Monthly Archives: January 2005

Tanto Bush quanto Gil odeiam o teatro

Tanto Bush quanto Gil odeiam o teatro

GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Até o momento do meu embarque para o Brasil, participei, aqui em Nova York (escrevo esse texto em pleno vôo), de um plebiscito, reunião, convocação de última hora, sei lá -da classe teatral off-Broadway e off-off-Broadway sobre o que fazer se Bush for reeleito. Tenho que dizer, com tremendo pesar, que o consenso entre os autores, atores e diretores do assim chamado teatro "downtown" é que não há mais jeito: a reeleição é tida como praticamente certa.
"Os americanos estão ficando cada dia mais imbecis e, apesar dos livros de Richard Clarke, Bob Woodward, do filme de Michael Moore, da comissão 11/9 e da catástrofe que o Iraque está se provando, o povo americano prefere ser enganado por aquele sorriso "creapy" desse canalha e de sua gangue", me dizia um diretor (por acaso) da Broadway, mas que morria de medo de ter seu nome publicado.
Essa reação está se tornando comum a muitos. Há um certo clima de caça às bruxas no ar da era de macarthismo, de J. Edgar Hoover voltando à tona.
É como se Tom Ridge e o Patriot Act estivessem trazendo aquele pesadelo de volta e, não seria surpreendente rever o famoso julgamento de Bertold Brecht, só que desta vez com um nome como David Mamet, por exemplo.
Ou Chaplin e a demissão daquela enorme lista negra que incluía centenas de escritores, atores e diretores de cinema e de teatro. A Casa Branca, aliás, já deve estar preparando a sua, com a ajuda de Arnold Schwarzenegger. O clima é absurdo e de pavor.
A reunião tinha enormes paralelos em comum com o que está acontecendo agora no Brasil, com esse Ministério da Cultura sem política definida, justamente quando um artista, Gil, assume a liderança de um cargo de tamanha responsabilidade.
Esse Mistério da Cultura no Brasil também poderia se chamar "ministério de si mesmo".
A palavra TEATRO não consta em nenhuma declaração que eu tenha lido em entrevistas de Gil. Por que será, Gil? Você tem ódio pessoal dessa arte que eu pratico? Você percebe que ela também é "áudio" e também é "visual"?
Será que você não entende a arte que compreende todas as outras artes, inclusive, a sua? O teatro é a obra de arte total e inclui a música, Gil.
Mas claro, você não tem tido tempo para se dedicar ao assunto, na medida em que passa pouco tempo no ministério, eu entendo. Falta de tempo. Sei como são essas coisas. Hobby é fogo!
Nessa reunião em Nova York, a grande questão era como conseguir subsídios, já que as verbas distribuídas pelo National Endowment for the Arts estão sendo descaradamente desviadas para entreter as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.
Coisas que Bob Hope ia fazer no Vietnã há quatro décadas….. Lembram? Imaginem Shakespeare montado por uma troupe de amadores de Seattle nos arredores de Fellujah. Não sei se não é grotesco demais pra rir.
Não sei se não é grotesco demais para rir ou chorar quando um gênio da música como Gilberto Gil ocupa um cargo como esse, e a cultura teatral se vê num estado petrificado, estagnado, sem saber para onde ir.
Talvez seja simplesmente porque a Brasília de Lula não entenda o teatro e o cinema de RISCO e só quer o novelão, a choradeira, o drama barato e a dramaturgia de superfície. Chama-se isso de populismo e DEMAGOGIA ou, então, quem sabe, falta de vivência empírica talvez ou, ainda, orientadores desorientados ou corrompidos por um algum pacto do além, que prefiro desconhecer e que deve desembocar neste verdadeiro ódio por essa arte, assim como o rei Cláudio, em "Hamlet", que paranóico que só ele, assassino que era -tinha ódio de tudo e todos, uma vez que chegara ao poder.

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artigo de Alexandre Lunsqui

Condoleezza Rice acaba de ser confirmada como Secretária de Estado do governo Bush. Durante a sessão de perguntas feitas por congressistas antes dessa confirmação, Ms. Rice ofereceu mais um exemplo do tamanho da mediocridade e da hipocrisia calhorda dos líderes atuais. É até difícil de acreditar que ela tenha se referido aos tsunamis como "maravilhosa oportunidade" para que os Estados Unidos mudassem sua imagem perante ao mundo. Mas ela foi além, dizendo que "(o Tsunami) está nos trazendo grandes vantagens". Tento deixar a indignação de lado por um instante e pergunto o que aconteceu conosco. É isso que nos tornamos? Será que o tão celebrado terceiro milênio será não mais do que o clímax da estupidez humana pontuado com raras passagens de alguma inteligência e de meros focos menos egoístas. Será que toda a ciência, tecnologia, todas as artes juntas, será que tudo isso acabará virando apenas uma espécie de 'hobby' da humanidade e não mais uma busca por nosso íntimo e pela Natureza da qual fazemos parte? Imagens chegam de Titã, maior lua de Saturno. Divirtam-se. Mês que vem haverá mais. Nada como pontuar um mar de vulgaridade televisiva com os maiores feitos da ciência contemporânea. Nessa sopa de mal-entendidos, nessa salada de milhões de dólares versus milhões de famintos, declarações como a de Condoleezza Rice são, no fundo, um espelho. Será que o século XX não foi o suficiente? Será que toda a violência, ignorância, ganância e arrogância que esculpiram o nosso passado recente não resultou em nenhum aprendizado?? Tudo está convergindo agora para uma espécie de buraco (sem cores) que parece ir sugando cada um de nós.

Quem colocou Condoleezza Rice no poder? George Bush? E quem colocou George Bush no poder? O povo americano? Mas será que não somos todos nós um pouco
do 'povo americano'? Escolhemos isso, caminhamos pra isso e aceitamos o jogo. Chega de achar que estamos apenas assistindo uma ópera cujo texto fala de um bando de calhordas bastante diferentes de nós mesmos. Quantos 'Georges Bush' estão nas ruas agora? Quantas 'Condoleezzas Rice' ao redor do mundo estão destilando ódio, intransigência e arrogância nesse exato momento? A resposta é: muito mais do que imaginamos. Gerald Thomas havia perguntado: "e o Brasil"? As 80 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza em nosso país não responderão a essa pergunta. Permanecerão caladas porque precisam ganhar seu ínfimo sustento de alguma forma e não podem parar e pensar em seus destinos previamente arranjados por algumas cúpulas poderosas espalhadas ao redor do mundo. E assim o tempo vai passando e alguns bilhões de pessoas vão mergulhando nessa sopa de desigualdade em ebulição cujos ingredientes principais são a exploração e a opressão. Isso tudo temperado com fartas doses de fanatismo burro. Algumas atiram-se de cabeça no caldo de propósito, recusam-se a buscar outros caminhos. Outras entram pra debaixo das saias de pessoas como Condoleezza Rice e acham conforto ali: medíocres parasitas de poderosos medíocres. Mas a verdade é que a grande maioria não tem nem escolha e são atirados pra dentro da matéria fervente antes mesmo de terem o cordão umbilical cortado. Do lado de fora do caldeirão a farra continua. São poucos os convidados, no entanto.

Alexandre Lunsqui é compositor

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NÃO PERCAM!!!

A minha entrevista da semana (sensacional!) com
DANILO SANTOS DE MIRANDA na TV UOL
(ou clicando nos links abaixo)

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Hajj e a peregrinacao islamica….

Milhoes de islamicos se reunem nesse momento, em Mecca, num lindo ritual harmonioso, que visa tornar os seres humanos mais humildes. No entanto, a imagem dos Americanos, eh que todos os islamicos sao violentos e odeiam os EUA. DE certa forma, o Hajj eh algo de divino, que nos do ocidente talvez nao tenhamos a capacidade de compreender, dada a nossa vida pratica, pragmatica.

Sera que verei paz ainda nessa vida? A geopolica mundial esta se reconfigurando com uma rapidez assustadora: Franca e Alemanha fecham com a China no que diz respeito a armamentos belicos. Forma-se, a cada dia, os Estados Unidos da Europa. Alias, eh interessantissimo o livro com esse titulo (cujo subtilo eh "o fim da supremacia dos EUA). A India cresce economicamente a cada dia. E o Brasil?

E o Brasil? E o Brasil? Ontem foi feriado aqui. Dia de Dr Martin Luther King. Ate hoje nao se sabe a verdade sobre seu assassinato, assim como nada se sabe de verdade sobre a morte de JFK. Nao pode haver paz atras de comissoes e secretariados que guardam segredos se Estado, quando na verdade, esses segredos, sao a base, a raiz, o solo, o tronco e membros do que podemos chamar realidade, se eh que existe tal coisa. Quando vejo as imagem dos peregrinos em Mecca, vejo que a metafisica toca uma harmonia que nos soa atonal ainda. Mas talvez seja hora de aprendermos a ouvi-la com mais calor humano.

Gerald

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Meus votos por uma Palestina LIVRE

Votaram. E que o espirito de Yasser Arafat esteja com voces. Eu, Gerald, judeu, estou TORCENDO pela liberdade de voces e pelo fim dessa interminavel opressao que os "settlers" insistem em continuar. O povo palestino ja sofreu demais. Eh mais que hora de terem suas terras de volta, que caia o MURO (horrivel) e que voces sejam tratados como cidadaos de primeirissima categoria.

Gerald

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A esclerose de uma critica teatral

ISTOÉ – A sra. teve algum prazer ao ver Gerald Thomas depondo na polícia para explicar por que baixou as calças e mostrou o traseiro depois de ser vaiado ao fim da ópera Tristão e Isolda no Theatro Municipal?

Barbara Heliodora- Eu não vi, não tenho nada com isso. Depois que ele desejou minha morte por pneumonia e eu sobrevivi a várias, ele se ajoelhou e me pediu perdão, durante um espetáculo no Paraná. Mas isso é irrelevante, como é irrelevante falar do teatro dele.

Versao de Gerald Thomas: Nao eh bem assim. Ela viu Tristao e Isolda sim e adorou e tenho provas disso. Alias,a entrevistei em sua propria casa, nao faz dois anos e meio, para a TV UOL, no largo do boticario do Rio e, com essa entrevista, PROVEI, que ela nao tem condicoes, informacoes ou cultura para criticar o teatro de experimental ou de vanguarda. Citei um bando de nomes de grupos oriundos da decada de 70…e ela os desconhecia todos,t-o-d-o-s, TODOS!!! Mas logo depois da minha encenacao de "Quatro Vezes Beckett" (1985),com Sergio Britto, Italo Rossi e Rubens Correia, ela andou por aqui em NY e, atraves de Antonio Abujamra, entramos em contato telefonico. Ela "BABAVA" no telefone. Claro, naquela epoca, ela era simplesmente critica de um tabloide qualquer.

Eu proibi a sua entrada nas minhas estreias. Isso durou algum tempo. Sim, e esperava que a proxima pneumonia a derrubasse de vez. De fato, pedi desculpas. Como somos todos seres explosivos e, ao mesmo tempo uns "doces rebeldes" nesse meio teatral, all was forgiven. E ela, por sua vez, resolveu nao entrar no meu teatro com a cabeca feita, com a critica ja pre-escrita e eu a cedi o melhor assento. Tanto eh que sua resenha de "Nowhere Man" (1996) eh bem boa, e a de "Ventriloquist" eh otima e a de "Esperando Beckett (2000) com a Gabi, idem. Se mandei ela a merda naquela epoca, tive minhas razoes. Numa entrevista concedida as paginas amarelas da Veja ela humilhou Fernanda Torres (com quem eu era casado na epoca), e suas criticas sao pessimamamente mal escritas, alem de serem criticas que nos, do "meio" chamamos de "possessivas", ou seja, invejosas, de alguem que adoraria poder ter criado, autorado aquilo mas nao autorou. Vejam o trabalho de direcao da Da Barbara! Vao la ver. (nem sei se ainda esta em cartaz) Soube que foi lamentavel, uma catastrofe. Barbara Heliodora eh uma pessoa invejosa e que adora DESTRUIR! Viva Barbara Heliodora e todas as suas facadas: ja que gosta tanto de Shakespeare, eh a propria Polonius. Leiam o PS abaixo do meu nome.

Gerald

PS: o ERRO do artista hoje eh achar que ele/ela tenha que ser ENDOSSADO pela critica/critico. A critica eh uma enorme mentira. Em 99 por cento dos casos, os criticos refletem o pensamento da classe media e nao o pensamento do artista. O artista esta SEMPRE a frente so seu tempo e nao precisa o endosso do professor ou do papai. Eh como se o cara que sempre esteve na contra-mao, batalhando na contra-mao, de repente quizesse o endosso da ACADEMIA. Nao faz sentido e eh PATETICO. Existe ai uma INCOMPATIBILIDADE HISTORICA. Fico feliz quando um amigo meu recebe criticas positivas e, ao mesmo tempo, penso com meus botoes "que naive, que inocente, o cara nao tem a minima nocao da Historia". O proprio Nelson Rodrigues recebeu ovo, tomate, vaia e o escambau com Vestido de Noiva, em 47 no Theatro Municipal. Ate Beethoven, acreditem se quizer, foi descrito assim por Karl Maria Von Weber "eu o colocaria num hospicio" assim que sua Setima Sinfonia foi tocada pela primeira vez. E Duchamp? E Warhol? e Oiticica? E Glauber? O que voces acham que eles levaram no peito? E Godard? Beckett, quando estreou Esperando Godot no Studio de Paris no inicio dos anos 50, com 70 pessoas na plateia, no intervalo sairam 35. E quando estreou aqui, Walter Kerr, do New York Times, derrubou a peca, dizendo que era uma peca em que "nada acontecia, em dois atos" O mesmo Kerr, 25 anos depois renunciou ao cargo se dizendo incompetente, porque havia entendido que Beckett era o dramaturgo mais importante do seculo XX e Esperando Godot o espetaculo divisor da Historia. Como ele nao havia enxergado isso na epoca, admitiu que deveria ter arruinado dezenas, centenas de vidas de autores e atores e diretores. Pelo menos, Kerr teve DIGNIDADE! Sim, dignidade e nao ira, inveja, mas………reflexao e dignidade, porque entre artista e critica nao ha, historicamente, compatibilidade possivel. ENTENDAM ISSO e parem de implorar que os criticos os endosse. E no caso de endossarem , PAREM de anexar essas tais criticas positivas por emails como se eles/elas (os criticos) fossem os representantes de deus na terra, quando na verdade nada mais sao do que FALIDOS EGOS daquilo que nos artistas temos a coragem de ser: VIVER A VIDA no RISCO: eles so fazem bater ponto. E pronto! Uma boa critica so vale porque traz numeros, ou seja, publico pagante. Mais nada. O valor dela relativo a consciencia do artista nao deveria consistir em mais do que um arranhao, quando se trata de uma guerra mundial. Entenderam senhores editores de revistas que querem polemica?

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