Monthly Archives: July 2006

publicado por Ana Peluso, à revelia de Gerald Thomas

COMO A HISTÓRIA SE REPETE

Rio – Estou no Rio palestrando sobre Samuel Beckett num festival que comemora seus 100 anos. Vejo que o meu amigo/autor era realmente um visionário quando colocava no palco cenários devastados, desertos com uma única árvore e seres perdidos, como em "The Lost Ones": "Abode where lost bodies roam each looking and searching for their lost ones……"

Beirute hoje, 2006. Desde minha saída de Nova Iorque, onde a temperatura beirava os 100 graus (farenheit), na quarta passada, eu tentava desesperadamente localizar o genial médico, Dr. Riad Younes, diretor do hostipal paulistano Sírio Libanês. Riad havia me dito em junho que passaria as férias com a mulher Nadia e as filhas em Beirute. E desde que começou essa loucura toda não fiz outra coisa senão tentar localizá-lo, sem sucesso. Cheguei a ponto de ligar para o Departamento de Estado norte-americano, explicando quem ele era, que tinha feito um estágio memorável no Sloan Kettering Memorial Hospital, para ver se isso o tornava visível para os comboios de Marines que trabalham na evacuação de pessoas das terras libanesas. Mas nada: somente cidadãos norte americanos. Até que na sexta, me ocorreu que valia a pena ligar para seu consultório em SP mais uma vez. Uma pessoa me passou para outra e acabei sem o nó na garganta: Riad estava são e salvo em Aman, na Jordânia, já com vôo marcado para Paris e que estaria no Brasil esta semana.

Mas milhares de pessoas não estão tendo a sorte que eu tive, se é que se pode chamar o triste destino de qualquer família neste momento em Beirute de sorte.

Claro que a provocação do Hesbollah despejando seus mísseis sofisticados em território israelense merece resposta. Mas há alguma coisa horrenda nisso tudo: a questão ética do estado de Israel. Se eles acham que vão desmontar o Hesbollah acabando com a população civil libanesa e criando uma imagem de imbatíveis (estilo Bush) para o mundo, eles estão fazendo justamente com que os extremistas islâmicos se unam mais ainda. E o mais grave é que o Hesbollah ganha ainda a simpatia da população árabe em geral.

Sim, porque entramos na era dos paradoxos totais, paradoxos nucleares: um grupo terrorista tem o direito de ser um grupo terrorista. Pode burlar todas as regras, esconder-se atrás de hospitais, usar crianças como escudos, enfim, fazer de tudo para aterrorizar e criar pressão política através do medo e do sangue derramado. Mas um Estado, um governo, não tem o direito de agir inescrupulosamente, assim como as ditaduras militares que não respondiam a ninguém. Por mais que Israel queira ou precise mostrar sua força e seu poder de sua defesa, ele precisa acima de tudo do mais sofisticado sistema de intelligence que os informe com precisão onde estão os bunkers terroristas, antes de soltar bombas por toda Beirute, na população civil, matando famílias que nada têm a ver com isso e criando o caos num pais ainda em processo de reconstrução. Se quiserem contra-argumentar que uma minúscula facção do Líbano protege o Hesbollah, isso faz sentido: então que Israel bata na porta certa.

Agindo dessa maneira, Israel se coloca no mesmo nível que os terroristas. E isso é lamentável. Parece não haver nenhuma trégua num futuro próximo, nem com a Condoleeza a caminho, nem com dezenas de estrangeiros "peace mediators" metendo o bedelho como sempre. O Iran e a Siria estão profundamente ligados a esse conflito e o que estamos vendo, possivelmente é o inicio da terceira guerra mundial. Porque agora Bush e Blair, França (por aliança histórica), serão dragados para dentro dessa zona. E homens-bomba explodirão nas capitais do mundo como represália. E por que? Porque capturaram 2 soldados Israelenses? Porque o Hesbollah soltou alguns mísseis que foram parar na água e em Haifa? Será que o Serviço de Inteligência de Israel não se sofisticou nesses anos todos contra o seu pior inimigo a ponto de conseguir achá-lo num momento critico?

No final disso, estaremos todos com a aparência de criaturas Beckettianas, precisamente como no cenário devastado, roupas rasgadas e sujas, clowns homeless sobreviventes à espera de alguma coisa inexistente que jamais virá: Godot. Esse mesmo, sobre o qual o mestre Beckett escreveu 10 anos após o holocausto.

Como a Historia se repete!

publicado por Ana Peluso, à revelia de Gerald Thomas

Do Direto da Redação:http://www.intellibusiness.com.br/diretodaredacao/index.php

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indicacoes do Premio Shell

As atrizes indicadas ao Prêmio foram Fabiana Gugli ("Terra em trânsito"), Georgette Fadel (Gota D'água – Breviário") e Magali Biff ("Esperando Godot").

Parabens pras tres: especialmente pra Fabi, claro!

Gerald

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do "Gente Boa", do Joaquim Ferreira dos Santos


Esperando Gerald

Gerald Thomas vem ao Rio para encerrar o Festival Beckett 100 Anos, no Centro Cultural Telemar, que começa amanhã e vai até dia 23. Está tentando vir Varig. "Sou Varig até a alma", diz. "Como faltam duas semanas para a viagem vamos ver como se dá a reconstrução da empresa". Gerald pediu para montar o fundo de sua palestra com uma foto, ampliada 40 vezes, em que toma café com Beckett.

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So nos contam a metade….

New York – O jogador Ronaldo estava andando pelo Meat Market District aqui em Manhattan. Estranho. Esse lugar eh "fashion", mas explico o que tem la: vacas mortas (entreposto de acougues), estudios fotograficos, nightclubs (alguns bem subterraneos), Soho House, modelos andando pelas ruas e lojas de griffe carissimas. Qual das "coisas" citadas acima Ronaldo procurava? O Meat Market District de Manhattan esta pra Williamsburg (Brooklyn, onde morei 22 anos: o que estou fazendo de volta a Manhattan????) assim como a Coreia do Norte esta para a Coreia do Sul, sendo o East River a Zona Desmilitarizada. Que nada. Quanta bobagem.

Mas faz um ano hoje que o metro de Londres, King's Cross, Aldgate e Russell Square foram bombardeados. Meus mais que dois minutos de silencio. Depois veio a morte do menino brasileiro: estamos em plena era belica: talvez daqui a uns anos o Meat Market tera pedacos de pessoas penduradas naqueles ganchos e nao mais…..E hoje, em Beirut, prenderam alguem que queria explodir os Tuneis Holland e Lincoln…o acesso a NY pra quem vem de New Jersey. Fora isso, so resta a ponte George Washington e o Path train. Separar NY de NJ eh um tremendo plano terrorista!!!!! Principalmente pra quem passa os sabados a noite aqui em Manhattan e tem que aguentar os Jerseyanos bebados e racistas com seus carros e manobras de merda!

O correspondente em Seul do programa "Nightline", um "must" no jornalismo televisivo (ex – Ted Koppel), disse uma frase na edição de quarta-feira que não me sai da cabeça. A âncora em Nova Iorque perguntou sobre o perigo imediato dos mísseis que a Coréia do Norte estava lançando para o país-irmão do sul, já que a primeira leva tinha sido um fracasso, todos despencaram e explodiram prematuramente. O correspondente, mostrou as manchetes dos jornais com enormes advertências e alertas. Afinal, se errarem a direção e não cairem no mar no Japão, como aconteceu, podem simplesmente explodir no meio da cidade de Seul ou vizinhanças.

Mas a frase do correspondente que me atraiu tanto foi a seguinte: "o povo aqui na Coréia do Sul não parece preocupado com os mísseis, parece que está mais antenado nos jogos da Copa do Mundo".

Passei um tempo em Seul, num dos hotéis mais estranhos da minha vida (Hotel Shilla), montado numa das quatro montanhas que cercam a cidade sagrada – e horrenda – com seus telhados azuis e prefabricados, arquitetura impessoal. Raramente se descobre um mosteiro ou algo antigo. As avenidas são largas, estilo China e Moscou, e em cada esquina camelôs, muitos camelôs, vendendo de tudo, desde relógios até polvos e lulas ressecados. Imagine,o Lula ressecado!!! Sei que brasileiros estão pouco se lixando para o resto do mundo. Não querem saber de mísseis, Coréia do Sul, do Norte ou, como disse outro dia uma senhora na minha platéia em São Paulo, a guerra no Iraque. Depois reclamam que ninguém fala deles, que não fazem parte do mundo. Mas não fazem parte mesmo! E a opção de exclusão é deles. Não do mundo. E isso é uma lástima. Os jornais mais "sérios" do Brasil agora trazem os resumos das novelas em seus cadernos culturais. Todos se curvam perante o QI abaixo de zero que reina nas republiquetas. E os intelectuais entornam seus wiskies e desenvolvem um incrível senso de cinismo de que "não há nada a fazer mesmo". Mas aqui, no centro da corte, como dizia Paulo Francis, o mundo ainda não está achatado e o ovo de Colombo ainda está de pé. Não importa qual administração está de cócoras na Casa Branca. Por menos que se interesse pelo resto do mundo, o povão americano é obrigado a engolí-lo, já que se envolvem em conflitos em todo planeta, no papel que assumiram como policia número um do mundo. E o brasileiro acha estranho que o resto do mundo ainda pense que Buenos Aires é a capital do Brasil. Será que o brasileiro seria capaz de dizer qual é a capital do Kenya ou do Yemen do Norte? O Brasil se basta. Isolou-se de uma maneira mais "branda" e menos maluca que a Coréia do Norte. Mas o princípio é o mesmo. O isolamento cria o incesto e o incesto cria deformações básicas de fisionomia, auto-estima e de instinto. E isso tudo da em paranóia. Pelo fato de não terem ganho a Copa do Mundo, os jogadores foram xingados, quase apedrejados. Como se Parreira e sua troupe fossem responsáveis por salvar a miséria de quase 200 milhões de pessoas. Me lembra a era Ciuacescu (Romenia): o atleta que nao ganhasse" BUM! BANG! Esquadrao! Ou a Alemanha de Hoenecker, a DDR, a Oriental. Os atletas alemaes comunistas sempre na frente. Apesar de comunistas, paradoxicalmente, levando pra frente justamente aquilo contra tudo aquilo que os aliados lutavam na 2 Guerra: a superioridade da raca ariana. Quanto absurdo! No Brasil? Tudo bem ne? Enquanto existir a novela, o futebol e a bebedeira (porque a desilusão é tão grande e a corrupção não tem jeito mesmo, diria um intelectual no seu quinto copo), a falência multipla de órgãos se torna um fato. E aquele aparato médico todo que monitora as batidas do coração, se torna um objeto estranho, assim como aqueles instrumentos náuticos de um submarino nuclear: silencioso, afundando, afundando com seus tripulantes a bordo suando e sufocando, perdendo o ar….pouco a pouco… perdendo o ar. Eu estou sufocado! Oxigenio, rapido!

Gerald Thomas

texto parecido com o do www.diretodaredacao.com

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