New York – "We'll be fighting in the streets
With our children at our feet
And the morals that they worship will be gone…"
– Estaremos brigando nas ruas
Com nossos filhos bem aos nossos pés
E a moral que eles prezam terá desaparecido
…"And the men who spurred us on
Sit in judgement of all wrong
They decide and the shotgun sings the song.."
– E os homens que nos levaram a isso
Sentam lá julgando ser tudo isso um erro
E decidem que é a pistola que canta a canção…
I'll tip my hat to the new constitution
Take a bow for the new revolution"…..
– Eu tiro meu chapéu para a nova constituição
Me curvo perante a nova revolução.."
"We don't get fooled again"
– Ninguém nos faz de otário de novo"
É. Ninguém me engana de novo. Essa letra profética de uma das músicas mais incríveis da década de setenta, "Won't get fooled again", do Pete Townsend, líder e guitarrista do The Who, resultou de uma briga ideológica entre ele e Abbei Hoffman, lider de todas as contra-culturas ( principalmente na época de Woodstock em 1969), e que levou uma "guitarrada" de Townsend na cabeca enquanto discursava, inflamadamente contra o grupo britanico. Abbey Hoffman, agora já morto e ex-hippie, ex-yippie, ex-tudo, preso mais de 40 vezes por porte de drogas, mas um líder que JAMAIS se vendeu ao chamado "establishment".
Hoffman passou por varias cirurgias plasticas, iniciou movimentos politicos aqui e ali em Universidades americanas, se plantava na frente da ONU ou de outras organizacoes mas jamais se "vendeu". Aliás, Hoffman criticava a contracultura em geral por ter se vendido e ter virado uma indústria. Tive o prazer de conhecê-lo muito brevemente na casa de Jerelle Kraus, minha diretora de arte quando eu ainda era ilustrador da Op Ed page do New York Times e ela fazia jantares, digamos assim, exotéricos e ecléticos, orgiasticos em seu apartamento escandaloso na rua 86, no inicio dos anos 80.
Já se brigou por ideologia dentro da própria contracultura, não é incrível? Mas eram brigas "boas" que resultavam em coisas criativas como essa musica inrivelmente simbolica do Who (meet the new boss, same as the old boss). Digo, as pessoas se ouviam e nao somente se traiam! Ou seja, digo com isso que já houve – em épocas remotas – noção de ética, de anti-ética, mesmo entre rockeiros, drogados, junkies caindo pelas tabelas.
Pois hoje we are fooled again. Somos enganados, enganados e passivos, ao contrário dos pacifistas. Me pego enganado por pessoas que eu julagava serem amigos ate pouco tempo atras. Isso no campo artistico, nao no Campo de Marte. Me desculpem, estou escrevendo em cima da hora. Hoffman foi encontrado morto com 53 anos de idade, a minha idade atual: suspeita de suicídio, em 1989. Eu estava dirigindo a ópera Mattogrosso, minha e de Philip Glass, quando li e fiquei meio tonto. Abbey Hoffman e Jerry Rubin, (Rubin, outro yippie morreu) esse, atropelado. Seus últimos anos de vida foram gastos em "networking". Ele acreditava que apresentando pessoas umas as outras, das mais variadas tribos e fazendo com que trocassem cartões, iria provocar a "revolução" pacífica do entendimento. Atropelado, assim como Roland Barthes.
Pois Townsend, do the Who, não gostou das críticas de Hoffman porque estava vendendo muitos discos à base de muito pacifismo Tommy can you hear me? Tommy can you see me? etc., e seu vocalista, Roger Daltrey, torso nu, vendia a imagem sexy do sexo livre e aquela coisa toda daquele negócio todo liberado e que a AIDS encaretou.
A partir de hoje quando vejo a Hillary atacando o Obama e o Edwards atacando a Hillary e o Bill Richardson atacando o Edwards nesse cao come cao que eh a escalada politica nessa falta de cultura, penso muito nesse we don't get fooled again. Mesmo porque é a música de abertura de CSI-Miami, que não perco por nada.
"Nada prova nada", de novo a minha frase da peça Circo de Rins e Fígados. Nada prova nada. Não sabemos onde estamos e o que somos nesse seculo XXI das corporacoes invisiveis. Woodstock já se foi e seus mentores estão enterrados. Enterramos, de vez a nós mesmos!
PS: Estou muito feliz porque John Hemingway, colunista do DR, se mudou para Montreal. Assim estamos mais perto. Desde que ele chegou lá, na quinta passada, a neve subiu, e meu entusiasmo em vê-lo com mais frequência também.
Gerald Thomas