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Folha de S Paulo: Kazuo Ohno dead (Portuguese and English) Theater is not only larger than life…

Kazuo Ohno, the master of death: dead.

It’s an exaggeration of life (and death).

São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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OPINIÃO

Ao mexer com nossa alma, Kazuo Ohno sacaneou a morte

Artista japonês fazia mistura singular de arte oriunda da dor do pós-guerra somada a um tipo decandomblé

GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se você me perguntar qual foi a minha experiência mais mística no teatro em todas essas décadas, afirmo sem hesitar: Kazuo Ohno, que morreu na última semana.
Foi aqui em Nova York, no La MaMa, que o recebemos pela primeira vez. Deve ter sido no final dos anos 70 ou dos 80. Alguns anos depois, eu o vi de novo, num beco de Ropongui, em Tóquio, fazendo o ritual da morte, o seu próprio butô (diferente do de Min Tanaka ou do de Sankai Juko).
Kazuo incorporava algo: Qual algo? Ah… Quem explica a arte? Quem explica a arte que faz você engolir a sua própria essência e sentir uma dor no peito por dias e dias? Já com 70 e poucos anos, um mulher/homem (em “La Argentina” -versão Dietrich que ele viu certa vez na Alemanha), Ohno provocou tumultos aqui na rua 4, os ingressos esgotaram.
O butô de Ohno era a dança que transcendia a morte, como em “Tristão e Isolda” de Wagner. Kazuo era o “Liebestod” [ária final da ópera, onde o amor transcende a morte e vice-versa]. Meio vivo-morto em cena, tínhamos a impressão de que vinha carregado de “entidades”.
E vinha mesmo. Quando eu o vi mais uma vez, no Sesc Anchieta, fui carregado pra fora do teatro, desmaiado.
Sim, desmaiei, porque lá, em cima de sua cabeça e ao redor do seu corpo contorcido em dor e molecagem, eu vi os corpos dos “meus” mortos: Julian Beck, meu pai, Artaud e tantos outros.
Cada um via várias entidades nesse japonês que fazia uma mistura singular entre uma arte oriunda da dor do pós-guerra e do teatro Nô somado a uma espécie de candomblé. Ohno era a versão japonesa do caboclo véio.
Nossa! Não posso dizer que era de arrepiar. Era mais que isso.
E ainda agora, no voo que me trouxe de Londres pra Nova York, eu vinha escrevendo sobre as entidades que compunham a edificação da arte do nosso tempo.
Pina Bausch, Merce Cunningham, Bob Wilson, Philip Glass e Kazuo Ohno.
Ohno morreu 11 meses depois de Pina. Começo a acreditar que é extraordinário como os deuses do teatro conduzem a mão e contramão do que deixara um legado. Um tremendo legado. Como Beckett em “Ato sem Palavras 1 e 2”, Kazuo era o “Ato sem Palavras número 3”.
Suas mãos ainda cavam fundo na alma algo que nunca acharei. E por quê? Porque o butô celebra a morte. Celebra o único contrato que temos em vida: a morte. E Kazuo Ohno foi uma mistura de Rembrandt e Andy Warhol a sacaneá-la mexendo com a nossa alma e a alma da própria história do teatro para sempre.
Adeus, querido. Sayonara.

GERALD THOMAS é diretor e autor teatral.

In English:

Kazuo Ohno dead.

IF you were to ask me what was the most mystical experience in the theater in all these past decades, I can say without shivering or even taking half a breath: Kazuo Ohno.

It was here in New York, at La MaMa, that we hosted him for the first time. When was that? Must have been at the end of the seventies, early eighties. A couple of years later I saw him perform again, at the very end of a twisty alleyway in Ropongui, Tokyo. Ohno made out of his art, the ritual of death. Yes, his Butoh was different from that of Min Tanaka’s and Sankai Juku’s.

Ohno incorporated something or, rather, ‘someone else’. What that was exactly, is difficult to tell. There’s the rub: Who will ever be able to really explain art? Who will ever be able to explain that which makes you (willingly or not), swallow the essence of what you are and feel it with all its pain beating as a heart at the core of your chest?

In his late ‘progressive age”: 70 or older, this female of a male performer who got his inspiration from something I recall was titled La Argentina ( a Dietrich version of a piece he had seen in post war Germany), Ohno  caused an uproar here on East 4th Street. Within minutes, the Box Office had sold out.

Ohno’s Butoh is the dance which transcends death, just as in Tristan Und Isolde, it is love which transcends death. Kazuo Ohno was Liebestod himself, i.e. an incarnation of the Celtic Idea that ephemeral matters, matter but only on another level. Which level I dare not…

Liebestod is the last aria sung by Isolde, with her Tristan dead on her lap. Half dead, half alive on his stage, my impression is that his solo act was accompanied by a heavy load of ‘entities’.

Seriously. That’s how it was.

I saw him once again at SESC Anchieta, in São Paulo and I was literally carried out of the theater (for, I had fainted). Yes, I must have fainted after having cried a river and because I saw, hovering over his head and all around his contorted body, a mixture of pain and an attitude of a trickster of a boy: I saw the bodies and souls of MY dead loved ones such as Julian Beck, my own father and the likes of Artaud, as well as so many others….

Each one saw his or hers entities through the ritualistic art put on stage by this Japanese master who blended Noh and an the modern art derived from a painful end of a Second World War. Yet, there was something ‘candolmble’ (the Afro-Brazilian religion and ritual), about him. My God! I cannot describe the degree of  how shockingly beautiful and strangely spooky this was. It was, in fact,  far more than that. Ohno was the Japanese version of the old Black voodoo creature. And to think that, still now, on this flight which brought me from London to NY, I was jotting down some thoughts about those entities who have edified the art of our time:

Pina Bausch , Merce Cunningham, Bob Wilson, Philip Glass and Ohno. Strange thoughts went through my mind.

Ohno died exactly 11 months after Pina Bausch.

I am beginning to seriously believe how extraordinary it is how the Gods of the theater drive against the one way system and the currents of those who leave a legacy behind. And a tremendous legacy it is/was.

Just as in Beckett’s  “Act without words, 1 and 2”. Kazuo was definitely Beckett’s unwritten “act number 3”.

His contorted hands still dig deep into my soul something I am sure I’ll never find. And why won’t I? Because Butoh celebrates the only contract we have with life: death. And Ohno, as a mixture of Rembrandt and Warhol teased the crap out of death, yet moved us to tears with his

strange and estranged soul and the soul of theater itself for ever.

Goodbye my loved one.

Who will evoke you?

Sayonara.

Gerald Thomas

June 2010

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Um Oswald Em Plena Antropofagia

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 (Junkie, 32 anos, mas com um corpinho de 33)

 

Dos países baixos! 

A algumas centenas de quilômetros abaixo do Castelo de Elsinore… 

Amsterdam– Ou Amstel Dam – Paro de tão exausto. A cidade está impossível de se andar, tamanha a horda de pessoas se espremendo nas ruelas. Algumas delas como se estivessem num conto de Beckett (The Lost Ones), comendo “batata frita com maionese”, assim como se fossem gado, umas seguindo as outras e todas na mesma direção, ou em direção alguma. 

Sempre que venho aqui me pergunto por que fiz essa escolha.

São verdadeiros comboios de turistas e junkies e indonésios e turcos e uns poucos holandeses que restam (simpaticíssimos) e as milhares e milhares de bicicletas. Mas parei nessa esquina onde todos param. Na Praça Dam, onde a garotada senta e olha o nada, ou se entreolham ou… vêem os bondes passarem ou simplesmente fazem uma pausa pra andarem de novo ou ficam olhando o nome do hotel mais misterioso do ocidente: Krashnapolski. Tem o Kempinski de Berlim, claro, mas esse ganha todas. 

Ir na contra-mão do fluxo é impossível. Como aqui se toma muito ácido, o negócio é tomar um antiácido! Um Mylanta, Omeprazole, algo assim. Nexium é o melhor.

Sim, os velhos hippies, as lojas de produtos pornôs, uns mais pornôs que os outros, uns com cavalos, cachorros e outros animais (com mulheres, anões, etc.), outros com os ânus dilatados onde entra até hidrante. Sim, a Amsterdam de todos os fetiches, todos.  

A configuração é mais ou menos assim: uma loja pornô, uma de pizza, uma de parafernália de drogas e uma de cerveja (espécie de pub, Heineken, Amstel e Grolsch) e uma de batata frita com maionese. É só seguir essa fórmula por quilômetros e quilômetros que se chega a Centraal Station (com dois aa mesmo). 

Claro, a cidade é linda, tem uma história linda e triste e quem sabe o que Hitler fez aqui, bem, deixa isso pra lá. Tem o lindo entrelaçado dos canais (sim, assim como Veneza, A’dam também está afundando aos poucos). 

Nada mudou desde os primeiros anos em que comecei a vir aqui: 1971. Nunca parei de “pousar” aqui por um motivo ou outro. Quando a Amnesty International fazia suas enormes convenções… ah, que nada, chega de Amnesty!

A Europa inteira é um único cenário: pessoas espremidas, num enorme empurra-empurra, andando em ruelas, seja aqui, seja lá, seja em qualquer monarquia ou república. É tudo gado! O cheiro enjoativo de maconha no ar prova uma coisa: não há porque não legalizar essa erva ou droga. A cidade aqui é a mais pacífica do mundo. Nada acontece. O pior é justamente isso: está todo mundo chapado e NADA acontece. 

Mas não sou guia turístico e não vou descrever a cidade. Quem quiser que venha aqui pra ser empurrado! Falo com algumas pessoas. Poucas conhecem, de fato, a história da Holanda. Mesmo os que moram aqui, e isso sempre me deixa pasmo. O oportunismo do mundo rápido de hoje, de quem pisa e vive numa terra e pouco ou nada sabe sobre ela, me deixa boquiaberto. 

Rembrandt? Mondrian? Van Gogh?  A escola Flemmish toda? Nada! O auto-retrato, o homem se olhando no espelho e se pintando pela primeira vez e exclamando “eureka” num silêncio de Anne Frank, o cálculo minucioso dos navegadores, os importadores de chocolate, enfim, até Spinoza que veio parar aqui. 

E hoje, Segunda, tomo conhecimento de que um otário, de nome “my nerd”, difama Chico Buarque de Hollanda, justamente quando estou na Holanda. 

Pergunto-me: por que, nerd? Por que construir uma carreira difamando pessoas? Que tipo de gente é essa? Não, não é gente. Sofre do mesmo ditatorialismo que tanto criticam. Nunca saberiam lidar com países livres, como esse aqui. Não é à toa que não agüentou Veneza. Precisam viver em países pobres e incultos para soltarem seus venenos, aspirantes de celebs que são. Mas não serão, jamais, celebs,  já que não se constrói uma obra em cima dos destroços da outra. 

Enquanto isso, Waldecy, agradeço às menções honrosas. Ah, quem não sabe quem é Waldecy… ele era o cameraman do Ernesto Varela (Marcelo Tas). Montou a produtora O2 e viveu bem de comerciais. Até que lhe chegou um bom roteiro nas mãos, aperfeiçoado pelas mãos de ouro de Bráulio Mantovani. Esse filme chama-se “Cidade de Deus”.  

Bem, já são quase 11 da manhã e a horda de junkies lá fora me chama! Todo dia elas fazem tudo sempre igual, me acordam às seis horas da manhã. Não, não pra me injetar com heroína ou nada, não. É que parece, assim me dizem (as “Mulheres de Atenas”), tem uma nova droga pra ser experimentada t-o-t-a-l-m-e-n-t-e pura e inquestionável (e que dá um enorme barato: batata frita com maionese, levemente picante, na veia.

Há tempos que eu queria escrever sobre o mais avançado sistema de transporte urbano de toda América Latina, o TransMilenio, em Bogotá.

Por que na Colômbia, com todos os seus problemas, e não em Sampa, por exemplo? Mas isso fica pra próxima, depois que o Sarney e o Daniel Dantas já tiverem dado seus pulinhos aqui em Amsterdam junto com o Lula e todos os outros milhões de safados do mundo. Quem sabe um bom baseado, uma fileira de cocaína e uma injeção de smack e três ecstasys não fazem esses caras falarem logo o que tem que ser dito?

 

Gerald Thomas

 

 

(O Vampiro de Curitiba na edição)

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TOP CHEF

 

 

Top Chef e Projeto Runway

 

New York – Tudo no Brasil começa em outro lugar. Tudo é imitado. Chega a ser irritante como nada é original. As pessoas me dizem (com dez, vinte anos de atraso), “agora no Brasil também já temos …”. Sim, mas até hoje, São Paulo não tem um metro que preste e não enterrou seus fios. Os postes não são somente risíveis. São deploráveis. Os postes são uma anomalia urbana. Há quem venha de “fora” (aliás, esse conceito de “fora” e de “dentro” também é muito peculiar) para fotografar esses postes e seus fios em plena paulicéia, com seus pesados transformadores, etc. Um horror!

 

Mas faço esse prefácio da imitação por causa desse Big Brother Brasil, essa catástrofe. Nem nome brasileiro tem. “Big Brother”. Sei! Não sabem nem quem foi George Orwell e  esse “abestalhamento” monumental que joga o país meio século para trás. Olham a televisão bestificada para ver “quem está com quem”. Cacete!

 

Mas nem todos os realities shows no mundo são imbecis.

Top Chef e Project Runway são interessantes. Claro, dentro da medida do possível.

 

Top Chef é um entre tantos programas na TV americana que lida com a situação “Restaurante”: Cozinha, assistentes, frentista, garçom, etc. Julga-se entre os times participantes. Vão-se reduzindo o número dos que estão vencendo. Entramos na vida emocional deles. Aprendemos sobre a vida particular deles, sobre seus sofrimentos e ambições e, obviamente, tomamos partido e começa uma torcida fervorosa.

 

E como não poderia deixar de ser, odiamos os críticos: afinal, quem são eles? Bandas de rock? Modelitos de fashion? Um único crítico da Zagat ou da Vogue ou Vanity Fair? Unfair.

 

No final de uma rodada de programas, a equipe de quase vencedores é trazida para New Orleans e a challenge é que se façam pratos ”cajum”, ou seja, da cozinha creole/francesa, apimentados (coisas do Sul dos USA). Enfim. Não importa. O que importa é que o julgamento é rigoroso e que, no final, sairão equipes ducaralho desses programas. Ambiciosos, talentosos e hábeis. Às vezes, futuros gênios da cozinha.

 

O mesmo acontece com “PROJECT RUNWAY” (tradução possível seria: Projeto Passarela) onde a mesma coisa acontece com jovens que virarão estilistas, costureiros, desenhistas como o Galiano, Herchcovitch, McQueen, etc. As equipes são levadas para as lojas de gente famosíssima como a Furstenberg e é dado o start no cronômetro: eles têm 3 minutos para pegar o quanto tecido quiserem. Depois, mais 3 horas, ou sei lá quanto, para modelarem algo em torno de um tema ou uma época e está cada um por si: de novo, aprendemos um pouco (através de entrevistas individuais) quem é quem, de onde vieram, o quanto são ou não ambiciosos, e no final temos um “winner” para a próxima etapa. Ah sim, tanto no Top Chef quanto no Project Runway, participamos das discussões entre os críticos. Ficamos a par dos critérios de eliminação ou de adoção, etc.

 

Já o mesmo não acontece na política ou no que é publicado a respeito de resoluções políticas! Por exemplo:  a queima de pneus! Sempre queimam pneus. Por que isso, não sei. Mas virou um símbolo! Será que se comeria um pneu queimado, com o molho apropriado? Oficiais americanos afirmam que têm a prova de que existem links diretos entre o Talibã e o Paquistão. Dizem que vem de informantes confiáveis e de “electronic surveillance” (aquilo que George Orwell descrevia como sendo Big Brother, já que ninguém nunca pode provar). Está ai! Os militares paquistaneses e os líderes civis, ambos negam publicamente que tenham qualquer conexão com esses grupos militantes. Ha! Como provar qualquer coisa? Nada prova nada! Então se invoca “electronic surveillance” e pronto. Não resta mais dúvida numa possível próxima invasão militar e sua justificativa perante o Senado. Oh, Jesus!

 

Vamos voltar pro Top Chef? Não. É bonitinho e tal, mas depois de ver o cara ou a menina tremendo, montando o peixe que já caiu do prato quinhentas vezes e o doce que cozinhou demais e fracassou, que diabos!!!!! Queremos mesmo o quê? Investigar as centenas de incógnitas que ainda permanecem obscuras no verso da nota de um dólar? NÃO, não, não! Deixa aquela pirâmide cortada com aquele olho que emite raios (linda), pois é aquela nota que rege as regras do mundo: desde os pneus queimando até quem vai ganhar o Top Chef ou se o Drug Lord da Rocinha, agora alojado na ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, irá sobreviver ou não!

 

Olha, uma sugestão: Vamos investigar a vida de Freeman Dyson.

 

Quem é? O que faz? Venham-me com as respostas. Estou exausto ou então… fica para o próximo artigo, isso é, se não me colocarem num desses eternos pneus que queimam ou se um Top Chef da vida não resolver fazer um prato de inverno meio primavera intitulado “Salada de putos, veados e vagabundos regados a balsâmico”. Ah, estaria me banhando de balsâmico de Modena agora, se o Top Chef fosse gente boa!

 

 

 

Gerald Thomas, 26/Março/2009

 

 

 

(Vamp na edição)

 

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TUDO SOB CONTROLE

Hotel em chamas na cidade de Pequim
 
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ARTIGO DE SAMUEL BUENO ESPECIAL PARA O BLOG DO GERALD

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 “Estou em férias em nossa amada pátria tropical e, para comentar, minha estada novamente me serve para confirmar minha antiga convicção de que este país é realmente uma dádiva maravilhosa da natureza, na maior parte de nosso território o clima é agradável, a comida em geral muito boa, a população é saudável, o idioma melodioso, etc e tal. Ao mesmo tempo, porém, constato que a sociedade brasileira continua profundamente insana e está piorando em alguns aspectos, embora melhore a olhos vistos em outros. Com tantos anos morando no exterior, confesso que já estava meio desacostumado com a maluquice “espontânea” que permeia toda a vida brasileira.

 

Ainda que meu dia-a-dia no país em que resido seja a defesa dos direitos humanos dos ´brazucas´, alguns em situação social bem precária, e me tenha habituado a tratar com um amplo espectro de problemas sociais, confesso que não estava preparado para o “baque” da atmosfera de permanente confusão e violência potencial que se respira hoje em algumas cidades do Patropi. O que ouvi e presenciei em apenas uma semana entre Brasília e São Paulo supera as descrições que me acostumei a ler na imprensa lá fora sobre a criminalidade rampante, acidentes de tráfego, incúria das autoridades, burradas e mau-caratismo de algumas figuras que fazem as manchetes do Jornal Nacional, etc. Para mim é muito chocante, por exemplo, que, apesar de tantas denúncias de casos anteriores, mais e mais pessoas neste país continuem a morrer de intoxicação alimentar, eventualmente agravada por impericia médica ou contaminação bacteriana hospitalar. Estranho também que fraude e corrupção persistam sendo uma espécie de “método” de escalada social, sobretudo em ãmbito político, enquanto com malemolência seus efeitos se espalham e multiplicam, em diferentes formas, como péssimos exemplos para outras áreas, sem que isso desperte uma repulsa ativa da maioria da população comum, para não mencionar que em princípio deveriam acarretar a certeza de sanções daqueles que teriam por obrigação prevenir e punir tais comportamentos. Estupefato, escuto relatos sobre assassinatos que provavelmente ficarão para sempre impunes, sobre grupos de estilo mafioso que impõem regras em vários campos de atividades, sobre parlamentares de passado criminoso que são guindados por seus pares a postos em que um mínimo de ética seria pré-condição inescapável para ocupar o cargo – e minha conclusão é de que ninguém quer, de fato, mudar nada ou corrigir o que quer que seja, o escândalo diário serve apenas como espetáculo. Muitas são as denúncias, mas noves fora não resultam em nada. E tudo isso em meio a uma crise econõmica global cujas labaredas começam a lamber a estabilidade precariamente alcançada pelo país na última década …

 

Em contraponto a esse quadro impressionista de horror, no entanto, a impressão que recolho visualmente é de que a sociedade brasileira avança e está melhorando, sim, apesar de tudo, graças a gente vibrante, intelectualmente preparada e acima de tudo interessada em construir um ambiente civilizado nestes trópicos. É verdade, os desafios são imensos, há uma juventude pobre e sacrificada que se sente economicamente excluída, da qual saem os kamikazes da criminalidade para atacar sobretudo uma classe média consumista e endividada, enquanto as elites doidivanas prosseguem em sua loucura moral, pisoteando com seus privilégios os mais elementares padrões da decência, mas há igualmente progressos sociais significativos, muitos dos quais viabilizados pelo governo Lula, que teve a sabedoria política de não mexer naquilo que herdou da era FHC e estava dando certo, mas alterou perceptivelmente o enfoque dos programas sociais. O resultado é que, apesar das respectivas contradições e inconsistências, a gestão pública no Brasil se aprimorou sob o regime petralha, daí o entusiástico apoio das massas. Não obstante, com a crise financeira tantas vezes anunciada, mas que parece ter pegado a todos de calças curtas, as incertezas sobre o amanhã aumentam agora exponencialmente. 

 

O Brasil é dialético demais, seus contrastes são agudos demais, como poderemos saber quais serão as sínteses que nos reservará a história? Será que vamos nos submergir fundo por causa do tsunami financeiro mundial ou a atual conjuntura vai alavancar a definitiva emancipação econômica do país, com afirmam alguns amigos meus da esquerda ufanista? A direita está exageradamente quieta porque está intimidada pelos avassaladores índices positivos de popularidade de nosso supremo mandatário ou porque prefere matreiramente fingir de morta, deixando o previsível desgaste dos duros tempos que se avizinham para quem suceder o atual presidente? Muitos devem estar sentindo saudades daqueles projetos salvacionistas que no passado ofereciam conforto aos mais atemorizados diante das preocupantes nuvens que se condensavam no horizonte… 

 

De minha parte, não tenho mais certezas, elas ficaram em passado distante de minhas experiências existenciais, perdi as ilusões revolucionárias mas ainda estou à busca de uma utopia aplicável para sonhar um futuro melhor para o Brasil, já que a meu ver as “tradicionais” não têm a mínima chance de servir para explorarmos prospectivamente uma transfomação efetiva de nossa realidade… O país é de uma complexidade e esquizofrenia tal que não pode ser reduzido a formulações triviais ou ser explicado por sistematizações teóricas esquemáticas. Aqui vamos ter de reinventar todas as ideologias sociais, ou não haverá mesmo jeito de consertarmos o que os doidos de nossos avós nos legaram.” 

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Samuel Bueno

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10/0220:29hs

Sistema de blogs do iG enfrentou problemas técnicos
Instabilidade de três semanas afetou colunistas e leitores

Caique Severo

O sistema de blogs destinado aos colunistas e colaboradores do iG enfrentou problemas técnicos em alguns dos seus servidores nas últimas três semanas.

Muitos blogs não foram impactados, mas para alguns o serviço encontrou-se intermitente: os colunistas afetados não conseguiram publicar novos textos regularmente, os usuários não puderam postar comentários e até mesmo os blogs ficaram inacessíveis em alguns momentos. Neste momento, o serviço foi restabelecido e funciona bem.

Pedimos desculpas e paciência a nossos usuários e colaboradores.

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Caique Severo
Diretor de Conteúdo

 

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( Vamp na Edição)

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Surtos De Individualismo

 

Não, não… não é o que vocês estão pensando. Não, não é isso. De certa forma… quero dizer, de alguma forma, é  o que vocês estão pensando, sim. Não posso negar. De alguma forma, o que vocês estão vendo agora, confirma exatamente isso (o que está no palco, vida, política, jornais, etc), e confirma também o que vocês estão pensando.

Engraçado. Triste. O desmoronamento. Várias obras de arte têm essa cara. Melhor, o PODER tem essa cara também.

O Poder e a Arte tem a cara da destruição!”

E por aí vai a narração inicial de “O CÃO QUE INSULTAVA MULHERES, Kepler, the dog” que estreou semana passada (apresentação única) em Sampa e pelo IG.

Muita coisa pessoal aconteceu na minha vida desde que comecei a ensaiar o espetáculo. Muita coisa aconteceu desde que ela foi ao ar.

 Às vezes devemos dar uma parada em tudo. Zerar. Lubrificar o corpo. Postar a alma diante do espelho como o mais angelical dos seres ou o mais diabólico deles e perguntar: “o que estamos fazendo aqui? Pra quem e pra quê? Quem são nossos amigos? Quem são os oportunistas? Quem são nossos inimigos?

 As respostas podem vir na hora. Outras podem demorar algum tempo. De uma forma ou de outra, quem vive uma ‘vida pública’  assim como eu,  já deve dormir com um olho aberto. Quem se aproxima… hummm, deve se aproximar porque deve querer alguma coisa.

INÍCIOS DE TUDO

Vejo uma geração (aliás, duas) inteira de pessoas fingindo que estão acontecendo coisas. Uma, a mais velha, FINGE que há um NOVO INÍCIO de TUDO, como se os tempos de hoje fossem a nova Gênese. Bosta. Não tem nada de novo acontecendo além do fingimento oportunista desses alguns que querem estar desesperadamente correndo em busca de um tempo perdido.

E tem de fato a geração de hoje, a nova, que não sabe porra nenhuma mesmo e que olha qualquer negócio com aquele olhar bestial de novidade. Dá preguiça? Não sei. Dá pena. Mas sempre foi assim. Schoenberg já escrevia sobre isso. Outras dezenas também. E sei lá quem escrevia que o “tempo contemporâneo traz memórias pra serem preenchidas”. Ah, tem cara de ser Wittgenstein, mas posso estar chutando.

“Hedonismo perverso”

Mesmo assim, exausto da estréia do Cão que insultava e insulta, fui ver o espetáculo que Jô Soares montou no “Teatro Vivo” com o Wilker e cia. E o quê? Me surpreendi como  o Wilker está ÓTIMO, como o Jô deixou o texto de Albee de pé, sem pretensões de querer cultuar um manifesto em torno de si mesmo. Ah sim, nem tudo é perfeito, mas… quem sou eu para estar escrevendo sobre perfeição ou cultos sobre o diretor, etc.?

Encontrei no camarim um Jô Soares tão doce, tão simpático e tão aberto a tudo que, complementar ao texto do Albee e a interpretação inesperada de Wilker, deixa em aberto se não devemos nos olhar mais no espelho todos os dias um pouco menos. Vou repetir. Olhar MAIS no espelho um pouco MENOS (essa frase é melhor em alemão). Olhar menos no espelho e testar nossas idioTsincrasias e daqueles que consideramos amigos, inimigos ou da tchurma ou da antiTchurma ou de pessoas que consideramos hostis ou da nova FASHION Actor ou Fashion ACTRESS ou do Pink is the new Black. E por quantos anos olharemos para fora ao invés de para dentro para constatar uma coisa, uma única e só coisa?

Sylvia, a cabra, é uma paixão impossível porque ela não existe.

A questão mais profunda e mais dolorosa entre nós da humanidade seria: temos realmente alma suficiente para amar ou entregar, para colocar nosso coração à disposição de alguma outra pessoa em qualquer momento de nossas vidas? Ou o MOTTO do “Kepler the dog” está mesmo certo: ”Não, nao é o que vocês estão pensando. Sim, é o que vocês estão pensando, sim. O que está colocado na frente de vocês e na minha frente agora é isso! E se está colocado na sua frente, tem que ser comido, atacado, digerido, possuído e depois… CAGADO FORA!

XEQUE-MATE!

Gerald Thomas,

Depois de uma longa conversa sobre “amizades da oportunidade” com João Carlos do Espírito Santo.

 

(O Vampiro de Curitiba na Edição)

 

PS: “O CÃO QUE INSULTAVA MULHERES, KEPLER, THE DOG”, AO QUAL O TEXTO SE REFERE, PODE SER VISTO AQUI:


 

 

 

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Deprê parte 2: o que fazer? Ou: "O Dia em que fui processado por Tom Cruise"

 

Este post deve ser lido com o de ontem, o da “depressão”, etc., aqui embaixo. O que eu tenho feito nesses anos todos? Qual tem sido meu trabalho direto e indireto nos palcos do mundo desde que trabalhei na Amnesty International em Londres? Fácil de responder? Difícil?

Não. Acho que não. Os que me chamam de hermético, polêmico, controverso, etc., devem ter lá suas razões. Mas já passei por todas as provas. Oitenta e tantos espetáculos e óperas depois, por sei lá quantos paises, o substrato vem a ser esse: fácil atacar!!! Eu mesmo ataco em blogs. Ataco em entrevistas! E, para quê?

Pra nada. Pra absolutamente nada.

Meu trabalho nos palcos de teatro do mundo nada mais tem sido senão uma tentativa de integração de culturas. E por quê? Porque venho de uma cultura fragmentada. Venho dessa coisa chata chamada Iconoclastia e Desconstrutivismo. E um povo que se afastou ou foi afastado: Yin e Yang. Na balança final, um atrai o outro.

Acabou. Há anos venho tentando somar os cacos do que sobraram para formar um novo mosaico: mas sobrou alguma coisa?

Vejo como se torna simples ATACAR pessoas, ferir pessoas. Eu mesmo sou um mestre nisso. Mas, para quê?

Quando, em 1999, escrevi uma resenha sobre o filme não tão genial do Kubrick “EYES WIDE SHUT”, que assumia que um casal não trepava mais, para fazer a metalinguagem numa estória de Schnitzler (sobre um casal que não conseguia mais manter relações sexuais) , fui violentamente contra-atacado pelos agentes de Tom Cruise e Nicole Kidman.

Quando ameacei que iria adiante e revelaria o que eu sabia sobre suas vidas pessoais, pararam imediatamente com o processo.

Mas isso tudo é tão imbecil visto em retrospecto. O que me interessava era o jogo que eles (o casal) haviam topado fazer com um Kubrick já em estado terminal.

Hoje, em Kabul, capital do Afeganistão,  uma corte suprema sentenciou o jovem jornalista Sayed Parwiz Kambakhsh a 20 anos de prisão. Um jornalista!!!!! Por pouco ele não leva a pena de morte. Isso deveria REPERCUTIR em todos os veículos do mundo, assim como a cabeça degolada de Daniel Pearl (até filme virou!). A jornada de Seymour Hirsch pelo Cambodja virou filme também!!!

Afinal, quando digo que São Paulo virou uma província, eu errei.

Nós viramos uma província desgraçada.

Aqui dentro de nossas cabeças! Enquanto não nos libertarmos desse MONSTRO que ATACA um ao outro sem parar, como se fosse uma farpa desprendida de qualquer EMOÇÃO, uma coisa desprendida de qualquer alma, nunca conseguiremos ser algo, um ser íntegro. E isso nada tem a ver com qual país, qual cidade.

Sim, atacar sempre será muito fácil.

Mas, manter-se “antenado”, antenado no MUNDO, nu, despido e antenado, prestando atenção, sim, isso sim quer dizer algo. E o quê? Quer dizer que nossas almas serão mais generosas e mais abertas e nosso JUÍZO será um pouco mais HUMILDE porque, afinal de contas, somos somente humanos. Não somos e não podemos brincar de ser… deus.

Gerald Thomas

Parabenizando a todos por 5 meses de BLOG aqui no IG

(O Vampiro de Curitiba na edição)

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Depressão: ou pessoas que se reúnem e não conseguem mais conversar

Nesses dias que antecedem a eleição americana e essa tensão doida (na qual me incluo, não apenas como especulador, mas como militante maluco e doador de sangue!), vou me permitir uns segundinhos a falar de outra coisa. Algo que raramente se lê em algum periódico ou raramente se comenta em alguma roda social: a frieza com que um trata o outro (e nem ouve mais o outro).

O uso descarado de uma máscara (antigamente somente presente nos meios teatrais, agora difundida em todas as latitudes), e que faz gelar o mais gélido dos nórdicos, mesmo que em climas tropicais.

Seja nas coxias de um teatro no final do espetáculo de uma amiga ou num encontro com um correspondente de jornal ou num ‘encontro” casual na casa de alguém, parece que tudo se transformou numa aberração. Ninguém parece querer mesmo ouvir. Ou não tem raça ou peito para isso, ou não tem mais interesse. Os egos estão tão, tão, tão inflados que enquanto um fala o outro está preparando o seu discurso ao invés de estar prestando atenção a uma coisa que usávamos chamar de diálogo!

Acabou?

Não sei. Mas as pessoas estão tão tortas ou entortadas de bebidas ou outros entorpecentes que me pergunto: qual é o sentido social desses encontros? Por que “estar junto”? No final ou no dia seguinte, será que estão felizes de terem segurado tanta bandeira de nada e por tanto tempo e dado tanta risada e tanta risada de si mesmos? Será que suas bocas continuam borradas e tortas ou será que agora se olham no espelho e… se lembram de uma só frase????

Esse circo de horrores  pode também ter outro nome: depressão. Isto é, onde as auto-imagens não se agüentam mais e precisam ser superadas com clichês absurdos. Claro, com tanto “google” isso, “google” aquilo, ninguém precisa mesmo saber quem era quem, “Quem mesmo?”… Gente que não sabe o que diz, mas fala aquilo que ouviu em algum lugar. Repetem o nada já repetido, como um telefone sem fio.

Papagaiam (sim, como verbo) coisas ridículas, e acham lindo as besteiras que papagaiam, e morrem de rir, ou se empostam, como postas ou bostas de peixe,  assim como estátuas de bronze de tão rígidas em seu discurso nulo, vazio.

Damien Hirst tem razão! Chega a ser político, ás vezes. Hirst deveria esquartejar a sociedade agora ou colocá-los debaixo d’agua. Torpedos, mosquitos, carrapatos, cães que latem e não mordem, ou vomitam de tanto beber.

Juro. Estou impressionado (ainda) com o não entendimento dessa BABEL nessa virada do século, milênio, que seja.

Depressão não significa, necessariamente, um ser humano metido debaixo das cobertas, não conseguindo abrir a porta num ataque de pânico. Depressão pode ser quando duas ou três pessoas acham que estão conversando mas, se traçadas num gráfico, essas três linhas de conversa vão para três pontos diferentes do universo e não formam um triângulo. E quando acham que estão se olhando nos olhos, que olhos porra nenhuma! Pior que peixes mortos. Peixes vivos, esperando o abate, vivos, mas já em postas!

Gerald Thomas em São Paulo, onde, nos restaurantes, ao contrário de outras capitais mundias, todo mundo só fala um idioma, inclusive os garçons: que província!

PS: Sempre houve isso, óbvio, mas talvez agora tenha piorado: a classe teatral está menos teatral e o resto da população adotou o que há de mais podre na classe teatral.

 

 

 

(Vamp, meio deprê, na edição)

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SEJA VOCÊ UM ATOR DA PRÓXIMA BLOGNOVELA DE GERALD THOMAS

Gerald Thomas convida você a enviar o seu vídeo. É como um teste de elenco online. Se você for escolhido poderá fazer parte de uma peça de teatro interativa que será encenada em São Paulo no mês de novembro.

Sugerimos que os interessados leiam os capítulos da BlogNovela já publicados aqui no blog e mandem vídeos com interpretações relacionadas a esses capítulos.

Todos podem usar a área de comentários deste post para eliminar qualquer dúvida e enviar sugestões.

Desejamos a todos M.E.R.D.A !!!!

 

 

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Violência BRUTAL

Violência BRUTA

Ou BRUTAL.

Não pode ser normal. Meus amigos “estrangeiros” que estão chegando aqui para uma série de eventos me perguntam: ”Como está aí? Como é São Paulo?  O que devo vestir?”

Fico quieto aqui no meu canto e reflito um pouco.

1-   Polícia atacando polícia. Humm, será que conto isso pra eles? “Listen guys, down here two separate forces of the police are at each others throats, with FULL FORCE, tear gas, bombs, etc”.

2-Duas polícias diferentes? “WHAT?

2-   Ah, como os carabinieri e os polizzia na Itália? Sei lá, difícil de explicar. Se eles não conseguem se entender, como a população os entenderia? Ou como eles entenderão a população?

3-   Ou falo daquela garota mantida pelo seqüestrador… Não, melhor não falar nada sobre isso. Quero falar bem sobre São Paulo. Quero dizer que isso aqui é um prosseguimento da Bauhaus, que, se Gropius estivesse vivo, se orgulharia disso aqui. Ou Corbusier. Ou gostaria que Peter Eisenman e Gehri dessem um pulo aqui para fazer uma intervenção arquitetônica, misturar os vivos com os quase vivos.

4-   Mas… fora o Hotel Unique, a aquitetutura daqui é simplesmente a MAIS convencional das cidades modernas. Careta mesmo! Até Shanghai é mais moderna, mais criativa e não tem esses malditos postes, postes, postes, postes com os fios expostos, tranformador à vista e mais fios, fios, fios e poste, poste  e poste! Nem o Rio, Zona Sul tem mais isso.

5-   Mudo de assunto, então? “It’s a cool city, man!” Pode-se andar de noite na rua sem problemas. Catzo! Pode nada. Tem que se VOAR do lugar para onde se está para o carro e do carro para dentro de um recinto fechado. Muito carro BLINDADO aqui. Lojas: BLINDA-se em 48 horas! Que vida bela!

NENHUMA CAPITAL de lugar nenhum é assim. Nova York, onde moro, saio na rua as 3 manhã para fazer compras na Deli. Sei lá, coisas como açaí orgânico. Pão, coisas que não tenho saco pra comprar de dia, no meio da muvuca. Desço a pé uns 12 quarteirões, da 23 até o East Village, e não me passa pela cabeça olhar para trás.

Ontem, na 9 de julho, um motoqueiro morto, estirado no chão. O motorista de táxi nordestino dizia: “Ótimo, menos um”! Assim, com essa frieza.  Ótimo? Menos um? É isso que o brasieiro quente… REPITO… ”quente” virou?

Hoje estréia nos EUA o filme de Oliver Stone sobre George Bush. Chama-se simplesmente “W”. Vi trechos. Stone, às vezes acerta em cheio, às vezes erra feio, assim como eu e você. Stone, nesse filme, afirma que “W” mudou o mundo pra sempre e que essa esfera jamais vai se recuperar dos danos deixados pela dupla Cheney-Bush. Até McCain está afirmando: “I am NOT “W”. Somente ele sabe o que quer dizer com isso.

O skype toca: “Então, que roupa devo levar?”

Não sei, digo eu. Um dia faz 35 graus e não há ar para respirar, uma secura… uma poluição, um barulho de ônibus, dos escapamentos, os bip bip bip dos motoqueiros e os snif snif snif dos garotos cheiradores de cola nos faróis, semáforos/sinais de trânsito. Olha, paulicéia… Vocês estão de parabéns!

Daqui da janela vejo antenas e mais antenas.

Refúgios altos e helicópteros de pessoas que tentam se elevar além dos índices do DOW JONES.  Lá embaixo, uma população que dorme nos cantos, abaixo dos BAIXOS níveis do DOW JONES. Enquanto o Lula fala besteiras em Moçambique ou em algum alambique e tenta perpetuar sua história no poder, eu me lembro de que Hitler, Stalin e Franco e os grandes ditadores se perpetuaram através de juventudes, melhor, de movimentos juvenis que criaram (Hitler Jugend, por exemplo). Algum anão espanhol me lembrou disso.

Acho que um dia São Paulo acorda para São Paulo. Aliás, eu acordei para São Paulo faz tempo. E… e o quê? Aprendi que só há mesmo uma maneira de amá-la. É através da atonalidade. Através dos “pingos” do Pollock, dos traços mal traçados de qualquer movimento artístico da deformidade que, sim, tem a sua beleza.

Num dia cinza como o de hoje, Sampa fica ainda mais feia, digo, seu espelho a reflete ainda mais bela.

Gerald Thomas

 

 

(Vamp, na edição)

 

Ps. do Vamp: Caros, os comentários permanecem daquele jeito: Uns entram como se tivessem sido postados (do verbo postar)  com uma hora de antecedência. Outros não. Às vezes as respostas aparecem antes das perguntas.

Portanto, antes de começar a rogar pragas para o moderador (no caso, eu) por seu comentário não ter entrado, verifique se ele não está lá em cima. Vamos tentar organizar o caos!

 

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FAUSTO SILVA, VOCÊ VENCEU, PARABÉNS!

Fausto Silva, Chacrinha e… o grande circo.

New York – Pronto. Agora pensei o seguinte sobre a matéria da Judith postada no sábado: quase ninguém teve o que dizer ‘fundamentalmente’ sobre o que ela falou. Digo, sobre a vida que ela leva, levou e a mensagem que ela trasmite para o mundo. Quando penso nos programas dominicais do Faustão ou do falecido Chacrinha (absolutos vanguardistas no que fizeram), penso no que o mundo virou, ao contrário do que Judith Malina prega. Por quê? Difícil explicar. Mas tentarei.

Pensem naquela “melange” de gente no palco falando, berrando ao mesmo tempo. Pense naquelas meninas dançando e na confusão geral que se dá durante a tarde de domingo.

Agora, pensem nos Blogs, eles berrando, cada blog uma aberração, uma berração, um berro, uma verdade. Uma sinfonia pra lá de atonal, uma cacofonia pra lá de qualquer coisa que  o ouvido humano possa suportar. A mobilização urbana está insuportável. A mobilização política puxa a sardinha para o lado demagógico que quer e que lhe mais convém.

Um apoiador de McCain pode agora usar o jargão de Obama “CHANGE” da mesma maneira como um sucessor de Pinochet, no Chile, pode falar em liberdade de imprensa. Assim como os irmãos Castro, em Cuba, podem se considerar o Triunfo da Vontade exibindo o filme-mor do Terceiro Reich, de Leni Riefenstahl. Nada realmente faz sentido nessa moral perversa desse milênio que entrou. Nada.

ESTAMOS AGENDADOS.

ESTAMOD IBOPE-Ados.  Quem ganhou? O mundo cão! Viva o Faustão! Viva o Abelardo Barbosa!

Ontem, após o “60 Minutes”, na CBS, deixei sem querer a TV ligada. Pra quê? Entrou no ar “THE AMAZING RACE”.  O grupo de idiotas (acho que tudo pré-scripted) acontecia no Brasil, entre Salvador e Fortaleza.

Os Brasileiros eram mostrados como perfeitos imbecis, desdentados, táxis péssimos (até certo ponto verdade) e os americanos competidores eram mostrados como outro bando de imbecis que pronunciavam a capital do Ceará… “Furrleteeza”! Claro, ninguém tem a obrigação de saber onde está.

Se eu despachasse um bando de brasileiros pro Iemem do Norte, ninguém saberia pronunciar a capital: um horror: Mas a televisão é isso. As gravíssimas acusações engraçadas de Andy Rooney sobre o que é essa porra da AIG ou Goldman Sachs, e o que fazem com o “dinheiro dele”, e o que é essa merda de “bailout” são seguidas por um bando de imbecis tentando pegar táxis em aeroportos no norte/nordeste brasileiro.

Viva Faustão!

E Num Law & Order Criminal Intent na TNT ou A&E ou sei lá qual, um tal de vilão chamado Dupont estava com uma namorada brasileira, pronto para dar o golpe dos golpes e embarcar para o Brasil.

Quantas vezes já vimos esse filme? E o quanto dele está certo?

Eu poderia escrever algo mais sério, como a demonstração dos cegos aqui na Rua 23, que me impediram de ver o “BLINDNESS”, do Meirelles. Mas não vou. Retribuo generosidade com generosidade e mesquinharia com mesquinharia.

Ontem, comemorei quatro anos sem fumar! Oba!

Ontem, comemorei um ano desde que voltamos do festival de Córdoba e estávamos nos preparando (ensaiando) no hotel Staybridge em Sampa para abrir o evento “Satyrianas” na Praça Roosevelt, amarrando Alberto Guzik e um outro que desapareceu da minha vida por livre e espontânea opção, depois de aprontar aqui em NY. Nunca falei disso publicamente, mas um dia… Um dia, nada. Que um dia porra nenhuma! Viva o Alberto que está escrevendo magnificamente “Um Crítico”.

Quanto ao mundo? Ah, sim, ele. Hoje foi a Europa que se fudeu. Efeito Dow Jones. “The devil in Miss Jones”, aquele filme pornô que andava lado a lado com DEEP THROAT – com Linda Lovelace. Engolir tudo. Assim estamos, me parece. Como Linda Lovelace. Engolindo tudo!

Deep Throat também era o informante de Bob Woodward e Carl Bernstein do Washington Post e que acabaram com a vida de Nixon ao revelarem o escândalo de Watergate.

Hoje? Não tem mais GATES. So tem o Bill Gates dando uma ótima entrevista a tarde para um paquistanês cujo nome não me lembro… CNN dominical. Ótima. Micro and soft. Deve ter sido a mulher dele que deu o nome, depois que o Bill se despiu e ela viu o dito cujo.

Viva o Faustão! Você é a encarnação de “Fausto”, de Goethe. Já te disse isso na Churrascaria Rodeio de São Paulo e te direi sempre. Você está nas Vanguardas das Vanguardas porque o barulho que você provococa quando não deixa ninguém ser ouvido, quando fala é exatamente igual aquele que acabo de ouvir agora do lado de fora do meu banco, aqui na primeira Avenida, quando um policial da NYPD era verbalmente abusado por um camelô que dizia: “You motherfucker, se você me multar, eu vou lá e mato toda a tua família, teus sobrinhos, tua lua e teu sol. Yor son and yor SUN“.

O que ele quis dizer com isso, Faustão?

O que ele quis dizer com isso, Abelardo?

Mas funcionou! O policial se mandou.

O Brasil é humilhado por esses “game shows”. Mas não se preocupem: os particpantes são mais humilhados ainda.

Um humilhando o outro. Mundo cão! Mas tudo de mentirinha até que a primeira bala seja realmente MORTAL.

Gerald Thomas

Inicio de outubro. The Race is ON!

PS: Ih, esqueci de comentar o melhor do 60 Minutes: um soldado da DELTA FORCE que tentava catar o Bin Laden la nas montanhas em Tora Bora! mas nao conseguia porque, na medida em que…bem, deixa pra la. Quem viu, viu. Fica pro proximo post!

  

(O Vampiro de Curitiba, na edição)

 

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Reinaldo Azevedo e seu livro maravilhoso: "O País dos Petralhas"

“O Pais dos Petralhas”

 Juro que eu não sabia qual posição tomar quando eu mesmo me propus a fazer uma espécie de resenha do livro  “O Pais dos Petralhas”. Primeiro: conheci o Reinaldo através de circunstâncias extremamente estranhas: uma briga entre os dois blogs. Logo em seguida, uma enorme amizade, digo, enorme e uma empatia que já dura quase um ano.

Pior, ou melhor, eu mesmo pedi para que o Reinaldo me enviasse seu livro. Portanto, estou longe, muito longe de ser um desses “críticos imparciais” (coisa, aliás, que não existe!). Nos dois dias em que eu esperava o livro pela Fedex, de São Paulo para cá, NY, eu já sabia que iria adorar o que estava “ancorado” lá dentro daquele pacote. Simples. Adoro o que ele escreve.

E por quê? Porque leio o seu blog  todos os dias. Além de ser direto e indireto (essa balança poucos conseguem, ou conseguiam, como Bernard Levin, Koestler, Francis) ele é sanguinariamente vil quando quer. Persegue e é perseguido.

“O Pais dos Petralhas” é um “must” absoluto pelo seguinte: seja o leitor de… (ai meu saco!)  ‘esquerda’ ou de ‘direita’ (termos defuntos na minha opinião, hoje, em 2008): o livro é uma compilação de posts do blog e conta uma história “trágica” (a da política nacional brasileira sob o regime xenofóbico e desastroso do PT), e engracadissimo também.

Exemplo de um post: “WEIS NÃO É UM, MAS SETE (10/12/2007)

“…Lembram-se daquela passagem de Memórias Póstumas de Brás Cubas, a do “almocreve”? Weis vive implorando que eu lhe dê alguns trocados. Já fui tentado a jogar tostões em seu chapéu. Quando, no entanto, penso em sua figura diminuta, em sua constrangedora irrelevância, em sua arrogância sem lastro, em sua disposição para a serventia, em sua inclinação para lustrar os sapatos do poder – já que precisa ficar na ponta dos pés pra puxar o saco – ignoro-o. A exemplo de Brás Cubas, vou diminuindo o valor da esmola. Até que não reste nada.”

Essa passagem, tão ácida quanto quase todas, aparece na página 47.

Ou: “O marxismo é uma variante da preguiça… ” (do post Bodas Bárbaras, pág 99). “Os Discípulos de um Homem chamado Nair” ou “Estamos na Sarjeta” (pág 143)

-“Tenho aqui em mãos uma preciosidade. Trata-se do que poderia ser definido como a carta de princípios de uma estrovenga chamada  “O Direito Achado na Rua”. Foi publicado pela editora UnB e elaborado pelo núcleo de Estudos Para a Paz dos Direitos Humanos. Paz? Si vis pacem para bellum, já ensinava o ditado latino. Se queres a paz, prepara a guerra”.

Pois! Reinaldo está em guerra permanente. Mas não é à toa: Seus  inimigos, um governo sujo, corrompido, etc, parece estar ficando cada vez maior.

Sua crítica é ácido sulfúrico puro, mas… Mas? Sua base é a literária, a filosófica e a moral. Qual moral? Você irá perguntar. Difícil descrever, mas prefiro descrevê-la como sendo uma “moral matemática”, uma moral de senso refinadíssima. Melhor ainda: se formos investigar a fundo suas críticas, enxergaremos um ser humano doce. “O quê?”, pergunta algum leitor irado. Sim. Eu disse doce. O “ser” atrás da critica é um tremendo apaixonado. Isso transparece de forma quase nítida e nitzscheana em seus escritos. Doce sim, apesar de estar numa constante batalha.

O livro é imperdível! Eu, um confesso ignorante em política brasileira, estou me tornando um mestre depois dos posts diários de Reinaldo Azevedo. Esse livro é uma grandiosa amostra do que são esses posts. Se eu pudesse, faria uma enciclopédia de TUDO que ele escreveu ou tem escrito, pois assim como numa peça de Shakespeare, cada palavra um significado e um labirinto, cada labirinto, três séculos de significados. Reinaldo Azevedo é, sem duvida, o mais brilhante cronista político brasileiro. “O Pais dos Petralhas” é uma amostra compilada dessa mais que perfeita perfeição.

Gerald Thomas

September 21, 2008

 

 

Do blog do Reinaldo Azevedo

Uma “moral matemática”

Gerald Thomas, que tem seu blog hospedado no iG, escreveu um texto sobre O País dos Petralhas. Reproduzo, abaixo, alguns trechos:
Juro que eu não sabia qual posição tomar quando eu mesmo me propus a fazer uma espécie de resenha do livro O Pais dos Petralhas. Primeiro: conheci o Reinaldo através de circunstâncias extremamente estranhas — uma briga entre os dois blogs. Logo em seguida, uma enorme amizade, digo “enorme”, e uma empatia que já dura quase um ano.
Pior, ou melhor: eu mesmo pedi para que o Reinaldo me enviasse seu livro. Portanto, estou longe, muito longe, de ser um desses “críticos imparciais” (coisa, aliás, que não existe!). Nos dois dias em que eu esperava o livro pela Fedex, de São Paulo para cá, NY, eu já sabia que iria adorar o que estava “ancorado” lá dentro daquele pacote. Simples. Adoro o que ele escreve.
(…)
Sua crítica é ácido sulfúrico puro, mas… Mas? Sua base é a literária, a filosófica e a moral. “Qual moral?”, você irá perguntar. Difícil descrever, mas prefiro descrevê-la como sendo uma “moral matemática”, uma moral de senso refinadíssima. Melhor ainda: se formos investigar a fundo suas críticas, enxergaremos um ser humano doce. “O quê?”, pergunta algum leitor irado. Sim. Eu disse doce. O “ser” atrás da critica é um tremendo apaixonado. Isso transparece de forma quase nítida e nietzschiana em seus escritos. Doce sim, apesar de estar numa constante batalha.
(…)
Para ler a íntegra, clique aqui

 

Por Reinaldo Azevedo | 05:37 | comentários (8)

 

 

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O Círculo se Fecha!

Voltar para casa é sempre um alívio. Digo isso a cada 3 semanas e chamo Nova York de “casa” (e sempre foi),  assim como chamo Londres de “casa”, assim como chamarei, logo,  logo,  um assento numa canoa, fugindo de um furacão, de “casa” (Aliás, obrigado, supervisor de vôo da “JAL”, pela troca de assentos na última hora). Para vocês que voam de “TAM” e não sabem o que é cortesia, experimentem voar pela “JAL” (não, isso não é jabá, pago full fare em business, mas agradeço gentileza e ataco os rudes, os brutamontes do ar quando merecem ser atacados.)

Olhando fotos dos retirantes de Louisianna, esses seres que escaparam do Gustav e que escaparão de vários outros desastres naturais e artificiais, como guerras, insurgências, minha mente atravessa vários emails não respondidos aqui no computer e a geladeira sobrecarregada de produtos orgânicos da WholeFoods… mas por que digo isso? Ah sim, ainda me fixo no artigo dos Caretas! Cidades caretas, cidades JOVENS, dominadas por jovens e com JOVENS saindo pelos poros da imaginação!

Esqueçam os autores MORTOS!

ESTAMOS VIVOS.

Não custa esquecer um pouco, por um tempo (digo, um respiro) os “CRÁSSICOS”! Estão nos levando a Ground Zero! Se formos investigar ou querer investigar o CÍRCULO das coisas semi-vivas, saibam que existe em MUNIQUE um dos mais belos ambientes do mundo, digo isso porque VIVO LÁ: a GLYPTOTHEK (entrem no Google e descubram, que não aguento mais descrever essa maravilha semi-morta, greco-romana)

Esquece! Esquece!  Passei minha vida inteira  tentando comparar culturas, tentando explicar uma cultura para outra, tentando explicar para os meus tios que no Rio não tem elefante andando na rua. E riem. Tento, até hoje, dizer que em NY se anda tranqüilamente às 4 da madrugada sem olhar para trás de MEDO e… riem!

O círculo se fecha!

Guerras entre críticos e músicos e artistas de palco ou de telas penduradas em museus.

Tudo muito triste, mas a verdade é que o círculo se fecha e o mundo responde via Blogs.

Saudades imensas de pessoas como João Candido de Galvão. Meio pé-na-merda, meio pé-na-imprensa. Mas sabia das coisas. Era relacionado a Oswald de Andrade, não sei bem como.

A última vez em que nos vimos foi no aeroporto “Charles De Gaulle” (acho). Me contou que havia sido assaltado na Ipiranga com São João. Já estava bem fraco do coração. Nós nos amávamos. Era um amante da obra de Robert (Bob) Wilson e falava dele com paixão. Paixão que poucos possuem quando falam de arte hoje.

Por que a arte hoje não é discutida com paixão mesmo quando se discute o iluminismo ou, digamos, os impressionistas? Estranho! Não sinto paixão por Jackson Pollock. Tenho um amor frio por ele. Tá certo! Mas tenho uma paixão FORTÍSSIMA pela obra de Duchamp e pela obra de Steinberg e a de Francis Bacon e Vik Muniz (que encontrei ontem vindo pra cá).

Digo, morro de paixão por Pina Bausch, e João Candido sabia corresponder essa paixão quando fez a crítica de “Quatro vezes Beckett” – em 1985 – no “teatro dos 4”, no Rio. Também soube meter o pau em “Carmem Com Filtro”, obra ruim, que construí pro Fagundes em Sampa, em 86. Mas fiquei quieto.

Tem artista que esperneia até hoje: sim, mandei a Bárbara Heliodora morrer. Mas isso é um capítulo à parte: ela queria que eu morresse, que meu teatro morresse e atacaou a Nanda. Eu simplesmente fechei o ciclo. Anos depois, digo, hoje, outro círculo se abriu. Dona Bárbara e eu nos damos bem. Ela gosta ou desgosta de alguma obra minha, mas ela dá de DEZ a ZERO em Ben Brantley ou no Christopher Isherwood, ambos do New York Times (nova velha geração), os pré-pretensiosios que chegaram há alguns anos quando Frank Rich e Mel Gussow saíram.

Ah, a crítica! Não vivemos com ela. Não vivemos sem ela.

O que dizer de tantos novos atores e atrizes de hoje? Não se pode mais MASTIGAR em público, digo, mastigar mesmo (boca entreaberta ou não), como num desses “FREVINHOS” da vida (restaurante na Oscar Freire que deveria ensinar aos russos e polononeses como se fazer um bom strogonoff). “Ai, que nojo, Gerald!”  Zé Celso está de parabéns por ter RESISTIDO à caretice dos tempos. (Te admiro Zé, e você nem sabe o quanto!)

“NOJO”?

Artista de teatro sente “nojo”?

Caramba! Eu não sabia disso, com 30 anos ou mais de teatro, se levando em conta “Verbenas de Seda”.

Um pé na merda e outro outro na lama” – dizia Grotowski. Frase inesquecível para uma cultura inesquecível. Sim, cheguei em casa.  E, ao ler o Times, leio as páginas de cultura que há anos não saem do mesmo tema: parecem até terem entrado no próprio labirinto metalingüístico da mesmice e da loucura: ELSINOR!

Palavras, palavras, palavras!

Fecharam o círculo.

Só dá peça de Shakespeare ou peça de Beckett!

Parece até que Hamlet fará o “Krapp’s Last Tape”. Haja “Quantum Leap” pra tantum, digo, pra tanto!

Não podemos ficar falando ou repetindo e repetindo momentos da cultura do passado! Não podemos. TEMOS que FALAR pra FRENTE, custe o que custar.

Aqui na parede, enquanto eu escrevo, de vez em quando eu levanto os olhos e dou de cara com fotos num painel avacalhado: Beckett e eu; Julian Beck e eu; eu espremido entre Haroldo e Augusto de Campos. Deus do Céu! Quase toquei nas mãos de Joyce. Eu disse “quase”.

Estou fechando o meu círculo.

Custe o que custar!

Gerald Thomas

NY, 2 September 2008

PS: a “CLARO” boicotou meus recados e minhas ligações durante minha estada no BR. Três delas foram pro Alberto GUZIK, ex-crítico , futuro “UM CRÍTICO”, sempre um tremendo apaixonado.

EXTRA EXTRA

BUSH NÃO FALA DIRETAMENTE À CONVENÇÃO REPUBLICANA!

FALA RAPIDAMENTE VIA SATÉLITE: razão indireta = hurricane Gustav (que já passou, hoje, terça).

Razão real: a BAIXÍSSIMA popularidade de Bush!

 

(Vamp na edição)

Comentário belíssimo de:

Enviado por: Tene ChebaCiclos, uma possante palavra, ciclos existenciais, das estações, ciclo sexual, das chuvas, da neve, do amor, da dor.O ciclo é foda, quando não está em pi, está em e, ou o número Euler, dá no mesmo, só para esclarecer. A vida, a morte, a desesperança, o futum, o bode que não sai da sala, teima em ficar.O Artista é dono de um ego compelxo, anormal, ele não entende o seu público, odeia esta dependência, seu maior pavor é saber que sua arte será impiedosamente julgada, por anônimos, esta ansiedade danifica sua existência, o gozo nunca vem.Ser Crítico, o perfeito embasamento para não se acreditar em Deus, ninguém merece, nem eles, coitados, o destino furioso não lhe concedeu o talento, apenas o poder platônico de amar os filhos dos outros, uma paulada que dói.Mas tem o povo, incapaz de captar uma Tela, de entender um texto, de abstrair o feio, o belo e o trágico, não existe competência na fome, não existe arte na fissura, nas dívidas, no ônibus, nas quatro horas de viagem, entretanto amam seus escolhidos, seus eleitos. O meu círculo está em pi sobre quatro, faltam ainda três pi sobre quatro para ele se fechar.Um gênio não deveria perder o seu sentido, não deveria acumular, apenas fluir, chorar, ri, mas nunca se ausentar.Nova York-São Paulo, ou, excessivos contrastes perturbam.Melhor comer uma maçã.

e de…

Enviado por: ManuEles pairam sobre nós, vivos ou mortos, sempre nos acompanham e permanecem vivos no mais profundo mistério de nossas mentes, não blasfeme, não chore, ilumine-se com a palavra que está em tua boca, que está em nós, que está em tua morada, que está na tua mãe, no teu pai, no teu filho , na tua amada, no teu céu , no teu quarto escuro, na tua janela aberta, no ar que você respira, não pare nunca de dizer a palavra que nos redimirá de nossos erros, de nossos fantasmas, de nossos desejos, de tudo que não é, de tudo que é e será, de tudo que não faz sentido, de tudo que deve morrer, de tudo que deve viver, de tudo que deve florecer nesta estação.

do Mau Fonseca

Enviado por: MauBEETHOVEN quando terminou a NONA teve de escutar os criticos alemães falarem que sua Nona era uma BOSTA.

Ainda bem que ele ja estava totalmente surdo.

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A Sinfonia dos Des-Ditos (ato 1: Os Caretas)

 

 

Um torcedor do Corinthians desce a pé  a Brigadeiro Luis Antonio, feliz da vida. Um vulto sozinho neste frio sábado à noite, nesta rua cinza, cidade cinza, sombras além do cinza, garoa fina e cinza ele toca nos postes como se fossem pessoas.  Seu time ganhou.

 A cena não deixa de ser sublime, apesar de estranhamente triste e tristemente cinza, assim como Beckett sonhava o mundo. Estranho esse sentimento passageiro de “vencer”, de “ganhar”. Sempre nós, os homens, querendo vencer ou ganhar. Ou colocando nossas mulheres como cavalos ou éguas de Tróia para vencer nossa batalha por nós. Ele, o loner torcedor-sozinho,  fantasiado de pierrot,  poderia também estar vindo da convenção dos Democratas ou dos Republicanos.

Caramba! Como estou exausto de política! Como estou exausto de retórica. Como estou podremente exausto dessa guerra de nervos que somente se resolverá mesmo é através das urnas, em novembro, nos EUA. E, até lá, será um deus-nos-acuda, um deus-nos-acusa, um rebola hesbollah, um índio a menos ou a mais na tribo. Exausto.

Nessas convenções todo mundo está certo e orgulhoso de que alguém irá “vencer”, “levar o título”, “ocupar o trono”. Nesse catch as catch can, uma mulher estava sendo cogitada por anos, a Hillary, e eis que outra, no partido oposto (um coringa, uma incógnita), a Sarah Palin,  leva a cartada. Golpe sujo. Golpe baixo. Política já foi outra coisa?

Como pergunta pertinentemente alguém (será Larry King?): Ela está preparada para ser a Comandante Chefe?”

A pergunta já inclui a resposta.

Muitas respostas já incluem a pergunta.

Não agüento mais.

O nome “Lula da Silva” me enoja, e todo seu ministério! Mas nada mais tenho a dizer a esse respeito. O Real está forte, os restaurantes desta triste Paulicéia estão cheios. São Paulo enche a pança! É o que se faz aqui. O que mais se faria perto da Brigadeiro Faria Lima? Ah sim, os pequenos teatros alternativos que imitam os grandes teatros de GRUPO alternativos do mundo: mas aqui eles adicionam um pouco de cor a esse gris sur gris!

 Ainda me preocupo muito em ler e ouvir análises disso e daquilo, mas entro facilmente em nada! De tanto golpe baixo em golpe baixo a coisa vai, que nem me importo mais se McMain pega uma mulher que só viu duas vezes na vida antes… Bah! Política!!!  Eu deveria me importar depois de tanto que sofri com o Obama nesse último ano. E agora? Agora é esperar as eleições! Não adianta mais sofrer por antecipação ou por frustração.

A “Sinfonia dos DesDitos”  – que pequena revolução!

Escreve o Comandante Peter Lessman, 27 anos de Varig e agora na “Arab Emirates”:

Tendo a triste lembrança da política Brasileira como pano de fundo, assisti emocionado à Convenção Nacional do Partido Democrata nos EUA oficializando a escolha do seu candidato a Presidente e Vice, assim como também no dia seguinte o show de retórica de Obama aceitando a indicação.

Não consegui desgrudar um minuto daquele espetáculo de democracia e esperança em estado bruto. Do meu quarto de hotel em Bangcoc, acompanhei totalmente fascinado a cobertura da CNN nos mostrando de todos os ângulos possíveis os rostos, expressões e palavras das grandes e pequenas figuras humanas em um grande momento da sociedade americana, comprovando mais uma vez a sua incrível capacidade de reagir efetivamente, e com extremo vigor, quando insatisfeita com os rumos do seu governo e de seu país. Sem contar a grandeza da sua grande adversária derrotada na feroz disputa, Hilary Clinton, quando vigorosamente conclamou a todos para se unirem em torno de Obama, pelo bem do país!

Viajando há quase 30 anos literalmente pelo mundo, este acontecimento mais uma vez confirma o que eu não canso de repetir:

O que realmente diferencia o chamado “Primeiro” mundo do restante não é o dinheiro ou os eventuais rios de petróleo no “pré-sal” de cada país; mas acima de tudo na capacidade, ou não, de cada cidadão entender que a sua conduta e engajamento individual têm um impacto decisivo na qualidade da sociedade na qual ele está inserido, e conseqüentemente o futuro da sua nação…

O sistema deles funciona e se aprimorou ao longo dos anos com muita luta e até de uma guerra interna, e onde mulheres e negros, por exemplo, só conquistaram o pleno direito ao voto há menos de 100 anos.

Mas há duas características fundamentais por trás deste sucesso: os simples e sólidos princípios básicos quando a Constituição deles foi criada há mais de 200 anos pelos chamados “Pais Fundadores da Nação”, e o total comprometimento e vigilância de cada um dos cidadãos para com o seu fiel cumprimento.

E é este mesmo engajamento que tornou possível o “fenômeno” Obama, e TODOS os comentaristas políticos são unânimes em concordar, através do que eles lá chamam de “grass roots movement”. Um movimento “de raízes”, de “base”, onde através do trabalho “de formiguinha” de dezenas de milhares de voluntários de TODAS as camadas sociais país afora, ele obteve o apoio e arrecadou milhões de dólares para ao seu movimento chamado de “Change” (Mudança).

Assim como levou milhões a repetir em coro ao longo da campanha pela indicação de candidato pelo partido Democrata o “yes we can” (nós podemos sim). Com certeza fará o mesmo na Campanha Presidencial contra o candidato Republicano McCain.

E ele reconheceu a importância deste trabalho em um dos momentos marcantes do seu discurso de aceitação da candidatura Democrata ao afirmar: “O que alguns ainda não entenderam é que tudo isto que está acontecendo (o movimento CHANGE que ele lançou) não trata da minha pessoa (it’s not about ME), mas é sobre vocês! (it’s about YOU!)”, em uma extraordinária lição de humildade e liderança que já começou a fazer história.

Pois é, meus Brasileiros e Brasileiras: cada país tem o “Fenômeno” que merece certo?

Será que NUNCA aprenderemos a reagir??

Abraços esperançosos de muito longe,”

Peter Lessman.

 Minha companhia de teatro finalmente “aconteceu”: ontem, sábado, lá no SESC Paulista. O que significa acontecer? Significa fazer a cena acontecer! Significa entrar no groove, entrar no vivo da natureza viva e nunca morta. E estamos vivos. E o projeto que já mudou de nome (depois de muita raiva minha e muitas dissidências de atores) esta lá, de pé, assim como o teatro está de pé desde Sófocles!

 

E como o torcedor do time desta capital descendo uma de suas avenidas principais numa falsa alegria passageira, eu, numa falsa alegria passageira, comemoro um dia de vitórias dramáticas sabendo que o povo de New Orleans está fugindo do “Gustav”, marido da “Katrina”, 3 anos depois da devastação, pois é disto que nós somos feitos:

Festas

Vitórias

Devastação

Gerald Thomas

Abaixo, um texto de Artaud (mandado por Marina Salomon) em resposta á minha ira de anteontem no “ Geração Careta”: 

“Jamais, quando é a própria vida que nos foge, se falou tanto em civilização e em cultura.  Há um estranho paralelismo entre essa destruição generalizada da vida, que encontra-se na base da desmoralização atual, e a preocupação com uma cultura que jamais coincidiu com a vida, e que é feita para governar sobre a vida.

Antes de retornar à cultura, observo que o mundo tem fome, e que ele não se preocupa com a cultura; e que é apenas de maneira artificial que se quer dirigir para a cultura pensamentos que estão voltados unicamente para a fome.

O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência jamais salvou um homem de ter fome e da preocupação de viver melhor, e sim extrair disso que se chama de cultura idéias cuja força viva seja idêntica à da fome.

Nós temos necessidade sobretudo de viver e de acreditar naquilo que nos faz viver e que alguma coisa nos faz viver ¤ e aquilo que sai do misterioso interior de nós mesmos não deve retornar perpetuamente sobre nós mesmos, em uma preocupação grosseiramente digestiva.

Quero dizer que se para todos nós é importante comer, e já, nos é ainda mais importante não desperdiçar nesta única preocupação imediata de comer nossa simples força de ter fome.

Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as idéias, os signos que são a representação dessas coisas.

Certamente não são sistemas de pensamento que nos faltam; o seu número e as suas contradições caracterizam nossa velha cultura européia e francesa: mas quando é que a vida, a nossa vida, foi afetada por esses sistemas?

Não diria que os sistemas filosóficos são algo que se possa aplicar direta e imediatamente; mas das duas, uma:

Ou esses sistemas estão em nós e somos impregnados por eles a ponto de viver deles, e neste caso o que importam os livros?  ou nós não somos impregnados por eles, e neste caso eles não merecem nos fazer viver; e de

qualquer forma, que importa seu desaparecimento?

É necessário insistir sobre esta idéia da cultura em ação e que se torna em nós como um novo órgão, uma espécie de segunda respiração: e a civilização é a cultura que se impõe e que rege até mesmo nossas ações mais sutis, é o espírito que se encontra nas coisas; e é de maneira artificial que se separa a civilização da cultura, e que há duas palavras para significar uma única e idêntica ação.

Julgamos um civilizado pelo modo como ele se comporta, e ele pensa da maneira como se comporta; mas já sobre a palavra civilizado existe uma confusão; para todo o mundo, um civilizado culto é um homem esclarecido quanto aos sistemas, e que pensa através de sistemas, de formas, de signos, de representações.

É um monstro em quem se desenvolveu até o absurdo essa faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos atos, em vez de identificar nossos atos com nossos pensamentos.

Se falta amplitude à nossa vida, ou seja, se lhe falta uma constante magia, é porque gostamos de observar nossos atos e de perder-nos em considerações sobre as formas sonhadas de nossos atos, em vez de sermos impelidos por eles.

E essa faculdade é exclusivamente humana.  Diria mesmo que é essa infecção do humano que nos estraga certas idéias que deveriam permanecer divinas; pois, longe de acreditar no sobrenatural e no divino inventados pelo homem, creio que foi a intervenção milenar do homem que acabou por nos corromper o divino.

Todas as nossas idéias sobre a vida devem ser modificadas, numa época em que nada mais adere à vida.  E essa penosa cisão é motivo para que as coisas se vinguem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos mais encontrar nas coisas ressurge de repente pelo lado mau das coisas; e jamais se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só pode ser explicada por nossa impotência em possuir a vida.

Se o teatro existe para permitir que nossos recalques tomem vida, uma espécie de atroz poesia se exprime através de atos bizarros, onde as alterações do fato de viver demonstram que a intensidade da vida permanece intacta, e que bastaria melhor dirigi-la.

Porém, por mais que queiramos a magia, no fundo temos medo de uma vida que se desenvolvesse toda sob o signo da verdadeira magia.

E é assim que nossa ausência enraizada de cultura espanta-se com certas grandiosas anomalias e que, por exemplo, em uma ilha sem nenhum contato com a civilização atual, a simples passagem de um navio, somente com pessoas sadias, pode provocar o aparecimento de doenças desconhecidas nessa ilha, e que são uma especialidade de nossos países: zona, influenza, gripe, reumatismos, sinusite, polinevrite, etc., etc.

Do mesmo modo, se achamos que os negros cheiram mal, ignoramos que para tudo aquilo que não é Europa somos nós, os brancos, que cheiramos mal.  E eu diria mesmo que exalamos um odor branco, branco assim como se pode falar de um “mal branco”.

Como o ferro aquecido ao branco, pode-se dizer que tudo o que é excessivo é branco; e para um asiático a cor branca tornou-se a insígnia da mais extrema decomposição.

Dito isto, podemos começar a traçar uma idéia da cultura, uma idéia que é antes de tudo um protesto.

Protesto contra o estreitamento insensato que é imposto à idéia de cultura ao se reduzi-la a uma espécie de inconcebível Panteão; o que resulta em uma idolatria da cultura, da mesma maneira que as religiões idólatras colocam deuses em seu Panteão.

Protesto contra a idéia separada que se faz da cultura, como se existisse, de um lado, a cultura, e de outro a vida; e como se a verdadeira cultura não fosse um meio requintado de compreender e de exercer a vida.

Pode-se queimar a biblioteca de Alexandria.  Acima e além dos papiros, existem forças: podem nos roubar durante algum tempo a faculdade de reencontrar essas forças, mas não podem suprimir a sua energia.  E é bom que muitas das grandes facilidades desapareçam e que certas formas caiam no esquecimento; assim a cultura sem espaço nem tempo contida em nossa capacidade nervosa ressurgirá com uma energia amplificada.  E é justo que de tempos em tempos se produzam cataclismas que nos incitem a retornar à natureza, ou seja, a reencontrar a vida.  O velho totemismo dos animais, das pedras, dos objetos utilizados para aterrorizar, das vestimentas bestialmenteimpregnadas, em uma palavra tudo o que serve para captar, dirigir e desviar as forças, é para nós uma coisa morta, da qual sabemos apenas tirar um proveito artístico e estático, um proveito de fruidor e não um proveito de ator.

Ora, o totemismo é ator porque se move, e é feito para atores; e toda verdadeira cultura apoia-se sobre os meios bárbaros e primitivos do totemismo, cuja vida selvagem, ou seja, inteiramente espontânea, quero adorar.

O que nos fez perder a cultura foi nossa idéia ocidental da arte e o proveito que dela tiramos.  Arte e cultura não podem andar juntas, contrariamente ao uso que universalmente se tem feito delas!”

Antonin Artaud

  

(O Vampiro de Curitiba na edição)

 

 

 

 

 

 

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GERAÇÃO CARETA

GERAÇÃO CARETA

Tem uma espinha de peixe entalada na minha garganta”, me conta uma atriz. “Já fui várias vezes no otorrino e ele diz que não tem nada ali… mas eu sinto ela lá”. Já um dos atores, quase quieto ou cabisbaixo, diz que gostaria de dizer tanta coisa , mas tanta coisa, mas não sabe como e nem por onde começar.

Olha só que loucura! Estou cercado de gente na faixa dos 25 pra 30 anos. Nunca me senti cercado por gente tão careta em toda minha vida.

Careta? Como definir?

Sim. O artista tem que merecer estar no palco. Tem que merecer estar ali no foco de luz enquanto a platéia está escura. E, para isso, tem que ter experiências de VIDA que gente da platéia não tem, não tem CORAGEM de ter (barreiras de todas as formas, tabus, sexualidade mal resolvida, etc).

Hoje em dia as coisas mudaram. A PLATÉIA parece ser mais interessante que o pessoal do palco. Não é difícil entender porquê. Numa sociedade disfuncional como a de hoje, onde cada um vem se rastejando de um canto e se segurando onde pode, atores e gente de palco deveriam estar SEMPRE léguas na frente. Experiências na frente. Para poder contar ou contra-propôr esse “algo” que está proposto pelo status quo.

Não é o caso. Os atores se chocam com as mesmas coisas que a Da. Maria do Interior das Pratarias se choca. Se despedem com a mesma distância que Da. Maria se despede ao sair da Igreja aos domingos e encaram a vida no palco como se fosse uma ciência: não é!

Existem MUITAS E VÁRIAS crises no teatro. Ás vezes não se tem o que dizer mesmo. Ás vezes não nos deixam dizê-lo. Ás vezes existem tantas coisas para serem ditas que é necessário acionar um freio de mão para que a coisa não se torne hemorrágica. E agora, nesse instante, EU SINTO, que estou batendo com a cabeça na parede criando galos que não cantam, galinhas que não chocam, ovos que não estalam. “Eu tento, entende Gerald? Eu tento chegar… mas não consigo.”

GT: “Tenta chegar? Mas como? Você já não está aqui?

Tento chegar a essa coisa proposta” , me conta uma outra atriz, “mas ela está longe de mim”.

Medo. Muito medo. Medo de se arriscar. O pior é que a arte nunca existiu sem RISCO. Melhor ainda: a arte vive do próprio RISCO!

O resto, o mundo lá fora resolve.

Ou não, como sempre foi o caso.

Gerald Thomas

Num engarrafamento existencial de São Paulo

(Vamp, com saudades, na edição)

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Hoje o Blog comemora seu terceiro mês e…

Antes de mais  nada, eu queria agradecer aos leitores FIXOS (que transformaram esse BLOG num verdadeiro fórum de debates) e aos FLUTUANTES (aqueles que entram de tempos em tempos: no tempo Proustiano). Seja como for, está o máximo! Os comentários estão BOMBANDO!!!! Interessantíssimo: temos uma das maiores médias de Blogs (postagem diária) em comentários: ultimamente temos chegado à uma média de 250 por post: isso é uma maravilha! E isso com “moderador”.

Então, só tenho mesmo que agradecer a presença e o interesse de vocês: em 3 meses chegamos a quase 133 mil hits ou acessos, o que acho ótimo!!!!!

E parabéns ao pesoal do IG! (fui visitá-los ontem: os projetos futuros são ambiciosos e modernos. É o que se deseja. Sair da mesmice!)

Obrigado a todos!

E daqui a pouco, ainda hoje, espero: um novo artigo sobre o “BRASIL visto de cima”

LOVE

Gerald

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QUERIDOS,

ESTOU PODRE DE SONO: MEUS OLHOS FECHAM ENQUANTO TENTO DIGITAR A PARTE PROMETIDA ACIMA. JÁ PASSA DAS 2 DA MANHÃ DE DOMINGO E… NÃO DÁ, 
SE AS MAQUININHAS PIFAM, OS HOMENS NÃO PRESTAM. DIGO, PIFAM TAMBÉM.
SÃO PAULO ME CONSOME (não confundir com a sopa de caldo de carne) como nenhuma outra cidade, e explico:

   Se em NY ou Londres e até em Trieste as malditas contas podem ser simplesmente pagas sem precisar ir aos Correios, mas deixando um cheque num envelope para, digamos, “ConEdison”, a “HIP” (meu seguro de saúde), “TIME WARNER CABLE” ou “BBC TV License”, etc. (ISSO PORQUE NÃO GOSTO DE PAGAR ONLINE: NÃO GOSTO DE DEIXAR MINHAS INFOS PESSOAIS NOS STES DE NINGUÉM).

   AINDA COLO UM SELINHO DE 42 CENTS NUM ENVELOPE E O DEIXO AQUI, dentro do prédio, numa caixa enorrme do “US POSTAL SERVICES MAIL BOX” ou da “ROYAL MAIL” ou da “DEUTSCHE (Bundes) POST” e, no dia seguinte, a conta está paga.

Mas em Sampa… onde o trânsito FLUI maravilhosamente bem e onde não existe stress de trânsito ALGUM. Onde um mero documentozinho de papel tem que passar por  tantos e tantos CARIMBOS e ASSINATURAS de JOSÉS e Marias que SEQUER O LÊEM, sequer  notam o seu CONTEÚDO!!!

Enfim, de volta ao capeamento das ruas e avenidas (PODRES e POBRES!) que são levemente asfaltadas num declive que vai caindo para o meio fio, ou guia, como vocês dizem, para que os motoristas de ônibus treinem para as próximas OLIMPÍADAS. Ou então metem essas carroças que vocês chamam de ônibus pra cima dos postes. Como é que os prefeitos BrassleROX deixam que circulem essa COISAS que até nas estradas perto e dentro de Tanger  e Casablanca já estâo UP TO CODE, digo, modernos (e Vamp: por favor não me venha com aquela de que o BR não vendia ÔNiBus pra NY, nâo! A tua Curitiba e o Jayme Lerner EMPRESTARAM algumas daquelas paradas de ônibus ovais e transparentes, junto com alguns ônibus. Não deu certo. Pequenos demais para o tamanho da populacão de NY e para reconstuir aquele alien numa cidade onde basicamente se anda a pé ).

Tempo que  me consome:

1- Tabelião (soa suspeitamente como o órgão que controla o Taleban) para RECONHECIMENTO DE FIRMA: ninguém olha nada mesmo, mas sai-se de lá, horas depois, orgulhoso e VITORIOSO  com aqueles selinhos e carimbos que Saul Steinberg imortalizou e fez com que Millôr Fernandes ficasse para sempre paralizado  de ódio e inveja (do Saul, claro),  porque, como já dizia Paul Celan, “Até existe  a inveja saudável, mas talvez entre os peixes”.

2-  Nos EUA (eu-a), o país mais personalizado do MUNDO, afinal é um país feito para o coletivo em inglês, US–A (nós–ou da gente), esquecem que existe algum parentesco com United something e, em português, fica ainda mais super-hyper-dper individualista: EU-A.

Lá (aqui, juro que não sei de onde escrevo, minha cabeça foi engolida por Moby Dick, uma baleia que vi na rua), nada de fila de correios e nada de FILA em bancos onde TUDO apita (falo dos bancos no BR): que meda! E que merda viver num clima de terror o tempo todo: não se pode parar nos faróis à noite, aquele CLIMA quando um molequinho de 9 anos quer limpar o vidro do carro.

 

Acordem brasileiros: esse país é extremanente RACISTA, cruz credo! Se um moleque branco vem, VOCÊ FICA. E se for um NEGRO, você dá um jeito de atravessar a Rebouças, vindo ali da Henrique Schauman.

 

Traum: sonho, em alemão

TRAUMA, oposto do sonho!

Já fiquei trancado naquela porta de banco giratória e nada acontecia: se tivesse sido com o ex-críitico teatral do New York Times de décadas anteriores, ele teria descrito uma ida aos bancos no BR à “Esperando Godot” que, segundo a infeliz crítica de Kerr, foi assim: “Nada acontece, em dois atos”

 

Kerr, décadas depois, pediu demissão do cargo de crítico por reconhecer em Beckett um gênio: “Nao tendo reconhecido Beckett logo, quanto talento maravilhoso eu terei ‘overlooked’?”

Pergunta: Quando é que esses MALANDROS QUE USAM O DINHEIRO PÚBLICO DO CONTRIBUINTE (esses verdadeiros impostores de renda!!)  seguirão o exemplo de kerr e… Como eu sou inocente, não? Tentando mesclar política com dignidade e dignidade com cultura…

 Nossa senhora! E as ruas aqui em sampa (olha que não falo das valetas que quebram TODOS os carros que cruzam a JAÚ, ITÚ, FRANCA, LORENA pelas  Joaquim E. de Lima, Peixoto Gomide, Casa Branca, Ministro, Padre, Augusta e a Haddock e a Bela Cintra e a rua da Consolation!) Não, o pior quebra-focinho-de-carro é a esquina da BRIGADEIRO (pra quem nem é daqui, até que dou banho em Rogério Fasano, que sentava ao lado do Fausto Silva na Rodeio e estranhava a decoração. Isso era uma prática diária, até que Marilia Gabi Gabriela, hoje a scholar mais respeitada no que diz respeito a Benazir Bhutto e a criação de sociedade dos seus ex-amigos…), enfim, o CAOS e o INFERNO dessa cidade me encantam (Frase de Marion Strecker).

Afinal, mostre-me uma grande cidade  cosmopolita que ainda tenha “BUJÃO DE GÁS” sendo vendido por charretes motorizadas: Essa é a grande KAPUTal? Sou mais o Rio! NÃO, NÃO E NÃO!!! NÃO ESTOU AQUI NESSE PLANETA PARA INSTIGAR AINDA MAIS VAIDADE ONDE NÃO DEVERIA HAVER NENHUMA…

O Roberto Marinho ordenou que a fiação fosse enterrada e que os os postes fossem alcoólatras em tratamento. E MANDOU que o Case e a ESPOSA doassem o seu dildo (como é em  português? É “consolo fálico”) no Bar Vinte, a alguns passos de onde o Islamismo extremista (ou algo assim) já faz muito tempo CONSEGUIU  dividir o LEBLON de Ipanema.

 É o Jardim de Alah… junto ao canal que desemboca na Rodrigo de Freitas!

 Prefeito (0u “a”): Vocês só têm duas opções!!!!!

1- Enterrem logo esss FIOS horrendos com seus geradores ou ‘transfiomadores’ assasinos: com 89 anos de atraso!

2- ENTERREM o transporte público também! SP bate todas as outras capitais do mesmo porte em FEIÚRA, falta de INFRA, etc.

Nao é à toa que o teatro CULTURA ARTÍSTICA  foi-se em questão de 3 horas.

Imaginem se Osama bin Laden decidisse atacar Sampa: Não restaria nem o Parque Trianom. Melhor ainda: só sobreviveriam os michês que ficam ali do lado de fora do Dante.

Mas… JUSTAMENTE por causa de toda essa zona que o Rio virou, aquela cidade ainda tem algo MUITÍSSIMO PRECIOSO: um senso de auto-estima altíssimo. Por ter sido a capital de Portugal e das colônias e depois a do BR. Não, de forma alguma: esse orgulho não está à venda  e não está na competição por prédios mais altos ou Shopping Malls que abrem aqui mais do que vala rasa na Geórgia!  Isso vem de uma FORTÍSSIMA TRADIÇÃO e CULTURA.

Sim, a CULTURA é o samba e a tradução vem de longa data: a de exbir com muito carinho, amor e preservação, ao TURISTA, a cidade onde Jesus decidiu dar uma paradinha. Só que, ao invés de simplesmente abençoar a cidade, seu gesto foi um daqueles “CARAMBA, como isso aqui é lindoooo!!”

COMO ISSO aqui é lindo!

Na minha modesta opinião, o Cristo Redentor deveria se casar com a LADY LIBERTY. “Ah, que piada insossa”, vocês estão dizendo. Seguinte, camaradenses: Jamais, mas JAMAIS menosprezem ou duvidem da importância de quando dois ÍCONES ou SÍMBOLOS resolvem se unir e se casar! Nunca! A História já nos provou  os tremendos danos de tais fusões. Mas raríssimamente existe, de fato, a paixão!

Gerald – comemorando 3 meses de IG e agradecendo TODA a equipe do fundo do meu coração: não sei como vocês me aguentam!

PS DO VAMP: críticas tudo bem, mas não esqueçam o LISTERINE!

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