GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Até o momento do meu embarque para o Brasil, participei, aqui em Nova York (escrevo esse texto em pleno vôo), de um plebiscito, reunião, convocação de última hora, sei lá -da classe teatral off-Broadway e off-off-Broadway sobre o que fazer se Bush for reeleito. Tenho que dizer, com tremendo pesar, que o consenso entre os autores, atores e diretores do assim chamado teatro "downtown" é que não há mais jeito: a reeleição é tida como praticamente certa.
"Os americanos estão ficando cada dia mais imbecis e, apesar dos livros de Richard Clarke, Bob Woodward, do filme de Michael Moore, da comissão 11/9 e da catástrofe que o Iraque está se provando, o povo americano prefere ser enganado por aquele sorriso "creapy" desse canalha e de sua gangue", me dizia um diretor (por acaso) da Broadway, mas que morria de medo de ter seu nome publicado.
Essa reação está se tornando comum a muitos. Há um certo clima de caça às bruxas no ar da era de macarthismo, de J. Edgar Hoover voltando à tona.
É como se Tom Ridge e o Patriot Act estivessem trazendo aquele pesadelo de volta e, não seria surpreendente rever o famoso julgamento de Bertold Brecht, só que desta vez com um nome como David Mamet, por exemplo.
Ou Chaplin e a demissão daquela enorme lista negra que incluía centenas de escritores, atores e diretores de cinema e de teatro. A Casa Branca, aliás, já deve estar preparando a sua, com a ajuda de Arnold Schwarzenegger. O clima é absurdo e de pavor.
A reunião tinha enormes paralelos em comum com o que está acontecendo agora no Brasil, com esse Ministério da Cultura sem política definida, justamente quando um artista, Gil, assume a liderança de um cargo de tamanha responsabilidade.
Esse Mistério da Cultura no Brasil também poderia se chamar "ministério de si mesmo".
A palavra TEATRO não consta em nenhuma declaração que eu tenha lido em entrevistas de Gil. Por que será, Gil? Você tem ódio pessoal dessa arte que eu pratico? Você percebe que ela também é "áudio" e também é "visual"?
Será que você não entende a arte que compreende todas as outras artes, inclusive, a sua? O teatro é a obra de arte total e inclui a música, Gil.
Mas claro, você não tem tido tempo para se dedicar ao assunto, na medida em que passa pouco tempo no ministério, eu entendo. Falta de tempo. Sei como são essas coisas. Hobby é fogo!
Nessa reunião em Nova York, a grande questão era como conseguir subsídios, já que as verbas distribuídas pelo National Endowment for the Arts estão sendo descaradamente desviadas para entreter as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.
Coisas que Bob Hope ia fazer no Vietnã há quatro décadas….. Lembram? Imaginem Shakespeare montado por uma troupe de amadores de Seattle nos arredores de Fellujah. Não sei se não é grotesco demais pra rir.
Não sei se não é grotesco demais para rir ou chorar quando um gênio da música como Gilberto Gil ocupa um cargo como esse, e a cultura teatral se vê num estado petrificado, estagnado, sem saber para onde ir.
Talvez seja simplesmente porque a Brasília de Lula não entenda o teatro e o cinema de RISCO e só quer o novelão, a choradeira, o drama barato e a dramaturgia de superfície. Chama-se isso de populismo e DEMAGOGIA ou, então, quem sabe, falta de vivência empírica talvez ou, ainda, orientadores desorientados ou corrompidos por um algum pacto do além, que prefiro desconhecer e que deve desembocar neste verdadeiro ódio por essa arte, assim como o rei Cláudio, em "Hamlet", que paranóico que só ele, assassino que era -tinha ódio de tudo e todos, uma vez que chegara ao poder.