Monthly Archives: January 2006

alguem me manda mensagens confusas

São Paulo, segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Da Coluna do SERGIO DAVILA (monica bergamo)

SEM FILTRO
Gerald Thomas não é Roberto Carlos, mas começa 2006 em ritmo de aventura, com quatro projetos. Entre eles, as peças "Terra em Trânsito", sobre uma diva presa num camarim com um cisne que ela tenta transformar em foie gras, e "Um Bloco de Gelo em Chamas", em que Luiz Damasceno interpreta seu primeiro papel feminino.

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Tendecias e Debates, na Folha de S Paulo

A farsa de Lula e Bush


2005 foi um ano de dramaturgia péssima. A popularidade de Bush, assim como a de Lula, despencou, faliu


GERALD THOMAS

A cho que nunca me esquecerei do dia em que vinha andando pela rua 23 com a segunda avenida, em Nova York, quando uma mão enorme e pesada pousa no meu ombro direito e uma voz berra: "Stop!". Eu congelo na hora, sem saber do que se trata. Em questão de um segundo, dez viaturas policiais estavam lá, vasculhando tudo e todos.
Era o dia em que Londres havia sofrido um ataque em seu metrô, dia 7 de julho, e o gosto na minha boca me remeteu aos momentos que se seguiram ao colapso das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, que vi caírem da minha janela, quando morava em Williamsburg, na beira do East River. Agora, moro do outro lado, no mesmo East River, em Manhattan e… aquela mão? O que queria me dizer com aquele "Stop!"? Queria que eu parasse o ano prematuramente? Não, certamente não. 2005 foi um ano de dramaturgia péssima.
A popularidade de Bush, assim como a de Lula, despencou, faliu.
2005 foi o espelho quebrado dos anos anteriores, autista, o ano avesso. Nos EUA, a população tomou consciência da quantidade de mortos no Iraque e da insurgência crescente. No Brasil, os escândalos surgiram com a força de um furacão Katrina. Um dilúvio soava e colocava corruptos no banco dos réus e revelava a total ausência ou cinismo absoluto de Lula (um Hamlet tontinho ou, talvez pior, um rei Claudius? Neste caso, um assassino frio, cruel e delirante).
Exatamente como nos EUA: Bush tentava ignorar os escândalos políticos à sua volta até meados de dezembro, quando finalmente admitiu erros no que diz respeito ao Iraque. É a primeira vez que admite um erro. Mas é porque quer se tornar vulnerável para poder reeleger o Patriot Act, esse que torna o país uma miniditadura orwelliana, justamente agora que os escândalos sobre a espionagem e grampos sobre qualquer cidadão americano explodem na mídia.
E então? Aquela mão que me parava com qual autoridade? Da paranóia e da farsa. Combinação perigosa. Já vimos isso. Serei mais preciso: Alemanha pré-guerra. A palavra é autonegação. Tanto Bush como Lula se negam a ver o fracasso à sua volta. Melhor: se negam a assumi-lo, já que o tango político está arrítmico e ninguém mais sabe dançá-lo.
Karl Rove, braço direito do presidente, está em apuros. Praticamente sentado no banco dos réus por ter revelado a identidade de uma espiã feminina da CIA na África, Rove está assim como José Dirceu esteve faz pouco tempo. O Partido Republicano começa a se dividir, assim como o PT. Motivos diferentes, claro. Aqui não foi o "mensalão": a divisão fica por conta do Iraque e da tortura em presos de guerra, que começam a irritar os mais puritanos senadores.
Bush, assim com Lula, tem esse incrível dom de sair pela tangente quando sua popularidade cai: são dois canastrões que deixam a cena e vão se refrescar na coxia enquanto algum coadjuvante toma o palco: esquecem que o teatro político também é feito de diálogo.
"A economia vai bem!" é a frase usada pelos dois, como se numa deixa teatral, no mesmo momento… como se fossem sincronizados por satélite. Mas será que vai mesmo? Não sou economista, mas já ouvi que a economia, assim como nosso sistema gastrointestinal, é subjetivo e não há maneiras imediatas de julgá-lo, a não ser que haja um tumor à vista. Com um gasto diário de US$ 60 milhões com a chamada "Guerra no Iraque", o tumor está começando a aparecer.
A verdade é que estamos sendo governados por administrações paranóicas e que estão na contra-ofensiva. E isso pode ser tão perigoso quanto qualquer ataque terrorista.
Com aquele sorrisinho de matar, Bush foi lento em sua resposta quando Nova Orleans foi devastada pelo furacão Katrina. "Questões raciais", berravam políticos e artistas por todos os cantos da grande águia. Mas, assim como já existe uma certa impotência quando se quer falar sobre Lula e sua administração, existe a mesma impotência em criticar Bush: já não existem mais adjetivos. Esgotaram-se todos. Agora, fica-se pasmo diante da TV, já que os dois presidentes têm algo em comum: adoram viajar!
Pasmo ou irado, essa é a sensação deixada por eles e seus desfeitos, posando de alienados, sorrindo, sempre sorrindo. Nada prova nada!
Foi quase como um "timing" teatral. Se ensaiado, não teria dado mais certo. Lula, no Brasil, com os escândalos do "mensalão", CPIs pra todos os lados, e Bush envolvido em escândalos que incluíam quase todos de sua administração e expoentes do Partido Republicano. Olho pro Bono e o casal Bill Gates como as personalidades do ano na capa da "Time" e vejo que os EUA começam a entrar em processo de transição: ou seja, Bush viverá um 2006 nada fácil, uma resistência começa a se organizar.
Aquela mão no meu ombro? O que ela queria? Graficamente, 2005, ela mais se parecia com as garras de um papagaio plantado no meu ombro, berrando no meu ouvido: "Stop: fim do primeiro ato!". Mande baixar o pano, sr. diretor! Mas, com as mãos ao alto, como se num assalto, não sou o dono do palco: sou um dos espectadores numa enorme farsa de horrores!


Gerald Thomasé diretor de teatro.

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um depoimento emocionante

Prezado Sr. Gerald Thomas,
Tenho 66 anos de idade, dos quais 47 dedicados profissionalmente à Varig. Costumo brincar com os amigos dizendo que, quando nasci, me deram certidão de nascimento e carteira de trabalho, a última já com o registro da "pioneira". Porque, na verdade, um outro mundo, de extraordinárias oportunidades, bem diferente daquele em que, até então eu vivera, se me abriu e revelou, a partir do dia em que nela ingressei. Menino de origem humilde, até então quase sem chances de educação e instrução, tudo se transformou a partir desse instante: trabalho, escola, universidade, um lar, uma família e, mais do que isso, a educação, a têmpera, a maturidade pela exaltação e prática de valores éticos e cívicos que sempre fizeram e fazem parte da cultura da Varig, consciente da importância de inculcar, enquanto que empresa concessionária de serviço público, o significado desses valores, às vezes escassos em nossos dias. Tive uma extensa e variada carreira profissional, no Brasil e no exterior, chegando a Presidente de uma das empresas do Grupo. A ela devo tudo e creio ser um bom exemplo do que, entre nós, se convencionou chamar de "variguiano".
Não me entenda como alguém interessado em fazer-lhe a sua própria apologia: queria apenas dizer-lhe que, tanto quanto eu, milhares e milhares de homens, de várias gerações, trilharam o mesmo caminho, tiveram as mesmas oportunidades e aprenderam, pela cultura Varig que os permeou, o quanto é importante transcender os limites do conceito de trabalho para adentrar no de missão, percepção que só se faz possível quando prevalece o ideal de: servir o nosso passageiro e a nossa nação. E por isso, deveríamos nos sentir gratificados.
Eu não quero aqui abordar as raízes dos problemas que afligem a Varig, mesmo porque, em seu artigo, o senhor deixou bem claro que não cai na esparrela de acreditar nas sandices que se publicam por aí, quase sempre motivadas por interesses escusos e inconfessos. Eu só quero dizer-lhe agora o bem que o senhor me fez e a milhares de companheiros ao se insurgir contra tanta maledicência e fazer justiça ao defender e reconhecer as qualidades que a Varig continua preservando, em que pese a crise que a aflige. Ao terminar a leitura do seu artigo – não tenho vergonha de confessá-lo – senti o meu rosto molhado… e não era de suor.
Espero um dia ter a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente e ter a honra de apertar a sua mão.
Obrigado!!
João Luis Bernes de Sousa
Presidente
Varig Logística

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escrito para o site www.diretodaredacao.com

VARIG: QUANDO A CULTURA PESA ( Gerald Thomas )
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Fiquei absolutamente horrorizado ao ler aqui neste site (do qual sou leitor assíduo) um artigo criticando a VARIG. Criticar é válido sempre. Mas, por favor: me venham com argumentos sérios. O que li foi trivial, ridículo e, se me permitirem, vou em defesa desse patrimônio nacional que é a VARIG. Se o passageiro experimentou atrasos, atropelos, decolagens que não aconteceram, turbinas que enguiçaram na última hora, fica aqui somente um lembrete: o mesmo, ou pior, já me aconteceu com todas, ou quase todas as companhias aéreas do mundo, desde a Lufhansa até a Delta, desde a Singapore Airlines até a Northwest ou a Jal.

Residente em Nova York, mas trabalhando em – sei lá quantos países do mundo, eu me encontro sentado em uma poltrona de avião, pelo menos uma vez por semana. E nao é raro esbarrar em atrasos, cancelamentos sem o menor aviso prévio, tratamento frio e descaso com passageiros. As companhias européias, então, ganham prêmios como o Oscar em Acting Badly, ou seja, atuação ruim: são péssimos atores, fingem mal. Não dão informação precisa, são dissimulados, desaparecem dos balcões e pronto: fica um passageiro perguntando pro outro. Todos com cara de tacho. Mesmo tendo pago a tarifa cara de business class (ainda bem que, no meu caso, a produção local ou casa de ópera paga e não sai do meu bolso), os passageiros, alguns furiosos, deitam no chão dos corredores, dos gates dos aeroportos mais desconfortáveis do mundo, como o de Frankfurt , ou o superhiperlotado Heathrow, onde não cabe nem mais uma mosca (islâmica ou cristã) e se resignam a algum próximo anúncio feito pelo sistema de auto-falantes.

Pois esse tipo de tratamento nunca aconteceu com a VARIG. E por que? Porque o diferencial está em sua cultura. Sim, a cultura de seus comissários de bordo e do pessoal de terra é algo fascinante. Não é à toa que a VARIG consta no cancioneiro popular, na poesia brasileira e não é à toa que existe uma enorme manobra política nesse momento querendo derrubá-la. Posso ser processado por isso, mas vá lá: enquanto teve poder, José Dirceu e seus asseclas estiveram intimamente ligados à presidência da TAM. A TAM tem as cores vermelhas e "comunistas", stalinistas (que piada!)) que tanto servem ao desastroso PT nesse momento. Dirceu jurou ódio à VARIG desde um belo vôo em que não conseguiu upgrade para a business class.

Falar mal da VARIG? Falência? Depois de 11 de setembro a indústria aérea inteira está em apuros. Muitas desapareceram, como a Swissair, por exemplo. A United e a Delta (e tantas outras) estão com problemas seríssimos! Aquelas que existem, existem porque têm um governo forte (europeu) por trás, como a British Airways, que recebe libras esterlinas para superar a crise e forte investimento da Airbus. E ainda conseguem subsídio de combustível da British Petroleum.

Por favor, se quiserem criticar uma organização maravilhosa e culta como a VARIG, que falha tão raramente, pelo menos o façam com delicadeza e saibam que por trás, assim como numa boa trama de Shakespeare, existem paredes que registram, ouvem e repetem, multiplicam, delatam impostores assim como o Rei Claudius, assassino do pai de Hamlet. Por que menciono o príncipe de Elsinore que era tão bom de palavras mas não conseguia ir para a ação? Porque a VARIG é o contrário! Na época do Tsunami, que acaba de completar um ano, ela mandou um avião para levar produtos, inclusive alimentos, para os sobreviventes. E não fez alarde disso. E isso é comovente!

Na época da ditadura ela fez milagres! Mas isso fica para um outro artigo. Um artigo que Zé Dirceu e Lula deveriam saber detalhadamente porque seus companheiros foram salvos pela VARIG!

Mas, assim como em Elsinor, no mundo politico brasileiro, onde as decisões são tomadas, tudo é podre como no reino da Dinamarca.

Gerald Thomas é diretor teatral. Mora em Nova Iorque e seu email é Dryopera@aol.com

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