Monthly Archives: June 2005

"El teatro ya no interesa"

El director estadounidense pasó por Buenos Aires para dictar un seminario sobre la crisis del género.
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por María Ana Rago.
mrago@clarin.com
El director de teatro -de nacionalidad incierta, como él mismo explicará-, Gerald Thomas estuvo en la Argentina durante dos semanas, para dictar un seminario de reflexión destinado a autores, directores y actores, en el que planteó alternativas para que el teatro salga de la crisis universal en la que se encuentra.
¿Por qué "crisis"?
Porque el teatro ya no interesa. La gente no va al teatro. Existen cada vez más actores, pero paradójicamente cada vez van menos espectadores a verlos. No hablo de teatro comercial, aunque también en Broadway va menos gente a los espectáculos. Precisamente en Broadway, hace treinta años había 55 teatros céntricos y ahora existen sólo 18.

¿A qué atribuye la crisis?
La tecnología ofrece demasiadas posibilidades. La televisión, internet, etc. hacen que la gente se quede en su casa. Yo trabajé mucho con (Samuel) Beckett y él ya anticipaba esta crisis. Sus personajes la intuyen.
Durante los últimos seis años de su vida, el escritor irlandés se reunió periódicamente con Gerald para conversar sobre teatro. Thomas capitalizó esa experiencia y la recuerda como algo muy importante en su carrera. "Beckett vivía en París y yo viajaba tres veces por año para encontrarme con él", recuerda. "Durante tres horas, hablábamos. Era una cosa impresionante. Siempre me daba a leer algún nuevo texto suyo, que yo montaba. El último que me dio fue Compañía".
Este reconocido director que visitó nuestro país, habla en un lenguaje en el que se confunden palabras en inglés, portugués y castellano.

¿Dónde nació?
Hay controversias sobre el tema. Tengo certificado de nacimiento en los Estados Unidos y en Alemania.

Pero…, ¿dónde nació?
No sé… Porque a los 28 años, mi madre me reveló que mi padre biológico no era el que me había criado. Y ahí mi vida tomó otro curso, completamente. Revisé toda mi vida, fue traumático. No fue fácil confrontarme con esa verdad. Parece ser que nací en un cuarto de hotel, en Manhattan.
Siendo chico, viajó con la familia que lo crió a Brasil y allí vivió hasta los 14 años. A los 16, se fue a Londres y a los 24, se mudó a Nueva York.
Esta fue la primera vez que Thomas viene a Buenos Aires; había estado antes en la Argentina para el Festival Internacional de Teatro del Mercosur, en Córdoba, en el 94. Este año volverá a participar de ese festival, con su espectáculo Circo de riñones e hígados, una comedia que está actualmente en cartel en San Pablo, en la que, entre otros personajes, "hay uno que sodomiza cadáveres".
"En mis obras hay siempre muchas referencias sexuales", dice. Circo de riñones e hígados, como otros espectáculos suyos, convoca casi exclusivamente al público joven.

¿Fue a ver alguna obra de teatro, acá, en Buenos Aires?
No, no me interesa ver teatro. Yo hago teatro, no voy al teatro, porque me aburre; sentarme a ver una obra es una tortura para mí.
Nadie con más autoridad para hablar de la crisis de los espectadores…

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Trindade Irreverente

Rivais ferrenhos, Antunes Filho, Zé Celso Martinez e Gerald Thomas estão em cartaz com novas peças já consideradas marcos em suas carreiras
por Ana Aranha

» Entrevistas exclusivas com os diretores Antunes Filho, Zé Celso e Gerald Thomas

Os palcos de São Paulo estão em ebulição. O mês de maio chega ao fim com os holofotes divididos sobre três dos mais consagrados diretores de teatro do Brasil – e todos com obras que acabaram de sair do forno. Antunes Filho transforma Antígona, de Sófocles, numa tragédia limpa e simples. José Celso Martinez Corrêa, cheio de paralelos com os dias de hoje, faz uma leitura libertária de "A Luta", terceira parte de Os Sertões, de Euclides da Cunha. E Gerald Thomas, com um texto próprio que ataca mídia, política e decadência, bota o ator Marco Nanini para rodopiar em Um Circo de Rins e Fígados.

É o que há de melhor nos palcos paulistas. A ''trindade'' em cartaz já deixou sua marca na história e se mostra ainda afiadíssima. Os três diretores não cultivam relações amistosas. Nem sequer gostam de falar um dos outros e garantem que não freqüentam as platéias alheias. Antunes Filho despista e atribui a distância ao estilo de interação com o público adotado pelo Oficina de Zé Celso: ''Se ele souber que estou lá, começa a me chamar. Eu morro de vergonha''. Gerald Thomas é mais radical: ''No dia que o taxista não dirige, ele pega táxi? Eu não gosto, não tenho tempo e não vou ao teatro'', afirma. ''Apenas uso o palco como veículo para expressar minhas idéias.''Apesar da surda concorrência, entretanto, os três diretores se assemelham pelo teatro radical que propõem.

Antunes, de 75 anos, escolheu Baco para ser o condutor da história de Antígona, a heroína que prefere ser condenada à morte a obedecer aos desmandos do rei e deixar o corpo de seu irmão apodrecer sem rituais póstumos. Baco começa a peça ressuscitando os personagens. Tira dos túmulos Antígona, Creonte e Ismene, que viverão a tragédia. ''Quero que o público vá se identificando com o arquétipo de um conflito experimentado constantemente pelos homens, da dialética entre liberdade e sobrevivência'', diz o diretor. Toda a trama é pontuada por uma dança erótica e mórbida de um grupo de bacantes.

A adaptação de Antunes já é considerada um dos pontos altos de sua carreira. Para o crítico Sebastião Milaré, essa montagem representa o ápice de uma linguagem que vinha sendo lapidada havia anos. ''É uma busca permanente e um aprofundamento constante na essência da tragédia'', acredita Milaré.

Criador do Grupo Pau Brasil, Antunes segue meticuloso no trabalho com seus atores. A técnica sempre foi sua ferramenta preferida. Graças a ela, Antunes consegue que seus atores desenvolvam uma nova maneira de colocação de voz, quase cantada, que ele chama de ''ressonância''. ''Estou querendo dar uma contribuição à cultura teatral brasileira'', diz. Fã dos clássicos, o diretor enxugou a tragédia até que coubesse nos modernos 50 minutos de apresentação – tudo para atrair o público jovem e mostrar que teatro grego pode ser atual.

Consagrados, olham com lentes diferentes a
mesma atualidade

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Trindande Irreverente – Parte 2

Na ponta oposta do centro artístico de São Paulo, outro grupo teatral também brinca com o público jovem. Zé Celso Martinez Corrêa, de 68 anos, dirige sertanejos que usam de seu instinto para enfrentar um exército despreparado. Os soldados marcham como se evoluíssem num musical da Broadway. Aberto à mistura de referências e pronto para quebrar qualquer regra que lhe apareça, Zé Celso faz surgir no clássico de Euclides da Cunha as caricaturas da governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho, e da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice. Zomba dos líderes inconseqüentes e intolerantes, capazes de cometer atrocidades para atigir seus objetivos.

A Luta, ao contrário da enxuta Antígona, esparrama-se por seis horas de apresentação. Seus atores se revelam cada vez mais afinados com a linguagem interativa de Zé Celso. Para Aimar Labaki, dramaturgo que estudou a trajetória do diretor, a montagem parece ser daquelas que vão deixar o nome marcado. ''Ainda é cedo para afirmar, porque esta é uma obra em progresso. Mas já se pode dizer que ela tem a mesma importância das montagens da década de 60 como Roda Viva, O Rei da Vela e Galileu Galilei'', compara Aimar Labaki.

Zé Celso, que se atira em cena no papel de Antônio Conselheiro, é um provocador contumaz. Quer ''descivilizar'', ''abalar as estruturas'' e, nesse sentido, se aproxima muito do caçula dos exponentes em cartaz, Gerald Thomas. Aos 50 anos e 22 de carreira, o diretor se celebrizou como enfant terrible. Marcou os anos 80 com seu delírio nebuloso Carmen com Filtro e os 90 com a comédia sinistra Flash and Crash Days. Em sua nova peça, o ator-personagem Marco Nanini tenta decifrar mensagens enviadas por um tal de João Paradeiro num jogo que, mais uma vez, alterna a comédia e o macabro. No mundo de Nanini, tudo pode ser encenação, mas nem por isso os acontecimentos perdem um terrível peso desestabilizador. O caos da trama aumenta à medida que a perversão mais secreta do ator – a sodomia – é revelada ao público e, ao contrário do que se espera, o ator passa a ser ovacionado pela imprensa. ''É o que está sendo feito nesses reality shows. Eu me pergunto o que vai ser daqui a cinco anos'', diz Thomas. Para não perder a tradição polemista, o diretor faz ataques contundentes a figuras como o ministro Gilberto Gil e o apresentador de TV Jô Soares.

Evitando o confronto aberto e mantendo as diferenças – talvez até impulsionados por elas -, os diretores reafirmam seu perfil com as novas peças em cartaz. A trinca notável continua a surpreender com estéticas peculiares e maneiras distintas de olhar as mesmas angústias dos tempos de hoje.

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