NY – Onze de setembro está na esquina: vou dar um jeito de fugir. Nao, vou ficar!!! Um ótimo documentário feito pela Christiane Amanpour e pelo Peter Bergen sobre o Bin Laden foi ao ar pela CNN estes dias: coisas reveladoras, "delicadas". Mas eu não agüento mais. Confesso que eu estava entusiasmado para começar esta coluna escrevendo sobre o explosivo e bombástico livro de Thomas E. Ricks, do Washington Post, o "Fiasco". Ele afirma, mais uma vez (assim como Woodward e tantos outros livros cuja resenha eu já fiz ao longo desses três anos), que a "intelligence community" falhou no que diz respeito aos ataques de 11 de setembro e prova que a administração de Bush e de Blair forjaram documentos para criarem pretextos para a invasão do Iraque. Afirma também que se existe um inimigo "real"na região, esse seria o Iran. Mas como disse, nao aguento mais escrever, pensar, falar sobre isso!
Chega! Minha pele e meus músculos estão na "mode" de "information overload", ou seja, naquela sensação de basta! E por que isso? Porque nao adianta mesmo. Ontem, sábado, fui jantar com um empresário australiano-thailandês ( e que sempre me dá uma outra perspectiva do mundo). Dessa vez, assim como eu, ele estava descrente, desiludido e com seus ombros caídos me deu suas impressões: "acho que a população do mundo ligou o "foda-se". Se fosse há 10 ou 15 anos, iriam todos para as ruas fazer manifestações, berrar, quebrar vitrines, assim como se faz até hoje na França". Será?
Penso no pacto que Fausto fez com Mephisto ou que Goethe fez com ele mesmo no dia em que virou prefeito de Weimar e criou a rua de mao unica a Einbahnstrasse. Vou entregar essa coluna pedindo desculpas ao Antunes Filho porque sei que – por inocência ou espírito de brincadeira, acabei por ofendê-lo. Não quis fazer isso. Sei que ele esta magoado comigo porque eu sai rindo de um espetaculo dele; nao era pra rir (na opniao dele). Sorry. Jamais quis ofender uma pessoa tão legal. Estou me retirando da cena, pouco a pouco, pouco a pouco, pouco a pouco…..mas não antes de fazer o inventário do que tenho no armário do meu banheiro:
Cremes. Quanta coisa inútil. Cremes pra endurecer o que está mole. Ou amolecer o que está duro. Isso no campo das peles e cabelos. Quanta vaidade! Fausto brincando com a eternidade e jogando com seus anjos caídos? "Be Curly" e "Flax Seed Aloe" ambos da Aveda pros cabelos. Ah, tem tambem o "Anti – Frizz" da Phyto francesa, para baixar tudo e amaciar tudo o que os dois anteriores deixaram para cima. Tem o "StriVectrin-SD" que é para deixar a pele jovem, como se fôssemos um eterno bebê. Bem ao lado tem uns shampoos e condicionadores da Fekkai e um "wave spray" que não sei muito bem usar pois mancha o óculos e deixa a mão toda melada.
Mas tudo bem. Essas coisas chegam aqui em caixas, amostras. Amostras de pequenos cremes do Perricone MD, o dermatologista que se transformou no antioxidante em pessoa. Tão antioxidante que um carro enferrujado, desenferruja só ao vê-lo! A L'Ocitanne lota uma prateleira inteira com sabonetes e cremes de barbear que o Gerson Steves, meu ator, me deu de presente (e eu uso mesmo). Da Ahava, tenho a lama e mais lama do Mar Morto, lá de Israel, que nada tem a ver com o bombardeio sobre o Líbano. Mas tem leitor que vai chamar a lama de sionista e financiada pelos EUA, etc…a gente tem que aguentar essas coisas! Mesmo assim é uma lama milagrosa. Se eu abrisse a minha necessaire eu falaria dos ansiolíticos, dos dorflex e dos reguladores de humor. Mas essa coluna não fala de tarja preta. Aqui é tudo muito "light". Dessa vez não quero encher o saco de ninguém, falando de Marcola, se bem que eu escrevo de um PC, ja me encantei pelo PC do B e ja li Dante tambem, assim como Clausevitz e….nao quero matar ninguem, justamente agora que minha mae morreu. Se bem que, pensando bem, gostaria sim, digo, se tivesse um fuzil na mao eu atiraria em…deixa pra la. Aqui nao se fala em tragedia ou do furacão Katrina ou de corpos putrefatos boiando ou na beira de uma estrada no Iraque. Melhor pensar em……caviar beluga, mesmo porque não fazemos a menor diferença, nós os mortais.
No fundo no fundo, os produtos do banheiro não passam de uma metáfora. Um produto combate o outro, desfaz o dano do outro. Exatamente igual a ONU. Ou ao Congresso. Ou ao Senado. Não importa o país. Tudo a mesma lama. A humanidade não passa de um creme de beleza, ou melhor, de postura, digo, feiura!
Gerald Thomas