New York – Com o post abaixo, o sobre o casamento da Gisele Bundchen com o Tom Brady (colocado no ar num domingo – dia considerado péssimo pelos redatores dos portais), fiquei surpreso com o número de acessos: ficou nas dezenas de milhares. Já escrevi sobre outras celebs (até mais importantes, ou mais populares) e nunca houve uma enxurrada assim. Mas esse fenômeno de ontem e anteontem me despertou uma curiosidade: o extremo vazio em que vivemos e como o preenchemos com ‘outras coisas’. E quais?
Bem, antes de mais nada, por favor, dêem um pulo no novo www.geraldthomas.com (sessão vídeos e “press”). Depois, mais embaixo, explico.
Foi justamente pelo preenchimento do vazio que escrevi a tal matéria sobre Gisele.
Eu dizia mesmo que nada tínhamos que invadir o casamento de Gisele (ou de ninguém). Mas ela nos convidou, pessoa pública que era e – já que havia combinado com as revistas que a cerimônia seria mais uma “photo opportunity” (eu sei bem o que é isso) – não me senti tão invasivo assim. Bem, quem quiser leia a matéria abaixo.
O que mais me interessou foi justamente aquilo que foi “tomando conta do vazio”. Não tendo mais o que comentar sobre o casamento, os amigos do blog mudaram radicalmente de assunto e logo, logo, logo estávamos discutindo a PENA DE MORTE (ou de VIDA).
Ainda escrevo numa noite de Terça-feira, um dia extremante GELADO em NY, coberto da neve de ontem, enquanto sou lido – na maioria por vocês aí, reclamando dos dias mais quentes. Ontem, o DOW Jones caiu tanto, mas tanto, como não havia caído desde 1997. Mais uma notícia alarmante para o Obama herdar de seu criminoso antecessor. Ah, mas como contraponto (e como em qualquer recessão), as pessoas querem diversão, divertimento. Os cinemas estão LOTADOS! NUNCA estiveram tão lotados. Os filmes? Umas merdas. Mas – ao invés de fazerem turismo interno e gastar uma grana – o casal vai ao cinema, compra aquele BALDE de pop corn com manteiga derretida (óleo de canola) e Coca-cola gigante e ainda paga a Baby Sitter. E dá-lhe comédia. E dá-lhe casamento de Gisele em coluna de…
Constatou-se que 15 por cento da população americana, hoje, oficialmente, é hispânica. Legal e ilegalmente, 15 por cento no habla sequer lo inglês. Eu estava discutindo isso com um brilhante intelectual, um autor argentino que mora em Miami de nome Walter. Acaba de publicar um livro que irei resenhar junto com o livro do Denny Yang, “New York – New York” (um brasileiro de origem chinesa que mora em Taiwan e cujo blog está linkado aqui). O Livro do Walter se chama “O guia de deus?” Ou do diabo?
Bem, a questão é punição. Pena capital. “Não é o que vocês estão pensando. Sim, é o que vocês estão pensando…”. É pena de morte, mesmo, que ainda divide essse país mais que a falha de St. Andréas Fault, que divide a Califórnia e que pode demolir aquele Estado na escala Richter mais que sua economia ou mais que seu demolidor Governador Arnie, de Graz, Áustria.
Ah, sim: pena capital. Pena de morte. É o assunto do dia. Se pegarmos trechos da mais importante literatura (romance ou drama) da história (seja Shakespeare, Goethe (os Gregos) dando um enorme pulo até, digamos, Georges Bataille (a História do Olho), teríamos um bom exemplo de:
“Simone andava por aí nua debaixo de uma roupa branca, insinuando que ela vestia um cinto ou meia vermelha que, em certas posições revelavam sua boceta….Sentou na cara do padre, e depois de mijar nele e ordenar que (….) o enforcasse até que tivesse um forte orgasmo, (….) pegou uma faca e arrancou o olho do padre. Com o olho do padre na mão, Simone então o esfregou em sua boceta…)”
(pequeno trecho de Georges Bataille em “A História do Olho”)
Muitas obras de arte sugerem a morte: são sugestivas nesse sentido. Eu disse “término de vida”. Sim, disse. Desde as obras expostas no Uffici em Firenze (Renascentismo – onde o homem encontra Deus, e portanto sua mortalidade) até a escola Flaminga – Rembrant que disseca cadáveres ou Bosch que zomba da nossa natureza humana e nos transforma no Paraíso Infernal, Milton – Dantesqueano.
Enfim, ao que parte dos amigos do Blog acham sobre a pena de Morte:
Jose Pacheco Filho
“Vou sair completamente do assunto.
Para e infelizmente de dar noticia de algo abominável e estúpido ocorrido na Bahia. Aqui no nosso Brasil.
A ocorrência foi há mais de três meses. Porem só ontem foi amplamente divulgado.Assisti ela televisão.Antes não tivesse visto.A revolta e grande.
Contarei a meu modo. Vou procurar me ater ao que assisti e ouvi.
Um casal ele da Nova Zelândia e ela brasileira estiveram em Trancoso (praia famosa do sul do estado) em período de descanso e lazer. Não poderiam imaginar o que os aguardava.E a filha do casal que com eles veio.
Uma linda menina de um pouco mais de três anos. Pelas fotos parece um anjinho.
Gerald, a mãe notou a falta da filha quando terminou de lavar peças de roupas. Estavam em condomínio fechado.Desses que alugam bangalôs a preços de palácios.
Saíram todos em busca e ajudados pelo zelador encontraram a menina jogada entre arbustos e afogada.
Não vamos nem nos ater por enquanto no tremendo golpe do já relatado. tem mais desgraça pra frente.
Na demorada espera do IML o pai notou que o anus da filha apresentavam sinais de violação.
Ai começou um verdadeiro drama para a família conseguir ser ouvida. Nem o delegado local se interessou pele investigação após as denuncias da mãe ( brasileira repito ).
Direto no assunto, após interferências inclusive da Interpol e da Policia Federal em conjunto já se sabe que o FDP do zelador foi o assassino violentador.
Apertado ele acabou confessando. O miserável também tem uma filha de igual idade da que escolheu como vitima.
Confessou na maior frieza.
Uma delegada que o interrogou perguntou para ele o que ele mesmo faria se tivessem estrupido e matado a filha que ele tem.
O desgraçado respondeu que mataria o culpado.
Não vou escrever mais nada. Não e minha intenção mas acredito que já estraguei o teu dia.
Faça as conjecturas que desejares. As minhas eu já fiz.Infelizmente são impublicáveis.
Mas no finalzinho eu peço a Deus que nos perdoe a todos. Todos os seres humanos.
Entendam com quiserem.
Muito obrigado.
Pacheco.”
Peter Punk
“Tava falando que que sou contra a pena de morte. Ela torna muito vivo o que pretende exterminar quando eh aplicada. Acho estranho a América( hiper civilizado em tantos aspectos) aplica-la em varias partes. E tbm acho estranhíssimo este culto ao rifle. Eh o culto ao pau de maneira sinistra.
A justça tem que funcionar prendendo que tem que. Recuperando
quem tem que.
A vida ja contém a pena de morte.
E como diz o pedro luís: “Sou a favor da pena de vida/ quem vacilou não pode pular fora.”
Aninomyous
“Algo mais sobre Boderlines…há diversos casos relatados de gente ‘boder’ ou ‘fronteiriça’, o tal do Champinha que sequestrou um casal, mataram o rapaz e manteve a menina uma semana consigo sob violência, apresentando ela como namorada (e ela em choque não reagia), até que ele foi chamado à delegacia ou algo assim e saiu de lá direto pra onde estava sua vítima e a ‘abriu’ no meio com um facão…terror ao nível de ‘o massacre da serra eletrica ou jason’…os Boderlines e sociopatas são geralmente esse tipo de covardes, mas vou colocar aqui algo sobre os boderlines, porque acho ter algo a ver com a ‘cultura da inversão de valores’ gerando essas monstruosidades:
2) Há alguma relação entre a cultura atual e o “comportamento borderline”?
Os psicopatologistas, desde Pinel, depararam-se com um inédito fenômeno: a violência cega, abrupta, desconcertante em pacientes que não apresentavam um quadro psicótico tradicional. Para aqueles alienistas não era novidade presenciar manifestações de fúria assassina em indivíduos considerados loucos. Mas como compreender tais manifestações em pessoas que mantinham preservadas suas funções de consciência e não apresentavam um dos principais sintomas da loucura, a desagregação progressiva da função de pensamento?
Wilhelm Reich percebeu com clareza essa situação e descreveu-a em seu brilhante estudo sobre os “caráteres impulsivos”. Esses indivíduos com altíssimo grau de impulsividade, descritos na década de 1920, não eram exatamente idênticos aos pacientes que hoje denominamos como “borderlines”, mas Reich observou, naquelas pessoas, vários fenômenos que encontramos atualmente em nossos consultórios. Naquele grupo de pacientes “as exigências impulsivas eram preponderantemente difusas, não eram dirigidas a objetos específicos e não estavam ligadas a situações determinadas”.
Pinel, Reich e vários outros estudiosos ensinam-nos, portanto, que o nascimento do conceito de “fronteiriço” é indissociável da percepção de uma específica violência. Essa violência é muito singular e deve ser diferenciada do sadismo neurótico, do surto psicótico furioso e da raiva em sua expressão bioenergética. Sem essa diferenciação, a estrutura psicopatológica “fronteiriço” perde o sentido.
Por outro lado, o conceito de “fronteiriço” está diretamente ligado à “crise de valores” ou “crise ética” do século XX, e à simultânea pressão do contato profundo. A teoria reichiana ensina que uma das principais funções do encouraçamento humano é, justamente, impedir o contato profundo.
Em minha opinião, o funcionamento fronteiriço está enraizado, em grande parte, nesse contexto, ou seja: entre o incremento da pressão do contato profundo (um verdadeiro “pico” de pressão) e as dificuldades da couraça caractero-muscular de suportar esse “tranco”.
A “crise de valores” já era pressentida, no final do século XIX, por algumas pessoas mais “antenadas”, como, por exemplo, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o pintor Vassili Kandinsky. No livro O Espiritual na Arte Kandinsky falá-nos com muita clareza daquele “espírito da época” que, nas primeiras décadas do século XX, encontra expressão em vários movimentos artísticos (e, sem dúvida, na vida quotidiana…), balançando e questionando radicalmente os rígidos padrões morais-caracteriais: “Batalha dos sons, equilíbrio perdido, princípios que desmoronam, rufar de tambores inesperados, grandes perguntas, buscas aparentemente despropositadas, impulsos aparentemente dilacerados e nostalgia, cadeias e ligações rompidas, várias reagrupando-se em uma só, contrastes e contradições — eis nossa harmonia”. [O filme “La Dolce Vita”, magistralmente dirigido por Fellini, é um ótimo material para se analisar a passagem do funcionamento neurótico (linear/caracterial) para o funcionamento fronteiriço (impulsividade + depressividade + não-linearidade + vazio de contato)].
Fenomenologicamente pode-se dizer que o funcionamento borderline apresenta um conjunto de características indissociáveis: a específica violência cega à que me referi acima, a pressão do contato profundo, a patologia do vazio, a terrível exigência consigo mesmo e as dificuldades do encouraçamento caractero-muscular em lidar com essa situação.”
Juliano
“Interesse o debate sobre a pena de morte, fiquei surpreso com a posição do Gerald. No Brasil o direito a vida é clausula petrea, portanto, esqueçam pena de morte. No mais nosso sistema judicial é cheio de falhas, muitos inocentes poderiam morrer. Posso asssegurar a vocês que estupradores sofrem bastante na cadeia e muitos são mortos pelos próprios presos. Pena de morte não resolve nada, não podemos nos igualar a esses animais, a lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”. Prisões brasileiras são masmorras medievais, ali o cara sofre muito, sem saneamento basico, micoses, doenças dos pulmões, aids, dezenas de presos numa pequena cela. Não tem esse papo do cara com vida boa na prisão, comendo bem e tal. E diferentemente do que fala a midia as penas são durissimas e ajustiça condena muito. Passar 10,20, 30 anos numa prisão braisleira é pior que pena de morte.”
Sandra
“Sobre a diferença entre punição e vingança. Interpretei-o da seguinte forma: a pena deve ser apenas a necessária garantir que o criminoso não provoque mais danos. Por esse critério, se pudéssemos garantir que o criminoso não irá cometer o crime novamente, nem para a prisão ele precisaria ir. Esse monstro sobre o qual o Pacheco falou, Mengele, … poderiam ficar livres. Mas… calma lá! Alguém que matou crianças, com requintes de crueldade, ignorando seus gritos de dor, suas súplicas, sua expressão horrorizada,… não fará isso de novo? Só se não puder. Uma pessoa assim é IRRECUPERÁVEL. Então, prisão perpétua para esses monstros. E uma prisão que garanta sua integridade física, a mesma que ele negou a suas vítimas.
Mas, honestamente, vocês acham que a morte é uma pena mais dura que a prisão perpétua? Acho que, por impulso, numa briga de trânsito, por exemplo, até uma pessoa muito calma poderia matar. Mas, passados alguns minutos, iria pensar: Meu Deus, o que fiz? E o remorso iria pensar.
Mas… estupro… isso é coisa de canalha. Gerald, o que está errado é dar condicional, redução de pena, etc, etc, para esses monstros. No Brasil, achamos que a prioridade é a recuperação do preso, e que TODO ser humano é recuperável. A prioridade deveria ser as vítimas e nem todo o ser humano é recuperável. “
Targino Silva
“A justiça brasileira, com Juizes da Suprema Corte, nomeados
por políticos, não tem condições de decidirem sobre pena de
morte. Será um holocausto dos pobres.
A pena de morte se faz necessária nesses casos.
O grande problema é que a pena não pode ser revertida e
a justiça é feita por homens que erram.
Como a duvida beneficia o réu, é melhor não ter.
Do outro lado a leis brasileiras são muito brandas,
de uma certa forma, incentiva o crime.”
Por enquanto é isso. O post ficou enorme. Mas não maior que a Vida ou a Morte, ou Deus e O Diabo que o Walter (….) o genial autor argentino de Miami, propõe em seu livro ou naquela vida frágil em que Emile Zola, Dostoyevski, Nietzsche ou Tolstoy tanto batem, batem, nos machucam e relembram que estamos vivos ou, quem sabe, somente fingindo estar vivos (eu não poderia terminar sem uma citação de Beckett: resisti até o fim!)
Gerald Thomas
New York – 03/Março/2009
(Vamp na edição)