Monthly Archives: June 2006
Folha de S Paulo 3 de abril 06
A Varig é a nossa cara
Lula tenta tirar a dignidade da Varig. Insiste que se trata de uma empresa privada, mas ela é um símbolo |
GERALD THOMAS
Numa manifestação que a classe teatral fez, no Rio, no dia doze deste mês, em apoio à Varig, a imprensa, mais uma vez, não ajudou. Ao contrário, só serviu para fazer sensacionalismo, descontextualizar ainda mais as coisas e… desinformar o público.
Vamos por partes. Primeiro, o que diz respeito ao que eu falei no pequeno palco do Teatro Leblon. (Aliás, qual não foi a minha decepção ao ver tão pouca gente de teatro reunida; gente essa que "deve" um passado enorme à Varig. Na hora em que a corda aperta, some todo mundo. Típico, não é?)
Subi ao palco, seguindo o lindo manifesto lido por Marco Nanini. E expus o quanto está difícil encontrar palavras que sirvam para nos fazer entender por esses que hoje sentam no poder. No dia da manifestação, as manchetes de todos os periódicos diziam que o PT havia sido acusado de "formação de quadrilha". Então falei: "Já que Lula não nos ouve mesmo, será que uma quadrilha nos ouviria?". Comparei a Varig aos grandes patrimônios nacionais, mencionando a associação de idéias que ela, como representante do Brasil nos ares do mundo inteiro há quase 80 anos, suscita -ao nos remeter à "Garota de Ipanema" e à imagem do Pão de Açúcar ou do Corcovado, à arquitetura de Niemeyer ou ao Jardim Botânico; enfim, um patrimônio.
Fosse qualquer outra coisa sem interesses opostamente ligados a essa "quadrilha", Lula já teria feito o que deveria faz tempo: ou deixar a Varig livre para negociar seu próprio futuro sem interpor o seu focinho (assim como no melhor sentido da "deregulation" reaganiana, americana), ou pagar o que o governo deve à empresa -fazer com a Varig um plano de recuperação, incluindo subsídios de Petrobras e Infraero, como se vê nas melhores famílias.
Foi, em parte, isso que falei. E citei exemplos: depois do 11 de Setembro, a indústria aérea no mundo inteiro pegou a gripe aviária. Até a Swissair acabou. A que voa hoje se chama simplesmente Swiss, e foi comprada por uma Lufthansa pesadamente subsidiada com dinheiro da Bundesrepublik Deutschland. Ah, sim. Disse que sem a ajuda de injeção de libras esterlinas e um enorme subsídio da British Petroleum, a British Airways não estaria hoje voando com a dignidade que está.
Pois Lula está tentando tirar a dignidade da Varig. E isso é muito estranho, já que a Varig é a cara do Brasil, é a nossa cara! Lula insiste em dizer que se trata de uma empresa privada, mas sabe muito bem que é muito mais do que isso: a Varig é um símbolo brasileiro respeitadíssimo no mundo inteiro, que já serviu de embaixada, já resgatou presos políticos (alguns companheiros de Lula). Não é uma questão de símbolos? Então para que gastar US$ 10 milhões para mandar um brasileiro passar uns dias no espaço quando se sabe muito bem que o Brasil não tem uma agência espacial, que isso não terá seqüência ou conseqüência? O que foi aquilo senão um símbolo tolo de machismo? Um factoidezinho? E outras asneiras. Metrô de Caracas, quando nem São Paulo possui um metrô suficiente para seu tamanho ainda? Como assim? Caracas?
Acho que no Planalto já não se diz coisa com coisa, e é por isso que Lula insiste em dizer que não irá ajudar a Varig. Mas será que ele percebe o que está dizendo? Essa companhia pioneira, com quase 80 anos e que acaba de ganhar o primeiro lugar em segurança no mundo -da Iata, Associação Internacional de Transporte Aéreo-, pode ser extinta assim, por um capricho ou negligência, justamente por aquele que nasceu do Partido dos Trabalhadores e se diz um deles? Fechar a Varig significa demitir mais de 11 mil somente no corpo principal da companhia. Lula, pense bem! Quantos brasileiros cultos, orgulhosos, dignos de medalhas -e não do desemprego- você estaria colocando na rua?
Não faz sentido?
Há quem me escreva reclamando, dizendo que a situação da Varig é o resultado de anos e anos de má administração financeira. Minha resposta é que o Brasil é um lugar onde se pratica a má administração financeira, com mensalão, corrupção institucionalizada, caixa dois ou, até há poucos anos, uma desvalorização da moeda tão brutal que afetou até este jornal e todo o meio empresarial. Ou seja, quem tem história obviamente tem dívidas, tem carga humana, alma humana e, sem dúvida nenhuma, muitas falhas também. Não se iludam com essas novinhas aí, que estão no ar. Lembram-se quando elas caíam feito pato em temporada de caça?
A Varig é um patrimônio cultural precioso e deve ser tratada como tal. Seu pessoal de terra e todos os que nela voam são a cara do Brasil, refletem as nossas ansiedades e não usam aqueles "coquetéis esculturais" na cabeça no lugar dos cabelos, como tantas linhas aéreas ainda o fazem. Eu exijo mais respeito quando algum "foca" reproduzir o que eu digo em discurso, porque, em suma, foi isso.
Gerald Thomas é autor e diretor de teatro.
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a midia adora mentir
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ACABOU – do www.diretodaredacao.com
MINHA CÂMARA DE GÁS | |
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São Paulo – Escrevo na véspera do final de uma temporada teatral muito especial. Uso essa palavra "especial" de forma especial mesmo, porque essa temporada no SESC Vila Mariana, rodando quatro espetáculos simultaneamente foi, para dizer o mínimo, a maior experiência da minha vida. Mas maior não quer dizer necessariamente melhor. Melhor quer dizer que tentei. Tentei dar continuidade a história. Ou seja: sou autor. Sou um autor que dirige seus próprios espetáculos. Em quantos países mesmo? Esqueci. Mas escrevo aquilo que vivo e o que vejo, o que penso e o que ouço pensarem alto e baixo, e sussurrarem e conspirarem e transpirarem ao meu redor e distante de mim, porque sou antenado no que aconteceu historicamente e no que acontece neste momento no planalto central ou na Indonésia: o aspecto global me interessa. Voltar e revisitar a história não me interessa. O teatro é uma arte de risco, assim como todas as boas artes que se prezam. Não sei, mas acham que chamam isso de vanguarda. E digo logo: tenho nojo de gordos obesos e bilionários que contam com a mídia toda a seu favor e montam, de tempos em tempos, como se fosse um hobbyzinho, uma peça de Shakespeare ou algo semelhante. Algo que se diz "classico", algo que não representa os tempos de hoje, que não representa o mundo que Kronos leva para frente apesar da nossa eterna vontade de viver os tempos de outrora, aqueles que achamos maravilhosos, aqueles tempos invisíveis, que nunca existiram mas que imaginamos terem sido incríveis e, portanto, gloriosos. Esta temporada se fecha com a glória de um Serginho Groisman sendo ovacionado em cena aberta como um novo ator que surgiu na cena nacional. E que ATOR com letras maiúsculas. Que orgulho. Que enorme orgulho!!!!! E essa temporada se fecha com uma Fabiana Gugli arrasando, atriz magistral como ela só, com o seu Juliano Antunes e uma compania nova que achei nos montes dourados de São Paulo, com seus Panchos uruguaios e seus Fabios e todos esses atores que não verei mais depois de amanhã…que loucura meu deus. Obrigado Danilo Santos de Miranda e obrigado Aloisio Vasconcellos por terem me proporcionado o maior risco da minha vida: o asterisco da História. A minha câmara de gás: o meu enterro e meu renascimento. Como foi lindo tudo isso! PS: Ontem, sabado, alias….com aquela casa lotada e num estado de nervos raramente tao a flor da pele como eu jamais estive…..acho que finalmente encontrei – pela primeira vez – o gosto gostoso de fazer o meu Asfaltaram o Beijo. Belissima despedida. Belissimo PUBLICO! Partabens pra eles. Obrigado a voces. Por um breve momento, me devolveram o humor e o prazer de estar em cena, estando, literamente olhando fixamente nos olhos de cada um de voces. PS 2: Do MARAVILHOSO ator GERSON STEVES: O projeto Asfaltaram a Terra foi, uma grande experiência. Mergulhar de cabeça num proceso de criação feito de extremos: ansiedade, cansaço, pressa, risos, raiva, ódio, amor, carinho, sustos, surpresas, lágrimas, prazer e agonia, dúvidas e respostas tão rápidas quanto um raio. que bom reencontrar Gerald Thomas e o seu teatro, fazer parte dessa loucura e contribuir para uma criação tão cheia de detalhes. Que bom dividir o palco com tantos e tão interessantes artistas e técnicos. Um exercício como poucos de criação, desprendimento, humildade, desapego, convivência com as diferenças. Cada dia foi um, foi novo. Obrigado a todos os envolvidos. Obrigado GT pela oportunidade de resgatar um pedaço do meu passado e mirá-lo para o futuro. Beijos, fui!
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mensagem linda pra esse ultimo fim de semana
Competência é algo raro!Acho bárbaro ter esse Blog para exercer meu direito de Platéia. Assisti aos espetáculos a uns 20 dias e continuo "digerindo". -Uma atriz que só faz papéis masculinos… lembro-me de todas nos mulheres, que atuamos no mercado de trabalho a partir dos padrões e do ritmo masculino.Somos mulheres "sem útero" e existe uma perda social muito grande nisso, sendo quase um problema de saúde pública. -Que grande coragem a do Gerald de se colocar em cena e expor sua subjetividade e sua fragilidade diante da platéia.O que ele fez está para o teatro, como o salto mortal está para o trapezista.O público sente e aplaude e aqui tento traduzir em palavras meu aplauso. Bravo Gerald! Cuide-se muito! E, Gerald, cuidado com os "nativos",pois a lógica tupiniquim é outra. Esse pais é um paraíso tropical e conectar-se com essa Natureza é um meio de acessá-lo e aprender a viver de uma forma menos stressada. Obrigado por lerem e publicar minhas modestas divagações! By- Sam
Sandra Oliveira
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