Monthly Archives: December 2008
Harold Pinter: O Silêncio do SILENCIADOR
O SILÊNCIO dos Silêncios.
New York – Este ano de 2008 ainda tinha que engolir mais um! Justamente o dramaturgo que fazia do silêncio a sua pausa dramática. Nascido em Portugal, de uma família judia com o nome de Haroldo Pinto, Pinter chegou na Inglaterra cedo. Como todos os bons playwrights “ingleses”, ele também era um outsider. Stoppard, ainda vivo e muito vivo, nasceu na república Tcheca. Beckett (de quem Pinter se diz “aprendiz”) era irlandês, Shaw, igualmente, da ilha vizinha à Inglaterra e assim por diante.
Mas o que importa tudo isso? Ah, os silêncios nas peças de Harold Pinter. Sim, eles nos causavam um certo desconforto. Causavam na platéia dos anos 60 e 70 um enorme, digo, enorrrrme, desconforto. Justamente por ser um outsider, Pinter via a aristocracia Britânica criticamente, mas queria desesperadamente fazer parte dela.
Em seu casamento quase doentio com Lady Antonia Fraser (cujos livros vendiam mais que os dele), Pinter conseguiu subir de “classe”, algo importantíssimo numa sociedade dividida em classes, em bairros “posh” ou “working class“, em sotaques, como a de Londres, que em si só tem cinco distintos sotaques, acentos, variados.
Harold Pinter, em THE SERVANT – raramente colocado no palco – dá um show do que é um texto hegeliano. Sim, um pouco de Beckett. Um pouco de “Fim de Jogo “(se insistem, se “ele”, o próprio Pinter queria moldar seus textos a partir de Beckett, do mestre de quem ninguém escapou nesse século XX que passou) Por que Hegel? Escravo, senhor, aquelas coisas: o poder do não dito, o “desdito”, o “mal-dito”… uma relação de poder não resolvida entre classes (na Inglaterra de hoje e sempre da qual Edward Bond e David Hare e Alan Bennett também escrevem).
Pinter não mantinha vínculos com Portugal. Nao falava mais o português. Stoppard também nada tem a ver com os Tchecos ( a não ser recentemente, quando decidiu rever suas raizes). Beckett saiu da Irlanda, mas mesmo encrustrado em Paris – e tentando escrever em francês – Samuel Beckett nunca abandonou a língua Joyciana que vem a ser, essencialmente, um irlandês onomatopéico. Nelson Rodrigues sempre foi um brasileiro apaixonado. Mueller um alemão que olhava na direção dos gregos e de Shakespeare e de seu mentor, Brecht. Como se vê, o século XX foi pontuado por autores que deixaram sua marca por algo “unique” e, no entanto, semelhante. O quê? O Bairrismo!
Quando eu ouvia dizer que havia um Pinter sendo montado fora de Londres (fora do Royal Court, pra ser preciso) eu achava muito estranho. Nada contra. Mas sua linguagem era, essencialmente, londrina, assim como a de Nelson é, essencialmente, brasileira: dificil de ser traduzida ou entendida por outras culturas.
Eu não conheci Harold Pinter. Mas ouvi Backett falando várias vezes sobre ele. Não eram elogios, propriamente. Nem reclamações, tão pouco. Eram desabafos. Alan Schneider, o diretor que me deu muita dor de cabeça quando eu queria colocar no palco, aqui no La MaMa, a prosa de Beckett nos anos 80, foi atropelado em Londres por um Ciclista (que eu chamo de Godot) ao depositar no correio do bairro de Hampstead (o bairro onde eu moro quando estou em Londres) uma carta para Beckett. Como americano, esqueceu de olhar pra direita e, pum! Veio um Godot e o atropelou. Mas, o que se conta, nos meios teatrais, é que Schneider estava encenando Pinter no Everyman Theater – um pequeno teatrinho lá no alto do morro do bairro chique. E seu elenco… bem, deixa pra lá… estamos em pleno Natal… SILÊNCIO!!! PSIU! Atores olhando uns pros outros por 3 minutos. Tensão total. Um homem morto na rua, atropelado: trata-se do diretor. Golpe do autor? Do autor de “THE ACCIDENT”? Seria demais !
Pinter-Schneider – Beckett. Hummm! Certa vez, bêbado como um tatu, o autor dos silêncios que “liam a introversão dos sentidos daquilo que não se dizia um pro outro explicitamente, mas, no olhar, se expressava e se ofegava” (Terra em Trânsito, GT 2007), quebrou um salão de barbeiro inteiro ao saber de um “affair” de Antonia Fraser. Depois se acalmou. Ele próprio estava com a sua amante.
Ah, a Londres de Mayfair, de Belgravia!!!
Cancêr no esôfago também consumiu Heiner Mueller. Prêmio Nobel… hummm…. Beckett o recusou, Pinter o aceitou. Hoje, além de ser Natal, não é um bom dia para críticas. Rest in peace and in your final silence Mr. Pinter, I hope you’ll find that there isn’t such tremendous noise to disturb you. I mean, there is an extremely noisy silence right at this very moment. Yes, there is. Throughout the stages of the world your name is being called out. Can you hear it? Can you hear it? We’re calling out your name.
Farewell, Mr. Pinter or should I simply say, have a good Homecoming.
Gerald Thomas, New York.
On The Day Christ was born.
2008
PS: abaixo desse post: o vídeo de “UM CIRCO DE RINS E FÍGADOS” com Marco Nanini onde Pinter é mencionado junto com Genet, Beckett e outros dramaturgos.
PS 2: Por que será que tanto Beckett quanto Pinter decidiram morrer no Natal ou perto do Natal?
Estranho… muito estranho! Pelo menos Pinter não nasceu no dia da Páscoa, como Sam.
(Vamp na edição)
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PRÓXIMO DO CÉU + "CIRCO DE RINS E FÍGADOS" parte ll
CIRCO DE RINS E FÍGADOS – parte ll
De Frannklin Albuquerque (que eu carinhosamente chamo de FDR)
“GERALD,
QUANDO FUI AO VATICANO A IMPRESSÃO QUE TIVE É QUE ESTAVA NA TERRA NO LUGAR MAIS PRÓXIMO DO CEU, LEVEI TRES DIAS ATÉ ME APROXIMAR DO ALTAR MOR COM MEDO DE SER CONDENADO PELOS MEUS PECADOS…E ASSISTINDO MADONNA ONTEM NO ÚLTIMO DIA DE SUA TURNÊ TAMBÉM TIVE A SENSAÇÃO DE QUE ESTAVA NO CÉU,MAS UM CÉU MAIS VERDADEIRO E SEM CULPAS , PODE PARECER BOBAGEM MAS ME SENTI NO CENTRO DO MUNDO…LEMBREI DE VOCE NUMA DAS CENAS DO SHOW COM ELA DENTRO DE UM CILINDRO ONDE PASSAVAM VARIAS IMAGENS, FOI O MOMENTO QUE MAIS ME EMOCIONOU. LEMBREI DE GAL NO SHOW “O SORRISO DO GATO…” QUE VI DUAS VEZES E COM CERTEZA FOI O ÚLTIMO GRANDE SHOW QUE ELA FEZ COMO SHOW WOMAN SAINDO DO TELHADO E CANTANDO “NESTA SOLIDÃO EU CHORO AS HORAS QUE NÃO VOLTAM MAIS…” LEMBREI DOS SERTÕES QUE VI EM CANUDOS COM O TEMPLO DO OFICINA PLANTADO NO MEIO DO SERTÃO ARREBANHANDO FIEIS.
É FINAL DE ANO, BALANÇO, BALANÇO, BALANÇO… OBRIGADAÇO ! DE CERTA FORMA ASSISTI MADONNA COM VOCE SOPRANDO NOS MEUS OUVIDOS : TÁ VENDO ! TÁ VENDO ! ACORDA ! NEM SEI SE VOCE GOSTA DA MADONNA, ELA NÃO CANTA PORRA NENHUMA E DESAFINA PRA CARALHO…”
(FRANKLIN ALBUQUERQUE)
Querido, querido!!!!!
Se gosto da Madonna? Sim e não! Quer dizer… sim pelo mito que ela criou em torno dela… a IMAGEM que ela criou a seu próprio respeito. Ela representa o MacLuhan e a era dos mitos dos milhões. O que vem a ser isso não sei e nem quero tentar explicar. Muitos ídolos da nossa era têm esse mesma causa e efeito. Apaixonado que sou pelo Presidente Obama, posso dizer com toda a segurança do mundo que fui “levado” pela sua imagem, pelo mito que foi criado a seu respeito também.
Existe um momento delicado em que o prórprio mito não consegue mais se dissassociar da própria imagem. Filmes como “Being There” ou ditadores e assassinos do Grande Poder, como Hitler e Stalin ou Franco não escaparam da imagem de criaram.
Ontem mesmo fui assistir Nixon e David Frost, ou melhor, “Sir” David Frost que, para uns, é um apresentandor infiltrado na mídia jornalística e, para outros, um respeitável jornalista infiltrado no mundo dos… Qual mundo mesmo? E importa?
No “Circo de Rins e Fígados” (aqui rodamos a segunda parte) não existe diferença entre ator (Marco Nanini) e personagem. Ao contrário: Quanto mais atrocidades ele comete, mais famoso o personagem fica! Ele diz trabalhar no Instituto Medico Legal, mas não diz o que faz lá. Ao ser descoberto como estuprador de cadáveres, ele fica ainda mais e mais famoso e lhe oferecem mais e mais papéis.
Madonna? A Britnney? Amy nua no Caribe? Angelina e seus filhos ou o projeto “Gimmie Shelter”? Jolie representa uma parcela “inteligente” de Hollywood. Ou melhor dizer, “consciente”. Alguns preferem usar a palavra “culpada”.
Eu não. Qualquer trabalho como o da Amnesty International ou da Human Rights Watch ou da Crisis Group International ou dos Médicos Sem Fronteiras ou de várias dezenas de organizações que REALMENTE trabalham isentamente para tentar amenizar o impacto da miséria sobre a miséria (parafraseando Artaud: “lama sobre lama”),já está ótimo.
Ou será que está mesmo?
O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, decidiu ampliar o pacote que prepara para enfrentar a crise econômica que jogou o país na recessão. Antes, a idéia era investir em infra-estrutura e em corte de impostos para salvar ou criar 2,5 milhões de empregos. Agora, a meta é gastar até US$ 775 bilhões para manter ou criar 3 milhões de empregos.
Então. Não é justamente isso que um plano econômico deveria ser? Ontem, num encontro com um jornalista, articulista de peso aqui em NY, entre uma piada e outra, fazíamos comparações entre a péssima retórica brasileira e o que irá acontecer no mundo e aqui nos EUA.
Mas… exististirão outras colunas para escrever sobre isso, não na véspera de um feriado cristão tão importante.
Trocadilho para além das palavras? Não, trocadilho algum.
O Truman Show? Sim, vivemos dentro dele. Cada passo parece ser coreografado, cada imagem decupada em fotogramas. Cada fotograma, uma série de memórias que “grudam na pele”, como dizia belamente René Gumiel.
Que loucura! 2008 já está quase virando a esquina e eu pensava que não iria construir um único espetáculo. Acabei colocando, somente no Brasil, DOIS:
“O CÃO que INSULTAVA as MULHERES, Kepler, the dog” e “Bate Man”.
E por que falo da memória, Franklin? Ah sim, porque assisti uns documentários tão belos, mas tão belos que esses sim nos colocam mais perto desse lugar que você diz ser mais perto de deus: um era sobre a vida de Luciano Pavarotti. Que coisa maravilhosa! Que figura generosa e que voz. QUE VOZ! Que loucura!
Paulo Francis foi o outro, dirigido pelo Nelson Hoineff. Triste, amargo e com a constante trilha de Liebestod (tema final de Tristão e Isolda, onde o amor encontra a morte e e a morte encontra o amor). Francis em todas as fases da vida.
Deu saudades, óbvio, de uma figura tão…. O que mesmo? Não sei! De um Bernard Levin ou um dos GRANDES cronistas de seu tempo, que foi do Trotskismo até um “Republicanismo Wagneriano” e, mais que isso, Walkiriano. Não sabem? Leiam a respeito.
Quando Richard Nixon responde a David Frost, numa das 7 entrevistas de 2 horas cada, em 1977 ”…quando um presidente comete um crime, nao é crime”, nós, do público, olhamos em volta, nos entreolhamos e pensamos em tudo que vivemos e COMO vivemos: na coreografia de nossas vidas, na repetição infernal do jogo diário, nessa infernal armadilha que é quando caímos e levantamos e acordamos para mais um dia e recebemos a notícia da morte de alguém (em 2008 foram inúmeras) e nos preparamos para mais um dia e mais um dia e mais um dia e no final resta a eterna pergunta: somos números? Números, somente? Sempre fomos. Não somente nas mãos dos políticos que amamos ou odiamos ou dos ídolos que aplaudimos no palco porque nos identificamos com eles mas… quando olhamos pra cima, num céu descoberto… ah! Precisa se dizer mais alguma coisa?
FELIZ NATAL, meus queridos do BLOG!
Volto já!
Obrigado pelos 7 meses de Blog no IG e pela incrível audiência!
UM enorme beijo na equipe toda!
Gerald Thomas
22 September 2008
(Vamp na edição)
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NADA PROVA NADA + vídeo do espetáculo com Nanini e… Desconexão total e Pichadora vai pra Guilhotina
NADA PROVA NADA
Projeto “Gimmie Shelter” de Mick Jagger com Ben Affleck chama atenção sobre situação no Congo, Darfur e lugares de crise real: estupro, genocídio de milhões de pessoas. Mas, primeiro, a crítica do Macksen Luiz, do Jornal do Brasil, hoje, quinta.
“Texto pretensioso de Gerald Thomas expõe crueldade do nosso tempo”
Macksen Luiz, JB
RIO – Gerald Thomas propõe trocadilhos para além das palavras em seu Bate Man, em cartaz do Espaço Sesc, em Copacabana, como se a ação, ou inação, do homem submetido ao “banho de vinho tinto de sangue” fizesse parte do jogo das inevitabilidades do nosso tempo. O indivíduo, torturado pela banalidade da violência, transformado numa peça de carne pendurada numa exposição de atrocidades, se esvai pelas frestas de uma realidade de sentidos duplos e aparências enganosas, que o imobiliza e atrai a sua perplexidade.
O que resta a esse homem, bêbedo do real, mas que desconhece as razões para o que vive, encharcado de incoerência e de culpa. No teatro de meias verdades ou de mentiras cínicas, interpreta o papel do bufão ensangüentado que bebe vinhos de safras incontornáveis e participa de patético desfile de moda, numa antropofágica deglutição da imensa solidão do silêncio dos tempos.
Nas metáforas da existência na atualidade, Gerald Thomas não abandona as citações, a busca de representar o momento com fatos do passado, de reinterpretar significados e reverberar a imobilidade ruidosa. Muita pretensão na exigüidade de uma vinheta teatral? Sem dúvida, mas há nesse texto algo de circunstancial e abusadamente pretensioso no desejo de capturar traços do nosso tempo, de fazer um esboço de compreensão e de imprimir urgência para demonstrar.
A escrita cênica de Gerald Thomas capta a intensidade com que expõe as suas próprias dúvidas e inflexiona a arte contemporânea. A capacidade de criar identidade visual para suas montagens permite que o autor, diretor e cenógrafo deixe, a cada espetáculo, a sua marca também na ambientação. Em Bate Man, a semi-arena coberta de areia, com caixas de vinho espalhadas pelo chão e um simulacro de palco ao fundo, cuja cortina se abre para desvendar atrocidades, confirma a sua mão firme para o desenho da cena.
O ator Marcelo Olinto, que pela primeira vez é dirigido por Gerald Thomas, integrante que é da Cia dos Atores, demonstra nessa estréia ainda alguma hesitação a se integrar ao estilo interpretativo do encenador. Olinto se sai melhor quando sugere o humor e ilustra, corporalmente, imagens mais contundentes – a virulência e a ironia são menos sensíveis ao ator.
Macksen Luiz
Isso mesmo! Gostei, Macksen! Gostei!
NEW YORK -Diáspora Teatral ou “NADA PROVA NADA”
OU O JEITO IRISH DE SER. Inspirado pelas árvores e memórias londrinas de quando o meu carro pifava nas ruas de Putney (bairro no South West da cidade imensa) e a RAC ou a AA (Automobile Association) me salvava em questão de minutos. E por quê? Por um simples motivo: gorjeta! Sim, os carros da Royal Automobile Club ou da AA circulando pela cidade com seus mecânicos irlandeses loucos pra que nossos radiadores explodissem de frio, pois tínhamos que colocar um líquido marciano verde chamado de “anti-freeze”, uma gosma que não deixava a água congelar. Resultado: o primeiro a chegar atendia a urgência, mas depois nos oferecia a troca de qualquer outra parte do carro (“I have a brand new part for you here in my vehicle for only 5 pounds”…) e acabava-se por fazer uma reforma geral, ali na rua mesmo, em 30 minutos: CRIATIVIDADE E PROPINA
Mas por que digo isso? Porque foi assim que fui conhecendo a HISTÓRIA da Irlanda, sul e norte, dos católicos e protestantes, do amor e ódio contra os ingleses, minha paixão pela Guiness e pelo sotaque que depois me foi sussurrado por Beckett nos ouvidos.
Como começar? Quando eu tinha 16 anos e conheci Jill Frances Drower, uma bailarina seis anos mais velha que eu e nos casamos? Será aí?
Gerald Thomas com 15 anos (Foto de Marisa Alvarez Lima)
Essa foto acima foi tirada por Marisa Alvarez Lima -seu maravilhoso livro “Marginalia” cuja introdução é minha, que orgulho! 16 anos e sentei a bunda na British Museum Library…
Não… assim não!
Vou inventar uma maneira mais interessante.
Vou falar em “GIMMIE SHELTER”, o projeto do Jagger no CONGO. Mas falar o quê? Que nós artistas estamos ESGOTADOS E IMBECILIZADOS QUANDO FALAMOS DE NÓS MESMOS????
JAGGER E TODOS OS OUTROS que conseguem transformar a sua arte num projeto social são, de fato, geniais. Claro, o resto (nós), não passamos de ególatras, chatos e pretensiosos. Chatos e pretensiosos.
Nesse século 21, gente, voltamos ao século 17: guilhotina para os chatos e eu sou o primeiro a ir, mas a segunda é essa idiota da pichadora da Bienal. Os terceiros e quartos são os organizadores e participantes da Bienal: vá todo mundo pra puta que pariu!!!
Achem assunto, seus idiotas!
E assim eu fico. Por ora aqui escrevendo sobre o porquê dos irlandeses em Londres ou dos Turcos da Alemanha ou dos Porto-riquenhos em Nova York ou do processo migratório obrigatório: guerra, genocídio, etc ou “oportunismo: grana!” (Europa, Euros; USA, dólares. artigo de Caetano Vilela em seu blog, excelente)
Já que poucos falam sobre a ORIGEM das coisas e a ORIGEM dos fatos, e porque Sean McBride fez o que fez e porque Yehudi Menhuhin tocou o que tocou no dia em que tocou e porque DESTERRADO e EXILADO e Barra PESADA e que GULAG é barra pesada… Nada Prova Nada! Nanini dizia isso como ninguém jamais dirá, no meu “Circo de Rins e Fígados”. Conversei longamente com a minha eterna sogra, a Fernandona, no dia em que deixei o Rio, semana passada. “Nada Prova Nada”. Rimos, choramos, trocamos lembranças íntimas que só dois grandes companheiros de viagens e tempos podem trocar e “Flash and Crash Days” lá se vão e lá se foram. E lá me fui! Lá me vou e la Nave Va.
Boa sorte, todo mundo!
Aqui em New York não tenho de tomar cuidado com os loucos porque… todos falam com seus próprios botões: só que os botões RESPONDEM EM VOZ ALTA!
Gerald Thomas
PS: Este texto só tem algum sentido se for lido ou visto, ou ambos, junto com a entrevista da GNT, logo aqui embaixo.
Congo, Darfur e, portanto… miséria da natureza humana.
De resto? Pichadores? Teatro? M.E.R.D.A. Sobrou pra nós!
(Vamp na edição)
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ENTREVISTA COM GERALD THOMAS AO GNT
A entrevista foi ao ar nesta Sexta-feira, dia 12/12/2008, no programa “Agenda”, do GNT.
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SAPATOS ASSASSINOS
Sapatos como Arma Preferida
Entrar numa guerra é fácil. Sair dela, muitíssimo difícil, já dizia Walter Cronkite.
Bem, ontem, George Bush levou um sapato voador na cara: “Vai e leva isso como presente de despedida, seu cachorro!!”
Wow! Sapatos têm um significado muito especial na política e na nossa cultura: Nikita Kruschev martelava, meio histericamente, com um sapato (soviético?) na bancada da ONU porque queria falar sobre a crise dos míssseis (Baía dos Porcos), lembram? Mas não chegou a tacar seu sapato em ninguém.
JFK teve uma morte trágica. A mais trágica da minha vida. Assim como em 11 de setembro, todos se lembram o que estavam fazendo no dia em que JFK morreu. Meus pais fecharam as cortinas, choraram o dia inteiro e eu, pasmo, olhava aquilo tudo e chorava, pois o nosso apartamento era decorado com fotos do casal Jackie e Jack.
Sapatos: Bush merecia levar mais que isso. E também depende de QUAL sapato. Segundo Susan Sontag (uma colecionadora de botas de cowboy – tinha centenas) Bush (ex Governador do Texas) deveria ter levado uma bota daquelas de John Wayne ou daquelas que Larry King usa diariamente: especialmente pontiagudas.
Ou seria mais propício uma daquelas da coleção de Imelda Marcos? Ah, sim, um salto alto Filipino, comprado com o dinheiro da miséria do povo de Manilla e redondezas, a ex-mulher do ditador Ferdinando tinha mais de mil pares de sapatos em seu armário.
E no Brasil? O que se jogaria num presidente? Bem, considerando que metade da população nem os tem, ou quando tem são meros chinelos… (eles voam bem, mas não doem…) quase não surtiria efeito!
Bush mostrou que se esquivou bem! Se o “ataque” tivesse sido em algum ponto mais ao “norte” e dentro dos confins do assim chamado primeiro mundo, talvez tivesse levado uma boa Timberland na cabeça! Timberland é uma bota pesada, que agüenta qualquer coisa. Seria o Range Rover dos sapatos.
A 37 dias de entregar o governo para Barack Obama, Bush não sai do buraco e, quando tenta sair, BUM! Vem um sapato voador em sua direção. Nada mais teatral.
Eu ia, na verdade, escrever sobre o AUTO-Massacre do ex-marido da Suzana Vieira. E como essa estória me soa completamente absurda. Paranóia, tudo bem, mas se auto-esmurrar e ter energia pra isso até o fim? Como? Bem, nesse mundo existe imaginação pra tudo. Lembrei daquele brasileiro que foi baleado por engano em Londres. A polícia brasileira mandou representantes lá, cobrar satisfações de Ian Blair (chefe da Scotland Yard). Na entrevista coletiva, os repórteres ingleses perguntavam aos representantes do governo brasileiro: “mas vem cá, quantos cidadãos brasileiros não são baleados pela polícia dentro do próprio Brasil e… nada lhes acontece?” – Silêncio.
Certas perguntas e alguns sapatos nos causam constrangimento e, à vezes… silêncio.
Gerald Thomas
PS: Da coluna do JORGE COLI (carderno MAIS da Folha de S Paulo de domingo, 14 Dez 2008)
O país do homem cordial (parte da coluna que diz respeito ao processo judicial que uma jovem pixadora está sofrendo pelo ataque à Bienal do Vazio. Como se trata também de uma “censura artística”, Coli também me cita e faz referência à minha montagem de Tristão e Isolda, Municipal do Rio, 2003)
Nádegas
“A Bienal dizia ser um espaço interativo. Rolou de algumas pessoas entrarem lá para discutir arte contemporânea. O cara que ficou pelado (Maurício Ianês) estava integrado com o sistema, para a gente não é assim.
A arte tem que ser livre”. A frase do pichador Rafael Augustaitiz denuncia o caráter oficial e convencional das vanguardas.
As vanguardas se institucionalizaram e afastaram qualquer liberdade não autorizada, que não caiba em sua ordem autoritária e arbitrária.
Há tempos, Gerald Thomas sofreu um patético processo porque mostrou a bunda no Municipal do Rio, ao ser vaiado por uma excelente montagem.
Se sua bunda tivesse aparecido durante o espetáculo, antes de a cortina baixar, seria artística e livre de perseguições judiciárias.
(O Vampiro de Curitiba na edição)
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A Estréia de BATE MAN (Bait Man) de Gerald Thomas
13/12/2008 DO BLOG DO CAETANO VILELA:
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O Ator, o Diretor, o Autor e o entendimento sobre o Tempo
Marcelo Olinto sob a minha luz, dirigido por Gerald Thomas e fotografado por Daniela Visco no Sesc Copacabana
FOLHA DE SÃO PAULO
São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
TEATRO
GERALD THOMAS DIRIGE O MONÓLOGO “BATE MAN”
Parte do projeto “Auto-Peças”, que comemora os 20 anos da Cia. dos Atores, o monólogo “Bate Man” estréia amanhã no Rio, no Teatro de Arena do Espaço Sesc (r. Domingos Ferreira, 160, Copacabana; tel. 0/xx/21/2547-0156; qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h30; R$ 16; classificação: 16 anos; até 21/12). “Bate Man” é o primeiro solo de Marcelo Olinto e tem direção de Gerald Thomas.
FOTOS DE DANIELA VISCO
DO BLOG DO CAETANO VILELA
Mal terminaram as óperas no Teatro S.Pedro/SP no domingo passado eu já embarquei para o Rio de Janeiro, na segunda, para outra parceria na iluminação (de última hora, mas sempre em boa hora!) com Gerald Thomas. Falo sobre “Bate Man” escrito e dirigido por GT na forma de um monólogo para Marcelo Olintho (acima num ensaio, fotografado por mim) defender no evento-efeméride “Auto Peças”, comemoração dos 20 anos da Cia. dos Atores no Sesc Copacabana.
Mais, depois falo! Enquanto isso o próprio GT dá uma idéia do que aguarda o público carioca, leiam aqui. Estou curioso para sentir as reações, pena que volto para SP neste domingo.
Se joga:
“Bate Man”, concepção/direção Gerald Thomas, monólogo com Marcelo Olintho
Sesc Copacabana/RJ
12 a 21 de dezembro (quinta a sábado 21h/domingo 19h30)
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PARTE DO TEXTO
(Vira de costas e toma mais banho de vinho.
Murmura pra si mesmo.)
Sabe que… eu acho nunca vi….
Sinceramente.
Eu vou dizer uma coisa para vocês…
Ai…
Sinceramente.
Ai….
(pigarreia algumas vezes, como se preparando para falar.
Murmurando.)
Acho que….
Eu nunca achei que agradar a Burguesia seria desperdiçar aquilo, aquilo que eles acreditam ter de melhor. E agora? Que eu fiz tudo isso aqui.
Qual será a próxima?
(tempo, pensando.
Conclui.)
Um banho de caviar?
Banho de caviar.
(olha para baixo e vê caixas de caviar.
Encontra caixas de caviar.
Se assusta com a surpresa.)
Ahhh…
NOSSA QUE COINCIDÊNCIA!!!!
OSSETRA!
BELUGA!
SEVRUGA!
Que loucura, as coisas estão todas aqui.
É uma doideira.
QUE COISA MAIS APROPOS!!!!
APROPOS!!
A PRO POS!!
APROPOS!!!
GENTE QUE LUXO.
CAVIAR VINDO DIRETO DA RÚSSIA, DO IRÃ, DO IRAQUE
Olha agora é sério.
Sério.
TUDO ISSO PRA DIZER O SEGUINTE:
TORTURA VALE A PENA SIM.
VALE A PENA E NÃO É SÓ ISSO NÃO!
NÃO É MESMO.
VALE A PENA RALAR E TER OS SEUS DIREITOS COMPLETAMENTE CASTRADOS, VIOLADOS…
Eu não sei como explicar isso melhor hmmm……
Vou tentar explicar…. é….. é…. é…. CONFISCADOS… RAPTADOS…. é….
NO FINAL DE UM REGIME ASSIM TÃO, TÃO VIOLENTO, TÃO VIL, TÃO FILHO DA PUTA , CRUEL….
Ah…..VOCÊ TEM COMIDINHAS ÓTIMAS, BEBIDINHAS MARAVILHOSAS, entendeu?
TÃO GOSTOSINHAS.
(descobre alguma coisa genial.
Não acredita.)
E OLHA QUE LOUCURA ESSA AGORA!
MEU DEUS DO CÉU.
Roupas FASHION!
Não posso acreditar.
Um John Galiano direto da próxima coleção de verão!
WOW!
(entra música. Bate Bait se veste e começa a desfilar.)
Bait Man
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Copyright Gerald Thomas
New York – Nov 2008-11-25
Serviço – “Bate Man”
Texto e Direção: Gerald Thomas
Luz: Caetano Vilela
Musica: Patrick Grant
Com Marcelo Olinto
De 11 a 21 de dezembro
Teatro de Arena – Espaço Sesc
Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana
De quinta a sábado, às 21h; domingos, às 19h30
Ingressos: R$ 16
Informações: (21) 2548-1088 / 2549-1616
( O Vampiro de Curitiba na Edição)
Precisamos de Um Figurino para Usar Nessa Recessão!
O Figurino apropriado para a RECESSÃO
Qual seria? Tudo bem, já estamos ouvindo que as coisas vão de mal a pior. Péssimas, pra dizer a verdade. Ninguém gasta mais um tostão em nada. Restaurantes vazios, lojas às moscas, os gigantes da automotive industry entregues às traças e… o mundo um grande cenário de teatro pós-moderno. O que seria isso? Bem, aqueles escombros pós-explosão nuclear que adorávamos colocar no palco: “ruínas que ainda estavam lá onde eu brincava quando menino”, lembranças de Hiroshima, Dresden, etc. Algo como um reator nuclear rachado ou uma hipótese pessimista da pior catástrofe dada errada (ou “Dada” errada: uma Roda de Bicicleta de Duchamp no meio dos escombros!). Uma mulher enterrada como se fosse num holocausto moderno berrando HELP ou HILFE ou SOCORRO mesmo e nem um único ouvido mais a escutá-la no bairro tradicional de Alfama, em Lisboa, ou na Lapa do Rio, onde um rato assado passa por churrasquinho e túnicas africanas lindas apontam que todo dia se comemora o último dia do fim do mundo.
Não, nesses lugares não existe recessão! Não existe a “nova” recessão, porque SEMPRE houve recessão. Então, qualquer novo anúncio passa batido ou vira piada, um gol contra ou mais uma dessas lorotas que se contam no “mundo estrangeiro ultramarino”. Interessante.
Homens iscas. Nada os mordem. Estão lá para serem mordidos, mas nada os mordem.
Diluem suas águas minerais com água da bica. Não se trata de recessão, Zé Mané? Não seria essa a ordem do dia? Então vamos às perguntas básicas: por que os presidentes das nações mentem tanto? Por que não aprendemos NUNCA com o desenrolar da história que a própria história não passa de uma ilusão, assim como uma mera encenação teatral? Ah, claro, e como encenação, o que sobra não chega a ser propriamente um registro físico, documental, mas o que se ESCREVE a respeito dela. E esses escritos são ficção PURA. Melhor ainda, IMPURA. Conclusão: não aprendemos! Somos imbecis? Reagimos a impulsos Pavlovianos? Não nos desenvolvemos? Como seres humanos continuamos a levantar a perna para cada poste que encontramos para mijar? Tão simples ou imbecil quanto isso? Vamos sempre repetir os erros históricos e lorotas de ‘notas oficiais’ para sempre? SEMPRE? Na capa da Folha de sábado, a enorme manchete:
“A crise econômica eliminou 533 mil postos de trabalho nos Estados Unidos em novembro, elevando a taxa de desemprego de 6,5% para 6,7%, segundo informou o Departamento do Trabalho. É o maior corte de vagas em um mês no país desde 1974. Há hoje 10,3 milhões de desempregados nos EUA. Os dados são de novembro, que registrou a 11ª queda mensal consecutiva.”
“Estamos todos PENETRADOS”
Melhor frase do “Quantum of Solace”, o último James Bond, onde pouca coisa se salva, exceto a cena na ópera de Bregenz. Linda. Cortes lindos. Esfaqueamentos encenados num palco e cenários deslumbrantes (de Aida, acho) e tiros rolando pelas coxias entre os “bonzinhos” e os maus!
E a frase: “WE ARE EVERYWHERE, haven’t you noticed?”
-Estamos em todos os lugares, vocês não notaram?
A falência múltipla de órgãos, todos eles, desde o CRASH de todas as instituições financeiras até TODAS as mentiras corporativas que os governos tentam nos empurrar goela abaixo… desde os complôs históricos, a cujos documentos “top secret” nós não temos acesso até gente reescrevendo a história para que o FDA e iguais ou semelhantes agências lucrem com a nossa depressão, ou criem um pânico ou – pior – lucrem com o PÂNICO instalado, O PÂNICO CRIADO pela indústria do terror (ambos os lados!)… Ai, meu deus, Gerald, melhor medir suas palavras! Onde estou querendo chegar? Em Brecht? Num tratado de Heiner Mueller? Num daqueles monumentais e revisionísticos discursos que só fazem mesmo é PROVOCAR mais a ira das instituições como a(s) igrejas, as sociedades organizadas, os sindicatos?
Não, nada disso!
Gostaria somente de poder reduzir tudo isso a um caldo ou à uma essência. E qual? A essência da farsa ou do drama farsesco, ou clownesco, onde (num cenário detonado, como todos os meus são), um ator encontra um Bordeaux 1933 e se lembre do pior de todos os regimes de todos os tempos: o Terceiro Reich. E, logo em seguida, ele encontra um Barolo 1945, ano do fim de tudo isso. Numa mão, ele segura o Bordeaux, noutra o Barolo. Ascensão e Queda. Uma mão e outra, que contraste! E que vinhos!
Algo estranho? A primeira vista pode ser. Mas a meninada de hoje, imbecilizada como está, não notaria as datas, nada teria a comentar. A vida como ela está: Cada vez mais provinciana, reduzida ao TERROR do bairro, ao terror do confinamento das Hiroshimas de suas pequenas e medíocres cabeças!
Como sempre foi, como sempre foi…
Vivemos como sempre vivemos.
Sem causa para muito alarme.
A razão dessa coluna? Um desabafo ocasional contra a falta de cultura que me pega de vez em quando. Só de vez em quando. Quando me pego conversando com 60 jovens que não sabem os nomes BÁSICOS do porquê chegamos aqui, onde estamos hoje. E do hoje que veio da maneira que chegou aqui. Porque não sabem e não leram um único LIVRO que explicasse o porquê de tantas… Ah, não! Não posso ser derrotado por mais um grupo de deslumbrados sem sul, sem norte, sem leste ou oeste!
Ah sim… Tem muita gente lucrando anunciando CRISE, RECESSÃO, etc.
Cuidado: estamos aqui como sempre estivemos.
Gerald Thomas
(O Vampiro de Curitiba ba edição)
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