu ainda me lembro de tudo como se fosse ontem, o que tomava conta de mim era uma espécie de nostalgia, de tristeza (mil problemas de ego e de destempero pessoal entre vários colaboradores (as) e eu….).

 


JARDEL – Agora que você publicou os textos do seu teatro, deixaria alguém montar um espetáculo a partir desses textos? (Tal como você fez, por exemplo, com o Quartett de Heiner Müller).

GERALD THOMAS- Mas o Heiner escreveu Quartett pra ser montado por outros. Ele só encenou nos últimos anos da vida dele. E ele não entendia de luz, não entendia do aparato por traz do teatro, não entendia nada sobre o que é atuar, interpretar, representar (3 coisas diferentes). Pra te responder: eu ficaria preocupado, te confesso. Em 2009 peguei o carro e fui de Londres até Cardiff (acho que era lá, ou Swansea, Pais de Gales), pra ver o que um diretor havia feito com o meu Ventriloquist. Nossa mãe. Não tenho palavras pra te dizer o quanto vomitei.

JARDEL – Haroldo de Campos via – com muita admiração – a sua produção como o terceiro e mais jovem braço de uma vanguarda que se completava com dois outros grandes diretores: Zé Celso e Antunes Filho. Como você vê essa declaração de Haroldo de Campos?

GERALD THOMAS- Eu acho lindo mas acho engraçado também. Eu não me considero um “diretor”. Não gosto desse termo. Eu sou um autor que, coincidentemente, encena as próprias coisas. O Antunes? O que ele escreveu? O Zé escreveu algumas coisas (acho que Cacilda, principalmente) mas, ainda assim, o Zé é um happening-maker, alguém que criou um ritual pra aquilo (ritual mais do que uma estética ou um método). Os dois são fabulosos mas eu só me entendo parte dessa “Santíssima Trindade” uma vez que os meus espetáculos já estavam disponíveis para o público, no palco. Mas o Haroldo participou muitíssimo da escrita deles, da concepção deles e não somente da coisa encenada. Mas, quanto a ser uma espécie de extensão, de continuação dessa vanguarda, me acho mais próximo ao próprio Haroldo e Augusto ou ao Hélio e suas Warholsisses, mais próximo a Duchamp e Joyce. Claro que eu me formei (aqui dentro) a partir desses nomes acima, juntando ainda meu mestre, Beckett, Bob Dylan e a contracultura (essa que vi e vivi desde seu inicio – lá em Tennessee. Sim, o Tropicalismo triste, uma Carmen Miranda nascendo das cinzas de Brunhilde, um sambista acanhado no meio de Woodstock, um Artaudiano em busca da sanidade perdida em Auschwitz.

Jardel Dias Cavalcanti 
Londrina, 10/12/2019

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ANOTHER BOOK PUBLISHED : “DILUVIO” Galileu Edições – (analysis of my play @2017) by Jardel Dias Cavalcanti

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PRINTED / IMPRESSO “Circo de Rins e Fígados” – livro com todas as minhas peças (almost my entire theatrical oeuvre in one book)

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GT + Adriane at the Beacon – Bob Dylan Nov 24, 2019

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Bob Dylan live at the Beacon Theater NYC November 24, 2019

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NEW BOOK / LIVRO NOVO/ DECEMBER 11, 2019.

Dia 11 de dezembro: lançamento do meu novo livro “Circo de Rins e Fígados” (compilação de quase todas as minhas peças) : SESC Av Paulista as 20h. Leitura de trechos com Ney Latorraca @antonioneylatorraca , Edi Botelho, Bete Coelho @betecoelho_ e Fabiana Gugli @fabigugli +debate comigo e Dirceu Alves Jr @dirceualvesjr ! Não percam !!!!! #geraldthomas #geraldthomas1 #teatro🎭 #theater #drama #comedia #palco

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Guilherme Zelig – a meu respeito: linda homenagem. Obrigado querido.

 

Guilherme Zelig, autor

Por Guilherme Zelig, a propósito de Gerald Thomas,
hoje: OBRIGADO Gui.
LOVE
Gerald Thomas
—————

“Quem é? É a/o Laerte? O que me tornei? Uma colcha de retalho dos outros? Paro para pensar e olho para trás: antes de dilúvio ao qual deixei embarcar algumas angústias em minha arca; antes da neve coberta de sangue sobre os Alpes; antes mesmo da vez em que fiquei parado diante do quadro de Rembrandt ou do manifesto declarando a minha independência. Antes mesmo da guerra dos xiitas e sunitas e curdos e cegos e mudos… Antes mesmo do holocausto, da bomba atômica, da escravidão, das invasões bárbaras and so on and so forth.
Paro para pensar e pergunto-me: qual é o meu lugar. Hoje estou aqui aos sessenta e cinco. Prestes à meia idade da Besta: 66. E minha contribuição? Creio que neste fragmento de sabe-se lá o quê que é o Universo dei minha contribuição com plenitude: alguém tem em si pelo menos boas (ou ruins, ainda há pessoas sensatas no mundo) memórias de minha arte. Eu sou tudo. Meu próprio lugar no mundo.
Penso o Brasil de hoje – que é o mesmo Brasil de há cem anos: imagino o que seria de mim, num país dominado por evangélicos moralistas infiltrados na política, que pregam os bons costumes como o amor às armas e morte a quem não for da religião, que desprezam a Arte, a Cultura, e as demais manifestações populares. Penso que se eu, novamente, pusesse duas personagens incarnadas em mãe e filha – ou quaisquer que fossem os graus de parentesco entre as atrizes – a se masturbar em uma peça: eu seria linchado em nome do Senhor!
Eu ou as atrizes – como uma, a quem o Brasil imensamente deve agradecimentos por sua contribuição à arte, desde os tempos de A Falecida, que fora insultada por um baba-ovos cínico de baixa categoria. Claro que depois eu riria. Aliás, até hoje o Estado do Rio de Janeiro me processa. Mas ninguém descobre os mandantes do crime de Marielle.
Tenho até minha nudez contestada, mas não castigada. Tornei-me a Vênus de Milo da atualidade – transgredindo a linha do não ser. Hoje, afinal, posso ser tudo! Descendo de uma raça forte que superou a barbárie. E hoje estou em meio à barbárie: a fome ainda impera no mundo; vaginas são mutiladas na África; a América do Sul arde em meio ao fogo dos protestos. O Homem chegou à lua, mas não à sua plenitude.
O café frio da manhã deste outono cinzento não me deixa achar soluções. Estou no fim ou no meio? Sinto-me mais no fim que no meio, porém a saber que o fim não existe e que a vida é uma eterna metade. É uma contradição que beira uma filosofia contestável. Aliás, há antídoto para as dúvidas? Minha certeza caminha com a dúvida, decerto.
A visão daqui para o rio é muito bela. O rio que não é o Rio. A altura é considerável: o voo alçar-me-ia para as nuvens e, das nuvens, para o Universo. Depois encontrar-me-ia novamente sentado e pensando e corroborando aquelas dúvidas de a priori. Quem me sana? O existencialismo de Kierkegaard ou o pessimismo de Schopenhauer. Penso, logo persisto.
As palavras me compõem e dão assertividade à minha contribuição, ao que eu realmente sou e ao meu real propósito. Hoje, todos me aplaudem por coisas que sempre achei banais. Nos piores momentos, o som dos aplausos: ao invés de afagar, esbofeteava. Nos melhores, aqui estou. Sessenta e cinco. Pode contar mais sessenta e cinco de novas peças, novos livros, novas aventuras.
No man is an island.”

Guilherme Zelig
SP, 11/22/19

From my Instagram account

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SAMUEL BECKETT – Gerald Thomas / original correspondence found re: ALL STRANGE AWAY (La MaMa ETC, 1984)

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R.I.P. Rabbi Henry Sobel – this is our conversation back in the year 2000.

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Still (rather) lucid !

Gerald posing for himself

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Critica / resenha / ode / de Haroldo de Campos ao meu “Nowhere Man” (1996)

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Nowhere Man (Fragmento # 1) parte do livro com todas as peças “Um Circo de Rins e Figados” (Copyright Gerald Thomas)

All photos by Adriane Gomes

D- Luis Damasceno (pra quem eu escrevi a peça), 1996 

D- É! É assim que sou. Coloco tudo na mesa. Nada a esconder. É isso. O quê? Quem sou eu? Vá olhar nos livros de História, vá beber nas fontes literárias, vá consultar videntes… sei lá… Sempre foi assim: os homens matam aquilo que conhecem, aquilo  que amam. Ser tirado pela morte, ou por alguém que exerce esse papel de morte, ou exala seu cheiro… infecta o ar. É uma cena altamente dramática, mas não é uma cena de dramalhão, não é uma cena de se ficar berrando. Eu berrei. Percebi isso no exato momento em que eu o fiz − ali estava eu, de frente para a morte, o silêncio final… Um precioso e delicado momento de suspense… Quando gritos são murmúrios e um berro é, no máximo, uma silenciosa boca aberta instilando medo e suspiro final no âmago da audiência −, mas eu não tinha como voltar atrás. Eu berrei, eles ouviram e foi horrível. Achei que berrando iria dar toda a energia. Besteira. Não me matei. Matei a cena! Mas, e todo esse meu exagero? E toda essa gritaria e overacting?

Vocês acreditam que eles gostaram? Acreditam que me deram todos os prêmios do estoque? Acharam que a cena estava incrivelmente bem representada e me cobriram de estatuetas de ouro. O pior momento da minha vida, a pior escolha de atuação… e me aplaudiram de pé! De pé! A coisa está ficando cada vez pior. Dá vontade de vomitar! De vomitar! Então decidi criar uma coreografia: “O Reverso da Mortalidade” ou “Despertar da Musa Defunta”. Feita para ser a pior coreografia já criada, a mais nojenta, a mais horrenda. A musa morta começaria dançando por aí, com a saia levantada, mostrando a… “coisa” dela, e iria rebolando o corpão até o fundo, um telão pendurado com um céu cheio
de nuvens brancas… ah, sim! A música iria ser muito alta, um velho samba berrado em sueco. Seria o suficiente para me darem mais prêmios, a fórmula mágica para uma carreira imortal. Me aplaudiriam de pé outra vez. Vocês sabem, essas coisas têm uma tendência para se tornarem cult, cult, culT! culT! Dança, mulher, dança! Mexe essa bunda, para com esse fingimento, levanta e dança! Estou mandando! [Reconsiderando.] Não funciona… [ternamente] vai, dança, neném, vamos ver essa coisa… dança samba, neném, dança pra mim… Do jeito que só você sabe. Muito trabalho. Nasci no século errado. É trabalho demais para mim.

 

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Fragmento de “Nowhere Man # 2” (GT @copyright 1996) (parte do livro COM TODAS AS PEÇAS “Um Circo de Rins e Figados”

D- Luis Damasceno (ator do papel titulo)

N (narrador, Gerald Thomas)

(O Velho – Marcos Azevedo)

Narração Havia um homem em um canto, sozinho, durante toda essa cena. Ele parecia um pouco alheio ao conflito interno do nosso herói. Ele parecia até mesmo bastante tranquilo, enquanto enrolava um cigarro. Seu nariz pingava levemente, mas havia nele algo bastante sublime. Parecia “importante”. Talvez trouxesse em si a sabedoria dos séculos, talvez toda a história da humanidade morasse em seu cérebro… Ele dava a impressão de estar pronto para trazer respostas a todas as perguntas, qualquer pergunta que fosse, desde a criação do universo até os últimos avanços tecnológicos no uso dos supercondutores. Nosso herói se aproximou dele, do seu modo usual, tímido, lento e relutante e, não sabendo o que dizer, simplesmente pediu um cigarro.

D Tem fogo? Gostou da performance? [Para a plateia.] Deus!
Deve ter odiado! Deve ter achado datado e totalmente tosco! Provavelmente é um filósofo ou um psicanalista. [De novo para o Velho.] Obviamente, tudo o que está pensando é correto. É datado de propósito e tem esse leve toque tosco por cima. É intencional. Sabe, temos que “descobrir” o elemento de ligação entre o desconstrutivismo em si e as partes que constituem o ato criativo. Em outras palavras, temos que mergulhar de cabeça na vasta piscina das contradições que há entre o inútil e o indispensável da própria arte, enquanto elementos de alusões pré-freudianas à racionalidade, vista como meio de conexão de símbolos internos de nosso ser a outros ícones de referência. Este é, claro, o único modo pelo qual seremos capazes de avaliar a verdadeira dimensão da humanidade nesse universo… e seremos capazes de escrever sobre o seu desejo de se tornar grande demais, sua necessidade de se ampliar ao infinito diante de Deus. Esse é o único meio de trazer a humanidade de volta à sua ínfima dimensão, uma dimensão que se tornará cada vez menor ao longo do tempo, dando ao homem o verdadeiro e humilde contexto de que ele precisa para transcender as eternas e estúpidas questões de “de onde viemos, por que e para onde vamos”. [Para a plateia.] Ele deve ter ficado muito impressionado com a transparência e a franqueza da minha explanação sobre os aspectos clínicos da questão de como se dá que o homem precise relacionar os atos criativos no sentido de um espelhamento, representando e interpretando sua própria inexplicável misteriosa e maldita aparência na superfície desse planeta. Ele com certeza me respeita agora mais do que nunca. Às vezes, tem que ser assim: o fato de que um homem como ele deva carregar tanta instrução, cultura e informação deve ser o próprio fator que o protege de assimilar novas versões de nossa mortalidade e vulnerabilidade. Então, lá estávamos nós… dois filósofos, dois gênios, encontrando-se por puro acaso. Ele, o mestre. Eu, o antimestre. Sem dúvida, ele quer ser como eu. Claro que eu queria ter um pouquinho dele também… mas não esse nariz pingando.

O VELHO OFERECE UM CIGARRO A DAMASCENO.

D [para o público] Céus! Quanta caridade, quanto paternalismo! [Para o Velho, desconfiado.] O que quer em troca?

N O Velho não deu uma só palavra. Oferecer um cigarro era um gesto amigável, obviamente mal interpretado por nosso herói, em seu estado mental perturbado que o impedia de reconhecer algo como um gesto de boa vontade. O Velho estava vestido de farrapos, como se saísse de uma performance de Beckett. Talvez essa roupa lhe tenha parecido hilária nas primeiras horas da manhã, quando se vestia. Ou talvez fosse um milionário que gostasse de se vestir como um vagabundo. Talvez se visse como uma espécie de Pluto… ou Platão… ou Platinhas, quem sabe. Depois de alguns minutos de infrutífera e densa atmosfera entre ambos, nosso herói decidiu tomar a ofensiva. 

D Pois é… assim é a vida nesse planeta: concreto, enchentes, bombardeios aéreos, satélites espiões, mais concreto, barro, algumas flores aqui e ali, alguns asteroides apontando para nós, um horizonte novo a cada dia, fins do mundo, entropia brava…

N O Velho balançou a cabeça como se querendo dizer que estava gostando. Por alguns instantes, os homens se olharam um ao outro, olho no olho, como duas almas iluminadas, exilados na Terra por uma multidão de mediocridades…

[apontando para o público] Carneiros… carneirinhos… milhares
de carneirinhos. Todos vítimas, todos pobres, todos cobaias
das brechas de leis efêmeras, leis parciais, leis que reivindicam para eles a única responsabilidade de serem os mordomos e os restauradores ocasionais de todo o conhecimento atingido pela humanidade. Prefiro morrer desnutrido, perfurado de mil pregos nas costas, a ter de vender meu nobre cérebro ao sistema. É verdade: não há absolutamente nenhum uso prático para nós nesse mundo prático. A não ser que criássemos um… você não pode sequer começar a imaginar a quantidade de ideias que tive, e que tive que rasgar, queimar, jogar fora, destroçar, pois só assim o sistema não poria suas mãos em cima. É um horror, é degradante! Carneiros! Mas, para dizer a verdade, toda essa coisa me diverte muito. É como uma peça. Uma peça rabelesiana. É risível.

n Muito bem, parece que esses dois finalmente começaram a se entender. Nosso herói aparentemente conquistou o Velho com sua velha lábia e, depois de quase uma hora de citações literárias e afirmações de alto nível, ambos desataram a rir… e rir… e rir… Passaram uns bons dez minutos rindo, até o Velho sacar do bolso um bloquinho de anotações e começar a rabiscar algumas frases.

[para a plateia] Aí está! Somos iguaizinhos. Ele deve estar anotando uma ideia, exatamente como eu faço quando o clarão do gênio me alcança na rua: paro e escrevo. Nós, os gênios, temos que escrever tudo. Sabemos que a inspiração é algo divino que nunca se repete.

O VELHO ENTREGA O BLOCO A DAMASCENO.

[lendo, espantado, para a plateia] P-o-r f-a-v-o-r, escreva t-u-d-o. Não ouço nada. Sou surdo. 

 

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“to HELL with it all” – “e que tudo mais vá pro inferno” adding and subtracting : the Roberto Carlos equation !

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Oh, a romantic evening with a bass guitar

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I had a little too much coffee….

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A soup of cup, cup of soup kind of manner !

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NUDES Renewed NOV 2019

https://geraldthomasblog.wordpress.com/2019/10/06/gt-nudes-renewed-october-2019/

https://geraldthomasblog.wordpress.com/2019/07/03/hidden-and-not-so-hidden-nudes-gerald-thomas-at-65/

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Posing a la Tarsila do Amaral !!!!

Tarsila de Aguiar do Amaral ( September 1, 1886 – January 17, 1973), internationally known as Tarsila do Amaral or simply Tarsila, is considered one of the leading Latin American modernist artists, described as “the Brazilian painter who best achieved Brazilian aspirations for nationalistic expression in a modern style.” She was a member of the Grupo dos Cinco, which was a group of five Brazilian artists who are considered the biggest influence in the modern art movement in Brazil. The other members of the Grupo dos Cinco are Anita MalfattiMenotti Del PicchiaMário de Andrade, and Oswald de Andrade. Tarsila was also instrumental in the formation of the Antropofagia movement (1928-1929); she was in fact the one who inspired Oswald de Andrade‘s famous Anthropophagic Manifesto

GT- NUDES

https://geraldthomasblog.wordpress.com/2019/10/06/gt-nudes-renewed-october-2019/

https://geraldthomasblog.wordpress.com/2019/07/03/hidden-and-not-so-hidden-nudes-gerald-thomas-at-65/

 

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GT- BUTT NAKED – November 2019

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Carta de Lula a Glenn Greenwald a respeito da agressão de Augusto Nunes: LINDO lindo.

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November 8, 2019 · 9:40 pm

LINDO email, carta, de Fátima Vale a Fernando Lemos

meu amor abremundos a palavracorpo acintada de lágrimas volumptuosas
é o meu desespero a tentar vestir-se
eu sei que tu irás e que eu cairei ao chão
a ciência diz que me levantarei e vou obedecer 
nem que para isso tenha de amputar a coroa do desespero
meu amor as tuas mãos fazem-me falta
o teu olhar a derramar imagens para dentro do meu 
queria voar sem pássaros dentro para o teu alado 
meu amor as tuas mãos fazem-me falta
queria de ti os dedos cheios de anéis como planetas
na órbita árdua da música dos mundos
meu amor não vás meu amor
eu tenho lágrimas que ainda não decifrei e portas que não sei abrir
meu amor não vás agora eu quero olhar-te
o caminho é tão grande e infinita a hora
meu amor fiz o espectáculo – saudade do homem – inspirado no teu oxiGénio
onde a sala é forrada de jornais no palco uma instalação de fotografias de antepassados 
e vivos outros menos mortos de várias famílias
a centro do palco um monte enorme de roupas sem gente dentro
o espectáculo é ao nível do público e a partir do outro fundo da sala
e tem um muro feito de jornais. uma realidade construída
um escadote de madeira a centro – carregado de objectos alienados do quotidiano
à esquerda uma dobadeira – ao seu lado um artesão de bengalas
que faz a cantoria 
começa com os dez rostos rompendo um a um o muro – a dita mói – a dita rói – a dita dura
vão rompendo as cabeças
o artesão canta a sua versão blues do poema em riste
e o povo vem para o outro lado e o texto acontece 
tem homens de árvores às costas ou na cervical diria
tem saudades de ti 
é difícil tanto mar
queria tanto ver a retratação de mãos dadas a ti à bea
to bea or not to bea
meu amor dá-me a mão vamos descansar
vou ler-te uma sombra no deserto
uma caneca de água fresca
bea tanto abraço rodrigo paola somos o amor que temos e Lemos
(envio uma gravação no e-mail seguinte)
vossa fátima vale)
FV – Portugal, Nov 2019

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GT – Amnesty International Man – “Jornal Brasil – 1978” “Thomas, 24 anos, pintor, veio para ver e ouvir”

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November 5, 2019 · 11:23 pm

BUTTERFLIES in my stomach and …all over: nervous !

GT- BUTTERFLIES (photo by Adriane Gomes)

All photos by Adriane Gomes

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NEW BOOK (all my plays) “A CIRCUS OF KIDNEYS AND LIVERS” – MANIFESTO November 2019

MANIFESTO NOVEMBER 2019

New Book – “A CIRCUS OF KIDNEYS AND LIVERS” – 600 pages of just my plays.

MORATORIUM

Yet still bugged by eyes looking for flying saucers in the sky, here I am,  this break of day breaking, spring of a new incoming feeling broken. Crossed eyed at the symbiotic and intrinsic link between all manifestations of life, of all those breaks, I face the new day by denying it and by proclaiming an eternal dusk since, well, since it is has always been dark in here. Always dark in here. “Duskness” .

 My dawn is dark, my Spring seems to be occulted by the dead leaves left deft from some personal  and more than just personal stains in brine kept alive so that I could, one day, one damn day,  pose such questions to the universe ….. yes, eyes and the intrinsic link between all manifestations of writing, of storytelling and those who bother to read me.

Too many memories. Far too many memories.

Now I’m being presented with a book, an enormous 600 page book containing ALL my plays.

 So…somehow I have linked those flickering wondering sparkling lights in the sky to those who’ve allowed me to exist on  this strange plane of self affirmation and desire; the desire to accept, inhale and REJECT all those flickering lights almost like those anti-heroes -Gods in Wagner’s Twilight, his Götterdämmerung.

Memories and sounds of language, memories of being and not existing, memories of a broad

Broad, broad , broadening mind and yet still bugged by eyes looking for flying saucers in the sky, no, not the sky but the ceiling looking down at me while I cry. I cry and I cry.

And this crying of mine is just, it’s fair, it’s an atonal note, a rash of a feeling, a rancid taste of a note, a twilight of an existence which prays: “ here I am in this break of day, spring of a new incoming feeling” and, thus, this storytelling enables my links to a community and that enables my links to art, between art and science, between art and technology and yet …

And yet?

They all say to you in a less than loud voice: “you’re a broken record and it is the economy”…. the economy…the economy the economy…the economy….the economy…the economy…

 “No, not just the economy”, I reply hesitating. “Our values are…..” (and I pause for a glass of water)…” Our values were given  to us, almost forced upon us, by ancient aliens: those…Gods”.

“AND WITH THOSE VALUES WE WERE GIVEN, the main one was an actual value: the economy”, I heard – as if shouted at me from the skies- a tremor or a voice. A tremor. I cried.

 But this crying of mine is just, it’s fair, it’s an atonal note, a rash of a feeling, a rancid taste of a note whispers in my wondering mind noises to the extent of complete denial, noises which, at closer inspection one could, one should regard as THE TRUTH because? Because? Why ?

Well…. Simply because the system is a self defeating one, a killer of the self, a self

deploring object of death, a treaty of death, of how it all ENDS, of how termination is

…well, terminal, the finality, I guess.

 I guess.

 Six hundred pages that are a somewhat coherent reflection of who I am, who I was but to

recapture it? HOW ? it happened so fast. It all goes by so fast !!!!

I am, as a being, shortsighted, cruel and unusual. “Unusual indeed” says the voice.

I live in constriction, in a state of constriction and one wherein the sole extent of a confounding emotion is, shall I say, manipulated, yes, manipulated, for a better and larger good.

The deed of the Gods. I know they exist.

If those pyramids exist, if those sphinxes, if those tunnels exist – that link all links and provoke a splendid dawn into the dusk and vice versa since it is my dawn, only mine, it is dark, my Spring seems to be occulted by the dead leaves left deft daft of some personal and more than just personal stains in brine kept alive so that I could, one day, one damn day, pose such questions to the universe ….. yes, eyes and the intrinsic link between all manifestations of writing, of storytelling and those who bother to read me.

Too many memories. Far too many memories.

Now I’m being presented with a book, an enormous 600 page book containing ALL my plays.

Pose such questions to the universe?

Pose such questions to the universe?

Pose such questions to the universe?

THANK YOU for this brief encounter. Thank you.

 Pose such questions as, for instance, with tears in my eyes and a deeply stained soul,

And still wandering at large, no id card, no identity though so many, no language though so many, I ask…

 I look through the dusk and the fog at the skies and I ask, I shout, I scream into

The godly heaven….

 WHO WAS I ? WHAT WAS I ?

WHO WAS HE? WHAT WAS HE?

 Astounded as I am,

I remain,

Sincerely,

 

Gerald Thomas

NYC , Nov 3, 2019

 

 

 

 

 

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