New York– Como é fácil ir para Times Square e colocar a língua de fora para ridicularizar o “TEATRÃO”. Facílimo. Coisa que Alice Cooper e todos nós, do La MaMa e da Off Off Broadway, já fazemos há… milênios. Por isso nosso movimento se chama “off off”.
Agora, é preciso entender de onde vem aquilo que se chama de Broadway Musicals. O Musical da Broadway nasceu de um movimento americano que visava quebrar com a estática da Ópera Européia. Aquelas Arias longas e estáticas cantadas pelos obesos por horas a fio num idioma que ninguém entendia. A Broadway, em primeiro lugar, popularizou isso tudo.
O Sapateado vem de um movimento ‘paupérrimo’ negro. Tap dancing foi e ainda é uma das mais originais formas de expressão de milhares de pessoas. E é belíssimo! Quando bem feito é simplesmente belíssimo. De chorar. Claro, a Broadway incorpora tap dancing, jazz, canto, teatro falado, cenários gigantescos, estórias e histórias, ficções e adaptações, orquestras e pequenas bandas que numa soma geral das coisas formam um grupo de teatros que se aglomeram em torno dessa praça, a Times Square.
Ora, quem tanto preza o Carnaval e a carnavalização das coisas deveria entender uma coisa: O Sambódromo no Rio custou MILHÕES. Quando o Brizola encomendou ao Niemeyer aquele monstro de concreto, alguém ali foi “marginal”? Quando as mulatas desfilam pros turistas nos camarotes (que vem em vans protegidas dos hotéis da orla) e o LUXO EXAGERADO dos carros alegóricos… aquilo é o quê? Marginal?
Não sejamos ingênuos. Aquilo é a Broadway Brasileira! Não se rebelou contra nada europeu. Mas se construiu um folclore em cima do que existia e CRESCEU vertiginosamente e COMERCIALMENTE e, pimba! E quem há de negar que aquilo é lindo, deslumbrante, etc.? Eu sou o primeiro a chorar quando a Mangueira desfila, mesmo aqui de NY, sinto a vibração da Estação Primeira, aquela que eu subia quando adolescente com o Helio Oiticica e mais tarde com o Ivo Meirelles.
Ora, esses são os nossos mundos. Ninguém deve zombar deles. Principalmente alguém de teatro! Mas teatro? O que vem a ser isso?
Para alguns é uma questão meramente financeira. Para outros é uma questão de alma. Para outros é uma necessidade física. Ainda tem aquele que o pratica por um amor definitivo e químico-dependente. E uma parte pequena dele é composta pelos atores caça níqueis televisivos (esses sim) que acabam com tudo. Mas a maioria de quem pratica o faz por ser uma arte genuinamente franca e francamente CONTRA o Status Quo, porque é no palco que ainda se pode dizer tudo que se quer, com o lirismo que se quer, com o tempo que se quer, no tempo/espaço que se quer, na clausura e no liebestod que se quer.
O Teatro, assim como o Sambódromo (vazios), não é a representação de nada, necessariamente. Mas preenchidos, viram a interpretação do “TUDO” que somos, que fomos e, principalmente, daquilo que NÂO fomos e que NÃO somos. Isso torna o teatro uma somatória (um terreno) um tanto quanto “despido” (no bom sentido) daquilo que tememos ser quando não temos a coragem de nos olharmos no espelho.
A grande massa não quer saber das grandes questões. Isso eu notei no post sobre o Zé Celso e o Marcelo Drummond passando aqui por NY. Ninguém se interessou. Fodam-se! Se preferirem se dopar com a “noticia do dia” ou com música alta nos iPods e iPhones e in-Ter-net, e digitar textos ridículos em telefones celulares que nada significam, problema de vocês. Mas nada tem a ver com sermos marginais para sermos heróis! O marginal de hoje é uma merda. É um marginal que não sabe quem foi Genet, é um marginal que não sabe nada sobre 1968, é um marginal que não quer completar seus 30 anos! Preferem ter 10000 canais em suas televisões (o que é o mesmo que não ter nenhum!). Esses estão concubinatos com a matança geral da arte! E para aqueles que acreditam que meter a língua de fora, como se fosse a Serpente do Pecado (ha ha), não me façam rir, eles sim, estão matando algo frágil: a arte das artes!
Mesmo assim o teatro sobreviverá através das coisas que são GRANDES demais para serem percebidas ou PEQUENAS demais para serem notadas.
Gerald Thomas (Feliz Páscoa, ou Pessach, para todos!)
(O Vampiro de Curitiba na edição)