Monthly Archives: September 2014

Always remember Ellen Stewart (my MaMa, the MaMa of us all)

Brilhante artigo de Fernando Gabeira no jornal Estado de São Paulo

Papel de centroavante não é o de fazer gols

PUBLICADO EM 26.09.2014
Dilma Rousseff não para de nos surpreender. Agora disse que o papel da imprensa não é o de investigar, mas, sim, divulgar as informações que produzem os órgãos do governo.

Minha surpresa é maior ainda. Dilma apresentou a Lei de Acesso à Informação, depois de longo trabalho da Associação Brasileira do Jornalismo Investigativo. A lei foi impulsionada pelo trabalho do jornalista Fernando Rodrigues, que sugeriu a criação de uma frente parlamentar, monitorou todas as reuniões da comissão da Câmara que analisou o projeto, organizou seminários e trouxe gente de vários países para falar sobre o tema. Por que tanto empenho dos repórteres na aprovação de uma lei de acesso? O próprio nome de sua entidade é uma pista que Dilma não poderia desprezar: jornalismo investigativo.

Dizer que a imprensa não deve investigar é o mesmo que dizer que um centroavante não deve fazer gols. É uma frase absurda até para quem não conhece bem o futebol. E absurda para quem conhece o papel histórico da imprensa. A geração de Dilma acompanhou o escândalo do Watergate, que encerrou a carreira de Richard Nixon. Ela sabe disso e usou o tema para dizer que sua frase foi interpretada erroneamente. Com um pedacinho de papel na mão, ela tentou consertar o desastre.

Poderia passar o dia citando casos de importantes investigações da imprensa. Prefiro mencionar os casos de governos que pensam que esse não é o papel dos jornalistas. Vladimir Putin, por exemplo, também acha que o papel da imprensa não é investigar. A jornalista Anna Politkovskaia resolveu investigar o trabalho das tropas russas na Chechênia e foi assassinada. Sua morte chamou a atenção do mundo para a repressão contra a imprensa na Rússia.

A China expulsa correspondentes estrangeiros com frequência, ora por tentarem entrar em áreas proibidas no Tibete, ora por mencionarem a fabulosa riqueza pessoal dos burocratas que dirigem o país. E o jornal cubano Granma jamais vai investigar de forma independente um desmando do governo porque o castigo é desemprego, prisão e até pena de morte.

O jornalistas brasileiro Vladimir Herzog foi morto sob tortura durante o regime militar não tanto porque investigou, mas talvez porque só desconfiasse ativamente das notas oficiais da ditadura. No governo do PT não se persegue ou mata jornalista, dirão seus defensores. Mas não deixa de ser inquietante suspeitar que isso não se faça agora só porque a correlação de forças não permite. Um dirigente petista chamado Alberto Cantalice fez uma lista de nove jornalistas que considera inimigos, preocupando as entidades do setor aqui e fora do Brasil.

A frase de Dilma pode ser considerada um ato falho. Os intelectuais que se mantêm fiéis ao esquema, apesar das evidências de sua podridão, sempre vão encontrar uma forma de atenuar essa barbaridade. E os marqueteiros, um pequeno texto para convencer de que ouvimos mal o que Dilma disse. Os ato falhos, tanto em campanha como fora dela, são extremamente didáticos. No caso, a frase de Dilma revela com toda a clareza o pensamento autoritário da presidente: cabe ao governo produzir as informações e à imprensa divulgá-las ou até criticá-las, o que os jornalistas não podem é buscar os dados por conta própria.

Numa célebre intervenção sobre a espionagem americana, Dilma contou ter dito a Barack Obama: “Quando a pasta de dente sai do dentifrício, não pode mais voltar”. Certas frases, quando escapam, têm o mesmo destino do creme dental: não podem voltar para o tubo, que é o artefato que Dilma queria mencionar ao dizer dentifrício. Espero que Obama a tenha entendido, com a mediação dos intérpretes. Creio que a entendo muito bem quando diz que o papel da imprensa não é investigar.

O governo petista pôs o Congresso de joelhos e alterou substancialmente a correlação de forças no Supremo Tribunal. Ele considera que a ocupação de todos os espaços vai garantir-lhe não só governar como quiser, mas o tempo que quiser. Porém a imprensa e as redes sociais ainda escapam ao seu controle. E creio que escaparão sempre, pois o País está dividido. O que mantém tudo funcionando é a existência de gente curiosa, que lê, troca informações e gosta de ser informada por órgãos independentes do governo. Mesmo se Dilma for reeleita, com sua truculência mental, uma considerável parte do Brasil que rejeita os métodos e o discurso do PT continua por aí, cada vez mais forte e mais crítica.

Apesar da alternância democrática, certos governos podem durar muitos anos. Mas creio ser impossível se perpetuarem quando têm a oposição das pessoas que prezam a liberdade.

Liberdade de quê?, perguntariam. Consumir mais, melhorar a renda não ampliam a liberdade? Ao se impor na Franca, o socialismo de Jean Jaurès e, mais tarde, de Léon Blum dizia que a justiça política tinha de se acompanhar da justiça econômica. Blum era um fervoroso e racional defensor da República. O PT inventou que seus opositores não gostam de pobre em aviões ou em shopping centers, que a oposição ao seu governo é fruto de intolerância classista.

Exceto um ou outro idiota, ninguém é contra a presença de pobres em aeroportos ou shoppings. O PT deturpou a ideia de República. Em nome de melhorias econômicas, armou o maior esquema de corrupção da História e agora flerta abertamente com a supressão da liberdade de imprensa. Ele usa uma aspiração republicana para sufocar as outras e seu líder máximo, amarfanhado, se veste de laranja para defender de inimigos imaginários a Petrobrás, que o próprio governo assaltou. Suas farsas estão mais grotescas e os atos falhos, mais inquietantes.

Sou do tempo do mimeógrafo. Ainda que consigam devastar a imprensa e proibir a internet, publicações clandestinas seguirão contando a história. Não faremos comissões futuras para investigar a verdade. Vamos conquistá-la aqui e agora, porque, como diz Dilma, a pasta saiu do dentifrício, ou o dentifrício saiu da pasta. Só não vê quem não quer ou é pago para confundir.

Estranho, mas não tenho nenhum medo de governos autoritários. Apenas uma sensação de tristeza e preguiça por ter de voltar a esses temas na segunda década do século 21.

Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo em 26/09/2014

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I am NOT in Rio – mas se quiserem me procurar por lá…..tudo bem!!!

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Sucesso em São Paulo, o espetáculo “Entredentes” estreia no próximo dia 10 no Teatro Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro. Com texto e direção de Gerald Thomas, a montagem traz de volta a parceria entre o diretor e o ator, que já haviam trabalhado juntos outras quatro vezes> A peça é uma crítica bem humorada às tragédias que acontecem no mundo: na trama, um islâmico radical e um judeu ortodoxo se encontram no Muro das Lamentações.
– Muros servem para dividir, mas servem para unir, quando caem. “Entredentes” tem muros. Muitos deles. Eu os chamo de “muros dos despachos” já que, na minha vida, vi tantos subirem (Berlim, Gaza, etc) e tantos caírem depois de tantas mortes inúteis e de tantos tratados não respeitados. Ney Latorraca é uma espécie de ser mediúnico e meio judeu ortodoxo “homeless” que se plantou ali no Muro das Lamentações – comenta Gerald Thomas.
Saiba dias e horários do espetáculo
O diretor tem um processo de escrita que chama de metalinguagem: ele escreve o papel especialmente para a pessoa que vai vivê-la no espetáculo. Foi o que ele fez para Ney Latorraca, Edi Botelho e Maria de Lima, amigos de longa data que ele conhece profundamente e que dirigiu muitas vezes. Atores, por outro lado, que conhecem profundamente o trabalho de Thomas.
saiba mais
Leia a entrevista com o elenco e o diretor aqui
Veja a galeria de fotos da peça
– É muito bom encontrar pessoas apaixonadas e instigantes, que realmente tiram você da zona de conforto – enaltece o ator, que conheceu Gerald em “O Balcão” (1969) e depois foi dirigido por ele em “Don Juan” (1995) e “Quartett” (1996), além de uma pequena participação do ator na trilogia “B.E.S.T.A.”, em Lisboa.
No espetáculo, Ney interpreta um judeu que encontra o islâmico vivido por Edi Botelho em pleno Muro das Lamentações, onde os dois se envolvem em um verdadeiro embate sobre questões morais e ideológicas. A comédia segue em cartaz até dia 2 de novembro no Teatro Sesc Ginástico.

ENTREDENTES ESTREIA NO RIO

ENTREDENTES ESTREIA NO RIO

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In honor of the little in us which died today – another 9/11 – another year of the saddest memories!

9/11 (11 de setembro) in honor of those victims who died on that day and the little in us which died as well: Column written for Folha de S Paulo on Sep 12th, published on the 13th:

FOLHA DE SAO PAULO – 13 de Setembro de 2001

GERALD THOMAS

SPECIALLY WRITTEN for FOLHA DE SAO PAULO, in New York

Article published on September 13, 2001

“The Day After”

At 5am, unable to sleep and heartbroken, all broken by the subject which dominated my day – our days – and which made out of my window the most horrendous spectacle I had ever seen, I could not resist. Simply could not resist crossing over that bridge by foot. All accesses to all bridges and tunnels leading into Manhattan had already been shut entirely or in part by military units.

While I could hear myself crossing the Williamsburg Bridge I couldn’t help but to fixate my eyes on the place where, hours before, stood the two gigantic World Trade Center towers.

The closer I got, the closer to the stench I got, the more unbearable and unbelievable this entire thing became.

I walked West on Delancey St and kind of circled (circumvented) around this danger zone, via the Bowery and into Canal St in Chinatown. I knew that the hardest police barriers were still arriving via Broadway and Church Street.

I’m finally there! The impact is indescribable. I mean, the emotional impact, the physical impact and the impact of realizing you’re standing there. No words. No words can ever describe the feelings of that night. There were – literally – hundreds (if not thousands) of rescue workers there, digging, passing along pieces of this monstrous puzzle, all working under those white bright lights connected to military generators.

It almost looked as if had been snowed upon by gray snow.

It was only once that I got there that I realized the actual dimension of the event. I mean, the horrendous proportion of it all. From my home window I saw the entire thing unfold, the collapse, the..the everything. But here, in the hole?

Downtown Manhattan has turned into a HUGE pile of rubble, of ruins and everything surrounding the WTC was somehow licked, destroyed or semi-destroyed . I counted some 14 melted tower beams sticking up from the ground and glowing amongst defaced remains of cars which, not even an installation artist of the Tinguely kind could have or would’ve thought of creating.

I sat down on the pavement and covered my face because of the dust and ashes and covered up my fear of that stench of death and…burst into tears. And so I was, in tears, picking up some papers here and there, which flew around the bombarded neighborhood.

I read bits from personal letters and bits from business archives all strewn, all almost burned to extinction. I found watches…

Wallets, pieces of what once was an office. But what impressed me most was that table, that desk, practically intact sitting in the midst of this catastrophe, so intact it seemed to still contain the soul of its owner.

The only similar silence I had ever witnessed before was during my visit to Auschwitz ( I lost eight relatives in the holocaust). In yesterday’s holocaust I only lost a dear friend and lawyer (and his staff) who sat on the 56th floor of the North Tower.

I walked around the area which was built on landfill, what is called the World Financial Center where a few friends of mine live and it was all rubble. All a huge pile of rubble.

I returned home to Williamsburg on foot, same as I had gone. Stopped at the Read Café on Bedford Avenue. There was no music – there always used to be – and nobody said a word.

The espresso tasted a lot more bitter and the return home, a lot more sad.

Soon I was to leave for Brazil in order to start a new series of plays at SESC Copacabana. But I lack the courage to leave. There is a weird sense of patriotism and civic duty that seem to keep me here.

And, on the day after, this seems yet even more determined, clearer to me, somehow.

“Message without a bottle”

Of course, within a tragedy, there’s always an aspect of playfulness. For a few hours now, I began to notice a strange and huge group of people in front of my building. Hoards of them, running toward the East River, right to embankment. Obviously I thought of the worst. Obviously I imagined that they knew something I didn’t know and that another attack was imminent.

Thankfully that wasn’t so. People were running because an enormous quantity of bottles and debris (which I believe must have been from the destroyed WTC), floated toward us in Brooklyn.

I went down the stairs to check. Yes, there were hundreds of pieces of this and that, parts of chairs and other furniture parts of burned carpets and tons of papers.

People were collecting those things from the river – almost as they had when the Berlin Wall came down.

All that sad historical trash being picked up as if to be safeguarded and remembered, just like with any war memorabilia, small reminders of an unforgettable day.

Surely, some day, this ‘trash’ will be displayed on a mantelpiece or a wall and be given the greatest of honors. It will be sitting next to family portraits and sports trophies only to remind us that we humans are made of longing, missing and some such sentiments.

GERALD THOMAS is a playwright and theater director
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Me walking home after a night's work

Me walking home after a night’s work

my uniform

my uniform

Talking to Fire Fighters

Talking to Fire Fighters

9/11 (11 de setembro) in honor of those victims who died on that day and the little in us which died as well: Column written for Folha de S Paulo on Sep 12th, published on the 13th:

FOLHA DE SAO PAULO – 13 de Setembro de 2001

GERALD THOMAS

ESPECIAL PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

ARTIGO
“The Day After”
Às 5h, sem conseguir dormir e tomado pelo assunto que dominou meu dia e fez da minha janela o espetáculo mais horrendo que já vi, não resisti e resolvi atravessar a ponte a pé.
Tinham fechado as pontes, os túneis e os metrôs. Todos os acessos a Manhattan estavam bloqueados. Enquanto atravessava a ponte de Williamsburg a pé, não parava de olhar para o meu lado esquerdo, onde, um dia antes, ainda estavam as torres do WTC.

Quanto mais perto, mais o cheiro se tornava insuportável. Desci pela Delancey e fui contornando pelo Bowery e Chinatown, Park Row, sabendo que o policiamento mais ostensivo estava na Broadway e na Church Street.
Finalmente cheguei ao local. Acho que o impacto foi ainda maior. Mais uma vez, nenhuma palavra traduz aquilo. Eram centenas (talvez milhares) de “rescue workers” trabalhando sob luzes brancas de geradores. O lugar parecia nevado de cinza.

Só quando cheguei percebi a dimensão real da coisa. A horrenda proporção que eu não havia visto da minha janela durante o dia, nem mesmo durante a transmissão da TV. Downtown Manhattan é um enorme escombro.
Tudo em volta do que era o WTC foi lambido, destruído ou semidestruído junto. Eu contei umas 14 torres derretidas e carros desfigurados em posições que nem o mais conceitual dos artistas conceituais conseguiria criar.
Sentei na calçada empoeirada. Cobri a minha cara por causa da poeira e das cinzas e do fedor de morte e fiquei, aos prantos, catando alguns papéis que voavam.

Li trechos de cartas pessoais, arquivos de empresas, encontrei relógios, carteiras, pedaços de escritório. Mas o que mais me impressionou foi uma mesa praticamente intacta. Ela parecia ainda conter a alma de quem a usava.
Só me lembro de uma calma e um silêncio iguais quando visitei o campo de concentração de Auschwitz. No Holocausto, perdi oito parentes. No de ontem (até onde sei), perdi meu advogado e toda a sua equipe, cujo escritório ficava no 56º andar da torre 1.

Andei pela região que hoje é chamada de World Financial Center, onde moram vários amigos, mas tudo tinha se transformado em escombro. Voltei a pé e cheguei de Williamsburg por volta das 8h. Tomei um café da manhã no Read Cafe. Não havia música ali (sempre há) e ninguém falava. O café estava mais amargo, e a volta para casa, mais triste.

Em breve voltaria ao Brasil, para iniciar um novo semestre de trabalhos no Sesc do Rio. Mas não tenho coragem de deixar isso para trás. Algum senso estranho de patriotismo e de dever cívico parece me manter aqui. No dia seguinte, isso parece ainda mais nítido e macabro do que enquanto o evento acontecia.

“Message without a bottle”
Dentro da tragédia existe sempre um lado lúdico. Há algumas horas, comecei a notar um movimento estranho em frente à minha casa. Pessoas corriam em direção ao rio. Pensei no pior, talvez outro ataque ou coisa semelhante.

Nada disso. As pessoas estavam correndo porque começaram a aparecer, flutuando na margem do rio, destroços que eu suponho sejam do impacto da explosão do segundo avião contra o WTC.

Desci e fui checar. De fato, eram milhares de pedacinhos de madeira, restos de mesas, móveis, plástico de computador, carpetes incinerados, papéis e mais papéis.

A população catava esses pedaços de triste lixo histórico como se fossem pequenas lembranças e lembretes de um episódio inesquecível. Certamente esse “lixo” será exposto com orgulho do lado dos retratos e dos troféus que servem para nos lembrar o quanto somos feitos de saudades.

GERALD THOMAS é autor e diretor teatral.

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New Version – “theater of adrenalin” (short)

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For those who think the world began today…(Christiane Amanpour at her best!!): watch this!

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