Monthly Archives: August 2007

por Rodrigo Contrera

os comentários da ana peluso me acordaram, há alguns dias, face a tarefa de jogar a bola pra frente nos espetáculos do gerald. e agora topo a parada. tendo visto sei lá quantas vezes Terra em trânsito, decorado partes, agasalhado novas sacadas, a emoção em mim sempre surge quando a fabi, divina quase sempre, diz "esta é a terra em trânsito, sempre em movimento", etc., e surge a ária (é ária?) de tristão e isolda, quando isolda grita um grito desumano, e fabi morre no próprio grito, engolindo a si mesma, nesse egolatrismo desmedido de quem se vê sempre no centro de um tudo que é nada. mas eis que em rainha mentira o papo é outro, todo um lamento, toda uma queda, diversas quedas, aliás, todo um lamento de um filho que se admite fraco, e põe fraco nisso, face a história de uma mãe perseguida por tramas e tramas, e dores, sabendo-se para sempre culpado. por quê? pois entre eles havia, sempre houve, também uma lacuna, uma parede, um sei lá, um inominável. um inominável que faz o filho escrever, e encenar, e recuperar a história da mãe. contrapontos não valem aqui, o que importa é que, se em terra em trânsito a escapatória não existe, em rainha mentira ao menos há a assunção de lamentos, a encarnação pela fabi de uma mãe que apenas podemos imaginar, está morta, morreu em 7 de agosto de 2006, e que agora tornou-se o encanto de uma peça. em terra em trânsito a esesperança está na própria circularidade do universo em chamas, em rainha mentira as lágrimas sobem e somem, e embora as torres permaneçam na lembrança é a trajetória de sofrimento, um sofrimento honesto, que se torna eterna. até há pouco, rainha mentira estava encalacrada em meu feeling, dado que não aceitava, em mim, jogar a peteca para trás, para aqueles que nos geraram, em bens e males, mas agora, com o gerald, sou mais uma vez provocado a voltar, a retornar àquilo que ouso não avaliar, como homem feito.
obrigado, gerald, querido.
Contrera

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indo de volta pra NY

Atores dos workshops, colaboradors aqui do BLOG, muitissimo obrigado por tudo. Muitissimo obrigado mesmo. Estou indo hoje, mas com uma pedra entalada no pesccoco, com um discurso la do Cine odeon, no Rio entalado nos meus ouvidos…..um fascismo se instala no pais: seguindo as regras de Goebbles, nos mesmos moldes do Nazismo ou de qualquer totalitarismo: Amo esse pais. Detesto TER que ama-lo. O fedelho que me acostou no Rio tem nome e, gracas a um deus qualquer eu soube que ja foi expulso do Oficina varias vezes. Nem la eles aguentam frustradinhos de fralda. "Quem sabe faz a hora e nao espera acontecer"
Vou sentir uma enorme saudade de voces. Tanto TALENTO e tao pouco tempo. Pouco tempo pra sentar e se conhecer melhor. Fica pra proxima. Estarei de volta soon.
LOVE
Gerald

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muito obrigado ao pessoal

dos workshops de Sao Paulo e do Rio (que vieram pros ultimos dias do espetaculo: isso me comove! A reuniao com todos voces hoje de manha foi genial! E dara num projeto. Escrevi pr'aqueles que me deixaram email. Muitissimo obrigado. Voces eh que fazem o teatro!
LOVE
Gerald

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Eu, Gerald, pareco acreditar mais no Brasil do que o proprio ministro da cultura

Gilberto Gil e Torquato Neto)

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir
Entre cascatas, palmeiras
Araçás e bananeiras
Ao canto da juriti

Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte
Olelê, lalá

A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender
Olelê, lalá

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

de Sergio Penteado

O endereço de uma entrevista do Ministro Gilbero Gil (Um dia chanceler…)à revista "Carta Capital", publicada no site "vermelho" (êita nomezinho), mostra sua visão a respeito da cultura e do país a partir da prevalescente ótica (ou ética) de governar. Foi dada no início de 2006, e não acredito que tenha mudado, a não ser por alguma estratégia defensiva ou contenda a posteriori com Caetano Veloso que, de resto, havia afirmado que governos que não aceitam críticas estão "a um passo do totalitarismo". E tinha toda razão.
A conferir em : http://www.vermelho.org.br/diario/2006/0114/0114_gil-cartacapital.asp.
Pra resumir, continuo amando o Gil de meus velhos discos de vinil, a musicalidade de sua voz, a poesia, restringem-se àquele álbum de fotos na parede que mencionei a você antes, Gerald (a negação da persona através do resgate do passado). Mas, no caso dele, fico só com o álbum, esse cara que ta aí para mim é alguém completamente diferente de meu antigo ídolo de outrora…

Sérgio

pelo Carlos
Não poderia concordar mais com as mensagens aqui deixadas por todos vocês. Todas brilhantes. Sobre Gilberto Gil: assim como tantos outros, ele simplesmente não era pra estar lá. É simples. Gil poderia falar o que quisesse, contradizer-se como quisesse, viajar o quanto quisesse, tagarelar, cochilar, escrever letras sobre aqui, ali, Haiti. Só o que não poderia era exercer a função que exerce. Nunca houve plano, nunca houve planejamento, só o que houve foi uma imagem e um jogo de egos chato demais. No mais, mando lenha na fogueira: o cinema é uma arte cara demais. Cara ao extremo. Ao ponto do desnecessário e ridículo. Hollywood não é modelo pra nada, apenas de um 'disease' que nós brasileiros e talvez o mundo inteiro aceita e aplaude. E o discurso dos cineastas brasileiros, com algumas excessões(?), é: GRANA pra gente, somos a cultura. Mentira. A '''indústria''' do cinema morre pelo próprio nome: indústria. Jonas Mekas está fazendo 'um filme por dia'. Pequenos clipes. Ótimo.
Carlos

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UnGlauber : que homenagem de merda!

Ditadura? Que nojo!

Ja vi esse filme! Estavamos em pleno palco do Cine Odeon, no Rio. Ontem, segunda, 27 para comemorar ninguem menos que o genial, meu idolo Glauber Rocha (nao eh a toa que tenho um espetaculo – 1994 – chamado UnGlauber e o atual chamado Terra em Transito). Na mesa de "debates" (debates porra nenhuma: uma mesa de clichés politicos e demagogicos! "o povo" pra la e "o povo" pra ca, era o que se mais ouvia. Enfim, nessa mesa estavam L C Barreto (a quem eu carinhosamente chamo de "chefe" e Orlando Senna que tem cara de PODER – que medo! (!!!) e Erik Rocha, o genial filho de Glauber, o Digno, maravilhoso Zozimo Bubul e um diretor de Cabo Verde, cujo nome nao me recordo.

Fui chamado pela Paula Gaitan para ler o texto de Glauber "tricontinental" e assim o fiz. Depois disso me calaram!

Eis que de repente comeco a ouvir, da mesa e adjacencias: "o inperialismo americano" nao nos deixa…..ou entao: "todas as salas de cinema do pais DEVERIAM estar exibindo Glauber"

Perai! Perai! CINEMA Obrigatorio??????? Ja vi esse filme. No Terceiro Reich foi assim. Leni Riefenstahl. Sim, todos de bracos erguidos, punhos fechados ou palmas ao ar, nao faz a menor diferenca: o FASCISMO me amedronta! Seja ele de direita ou de esquerda, O TOTALITARISMO eh um horror! Mas temo que, ate num momento como esse, seja conveniente que o Barretao compre o discurso do nosso Chavez nacional porque o Barreto se acomoda aos Barraventos do momento, ao Terra em Transe do momento: eh como lhe melhor convem, nao eh querido??????

Ainda bem que nao preciso fazer cinema aqui. Ah sim, um fedelho do Oficina me "cobra" na porta (depois que joguei o microfone no chao) "porque voce nao assume o seu verdadeiro nome, Geraldo? Ja que voce esta no Brasil????"

Olha so o estado delirante de XENOFOBIA em que estamos chegando!

E Glauber? Glauber eh um nome brasileiro?? Em alemao Glauber quer dizer "acreditar, crer". Perguntei o nome do fedelho. Me fez rir. So podia ser um plano mal tracado de um ator mal empregado.

Desculpe Glauber: voce merecia melhor.
LOVE
Gerald


de Sergio Penteado
Geraldo ? QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ !!! Fala sério ! ANAUÊ ÜBER ALLES, falta só o pirralho anãozinho do Oficina tirar a camiseta do Che Guevara e colocar no lugar uma de galinha verde-integralista, ou mesmo negra, de fascistinha do Teatro e da Cultura! Chamar você de "Geraldo" é uma tradução mais mal feita do que aquelas que procuram explicar o enredo do filme, como mudar de "Blow Up" para "Depois daquele beijo", querer que "The Graduate" seja "A primeira noite de um homem", "Forrest Gump" o "Contador de histórias" e por aí vai… Não sei por quê você ficou quieto na hora, ao invés de atirar o microfone no chão,poderia ter respondido ao pigmeu"actor commitment" da oficina que tenta consertar o mundo que só seria GERALDO se ele TOMÁS no meio de ele sabe onde… Esse mundo tá mesmo cheio de críticos e de moralistas político-ideológicos,parece que para cada pessoa de talento que aparece eles conseguem encher um ônibus de comissários. O exemplo vem de cima,Lula tem 130.000 comissionados.
Sérgio

e do Peter
Gerald , que merda heim!!A festa do cinema …alguem devia ter dito que pro Glauber cinema era John Ford !!Ele dizia isso sempre.!!… Essa apropriação e manipulaçao do discurso anos 60 num momento inteiramente diverso eh uma sacanagem , ate , com quem viveu aquele tempo.. esse recalque e raiva dos EUA pela nossa incompetencia… falar sempre de complo de elites quando o cerco aperta…toda essa mediocridade que chega ao ponto de vc ser interpelado de forma canhestra.. eh muita burrice de uns , malandragem de outros e ignorância de muuitos….essa reuniaõ eh um retrato da parte da nossa cultura que eh atrelada a esse pensamento. Bem , o millor disse: não gosto da direita porque eh de direita e não gosto da esquerda porque eh de direita!!Hoje, pra mim , faz muito sentido.
peter punk
e do Mau Fonseca
E já pensou se o Paulo Coelho virasse Paulo Rabbit no USA e o Sepultura mudasse para GRAVE. Bom, eu poderia ser Maurice ou Mauricê (afranceizando a coisa) e quem Sharon Pedreira. Ah que comentário besta este meu. Paulo Rabbit até que soava legal, quem sabe parariam de chamá-lo de escritor bagaceira de auto ajuda com panca. Nem sei mais o que falo.
Mau

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Não perca – Última chance!

Últimas apresentações!
Rainha Mentira e Terra em Trânsito
Amanhã, TERÇA-FEIRA
e QUARTA,
no SESC Consolação
às 21h
(com intervalo de quinze minutos entre as peças)

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Trecho do Workshop de Gerald Thomas na CAL – RJ – por Jorge Schweitzer

Mais Jorge Schweitzer: http://br.youtube.com/user/taxiemmovimento

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mais sobre taxis, pelo Carlos

Lamento deixar o post sobre racismo de lado. Como eu disse, perdeu 'ibope' no 'fast-pace' tabloidal dos blogs. Mas deixo aqui um protesto contra os taxistas de RECIFE: acabo de falar com um amigo americano que fala português e conhece tudo sobre o Brasil e que foi para Recife há 3 dias. O abutre-humano, ou seja, o taxista de Recife, queria quatro vezes mais o valor da viagem. Meu amigo, que sabia quanto deveria ser o preço, protestou e os xingatórios vindos da besta-humana, ou seja, o taxista de Recife, quase acabaram em luta corporal porque ele, ou seja, o animal-humano, ou seja, o taxista de Recife, é um estúpido. Não estou generalizando, mas se tem algo que é odioso são esses aproveitadores safados. Essa gente que acha que só porque o outro não é local, deve ser sacaneado. Falei pro meu amigo que eu, vindo de SP, também poderia ter sido sacaneado pelo lixo-humano, ou seja, o taxista de Recife, ao perceber que eu não era da área. A esses vermes eu digo: parem com isso, COVARDES.
Carlos

PS do Gerald
Poxa Carlos, venha ver os espetaculos!!!! Vc eh de SP . Semana que vem eh a ultima!

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por tudo, muito obrigado

Ontem, anteontem, muito obrigado! Quem esteve ontem la viu Paulo Autran na plateia, Que loucura e que privilegio. Os espetaculos "estouraram", apesar de um ou dois "engracadinhos" mandados por alguem quererem causar algum disturbio. Mas nao adianta. Ninguem nos perturba, Ninguem. Quero tambem agradecer ao pessoal dos workshops, tanto de Sampa quanto os da Cal no Rio e os comentaristas do Blog. Estou propondo a varias editoras a possibilidade de editar um livro a partir dos textos lancados aqui (chamado Blog) com seus respectivos comentarios: renda iria pralguma instituicao que fosse de comum acordo sei la, ou distribuido de graca, Mas os comentarios estao de tal nivel maravilhosos e o trabalho os workshops de tal nivel encorajador que convido numa breve oportunidade o Ministro Gil (com quem estarei numa mesa por oportunidade do lancamento sobre um filme sobre o GLORIOSO GLauber Rocha no cine Odeon, as 7 da noite na seguna proxima no Rio), a ver o que rola ali entre alunos e entusiastas e militantes de teatro!
VIVA VOCES queridos!
A "coisa" esta acontecendo. Se voces escrevem me agradecendo porque viram o espetaculo da coxia, eu eh que replico: quem agradece sou eu: voces eh quem nos fazem vibrar!!!!!
LOVE
Gerald

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ultimos dias do espetáculo: nao percam!

Rainha Mentira e Terra em Trânsito, hoje (terça) e amanhã (quarta) no SESC Consolação às 21h ( sempre e unicamente às terças e quartas-feiras).
PARTIMOS pras DUAS ÚLTIMAS SEMANAS!!!! Pena, mas eh assim.
Gerald

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A IMPORTÂNCIA DE SER FIEL

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TRISTES TÁXIS DE SÃO PAULO

.
Rio – Não sei mais o que se espera de nós, indivíduos, artistas, solitários, civís hostis ao status quo do que chamamos de classe "merdia". Reclamamos, apontamos sempre o dedo e procuramos o culpado no "outro", digo na política, seja nas autoridades próximas como policiais corruptos e racistas ou presidentes e senadores ou esses poderosos e lobistas lucristas cuja única finalidade é a exploração e a humilhação da massa humana.

Mas qual é o politico ou presidente que deu certo e que fez com que o brasileiro estampasse um sorriso em sua cara? Collor? Ou aqueles graduados em Harvard, Yale ou os generais da ditadura? Qual é o modelo que vocês esperam, já que o movimento do momento se chama "cansei" (como se Macunaima já não tivesse nascido cansado. Esse ícone da literatura brasileira, de Mario de Andrade, já nasce bocejando). Preguiça e exploração. Se Karl Marx tivesse emigrado para cá, ao invés de ter ido para Inglaterra, o seu Das Capital teria se chamado Das Canalhal.

Um exemplo pequeno mas que me irrita e que nada tem a ver com o Lula: saída de São Paulo: inacreditável. Todas as vezes que pego um taxi para Cumbica me encontro na mesma posição de perplexidade, custo: o taxímentro mostra 97 Reais mas tem a "taxa extra" de se estar "ingressando" no Municipio de Guarulhos. Ora, que absurdo! Cumbica é o aeroporto internacional de São Paulo e eu estou pouco me lixando em que Município fica. Tanto é que, quando se pega o mesmo taxi na direção oposta, a taxa é fixa em 95 reais e pronto: não tem esse papo de se "estar ingressando no Municipio de São Paulo".

E por essa "imigração", paga-se 40 a 50 % a mais. Ou seja, já cheguei a pagar 140 Reais numa corrida num Corsinha ou num Gol de merda, sem seguranca alguma, sem air bag lateral, naquela "Marginal" de dar medo e "cruzar" a fronteira do município de Guarulhos, quando em NY a taxa é fixa em U$ 45 e pronto, num enorme carro como o Crown Victoria ou o Lincoln Town Car. Pior, o aeroproto JFK ou o de Newark são mais ou menos a mesma distância de Manhattan que Cumbica é de São Paulo, mas o salário mínimo no Estado de Nova York é pelo menos 17 vezes maior do que o de São Paulo: então, como pode uma coisa dessas, sendo que o asfalto dessa "Marginal", desnivelado como é, tende a nos jogar pra cima dos postes (não, no mundo civilizado, não há mais postes, pois os fios estao enterrados ha décadas, os transformadores também), e esses postes, de dez em dez metros, ficam bem ali, na mira dos autos, na mira daquele Corsinha e eu me vejo espremido contra um banco com a perna pra cima ouvindo uma lorota qualquer do motorista levando aquele bafo de oleo diesel – aquela poluição inacreditável de SP – e lá … aqueles postes!

Mas ninguém fala nada sobre os tristes táxis broncos de SP, sem vida, sem cor. Brancos broncos, assim como na minha coluna anterior, falta sangue, falta cor, falta identidade a eles. Estou no Rio nesse momento onde os táxis, como o de Jorge Schweitzer por exemplo, um bloggeiro que me lembrou da maravilhosa heroina negra Rosa Parks (que faltou no meu artigo passado), onde os táxis são amarelos mais ou menos como os de NY. Ou em Londres, onde os Winchesters são altos e negros e lembram as carroças puxadas a cavalo e onde sentam cinco se quiserem. O preco de Heathrow para Central London é mais ou menos 45 pounds. Isso equivale a 220 reais , mas isso no país mais caro pelo qual passamos com frequência (onde parar o carro num parquímetro pode custar 2 pounds por 20 minutos em Londres central) é razoavel.

São Paulo é mais cara do que muitas capitais de primeiro mundo, mas, por exemplo, ao contrário do primeiro mundo, não se tem metrô para andar de dois em dois quarteirões. Não se pode andar a pé, pois as calçadas são feitas por essa maldita calçada portuguesa (arredondada por cima e não fixada no cimento por baixo) e, na primeira grande chuva, criam-se desnivelamentos horríveis, buracos imensos. O preço nos restaurantes está igual ao dos países de primeiro mundo e estão lotados. Todos lotados, desde os da Rua Amauri até os da Fronteira com o Cemitério (a mais nova moda), sem falar nos tradicionais dos jardins, enfim, tudo sempre lotado e a alta burguesia reclamando muitissimo do governo achando tudo uma vergonha.

Reclamar é o direito de cada um. Mas no Brasil virou folclore. Ou melhor, folKlore , com o K de Kafka. Estou no meio das apresentações dos espetáculos em SP e, num domingo, dando workhop na CAL no Rio. Muita gente talentosa, muita gente que não reclama e que se emociona com o que faz. Digo pra eles que o artista vive no risco e do risco e por isso tem que se afastar da baboseira e mergulhar em sua solidão, em sua dor.

Mas uma vez dito isso, vocês simplesmente não tem ideia do que é essa imensa solidão, digo, esse imenso vazio que é chegar num quarto de hotel e querer berrar, de olhar pras paredes e acabar num choro convulsivo depois de ter compartilhado a tarde com 60 pessoas maravilhosas, trocando informações, dando um workshop intenso, dinâmico, fulminantemente desgastante e dolorido mas daquela dor gostosa. E agora a dor do vazio, a dor pós-parto. Terrível. Justamente aquilo que prego nos workshops. Daqui sai coisa. Não sei se boa ou ruim, mas alguma coisa sai. Não adianta se anestesiar com tranquilizantes ou algo semelhante. Não há nada pior que o nosso tamanho perante a imensidão do nada, das respostas não recebidas, do ódio gratuito, da imagem preconcebida, dos olhares desconfiados por causa da história que nos acompanha. É por isso que leio os comentários, é por isso que não me encanto mais com políticos do bem ou do mal porque conheço a história do mundo.

Não nascemos ontem. Nem anteontem. Vivemos várias diásporas e sabemos que a vida é um eterno murmúrio desde o berço até o túmulo.
Gerald Thomas
do diretodaredacao.com

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comentario avulso de Sergio Penteado sobre o taxi do Jorge

[Sérgio] [São Paulo, SP, Brasil]

Existe a opção de assistir o vídeo aqui no blog, pelo site do Jorge abaixo indicado ou diretamente pelo YouTube, que é : http://youtube.com/watch?v=2Z3cVfvbU1o. Com pouco menos de oito minutos de papo rolando, não deu pra acompanhar o desfecho da conversa sobre o atentado da Rua Toneleiros ao Carlos Lacerda, que implicou Getúlio Vargas, através de seu "sombra" Gregório Fortunato em 1954, que, por sinal, ano de nascimento do Gerald e um ano antes do nascimento do Jorge. Entendi o que o Jorge quis introduzir, um paralelo que colocasse na cena do crime do Celso Daniel, através do "Sérgio Sombra" proeminentes figuras do PT, Zé Dirceu ou até mesmo Lula… Isso o Rio tem de legal, em um espaço topográfico relativamente reduzido, um bom passeio nos leva a fatos recentes interessantes na História do Brasil e cenários muito bacanas dentro de um táxi. É por isso que mencionei a alternativa do YouTube, quem quiser assistir por lá vai ver todos os links de outros filmes do "Taxi em Movimento".
Sergio Penteado

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Taxi em Movimento – Jorge Schweitzer carrega Gerald Thomas

Blog do Jorge:http://jorgeschweitzer.spaces.live.com/

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tristeza total

voces simplesmente nao tem ideia do que eh essa imensa solidao. Digo, esse imenso vazio que eh chegar num quarto de hotel e querer berrar, de olhar pras paredes e acabar num choro convulsivo depois de ter compartilhado a tarde com 60 pessoas MARAVILHOSAS na CAL, trocando informacoes, dando um workshop maravilhoso, dinamico, fulminantemente desgastante e dolorido mas daquela dor gostosa. E agora a dor do vazio, a dor pos parto. Terrivel. Justamente aquilo que prego nos workshops: segura a onda.Daqui sai coisa. Nao sei se boa ou ruim, mas alguma COISA sai. Nao adianta se anestesiar com tranquilizantes ou algo semelhante. Nao ha nada pior que o nosso tamanho perante a imensidao do nada, das respostas nao recebidas, do odio gratuito, da imagem preconcebida, dos olhares desconfiados por causa da historia que nos acompanha.
De noite num quarto de hotel ou vai ou racha! Essa noite se improvisa.

Gerald

Olha que comentario LINDO (domingo, dia seguinte)
[Luciana]
Fiquei boquiaberta com Terra em Trânsito e Rainha da Mentira e estava procurando alguma resposta para aquele inominável vc expressa ali. Não posso saber o tamanho da sua solidão, mas ela nomeou, de alguma forma, a minha, o meu trauma, eu chorei copiosamente do fim da peça até minha casa e muito tempo depois. Vc não imagina o q é estar dentro da solidão dos seus afetos e memórias e castrofes pessoais e coletivas, "muda" e chegar num teatro onde uma peça consegue falar o que não dá para calar, mas não dá pra dizer, por que não dá nem para saber, é insuportável. Rainha da Mentira me atingiu, aqui, no fundo mais fundo. E quando a atriz fica em frente às Torres Gêmeas de livros e vc diz que não há literatura que as reconstrua, eu me lembrei daquela frase de Adorno "Depois de Auschwitz escrever poesia é um ato de barbárie". Não tenho respostas,é duro, muito duro, mas parece q sem catátrofe não há reperentação. SERÁ?Só sei q preciso agracecer às peças, à vc e q loucura!: à sua solidão.
Luciana

PS do Gerald: Quem eh voce Luciana? Escreve pra Dryopera@aol.com

Eu, Gerald, voltando de um workshop de quase OITO horas maravilhosas na CAL aqui no Rio me deparo com os comentarios incriveis deixados por voces e decido publicar um genial de alguem que nao conheco:
'ai vai
[Daisy Carvalho] [RJ]
Olá, querido Thomas! 🙂 Me acanho em dizer, tomando seu tempo precioso, que de toda sua performance vital, extraí, em primeiro lugar, coragem para experimentar o nada e a solidão como como forma de expressão ativa ante os inimigos, os donos -cavaleiros negros- do anátema, do apocalipse de mim mesma. Você é como uma súbita reinvenção da vida através dos palcos, essa dramaturgia muitas vezes imcompreendida ou, tão compreendida que chegou a assustar. Você é minha inspiração em momentos que rabisco minha tímida dramaturgia. Gerald, vc abala na geral, no camarote e no estoicismo bárbaro do poeta solitário, do dramaturgo afoito, do ser humano único. Voltaire disse e eu te digo "O estado de dúvida não é muito agradável, mas o de certeza é ridículo." Beijo! Merda! Sempre!

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boa ideia a do Mau Fonseca

a de escrever um espetaculo em torno ou a partir dos 70 e poucos cometarios gerados pelo artigo "Negros".
G

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o comentario debaixo da coluna Negros

esta comovente
preciso achar alguem que publique isso: alguem que se interesse em ter essa documentacao.
A essas alturas o artigo nem eh mais o que interessa, mas sim o que voces escreveram em torno dele. Mais uma vez obrigado.
Ah, entram alguns comentarios atraves do diretodaredacao.com que infelizmente nao estao conectados com esse blog
G

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os Taxis de S Paulo e os comentarios na coluna Negros

Saida de Sao Paulo: inacreditavel. Todas as vezes em que pego um taxi pra Cumbica me encontro na mesma posicao de perplexidade. O custo: o taximentro mostra 97 Reais mas tem a "taxa extra:" de se estar ingressando no Municipio de Guarulhos. Que absurdo. E por isso, paga-se de 40 a 50 % a mais. Ou seja, ja cheguei a pagar 140 Reais numa corrida num Corsinha ou num Gol de merda, sem seguranca alguma, sem air bag lateral, naquela "marginal" de dar medo e "cruzar" a fronteira do municipio de Guarulhos, quando em NY a taxa eh fixa em U$ 45 e pronto.
Isso no yellow cab. Mas posso ligar pro Dail 7 ou pra qualquer outro servico de limosine que me pega em casa por 5 dolares a mais. Ainda assim fica pela metade do preco de Sao Paulo e com conforto e seguranca, sabendo que os pneus estao seguros e que nao tem poste plantado a cada 10 metros com transfornadores e fios e cabos e mais cabos e um rio Tiete pra ser jogado caso alguma derrapada…..
Porque isso?????
E nenhum metro de verdade?
Que cidade eh essa>
Ate quando vao aguentar ficar 2 horas no transito sem berrar?????
Ou melhor, berrando??????
Enquanto isso, aqui no Rio…..
Gerald

meu cisne de Terra em Transito comenta
…eu tenho um gol de merda…e não é um gol 1000 feito por Pelé ou Romário, mas é meu Gol 1.6 e daí?! Se eu tivesse condições eu tinha comprado um BMW. Que fique claro que sou totalmente contra a falta de profissionalismo dos taxistas em São Paulo, que andou de ´black cab´ em Londres sabe ao que me refiro. Porque? Por que nossa sociedade é preparada para ganhar dinheiro imediatamente…sem pensar nas próximas gerações, não sacrificamos nosso dia-a-dia em nome das próximas gerações…
Pancho Cappeletti

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por Alberto Guzik parte 1

Fiz ontem o que queria ter feito na terça da semana passada, quando uma gripe feroz me abateu. Fui ver a dupla de espetáculos de Gerald Thomas, "Terra em Trânsito" e "Rainha Mentira", lá no Teatro Sesc Anchieta. Saí ventando da última aula, pouco antes das nove, e cheguei ao teatro quando já soava o primeiro sinal. Os queridos Ivam e Rodolfo estavam lá também, assim como a Maria Ana, a Ângela Barros. Sentei-me entre o Dani Tavares e o Thiago Leal, amigões companheiros de Satyros. E começou o espetáculo.
No mesmo instante fui projetado em uma máquina do tempo, que me remeteu para 21 anos passados. Foi em 1986 que conheci Gerald. Nesse ano ele estreou em São Paulo, apresentando "Carmen Com Filtro", que na primeira verstão tinha Antônio Fagundes e Clarice Abujamra no elenco. O então casal logo se desentendeu com o diretor, a montagem se desfez, a temporada durou pouco. E me deixou embasbacado com a linguagem radical que aquele jovem inventor cênico impunha ao palco. Fui ver a encenação em seu primeiro e em seu último dia. A paixão glacial daquele Don José desarticulado nunca mais saiu de minha memória. Também não esquecerei de Bete Coelho, que fazia Micaela na primeira versão e dominava a cena com uma abrasadora luz própria. Gerald ara um potentíssimo encenador, um agudo crítico que não tinha e não tem medo de pôr o dedo nas feridas.
Acompanhei a carreira do encenador, atentamente, como crítico e como espectador, até o começo do século 21. Nesse tempo nos tornamos amigos. Nos vimos em Sâo Paulo, em Curitiba, no Rio. Muitas vezes almoçamos ou jantamos juntos. Foi quando, demitido (por razões que até hoje me soam absurdas) do "Jornal da Tarde" em 2001 e "Estado de S. Paulo" em 2002, os órgãos de imprensa em que havia trabalhado, fui forçado a abandonar a crítica. Acabei voltado para o palco, onde havia começado tudo no longínquo ano de 1949, aos cinco anos.
Retornei-me ator, e tornei-me diretor, professor, dramaturgo, escritor. Deixei de ter tempo de ver teatro. Nos primeiros dias da semana, dava, como dou até hoje, aulas. Nos últimos, ou estava ensaiando ou estava em cena. Para empobrecimento meu. Perdi e continuo perdendo, eu que fui um espectador profissional por 30 anos, temporadas inteiras de espetáculos. Enter esses, perdi os de Gerald Thomas. Eu e ele deixamos de nos ver. Perdemos contato. Depois de uma pane de computador em que perdi meu caderno de endereços e pastas de correspondência (perguntem se o gênio aqui faz backup de alguma coisa) , deixei de ter também seu e-mail. Para complicar, um mal-entendido gerado pela minha loucura acabou por nos distanciar. Até que nos reencontrarmos semana passada. E foi uma conversa intensa, plena e emocionante. O mal-entendido se desfez, nos despedimos com um abraço. Assim como ontem, eu o abracei longamente depois do espetáculo e nos despedimos com um beijo na boca. Eu amo o homem que é Gerald Thomas e amo sua arte. E fiquei profundamente feliz por reencontrar-me com ambos.

Alberto Guzik

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por Alberto Guzik parte 2

Havíamos planejado jantar juntos depois do espetáculo de ontem, mas problemas lá nos Satyros forçaram a uma mudança de planos. Não faz mal. Haverá outra ocasião. O importante foi que remergulhei na criação instigante, provocadora, fantasticamente poderosa de Gerald Thomas. Lamento não ter visto "Asfaltaram a Terra" e "Um Circo de Rins e Fígados", as duas criações recentes que o artista trouxe a São Paulo. Mas reencontro tanto em "Terra em Trânsito", que foi parte de "Asfaltaram a Terra", quanto em "Rainha Mentira" a potência, o frescor, a indignação que sempre povoaram a obra de Thomas.
Com o tempo, ele se torna mais cáustico, mais conciso, mais elegante. Trabalha com o anti-realismo de maneira absoltamente precisa. Recusa qualquer acomodação. Se tem um encenador que não pega o público no colo nunca, esse é Gerald Thomas.
O cara faz a platéia pensar, incomoda, perturba as idéias. Nos tira da contemplação inerme pela força de suas farpas disparadas contra tudo com inteligência e habilidade. Mas ao mesmo tempo nos leva a contemplar um universo de beleza cênica absolutamente marcante e pessoal. Gerald é um diretor que tem marca d'água. Suas criações são inconfundíveis. A qualidade e a coerência de seu universo visual têm sido absolutamente notáveis e consistentes. Bem como o uso da música, sempre muito presente, dialogando com o texto, com a encenação. Acho que uma vez eu disse que Gerald era um artista plástico que se expressava usando o palco como tela. Continuo a pensar a mesma coisa.
"Terra em Trânsito", nome que traz uma brincadeira verbal tipicamente geraldiana, é uma comedia alucinada. Começa com a voz gravada de Paulo Francis (na verdade uma imitação excelente de Gerald) fazendo um discurso sobre o estado da cultura brasileira. E avança para a crise da diva cocainômana, Fabi, que se prepara, pois o espetáculo vai começar. Ela dialoga com um cisne judeu, que a cantora alimenta para que um dia vire patê de fois em Estrasburgo. O texto é um liquidificador de idéias, impressões, sensações plasmadas pela loucura da diva. Fabiana Gugli é uma atriz com absoluto domínio do seu instrumento de trabalho e está brilhante como a louca cantora que desmonta seu mundo e a si mesma à medida que chega sua hora de entrar em cena. E Pancho Capeletti faz um estupendo cisne. Uma montagem ácida e necessária. Que incomoda. Excelente.
Mas a porrada ainda estava por vir. Em "Rainha Mentira" Gerald faz um poderoso e doloroso acerto de contas com sua mãe, que morreu há exatamente um ano. Judia alemã, emigrada para o Rio, onde Gerald nasceu, ela teve a vida assombrada pela figura da própria mãe, a avó, que, louca, a culpava pelo suicídio do irmão mais velho. As imagens criadas por Gerald para narrar essa saga estão entre as mais poderosas que já elaborou. O elenco, liderado por Fabiana Gugli, que com extrema intensidade vive a mãe do artista da juventude à velhice, tem também os ótimos Pancho Capeletti, Fábio Pinheiro, Anna Américo e Luciana Fróes, que ocupa intensamente a cena como a insana avó. "Rainha Mentira" é uma dolorosa excursão que nos leva ao cerna da incerteza dos papéis sociais que representamos. Fala de essências e aparências. Gerald nos leva a acompanhar a trajetória dessa mãe fraturada com uma delicadeza, uma compaixão e uma impiedade arrepiantes. Dilacera-se e nos dilacera com uma elegância absoluta. Cheguei em casa e fiquei muito tempo na cama, de olhos abertos, observando as luzes da rua dançando no teto, pensando no que havia visto.
Não preciso dizer que acho que ver "Terra em Trânsito" e "Rainha Mentira" é obrigatório, preciso?
Alberto Guzik

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por favor..

Nao deixem de ler os comentarios – e a troca de comentarios – debaixo da coluna "Negros" estao simplesmente maravilhosos e merecem ser editados e publicados, digo em livro – titulo "opiniao publica, ou , "Opiniao Blog" ou algo que o valha". So sei que assim vale a pena continuar com o blog.

Parabens pra todos voces queridos e obrigado.
LOVE
Gerald

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Rainha Mentira / Terra em Trânsito – Destaque GuiaSP

Terra em Trânsito e Rainha Mentira/Queen Liar

por Guilherme Balza

O sempre polêmico Gerald Thomas retorna aos palcos paulistanos em dose dupla, com os espetáculos Terra em Trânsito, parte integrante da tetralogia Asfaltaram a Terra, de 2006, e Rainha Mentira/Queen Liar, inédito em São Paulo. Ambos, segundo o próprio autor e diretor, homenageiam, simultaneamente, a cultura teatral/operística e os mortos pelos regimes autoritários ao longo da História.

Protagonizado por Fabiana Gugli, que já atuou peças dirigidas por Celso Frateschi e Cristiane Paoli-Quito, além de 10 espetáculos de Thomas, Terra em Trânsito mostra um diálogo travado em um camarim, entre uma cantora e um cisne falante (com voz de Pancho Capeletti).

Enquanto se prepara para entrar em Tristão e Isolda, a diva alimenta entusiasticamente o cisne – um judeu heterodoxo, anti-sionista, que diz ter andando por Woodstock – com a finalidade de fazer um patê de "foie gras". Ao som de palavras irreverentes e politicamente incorretas disparadas por Paulo Francis, ela, entorpecida por cocaína, conta suas aventuras amorosas com intelectuais famosos, narra viagens a lugares improváveis (como a cabeça de George W. Bush) e solta frases ao vento sobre Capitalismo, globalização, Rússia, Líbano…

Em um determinado momento, a cantora descobre que foi trancada no camarim. Ela, então, descobre uma saída dentro de um armário e tem uma revelação surpreendente, que a fará confrontar-se consigo mesma numa angustiante perspectiva de um fim próximo.

Já em Rainha Mentira/Queen Liar, exibida após um intervalo de 15 minutos, Thomas utiliza-se de dramas familiares e assuntos absolutamente particulares para traduzir, de forma alegórica, as tragédias históricas, como o holocausto e as guerras em geral.

Na peça, em que Fabiana divide o palco com Fábio Pinheiro, Pancho Capelleti e Anna Américo, o autor assume um tom pessoal e faz um desabafo sobre a vida, por meio da triste história de sua mãe, que aos nove anos de idade foi acusada pelo enforcamento do próprio irmão, um jovem homossexual de 17 anos, em uma Alemanha já tomada por Hitler.

O pano de fundo do espetáculo é uma carta que Thomas escreveu para ser lida no enterro da sua mãe, na qual é feita uma homenagem aos seres que foram, de alguma forma, "desterrados, desaparecidos, torturados, ou simplesmente o resultado de uma vida torta, psicologicamente torta, desde o início torta e curva, onde nenhum linha reta foi, de fato, reta, onde as portas somente se fechavam e onde tudo era sempre uma clausura, tudo era sempre proibido, sempre trancado"…

Terra em Trãnsito

Autoria e Direção: Gerald Thomas / Atriz: Fabiana Gugli / Cisne: Pancho Cappeletti / Preparação Vocal – Paula Molinari / Figurinos: Fabiana Gugli / Composição e Trilha Sonora: Edson Secco / Luz: Gerald Thomas / Cenografia: Domingos Varela / Projeto Gráfico: Denise Bacellar / Desenhos e Letras: Gerald Thomas.

Rainha Mentira/Queen Liar

Autor e direção geral: Gerald Thomas / Elenco: Anna Américo, Fabiana Gugli, Fabio Pinheiro, Luciana Fróes, Pancho Cappelletti / Iluminação: Gerald Thomas / Assistente de iluminação: Rogério Medeiros / Assistente de Direção: Rosana Pereira / Direção de cena: Domingos Varella / Desenhos Originais: Gerald Thomas / Trilha original: Edson Secco e Patrick Grant / Sound Designer e operador de som: Edson Secco / Vídeo: Batman Zavareze e Fabio Ghivelder / Cenário: Domingos Varella / Assistente de Cenografia: João Carvalho / Projeto Gráfico: Denise Bacellar / Direção de Produção e administração:- Fernanda Signorini / Realização: Cia de Ópera Seca.

http://www.guiasp.com.br/

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NEGROS

São Paulo- "O que une o ser humano? Posso sugerir várias plataformas, mas cairemos num denominador comum: a repugnância pela barata e insetos semelhantes. Franz Kafka [1883-1924] foi, entre todos os platões, sófocles, stendhals, marlowes e rimbauds o que de fato deu o pulo e fez com que o humano transcendesse o seu lado indesejável, aquele que Bin Laden odeia tanto quanto um judeu hassídico na Antuérpia: Gregor Samsa acorda transformado num inseto. Não há maior "coup d'État" na literatura – e logo na primeira página. Não há transgressão maior, seja em escrita ou conteúdo".

Assim começa o texto publicado hoje pelo caderno Mais, da Folha de São Paulo, quando me perguntaram sobre o que eu considerava ser o livro essencial. Depois de horas de debates aqui nesse quarto de hotel, esmurrando a consciência e as páginas de livros pelas quais já cavalguei, considerei que o autor só é autor quando transcende algo. De Shakespeare até Goethe, ou de sei lá quem até sei lá quem mais (pode-se fazer uma lista telefônica sobre autores, pintores, etc, mas do que adianta?), cheguei à conclusão de que Kafka lida com aquele ser (além do humano, ou aquém do humano) que chegou nessa condição porque está em tal estado de repressão e ansiedade, angústia e rejeição que resolvi fazer um macro-kafka para essa coluna: os negros no Brasil de hoje. Os negros-gregors. Os Gregors Negros.

O ar dessa cidade esta irrespirável. O barulho é insuportável. Um helicóptero pousa em plena Avenida Consolação para resgatar um policial baleado às 2 da tarde. E a vida continua nessa cidade que alguns insistem ser "muderna", onde seres parecem buscar conforto em outros seres mas não conseguem e acabam bêbados. Mas eu procuro ver o lado obscuro dela, aquele que quer se esconder. O racismo está ficando cada vez mais hipócrita na medida em que está se pulverizando. As próprias pessoas segregadas fingem que nada acontece, ou melhor, engolem esse ar socialmente poluído como se fosse um tijolo entalado em suas gargantas e vão levando. Mas até onde?

A História do Brasil não contribuiu para a emancipação da raça negra. Não houve uma (perdoe o trocadilho) "clara" demonstração de querer impor um movimento e botar pra quebrar, seja pela paz ou pela violência, via Dr. Martin Luther King (o maior herói da minha vida: "I had a dream…") ou via Malcolm X ou Black Panthers ou o escritor James Baldwin ou Angela Davies e tantos outros. Não, aqui sempre foi se "levando" com raríssimas exceções, afinal Machado de Assis, o mestre da literatura era…..bem, ele era negro. E Lima Barreto também. Mas dêem um pulo na História, venham para os dias de hoje. Que retrocesso! Que vergonha! O que deveria ser não é. Não deveríamos ser negros ou broncos ou porra nenhuma! Essa "merda" de dividir o ser humano em cor ou em raça ou em credo acaba em genocídio (o Holocausto, Kosovo, Pol Pot, sunitas contra xiitas, contra curdos cegos e mudos, e Darfur hoje. É tribo contra tribo. Quem ganha é sempre a direita, os racistas, os rednecks. E sempre com aquele sorriso horrendo de serial killer.

Um avô de uma certa amiga aqui em SP, tocava seu instrumento de sopro na Praça da República (a pedido de D. Pedro II) e foi fuzilado pelos brancos, enquanto sua filha, mais tarde conseguiu se formar em filosofia pela USP. Sim, a primeira mulher negra a se formar em filosofia pela USP. Vou pular pro norte, a AmeriKa de Kafka onde essa, assim como todas as outras questões raciais e sociais (desde a própria Guerra de Independência ou Civil ou as causas gays, movimento women's liberation e todos os outros começam. Sempre tudo começa lá: sempre que criticarem os EUA, por favor levem em consideração o grande laboratório social que aquilo é e a Constituição que seus Founding Fathers escreveram ali, e seus amendments, os direitos civis (agora desrespeitados pela administração Bush como nunca antes). Não quero entrar na questão do capitalismo nem seus derivados por favor. Estou falando de racismo!

Hoje, nos EUA, ele ainda existe, óbvio. Mas existe um anti-racismo extraordinário também. Aquele que faz lotar hotéis de classe A nas metrópoles e restaurantes mais caros sem que nenhuma cabeça branca vire pra olhar chocada ou mesmo interessada. Mercedes Benzes e BMW ou Caddis são ocupados por negros, assim como brancos broncos e assim como um Barak Obama concorre pelo partido democrático à Casa (sem trocadilhos) Branca. Ali dentro senta a Condy Rice ou sentava um digníssimo (sim, o defendo!!!) Colin Powell. E são dúzias de Jesse Jacksons, e prefeitos e mandadores, reitores de universidades que atravessaram a barreira da cor porque "I had a dream".

Sim, ele foi assassinado. Abraham Lincoln também foi. JKF também foi. Bobby também foi. Sharon Tate também foi brutalmente assassinada e os meninos se matam em Columbine e em todas as escolas na nação que ama um rifle e uma arma e que tem a NRA (National Rifle Association) como um ícone e que tem ainda uma "arian nation" escondida nas montanhas de Montana e Wyoming e inocentam, sim, o OJ Simpson porque o júri era preconceituosamente a favor.

Mas uma única figura, uma única mulher é de fato a pessoa mais importante dos Estados Unidos da mente, digo, da AmeriKa: ela se chama Oprah Winfrey e o que ela diz e produz repercute entre gregos, troianos e otomanos, classes A, B e Z. Não importa mais a cor. Falo de racismo, porra! Vamos parar com isso caramba! Quem é que ainda realmente tem a arrogância e o direito – digo o direito de olhar para outro ser humano e classificá-lo como seja lá o que for? Quem é você? E o que sabe? O que sabe sobre quem está do seu lado?

O que quero dizer é que nesse workshop que dei no SESC-SP acabei por desenvolver esse tema que reluto em levantar aqui no Brasil porque ele ainda é um tabu, apesar de não ser: ele é uma questão puramente hamletiana, uma questão não resolvida, uma questão pela metade, uma meia questão mal preenchida, dá coceira nos seres humanos da chamada raça branca, essa raça arrogante que domina as nações ocidentais, as economias e faz questão de manter a raça negra lá embaixo. Mas até quando?

Quando eu ouço certos depoimentos, eu simplesmente fico paralisado. Tenho uma arma: o teatro. E outra, a escrita. Mais uma, o berro. Mas essa última, o berro, está cada vez mais sufocada quando ouço aquilo que tenho ouvido. E, dessa forma hamletiana "to take arms against a sea of troubles", pegar em armas nessa ou em todas as outras questões de tormenta porque o racismo me cala, me humilha.

Algo terá que ser feito porque algum dia ele terá que ter fim. Simplesmente um fim. Ou então os racistas irão pagar um preço muitissimo caro por isso, no melhor estilo da tragédia Shakespeareana ou melhor, e mergulhando na podridão de um corpo aprodrecido como o de um inseto branco com uma maçã – a rotting apple – encravada nas costas jogada pelo próprio pai, um ex-ser humano. O ser humano tem jeito é so dar uma olhada pro lado de vez em quando e enxergar o "outro".

Gerald Thomas do diretodaredacao.com

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do caderno MAIS da Folha de hoje

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Biblioteca Básica

Metamorfose
GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA


O que une o ser humano? Posso sugerir várias plataformas, mas cairemos num denominador comum: a repugnância pela barata e insetos semelhantes. Franz Kafka [1883-1924] foi, entre todos os platões, sófocles, stendhals, marlowes e rimbauds o que de fato deu o pulo e fez com que o humano transcendesse o seu lado indesejável, aquele que Bin Laden odeia tanto quanto um judeu hassídico na Antuérpia: Gregor Samsa acorda transformado num inseto. Não há maior "coup d'État" na literatura -e logo na primeira página. Não há transgressão maior, seja em escrita ou conteúdo.

GERALD THOMAS é dramaturgo. Suas peças "Terra em Trânsito" e "Rainha Mentira" estão em cartaz no Sesc Consolação (São Paulo).

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Chat com Gerald na TV Uol

Assista ao bate-papo de Marcelo Tas com Gerald, que aconteceu na sexta-feira, dia 10, pela TV Uol.

Clica! http://diversao.uol.com.br/ultnot/2007/08/10/ult4326u311.jhtm

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Critica de Rainha mentira: Sergio Coelho/Folha de S Paulo quando o espetaculo surgiu no Rio

Gerald Thomas retoma o essencial

Em peça em cartaz no Oi Futuro, no Rio, diretor abre caixa-preta de memórias e faz seu teatro sem concessões

SÉRGIO SALVIA COELHO
FOLHA DE SAO PAULO

Em uma das gravuras dos "Desastres da Guerra", de Goya, sobre um fundo obscuro de cadáveres ou mascarados, um corpo em decomposição ainda segura uma pena. Com ela, escreveu seu bilhete para a posteridade: "Nada". Desde então, passados holocaustos e atentados, o desespero diante da falta de sentido do mundo ecoa por obras-primas, de "O Grito", de Munch, aos clowns de Beckett. Nestes dias, no Rio, pode ser encontrado na peça "Rainha Mentira" de Gerald Thomas.

Um humor macabro sempre esteve presente nas peças de Thomas, desde "Eletra com Creta". Porém, quando pôde contar com atores carismáticos como Fernanda Torres ou Marco Nanini, diluiu sua angústia em uma triangulação aberta com a platéia, ganhando um público mais amplo, mas perdendo um pouco a essência, a "secura" de sua ópera de imagens arquetípicas, na qual referências pessoais tornam-se um pesadelo coletivo.

Desta vez, porém, a morte de sua mãe, abrindo uma caixa-preta de memórias dolorosas, foi o ponto de partida para o diretor-dramaturgo retomar um teatro sem concessões. Um teatro de imagens desconexas, com personagens como que vindos do limbo da imaginação do autor, antes de estarem definidos; um teatro antes do teatro, feito de memórias uterinas ou de suposições do pós-morte, que se entende pela emoção.

O espetáculo no diminuto espaço do Oi Futuro começa com "Terra em Trânsito", a melhor das quatro peças apresentadas em São Paulo em 2006. Nela, Fabiana Gugli mostra toda a sua habilidade de malabarista do verborrágico fluxo de referências de Thomas, com o hilário contraponto de um ganso, agora feito por Pancho Cappeletti, com muito sabor.

No entanto, tudo soa como aperitivo para depois do intervalo, com essa "Queen Liar" da qual tão pouco se esperava. Aqueles que foram para rir ainda se prendem no início a cartuns nonsense, como Pancho, bombeiro em pleno incêndio, alucinando com um palhaço, feito com dignidade por Fábio Pinheiro -e que outro pesadelo podem ter os que convivem com o horror? Ainda se tenta romper a solenidade da ficção com a metalinguagem quando Anna Américo irrompe em cena como uma camareira tentando pôr ordem no espetáculo; sem deboche, porém.

horror em seu estado puro, além do sofrimento. Falsas memórias, fragmentos de dados sobre um passado perdido, culminam em uma cena de morte com uma densidade que raramente se viu em um palco, nacional ou não, em sua simplicidade inesquecível. "Rainha Mentira" é uma peça para esquecer o "polêmico" Gerald Thomas, quer você simpatize com ele ou não, e reconsiderar o que já sabe sobre ele.

Anos atrás, em "Unglauber", um garçom trazia na bandeja um braço, que segurava um bilhete no qual o autor daria seu recado ao mundo. Nada estava escrito nele. Desta vez, também saindo de dentro de um corpo ferido, o bilhete deixa apenas ecoar rezas, de várias culturas, sem esperança de solução. No sarcástico palco de Thomas, ecoa o goyesco grito do nada.

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novas entrevistas na TV UOL

Gerald.UOL

Já está online a entrevista com Judith Malina (do Living Theater) e uma incrivel entrevista com um "atropelado" de Miami (um vendedor de agua na praia) que inventou um método pra se recuperar (body building) depois que foi dado como morto por varios neurologostas: o nome dele eh simplesmente John e atende pessoas ali mesmo em South Beach em frente ao Delano ou o National Hotel.

eis o link

http://www2.uol.com.br/geraldthomas/new/entrevistas.htm

divirtam-se

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Arnaldo Jabor na CBN e suas palavras maravilhosas

Arnaldo Jabor

http://cbn.globoradio.globo.com/cbn/comentarios/arnaldojabor.asp

e mais uma vez, muitissimo obrigado meu querido pela tua visita.
esse cara eh um dos que mais admiro, uma inspiracao. Ha anos.
LOVE Jabor
Gerald

do Sergio Penteado
Um pequeno reparo no que comentei da apresentação, ontem (vejam os comments da sinopse aqui no blog, datado de 07 de agosto) : Elogiei bastante os atores e acabei deixando de comentar o invólucro permeante do Gerald, como bem colocou o Evaldo. Gerald, um artista plástico na acepção da palavra! Uma antena difusora de sons, efeitos e turbulência do impasse da multi-informação, não subordinado ao marketing corporativo, uma das ciências mais nojentes que existem! E, observação à sol, de sampa, que também escreveu ontem: acho que há algum engano na sua informação. O Jabor continua, firme e forte, na CBN. Aliás, caros comparsas, entrem no site dele (http://cbn.globoradio.globo.com/cbn/comentarios/arnaldojabor.asp) aguardem a atualização para o comentário de hoje, sexta-feira, 10 de agosto. Com a picardia de sempre, e em perfeita sintonia com os tempos atuais, Jabor fala bastante sobre "Terra em Trânsito" e "Rainha Mentira". Para aqueles de vocês que ainda não puderam ir, não percam!
Sérgio

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Comentario/Critica de Evaldo Mocarzel (cineasta e ex editor de cultura do Estado de Sao Paulo)

Querido Gerald, ontem fui ver "Terra em Trânsito" e "Rainha Mentira". Gostei demais desse desconcertante díptico! Saí extasiado de "Rainha Mentira"! Nem sei o que dizer! Amei forma e conteúdo, sobretudo porque a essência da dramaturgia vem da superação de uma dor, de um medo, da perda da sua mãe, e achei tudo tão corajoso, tão visceralmente corajoso e despudorado, mas você encontrou uma carpintaria cênica genial para urdir tudo isso. O movimento da boca dos atores e sua voz sobre eles: um esgarçamento da autoria de um espetáculo (dramaturgia e encenação) lindamente assumida de forma orgânica e dramática conforme as cenas vão se desenrolando. A sua luz sempre tão esplendorosa, os gestos e movimentos coreografados dos atores afastando qualquer possibilidade de "realismo" sobre o palco. E a analogia entrelaçando a perda da mãe com as torres gêmeas, construídas com livros, aquelas lâmpadas descendo e depois subindo e levando a vida de tantos "desaparecidos"… Sei lá, adorei muito! Adorei demais! Extasiado é um termo bacana para definir o que senti! Você, Gerald, para mim, é um artista plástico fazendo cinema no palco, com uma dramaturgia antropofágica devorando e vomitando sobre a platéia as centelhas contemporâneas das nossas chagas mais profundas, descortinadas pelo sensacionalismo da mídia. Você é mesmo um ser planetário que desembarcou no Rio com oito anos sem falar uma única palavra de português. Uma antena do mundo em que vivemos, massacrado por um legado arquetípico que nos remete à cultura judaica, campos de concentração, o Rio, a Bahia, Nova York, Londres e uma infinidade de cidades alemães. "Rainha Mentira" é um espetáculo wagneriano total! Que trilha! Que iluminação! Uma ópera seca com a musicalidade áspera desse turbilhão de palavras e de imagens do
mundo em que vivemos! Amei! Beijo grande e parabéns!
Evaldo
parte 2
Querido Gerald, mil perdões por não ter ido falar com você depois do espetáculo! Me senti até mesmo um pouco culpado, mas estava me sentindo tão pleno com "Rainha Mentira", tão absolutamente "comblé", que não quis dispersar essa energia tão gostosa que estava sentindo. Foi uma fruição intensa: sorvi o espetáculo com emoção, pensando e sentindo, sentindo e pensando, e tudo era a mesma coisa, uma fruição artística que há muito tempo não sentia. Esse espetáculo é fruto da sua maturidade artística, com pleno domínio das possibilidades do palco, do som, da imagem, dos gestos, da sua dramaturgia visceralmente autoral, sei lá, foi um prazer estético e existencial muito grande e eu sabia que, se fosse falar com você, iria me esvair em elogios e acabaria dissipando tudo que estava sentindo. Fui para casa, tomei um chá e fiquei relembrando em silêncio as imagens que você havia criado no palco. Amei demais! Meu amigo, vou te ligar na semana que vem para tomarmos um café e para que eu possa matar um pouco as saudades. Fiquei com vontade de te filmar, de filmar a maneira como você vai esculpindo a luz, entrei na sua viagem e tudo isso me levou com muito prazer e plenitude para dentro de mim mesmo. Ando muito inquieto, querendo desesperadamente fazer ficção, mas ainda me preparando para isso, cheguei a sentir uma depressão forte nos últimos dias, embora esteja fazendo muita coisa bacana, estou envolvido em oito novos documentários, mas, sei lá, nem tudo tem explicação: o fato é que entrei fundo na verdade visceral do seu espetáculo e continuei transitando dentro dos meus ideais artísticos, só que renovado, talvez menos ansioso, muito menos deprimido e, com toda certeza do mundo, extasiado e revigorado. O Rubens Correa tinha uma metáfora muito bonita, bastante católica, quando vivia uma experiência artística que o renovava. O Rubens dizia que aquela obra tinha limpado o cálice do seu peito, que estava brilhando com muito mais intensidade. E foi mais ou menos isso que senti ao ver "Rainha Mentira" fluindo no palco, como uma torrente de imagens poéticas e ao mesmo tempo tão sinceras e doloridas. Como já disse, uma experiência artística única, rara e esplendorosamente bela, madura, contemporânea e desconcertante! LOVE TOTAL! Uma dúvida: você estará dando workshop até quando? Beijo grande e nos falamos!
Evaldo

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Victor Hugo Cecatto expõe no SESC

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