Como sempre, acabo me decepcionando profundamente. O post abaixo – me dado de presente por Sergio Penteado a partir de uma resposta ao leitor Tales (ou a um email mandado pro próprio Sergio) rendeu muito menos comentarios do que eu esperava. Mas isso ja era, de certa forma, esperado. Por que? Porque o artista brasileiro é COVARDE. Na hora de se posicionar, tem medo. Medo de perder sua "boquinha". Nao é assim na Argentina, nao é assim aqui nos USA, nao é assim em tantos outros paises do mundo onde "you put your money where your mouth is".
O problema é que nessa minha última temporada em São Paulo, ouvi esse ponto de vista – exposto no Blog – de INÚMEROS artistas (teatro, musica, literatura, etc). Mas na hora de colocar o nome…..aí fudeu ne? Que loucura! Que tristeza.
Posts muito menos importantes ideologicamente recebem 30, 60 e ate 111 comentários, como foi o caso do texto "NEGROS". Mas quando se entra no território ideologico e as pessoas percebem que "their own ass maybe on the line" ou seja, o cu delas pode estar na reta, ai EPA! Ninguem fala nada. Asssim como a minha avó nada falou quando os Nazis ja marchavam diante de sua casa em Regentenstrasse em Berlin apontando o dedo pra ela…..(em total "denial" ela achava que o antisemitismo era com os OUTROS e que iria "passar". Então, queridos e corajosos artistas: quando voces se virem censurados, castrados e projetos engavetados ou até agredidos pela patrulhas ATIVAMENTE ideológicas por esses loucos retrógrados e xenofóbicos, lembrem que vocês foram COVARDES no dia 21 e 22 de setembro de 2007.
O Brasil nao muda pela sua insistente PASSIVIDADE, apatia. Mas como vocês gostam de reclamar né? To be or not to be, THAT is the THE question.
Whether to take arms (or even verbal arms) against a sea of troubles and by opposing…..END THEM,
ENDGAME
Fail.Fail again. Fail Better.
Parabens pra voces
Gerald
Julian Beck, (1925-1985), ator e diretor teatral norte-americano e fundador da off-off Broadway Living Theater em 1947 com sua mulher, Judith Malina, e grande influência na vida de Gerald Thomas.
"A culpa é minha e Sua
New York – Quando eu ensaiava Julian Beck ja nos finalmentes da sua vida (num texto de Beckett que refletia isso) eu lhe perguntava "o que te anima a acordar todos os dias e continuar?". Julian dizia, assim como disse durante toda a existencia do seu Living Theater "Nasci pra mudar o mundo". Eu, Gerald, escrevo pra teatro, enceno pecas, escrevo colunas, berro pra la e pra ca pra tentar mudar alguma coisa. Essa coisa eh, em outras palavras, o mundo.
O leitor, o eleitor, o ser humano, eu e você, o Hamlet em todos nós simplesmente não agüentamos mais abrir os jornais todos os dias e concluir que "nada prova nada" (frase da peça Circo de Rins e Fígados). Escândalo após escândalo e essa corruptália deve estar rindo às nossas custas enquanto a gente fica aqui (ainda) impotente, sem as palavras, palavras, palavras hamletianas que tiraram a ação do nosso herói recém chegado ao castelo das intrigas, vindo da universidade de Wittenberg.
Mas a culpa é minha e é sua. Ficamos em casa surtando. Parece que temos um certo prazer em desenvolver um discurso omni-pleonástico sobre aqueles que conseguem se transfigurar em algo monstruoso como esses políticos de merda e seus cúmplices ou parentes. Não falo somente do Brasil. Falo da indústria da corrupção, obviamente. O Iraque não foi destruído a toa. Não sei se vocês lembram que 21 paises se reuniram na Espanha (há 2 anos, será?) para entrar no pool da "reconstrução" do Iraque. Ora!
Votar e ler as ótimas colunas do Jabor, do Zuenir, do Gabeira ou do Gaspari não são suficientes, caramba! Movam-se. A palavra "militância" sumiu do vocabulário brasileiro. É fácil fazer uma passeatazinha na Av. Paulista quando se quer um salário melhor, ou quando o Bush está no Brasil e se portam cartazes pra nada "BUSH GO HOME". Pra que? Para ele voltar para cá, pro Salão Oval e fazer o quê?
Vocês votam, lêem colunas e vão a praia ou, dependendo da cidade, se encontram num restaurante e comentam que realmente a situação chegou no limite. Aqui é igual. Em NY as pessoas pensam em "desancorar" Manhattan" e deixá-la flutuar em direção a Groenlândia…..O pavor que Washington representa hoje em dia é simplesmente incrível, mesmo com a promessa de um Barak Obama no futuro, sei lá.
Mas e a militância? Perguntem a um Arthur Geraldo Bonfim de Paula, ex-preso político da Bahia com o qual eu me correspondia de Londres na década de setenta? Onde está a coragem dessa juventude dopaminada/alienada sem propósitos e unicamente com fins consumistas olhando pros seus próprios umbigos (sem a mínima noção da história), olhando para as vitrines dos shoppings, que vergonha!
Vão pra rua, caramba. Se organizem. É assim que o Sr. Inácio subiu ao poder, e ali estacionou e ali recuou. Pérolas aos porcos. Hamlet morre no final e O Fortinbras (jogo de palavras com contraregra) entra e diz que o resto é silêncio:
Não. Não é silêncio porra nenhuma. Os argentinos berram! Os venezuelanos, divididos, vão pras ruas. Mesmo os brasileiros da era Collor, se juntaram e asfaltaram a terra.
Quantos escândalos vocês ainda terão que agüentar até que vossos endocrinologistas/psiquiatras lhes coloquem no paredão: Chega de resmungar: vamos a ação!
Querem morfina na veia ou vamos acordar e tomar uma atitude, justamente aquela que Hamlet não tomou ao não vingar a morte do pai?"
(Gerald Thomas em honra aos 22 anos de morte de Julian Beck)
Escrito por Gerald Thomas neste blog em 24/06/07"
Comentário do leitor Jorge Queiroz
É triste, desanimador perceber-se que aqueles que entregam sua vida a um ideal são incapazes de fazê-lo com as questões reais do nosso país e atuam na mesma linha venal que você condena corretamente. Temos muito o que aprender como povo.
…e do Contrera
Gerald, querido não creio que muitos do que entram aqui fiquem receosos de perder algo por se posicionarem a respeito do que vc e o ruy dizem. creio, sim, que alguns não se posicionam para não se comprometerem com algo que possa colocá-los contra "vacas sagradas" (e aí eles poderiam perder alguma coisa). no caso dos que entram no blog, vc deve saber quem é quem. se o que sempre esteve em discussão aqui foi o patrocínio de projetos culturais, não posso (ainda) polemizar com meu sangue. pois não tive até agora um projeto desse tipo disputando com os maiorais/minorais das panelinhas do setor. mas vejo, sim, sempre uma penca de "amiguinhos" aprovando sem parar projetos muitas vezes irrelevantes, artisticamente falando. é por isso que eu reluto muito em assistir espetáculos por aí. pois em geral são Cias e não Companhias, me entende.
Carlos também comenta
Gerald, eu pergunto: vocês que trabalham com teatro tem contatos com um mundo de pessoas, sejam criadores, atores, autores, técnicos, etc. Há um grupo de umas 10 pessoas que tem escrito continuamente aqui. TODAS as mensagens que leio desse pequeno grupo são no mínimo bastante sinceras e altamente relevantes. Agora, cadê o resto do pessoal? Fora um ou outro ator, não se lê nada dessa patota e de mais ninguém. Jovens? Onde? E mais, aposto que de 500 projetos enviados ao MinC, 480 são sim sobre esse Brasil "eminentemente rural, agreste, rebolante" que a Marina Solomon bem escreveu. Não é só de cima pra baixo. A realidade é que pensar Cultura e Educação, pra variar, não dá em nada. Os blogs apenas refletem o que já acontece lá fora. E nesse seu blog em particular, essas mensagens são, infelizmente, apenas murmúrios em meio a cacofonia de um enorme rebanho que corre pateticamente de um lado pro outro sem se dar conta que já virou bife há muito tempo.
Sergio Penteado responde…
Gerald,
Eu acho profundamente sintomático de nossos tempos de "medo enganado pela esperança" que em épocas de fervor pré-eleitoral consigamos encontrar trocentos artistas engajados em campanhas (normalmente as ligadas aos partidos com maior representatividade e recursos), e, em um momento como este que estamos vivendo hoje, a tônica, (exceto por alguns guerrilheiros culturais como você, que não depende de recursos ou verbas oficiais e rala pra poder montar seus espetáculos com dignidade), digo a TÔNICA é a de enfiar a cabeça num buraco feito avestruz e agir com aquele comportamento de "eu não tenho nada a ver com isso".
E gostei que você mencionasse o exemplo de sua avó.
Somos mesmo muito imaturos ainda como país – sei que vai ter gente contra a minha opinião,como sempre – mas esse ponto de vista pra mim é mais e mais reforçado pela nossa omissão e inação, até mesmo pra berrar ou escrever.
Não criamos ainda uma tradição, uma história de afirmação de valores democráticos, uma cultura efetivamente ética e contra corrupção.Hoje os antigos dinossauros moralistas se lambuzam no poder, culpam a imprensa e querem que calemos a boca, sob a pecha de "golpistas". E artista que se preza tem de ser de esquerda, mesmo que essa definição pra valer tenha virado pó ! E a massa que não se levanta ?
A massa em geral vê o "Estado" como um ente divino e milagreiro, não um repassador dos impostos que pagamos, e que não tem o dever de servir quem o banca, e sim ser servido e bancado pelo povo, numa total inversão de valores republicanos. Enquanto ficamos deitados em berço esplêndido esperando a grama crescer, aguardamos que o "milagre" ser produza por geração espontânea, ou por um "networking" típico do cabide de empregos das grandes corporações (as públicas). Mas pra isso tem que ficar quietinho e manter o "brown nose", já que os fins justificam os meios. É o antigo pragmatismo do Paulo Maluf que hoje pode ser Paulo Betti, o de meter a mão na m…(e toma-lá-dá-cá)
Mau Fonseca se manifesta…
Gerald, todos que debatem aqui diariamente entendem o que vc diz e ressalta indignado. O problema é que a "classe artística" do Brasil é composta desses: atores, cantores, produtores, populares, que entendem a ARTE como meio de ganhar dinheiro. PRA ESSES Arte é um trabalho remunerador, que deve ser lucrativo, seja qual forma for, seja por dinheiro estatal ou sei la como. Outra coisa, nossa classe artistisca de um modo geral é composta por gente do teatro, TV, música, enfim, que nao se preocupa com conteudo, mas sempre com AUDIENCIA E PUBLICO. São esses artistas que fazem lobby pra TV, RADIO, PUBLICIDADE, se prostituem cobrando cache de 10 a 100 mil pra participarem de festas (festa do peao, festa de político, festa de socialite) e ainda reclamam (cantores) da pirataria que esta levando a grana toda que eles deveriam embossar. Muitos sao "artistas" que saíram das classes pobres e se dislumbram com a riqueza e a midia (compram mansoes e carroes) e ostentam em revistas de celebridades.
de Peter Punk
Ei , Gerald , ainda bem que vc deu continuidade a essa reflexao sobre a cultura e o estado. Mais do que a falta de coragem de botar a cara pra fora, a nao resposta a isso mostra a falta de importancia dada a esse tema . Nem todos que andam por aqui como lembrou o Carlos tem ligacao com isso. E eh isso !!. Como alguem que anda justo por aqui pode nao perceber a relevancia do tema?! Cultura eh o que nos resta , uma esperanca de que isso aqui venha a ser o que a sua melhor producao artistica prometeu e promete!! E quando vemos , como disse Ruy a entrega do dinheiro publico na mao de diretores de marketing das super empresas para decidir o que vai ser patrocinado!! Ou diretores fantasticos , fazendo justamente esse jogo e criando espetaculos que seguem a cartilha do governo.. como nao gritar contra isso?! O lixo que todos engolem na suposicao de que eh isso que a massa gosta e precisa ja eh foda.Agora quem julgava independente fazer o jogo.. enfim.. vamos acordar!!
Peter Punk
…da Sonia Lopes Soares
Há muito tempo a distribuição de verbas é equivocada. De um lado a iniciativa privada conduzida por marqueteiros que absolutamente não se importam com arte e cultura, que usam e usufruem das leis de incentivo, produzindo espetáculos sem qualidade e carérrrimos, e os órgãos públicos com seus editais estaduais e municipais que exigem inúmeras contrapartidas sociais, como se a criação em si não fosse suficiente, que te obrigam a enumerar e colocar em etapas o seu processo criativo argumentando, justificando, e quando finalmente parece que tudo terminou mais um item aparece, mais uma assinatura é exigida, enfim isso tudo passa a ser a grande criação, tentar se encaixar e convencer o julgamento de quem mesmo? Ou será que a intenção é desistir no meio do caminho? Vejo claramente o nível baixíssimo das produções, a pressa da criação dos artistas para que possam participar do próximo edital, da distribuição da próxima migalha. Será que é por isso o silêncio dos artistas?
Sonia Lopes Soares
Obs. : Infelizmente, por falta de espaço físico ficou impossível publicar todos os ótimos comentários posteriores (Ruy Filho, Luiz Lago, Tales, Célia, etc.), mas não deixem de lê-los porque são altamente estimulantes!