Monthly Archives: April 2015

Jardel Dias Cavalcanti on “Citizen of the World” (part 2)

Screen Shot 2015-04-29 at 12.29.39 PM
Terça-feira, 12/5/2015
Gerald Thomas: cidadão do mundo (parte II)
Jardel Dias Cavalcanti

“O universo dramático de Gerald Thomas é um campo permanentemente posto à prova. A dor do ser. O fascínio/repulsa pela sexualidade, a ineficácia da comunicação, a investigação dos limites da palavra, a observação perplexa da história.” (Alberto Guzik)

Ao longo e “Gerald Thomas: cidadão do mundo”, vamos tendo contato com a grande e permanente produção teatral, crítica e operística do diretor. Continuamos nosso passeio por esse universo.

Segundo a definição de Peter Brook “companhia é qualquer grupo de gente jogada num espaço (Empty Space), com garra e estória pra contar”. Essa definição de companhia teatral, que Gerald Thomas cita em “Cidadão do Mundo”, deve ter ressoado na sua mente quando da criação de sua companhia, a Dry Opera Company (no Brasil, Companhia de Ópera Seca). Os dois nomes da companhia foram dados por Ellen Stewart do La MaMa, quando Gerald Thomas lá estreou “Trilogia Kafka”, em 1988.

Entre os anos de 1984 e 1988, com “garra e estória para contar”, Gerald Thomas montou mais de dez obras. Entre suas escolhas, levou para o palco a literatura, a música e o pensamento dos grandes mestres (des)construtores da modernidade, Kafka, Beckett, Wagner e o autor contemporâneo Heiner Müller. As apresentações rodaram o Brasil e o mundo: Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Porto Alegre, Viena, Sérvia, Nova York, Munique, etc.

São desse período as peças “All Strange Away” (texto de Beckett), “Quatro vezes Beckett”, “Carmem com Filtro”, “Quartett”, “Eletra Comcreta”, “Carmem com filtro 2.5”, “Trilogia Kafka (Um Processo, Uma Metamorfose, Praga)” e a ópera “O Navio Fantasma”.

Claro que essas apresentações caíram no Brasil como uma bomba atômica, introduzindo uma crise no sistema dos significados da crítica, do público e do próprio teatro brasileiro. Tudo o que se fazia aqui foi espatifado em mil pedaços. Parecíamos provincianos diante de tamanha desconstrução, de tamanha ousadia criativa, de tamanha contemporaneidade. Era preciso um novo vocabulário crítico para se entender o significado da revolução de Gerald Thomas nos trazia. O teatro verdadeiramente contemporâneo nascia no Brasil.

Fernanda Torres in Flash and Crash Days (performing with her mother, Fernanda Montenegro)

Fernanda Torres in Flash and Crash Days (performing with her mother, Fernanda Montenegro)

Os seus textos cênicos, e a genial cenografia de Daniela Thomas, são submetidos pelo diretor a uma ideia de “arte total”, sendo envolvidos pelo universo da música, das artes plásticas, do cinema, da dança, da ópera, das performances. Começa, como ressonância, a pulular textos escritos por Haroldo de Campos, Gerd Borheim, Silvia Fernandes, Sergio Coelho, David George, Alberto Guzik, Flora Sussekind, dentre outros, buscando entender o teatro de Gerald Thomas.

Não bastassem suas obras teatrais, Gerald Thomas intervinha no cenário cultural através de reflexões que eram publicadas nos grandes jornais brasileiros. Atualizava o debate, chamando a atenção para as figuras de Andy Warhol, Francis Bacon, James Joyce, Richard Wagner, Tadeuz Kantor, Freud, Haroldo de Campos, Godard, Peter Brook, Schoënberg, Duchamp, Greenberg, Cage, Stockhausen, Philip Glass, Walter Benjamim, Pollock, Joseph Albers, Pina Bausch, Nelson Rodrigues, dentre outros – todos canibalizados por Thomas em seus escritos e em suas peças – exigindo da crítica e do publico informações mais universais, menos provincianas.

Para Gerald Thomas, a criação da Dry Opera Company gerou bastante sofrimento, como diz: “fui perdendo as pessoas, uma a uma, pra televisão, e o que restou foi ranço”. A primeira fase da companhia foi para ele mais louca: “tínhamos pessoas mais estranhas, mais bizarras”. Nesse momento do comentário, o diretor aproveita para defender sua visão/opção por pessoas homossexuais:

“A homossexualidade tem uma enorme importância sim, positiva digo, na medida em que ela já posiciona a pessoa na contramão desde cedo. Quando se é bissexual, homossexual ou qualquer minoria, aprende-se logo cedo que a barra é pesada e que o mundo será um GRANDE MURO. E, nesse caso, a primeira companhia tinha mais gays do que as outras fases. Eu, particularmente, não me dou bem com héteros, não gosto. Eles são os que regem o mundo, o status quo. Nós, do teatro, somos as vadias, os gays, os malditos”.

Na remontagem de “Carmem com Filtro”, a figura de Philip Glass se faz presente, conduzindo a música e fazendo nascer uma grande amizade, uma relação de admiração mútua entre o diretor e o compositor. Em “Mattogrosso”, de 1989, novamente a parceria com Philip Glass se realizaria. O espetáculo no Rio agradou Thomas: “A montagem carioca de “Mattogrosso” [no Teatro Municipal] foi muito emocionante, com a orquestra ali, embaixo, o coro inteiro ali, naquelas frisas. Agora, depois de reformado, espero que um dia me convidem. Prometo que não mostro mais a bunda.”

Em seguida Gerald Thomas dirige “M.O.R.T.E” (Movimentos obsessivos e redundantes para tanta estética), “Fim de Jogo” e The Flash and Crash Days”. Em “M.O.R.T.E”, segundo ele, trata-se da crise do artista e do criador: “é a crise do criador que nunca para diante do espelho de horrores que a humanidade apresenta a cada dia, disfarçada dos mais diferentes costumes e fardas e fantasias. Somos seres monstruosos e destruidores, predadores, e não temos boas intensões!”.

A energia indomável de Gerald Thomas o fez coordenar ao mesmo tempo três espetáculos: “M.O.R.T.E” e “Fim de Jogo”, que podiam serem vistas alternadamente (quinta, sexta e sábado), enquanto ainda o diretor montava em Stuttgard “Perseu e Andrômeda”. Um fôlego sem fim.

Em “Fim de Jogo” uma dificuldade, ou insatisfação, com a direção da atriz Giulia Gam: “Eu não consegui trazer a Giulia para o universo de Beckett. (…) a Giulinha estava perdida com o Clov, como sempre esteve, e era indirigível, muito ansiosa.”.

Screen Shot 2015-04-29 at 12.29.57 PM

No entanto, Haroldo de Campos, ainda assim, elogiará o trabalho de Giulia com Gerald Thomas. Diz Haroldo: “A grácil Giulia Gam soube perseguir o difícil: transformar-se no seu oposto. Passada ao avesso por uma dura disciplina diretiva, por um passe de magia negra (cinza) de Thomas, transfigura-se em cena num pesado e patético lêmure lunar, cuja passividade, cravada de assustadiça agressividade, se traduz em réplicas tanto mais eficazes quanto mais neutras”. (do livro “Um encenador de si mesmo: Gerald Thomas”, p. 212).

O espetáculo “Perseu e Andrômeda” recebeu crítica favorável em Stuttgard, ocupando uma página inteira de Die Zeit, sendo a primeira ópera de Thomas no Ópera de Stuttgard. Apesar do sucesso, Thomas se contraria: “Mas não gostei de fazer, não gosto dessa música serialista, não gosto dessa música atonal. A não ser que seja Schöenberg, para mim, é um porre esse tipo de música.”

Sobre o espetáculo “The Flash and Crash Days” é uma pena que Thomas fale tão pouco no livro organizado por Edi Botelho, nos deixando com água na boca. Resume o seu comentário às seguintes palavras: “Foi lindo, maravilhoso, porque a minha sogra (Fernanda Montenegro) é divina mesmo, um dos maiores machos com quem já trabalhei, uma palhaça (ríamos o ensaio inteiro)”.

A década de noventa foi bastante criativa para Gerald Thomas, como podemos ver na cronologia de suas obras apresentada no final de “Cidadão do Mundo”. É surpreendente o fôlego do diretor, consequência de sua vontade criativa, de seu ser-para-a-arte. Com encenações no Brasil e nas capitais européias, as obras e a presença crítica de Thomas se faziam ouvir. Não havia possibilidade de se ficar indiferente à peremptória presença do diretor, um dos mais incansáveis trabalhadores do teatro, como se pode ver abaixo.

Inicia-se a década de noventa com a estréia de “Fim de Jogo”, de Beckett e segue-se as seguintes obras: “M.O.R.T.E”, “The sayd eyes of Karlheinz Öhl”, Esperando Godot”, “M.O.R.T.E.2”, “The flash and crash days”, “Saints and Clows”, “O império das meias verdades”, “Narciso”, “Unglauber”, “Dr. Fausto”, “Zaíde”, “Don Juan”, Tristão e Isolda”, “Quartett”, “Chief Butterknife and the hausting spirit of his archenemy kryptodick”, “Nowhere man”, “Babylon”, “Os reis do iê, iê, îe”, “Breve interrupção do inferno”, “A breve interrupção do fim”, “Graal, um retrato de Fausto quando jovem”, “Lorca em um caminhão”, “Moisés e Aarão”, “Raw War”, “Ventriloquest”, além de dirigir o show “O sorriso do gato de Alice”, da cantora Gal Costa.

“Esperando Godot”, de Beckett é encenado por Thomas em Munique, em 1990. O espetáculo não agrada tanto ao diretor. Beckett havia morrido quatro meses antes e Thomas, que já planejara o espetáculo a dois anos, temia que a ideia de oportunismo passasse pela cabeça das pessoas. Também teve problemas de direção com o ator que fazia Estragon, o Edgard Walter, que, como diz Thomas, “sempre queria saber por que isso, por que aquilo e, nessa peça, ou você aceita aquele jogo, dois seres, ali num deserto, que passam o dia se enganando, se enganam o tempo todo, dão rasteira um no outro o tempo todo, ou você aceita esse jogo, ou desiste e passa o papel para outro ator.”

O comentário sobre seu contrato com o Teatro Estatal de Munique nessa época nos diz muito sobre a verve desterritorializada de Gerald Thomas:

“Eu tinha um contrato de cinco anos com o Teatro Estatal de Munique, mas eu não consigo, eu não pertenço a nenhum teatro. Eu não aguento ser funcionário público, e tinha o compromisso de fazer dois espetáculos por ano. Isso praticamente me obrigava a morar em Munique. Então, eu falei: “não quero essa vida, não é isso que eu quero pra mim”. Se fosse um espetáculo por ano ainda dava, mas dois era demais. Enquanto um está em cartaz você já tem que estar preparando o outro, não era o que eu queria. Munique é muito provinciana, não tem uma repercussão no mundo. É uma província e eu estava estourando nessa época, estava sendo requisitado por tudo quanto é teatro na Alemanha. Era Hamburgo me querendo, Berlim me querendo, Stuttgard me querendo, e eu me senti preso ali, num contrato, que não era nada incrível assim. Tinha também uma Ópera de Graz, na Áustria interessada no meu trabalho, e eu não via muito sentido ficar preso ali por cinco anos. Então, desfiz o contrato e paguei a multa que tinha que pagar.”

Do contratato de Munique montou “Esperando Godot” e “Fim de Jogo”, com Bete Coelho preparando os atores, Wagner Pinto na iluminação e Daniela Thomas fazendo os cenários. Ali fez também a leitura “despretensiosa” de todas as peças de Beckett. O escritor irlandês passava a ser quase uma segunda pele para o diretor.

A década para Gerald Thomas estava apenas começando… A Itália o esperava, com um casamento com uma atriz italiana e a montagem de “The Sayd eyes of Karlheinz Öhl” e “os melhores vinhos, acompanhados com pedaços de parmesão” e muito azeite de oliva virgem.

(Continua na parte III)

por Jardel Dias Cavalcanti

Comments Off on Jardel Dias Cavalcanti on “Citizen of the World” (part 2)

Filed under Uncategorized

Antonio Abujamra: gone! Gone too soon!

Antonio Abujamra!

O Homem!!!! Vai me deixar aqui sozinho, chocado e triste?
Quem vai me contar sobre as corridas de cavalo? E sobre o André e a Belinha?

Quem vai me dizer “e eu que ainda não beijei todas as bocas?” E – na minha autobiografia, onde o teu periodo de NY aparece enorme! Junto com o Heiner Mueller,
sem o Heiner Mueller… o ABU!!!! Cacete!!!! Vc me deu “CarmemComFiltro” de presente!!! Sim, vc me alojou no apto do Fagundes e da Clarisse e eu aqui te alojei
no Theater for The New City… com o George Bartenieff e Crystal Field….

De um ENORME beijo na Judith Malina e no Heiner ai em cima e me aguarde. Nao tardarei em chegar.
LOVE
G

Abujamra

Abujamra

Unprecedented reverberation on my Facebook page: 400 + likes in only 3 hours

Unprecedented reverberation on my Facebook page: 400 + likes in only 3 hours

Comments Off on Antonio Abujamra: gone! Gone too soon!

Filed under Uncategorized

From Jardel Dias Cavalcanti – great review about my biography Citizen of the World

Terça-feira, 28/4/2015
Gerald Thomas: cidadão do mundo (parte I)
Jardel Dias Cavalcanti

“Não é o que vocês estão pensando… É o que vocês estão pensando sim. Se é que vocês estão vendo, vocês estão pensando no que estão vendo. Se vocês estão vendo é porque eu encenei, e se eu encenei vocês estão vendo sim. Não é o que vocês estão pensando, não é.” (Gerald Thomas in: Kepler, O Cão Que Insultava Mulheres)

O livro “Gerald Thomas: cidadão do mundo” é uma espécie de autobiografia da criação de Gerald Thomas, organizada por seu amigo Edi Botelho, que foi um dos grandes atores da Companhia de Ópera Seca.

O livro foi editado pela Imprensa Oficial, do Estado de São Paulo, na coleção Aplauso, em 2012. Um presente para os admiradores e estudiosos da obra de Gerald Thomas. No entanto, o livro foi recolhido por um processo judicial por causa de uma frase boba (que não reproduzirei aqui nesta resenha), levada a sério pelo processante. Todos nós, admiradores do diretor, saímos perdendo nessa. O meu exemplar, por sorte, consegui depois de dois anos de buscas, quando finalmente o encontrei em um sebo da cidade de Brasília.

O livro é magnífico! É o mínimo que se pode dizer. Entramos memória adentro na vida e na criação de Gerald Thomas (embasbacados diante de tamanha produção, de tamanho fôlego para colocar tantas peças de teatro e óperas em cartaz, sem falar na sua produção plástica) como se estivéssemos diante da “vontade de potência” de Nietzsche encarnada na sua pessoa. Que pó mágico foi necessário para manter o diretor em pé com tanto trabalho? É o que nos perguntamos. E com certeza temos a resposta: foi o amor ao teatro, uma espécie de “vocação weberiana” da vida para a arte.

Antes de tudo descobrimos que Gerald Thomas não é apenas um planeta, é uma galáxia. Desdobrando-se em várias línguas, vários países, em várias companhias teatrais criadas por ele, criando e recriando seu próprio teatro, circulando em meio a atores, diretores, cantores, afetos e desafetos de todo tipo, vivendo dentro da imprensa e a criticando ao mesmo tempo, circulando no universo das artes plásticas, da música erudita e popular, da literatura, da política, engajando-se em causas humanitárias, polemizando com diretores, atores, cantores, maestros (Berio que o diga) e seu próprio público, construindo amizades exemplares com outros grandes criadores (Haroldo de Campos, Samuel Beckett e Philip Glass e Julian Beck, para início de conversa), enfrentando dia a dia as notícias terríveis do mundo e sua realidade ainda mais terrível e ainda tentando equacionar de forma nada tradicional tudo isso num calderão faustiano (seu inconsciente criativo) que é o seu teatro… Gerald Thomas faz jus ao que sobre ele disse Haroldo de Campos:

“Ele é a vanguarda. O teatro brasileiro hoje, depois do estouro que foi o “Rei da Vela” de José Celso e, antes disso, o estouro que foi “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, a coisa mais inventiva que aconteceu no teatro brasileiro foi o teatro de Thomas. É um trabalho extraordinário, que pode ser objeto desta ou daquela crítica, mas é uma intervenção de um nível como raramente aconteceu no Brasil.” (Haroldo de Campos, em entrevista a Jardel Dias Cavalcanti e Mario Alex – Sibila, n.5, 2003)

Não se espere do livro uma autocomiseração. Gerald Thomas ressalta seus valores, sua realizações, mas não poupa comentários duros aos seus próprios fracassos (serão mesmo fracassos?). Essa sinceridade autobiográfica é rara nos meios artísticos. Tão importante quanto isso, é o fato de que estamos diante de uma autobiografia da criação do seu teatro. Sinal de que, mais importante (mesmo sendo importante) do que traçar um drama apenas pessoal, o que está em jogo é rememorar as impressões que o diretor tem do sua própria obra, marcando aspectos que acha interessantes revelar ao leitor.

O dramaturgo/diretor/encenador não faz em seu relato o papel de um autocrítico distante e frio, ao contrário, se vê em vários momentos jorrando lágrimas ao longo de algumas das páginas do livro devido à intensidade das lembranças. A carga emocional que tem sobre os ombros, em momentos bastante tensos de seu percurso de criador, diz respeito aos momentos de dúvidas, mas também aos momentos de grandes felicidades, como quando montou “Moisés e Aarão”, de Schöenberg, na Áustria. Vale reproduzir a passagem narrada por Thomas:

“A ópera “Moisés e Aarão”, dentro da minha obra teatral, é a coisa mais completa que eu já fiz, não tem nada que se compare a isso. (…) Cada dia eu saia de lá e queria ir para o parque e dizia: Nossa mãe do céu, isso não pode ser verdade! Me beliscava: Isso só pode ser um sonho, não pode ser verdade! E era. Na estreia, vieram amigos meus de todas as partes do mundo. E veio a filha do Schöenberg, a Nuria (…). Ela veio e ficou deslumbrada, ela chorava sentada ali, na plateia. E falou: “Eu vi várias encenações, mas nunca vi nada assim”. Eu fiquei num estado, ali.”

Além de narrar este estado emocional, Thomas não descuida de interpretar a obra de Schöenberg e de comentar detalhes de sua montagem. Ainda traça o significado que a referida obra tem no conjunto do seu pensamento ao narrar a passagem que o faz ir de Schöenberg a Beckett:

“Ele faz o Moisés atravessar aquele deserto de farrapos humanos, chegar na frente, botar a mão na cabeça e falar: “Oh! Palavra. Oh! Palavra que me falta!” Aí começa, para mim, a vida e a obra de Beckett. Palavra que me falta. Costurou para mim, porque o Beckett começa realmente. Ele foi profundamente influenciado por Schöenberg e por esta ópera.”

O início. “Não sei onde nasci (…) tenho três certidões com o mesmo dia e hora, mas em países diferentes”, diz ela ao falar da infância. Gerald Thomas parece ter nascido desterritorializado, deleuzianamente falando. Isto talvez explique sua capacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, fazendo coisas diferentes. O conceito de desterritorialização foi proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari, em “O Anti-Édipo”, para descrever o processo de fuga das estruturas sociais e intelectuais coercivas, que podemos entender como análogo ao processo de descentralização do sujeito narrado nas teorias pós-estruturalistas.

Quando adolescente frequentou o atelier de Ivan Serpa e em contato com o Ziraldo viu alguns de seus desenhos serem publicados na revista O Cruzeiro. O gosto pelas artes plásticas, desenvolvido ali, jamais o abandonaria, levando Gerald Thomas a criar no futuro as próprias imagens dos cartazes e sketches de cenas de suas peças, como também a publicar seus trabalhos em espaços privilegiados como o The New York Times.

A adolescência foi vivida entre Rio de Janeiro, Nova York e Londres, onde se estabeleceu, vindo a estudar “por conta própria” na Biblioteca do Museu Britânico. Jovem curioso entrou de penetra nos ensaio de Peter Brook, como tinha feito antes ao assistir os ensaios de “O Balcão”, de Genet, no teatro Ruth Escobar. Começa a se formar as grandes influências que o marcarão para sempre: “Beckett, Peter Brook, Bob Wilson e Tadeusz Kantor foram as minhas grandes influências. Foi Samuel Beckett quem me deu a vida no teatro.”

Assistindo “O Balcão”, aos 15 ou 16 anos, teve a percepção do valor do teatro do diretor, do encenador: “Foi lá que eu me apaixonei por teatro. Foi lá que eu decidi que aquilo era pintura em todas as dimensões. Aquilo era divino, era maior que o ser humano, era maior que a própria terra e estava dentro de um espaço físico.”

Depois de uma vivência meio errante em Londres, já com vários casamentos nas costas e insônias, criou “Action for Action”, talvez sua primeiríssima criação teatral, baseado nos escritos palestinos de Genet. Mas o que se pode chamar de estreia profissional foi “Verbenas de Seda”, que criou aos 18 anos e encenou no Teatro Opinião em 1972.

A primeira direção teatral foi “A Tempestade”, como uma espécie de workshop prodution. Segundo o próprio Thomas, “foi um fracasso”. Importante para ele, em seguida, foi sua entrada no La Mama, em Nova York, onde deu alguns workshops montando textos de Beckett. Viajou para Frankfurt, Belgrado e Berlin com a “Beckett Trilogy” tendo como atores Julian Beck, Fred Neuman e George Bartenieff, tendo Gerald Thomas a idade de 31 anos. Foi quando Heiner Müeller se interessou pelo seu trabalho. Do contato com Heiner Müeller, surgiu a encenação de “Quartett” no Theater for the New City, em 1985.

Gerald Thomas fala no livro sobre suas grandes amizades. Entre elas com a diretora de teatro Ellen Stewart (do La MaMa) e com o compositor Philip Glass. Ambos parecem irmãos espirituais do diretor. Thomas chega a reproduzir em 5 páginas o depoimento de Glass sobre sua personalidade e seu teatro. Uma avaliação que o diretor considera a melhor que já ouviu na vida. Quem quiser ver na íntegra o depoimento, basta acessar o site do diretor e assistir ao vídeo do depoimento.

Como “jornalista” Thomas teve colunas em O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e fazia ainda o programa Mahattan Connection, além de escrever para o blog da UOL. Esta atividade, aliado ao seu interesse pelas questões político-planetárias, desenvolveu seu senso crítico, seu interesse por discutir questões externas ao teatro, ligadas diretamente aos acontecimentos mais dramáticos de nossa história. E é visível o quanto isso reverberou várias vezes dentro de sua própria produção teatral.

Com a vida dura em Nova York, “com apenas 25 cents no bolso”, eis que a sorte aparece para Thomas – mas, ressalte-se, devido ao seu talento. Foi quando começou a publicar seus desenhos. Além de criador teatral Gerald Thomas desenvolveu a atividade de desenhista, sendo publicado de forma frequente na página de opinião do The New York Times e em revistas como Vanity Fair, The Boston Globe e Atlantic Monthy. Boa parte dessa produção pode ser vista no belíssimo livro “Arranhando a superfície”, que Thomas publicou no Brasil em 2012, pela editora Cobogó. Já casado em Londres com Daniela, filha do Ziraldo, mudaram-se para Nova York e ela torna-se a cenógrafa oficial de suas peças.

Gerald Thomas funda em Londres a Dry Opera Company, que no Brasil se chamou Companhia Ópera Seca e começa, então, sua produção enlouquecida, numa sequência de peças que atordoariam público e crítica brasileira: “Quatro vezes Beckett”, “Quartett”, “Carmem com filtro”, “Eletra Comcreta”. Atores de altíssima qualidade eram escolhidos pelo diretor: Sergio Britto, Tonia Carreiro, Antonio Fagundes, Luis Damasceno, Edi Botelho, Bete Coelho, Beth Goulart, Lu Grimald e Ana Kfouri.

Suas obras despertam a paixão e uma espécie de assombro, renovando a linguagem teatral brasileira, emperrada ainda, com raras exceções, no teatro da palavra, da cuspição de texto. Gerald Thomas parece ter incorporado a ideia wagneriana de “arte total”. Suas peças eclodem com música, referências às artes plásticas de vanguarda, uma visualidade operística/cinematográfica/pictural, e um jorro de palavras que traziam no substrato a própria alma do teatro de Beckett.

Ninguém parecia entender nada, como se a crítica estivesse ainda esperando “significado” para um teatro que explodia numa desconstrução total, numa colagem pós-moderna de referências sofisticadíssimas da arte de vanguarda. Jornalistas mequetrefes entrevistavam pessoas na saída de suas peças perguntando ao púbico se haviam entendido alguma coisa. Era o sinal bruto de nosso provincianismo diante da novidade que o teatro internacional de Gerald Thomas trazia.

Jardel Dias Cavalcanti

Comments Off on From Jardel Dias Cavalcanti – great review about my biography Citizen of the World

Filed under Uncategorized

Masha Froliak and yours truly!

https://mashafroliak.wordpress.com/2015/04/17/walking-on-a-tightrope/?fb_action_ids=10153135623546620&fb_action_types=news.publishes&fb_ref=pub-standard

GT and me 3

(seriously think how you could debate with me the question of incest in the Greek theater and the question of morality in the age of enlightenment)

OR…

Art is FREE. Art is based on risk taking. Those who want to feel safe should stay away.

Gerald Thomas is a playwright and theater director, often argued to be a genius. He has an opinion just about everything. Moreover his knowledge about history most probably exceeds the archive of the British Museum. He often gets bored and depressed but never loses sense of humor. He suffers from insomnia. When it comes to his theater and opera work he can be easily compared to Mephistopheles who seduces his audience and sucks them into the nightmare of his stage. I met Gerald Thomas in the restaurant in East village six years ago; he was eating beef stroganoff.

The cover of one of his books “ The Staging of the Self” describes his work the best: the artist walks on a tightrope holding a tray, which carries a gun shooting at his brains. It is NOT a comfortable life he would say. At times weird- swimming against the current.

GT is profoundly curious about life and about people. We became friends, but it wasn’t reciprocal. He said he was my mentor (he gave me lists of books to read, he critiqued my works and loved to correct any missing articles in my emails). If I were to write a chapter about us it would be called: Me and my stomach (doesn’t tolerate stress) – him and his insomnia.

(insomnia. From one of my interviews)

I couldn’t sleep since I was 9. That’s how I started to draw and paint and my father would be up with me while I was drawing. Couldn’t sleep… But imagine a kid listening to stories about holocaust during dinner-oh, yes, such and such was burnt, his hair was used to make a mattress and so on… And you know, I was in NJ on Thursday and the next Monday I was in Rio de Janeiro. How could I sleep? I didn’t even know where I was.

In the course of six years (but it feels much longer than that) I met two of Gerald’s wives. We exchanged hundreds of emails. I admired his works and fearlessness. But it wasn’t always smooth. Let’s keep in mind that GT also has a huge ego, to, which he readily admits. Moments of total understanding, of creativity and love could turn into moments of fights:

(being an artist or a philosopher borders with fascism. Because when we want to modify the other, when we want to change the other- we are fascists. That is what fascism is.)

GT: If you remember anything great you have said to me, anything inspiring, please remind me. I must have left my memory in Honduras.

GT: Have you secretly become a US Marshall? Telling me what rights I have and which I don’t?

-You really broke my heart!

GT: It is fixable. Elmer’s Glue does a good job. Or, super bonder.

Several months ago I was flying through Zurich looking through the plane window at the city where GT was lying in the hospital. A day before…

he was careful enough to put on a winter coat, a scarf, winter boots; he put a cheese knife in a pocket and wandered into the woods of the mountains. He was later found half dead half alive (allegedly with a temperature of 17C). I received an email from the emergency medical doctor from Interlaken: I am writing to you to let you know, but not to alarm you, that Gerald was taken in at around 2 am local time in a critical condition, the result of what appears to be an attempt to take his own life with a dangerous combination of sleeping pills, antidepressants and benzos plus others I’m yet not at liberty to divulge. He is checked in under a pseudonym “Sieve. Thomas”.

I was angry and helpless. How dare you- I sent into virtual space. I was in the plane looking through the window and it all seemed like a Paul Auster story- apart from an absurd event by some chance and paradox we appeared to be 20 minutes from each other and yet I couldn’t leave the plane.

(that night. From my interview)

I was looking in the sky, it was getting brighter and I felt this is the best experience I have ever had in my life. I couldn’t feel my body anyway. I couldn’t feel anything. I just felt so peaceful. I couldn’t move my head because it was all frozen so I kept on looking at the same thing- the trees in perspective. I was looking at those trees and I thought this is the most beautiful thing, the most beautiful feeling…But they found me.

Here I have to pause. I am hoping next time I will write about GT it will be about his new production and a book of autobiography. After all it is a new beginning. And there is space for more hurt feelings and for more happy feelings (because of all this complicated dialectic and dualistic thing between people) and most importantly there is space for works of ART that can move you.

NYC

April 2015

Comments Off on Masha Froliak and yours truly!

Filed under Uncategorized

Judith Malina (dead today, April 10) and Günter Grass.

DSC00653DSC00650

Read all about Judith in today’s NYTimes: http://www.nytimes.com/2015/04/11/theater/judith-malina-founder-of-the-living-theater-dies-at-88.html?emc=edit_th_20150411&nl=todaysheadlines&nlid=45896446

My chat with her for Folha de S Paulo (2007)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0410200806.htm?hc_location=ufi

On Apr 13, 2015, at 1:45 PM, Gerald Thomas wrote:

Günter Grass, the German novelist, social critic and Nobel Prize winner whom many called his country’s moral conscience but who stunned Europe when he revealed in 2006 that he had been a member of the Waffen-SS during World War II, died on Monday. He was 87.

Mr. Grass and I had worked together on a Tanztheater project in Weimar in 1997 and I felt very uneasy throughout because he refused to look me in the eyes during the full month we were there, in thE Bauhaus capital.

This last week has been heavily doomed by the deaths of famous counter culture icons, beginning with Living Theater legend, Judith Malina, in New York, last Friday.

Ms. Malina hated Mr. Grass and for a good reason. “This man is a Nazi and will forever be a Nazi” she would scream at the top of her hoarse voice and damaged lungs! “How can you work with a pig like that?”, she would ask me, intent on demolishing the little relationship there was between me and Grass. Her passionate outburst was more than pertinent. Counter culture has different meanings in different societies.

Mr. Grass was hardly the only member of his generation who obscured the facts of his wartime life. But because he was a pre-eminent public intellectual who had pushed Germans to confront the ugly aspects of their history, his confession that he had falsified his own biography shocked readers and led some to view his life’s work in a different light.

In 2012, Mr. Grass found himself the subject of further scrutiny after publishing a poem criticizing Israel for its hostile language toward Iran over its nuclear program. He expressed revulsion at the idea that Israel might be justified in attacking Iran over a perceived nuclear threat and said that it “endangers the already fragile world peace.”

The poem (if one can call it that !), prompted an international controversy and a personal attack from Prime Minister Benjamin Netanyahu. Mr. Grass later said that he had meant to attack Israel’s government rather than the country as a whole.
Mr. Grass was propelled to the forefront of postwar literature in 1959, with the publication of his wildly inventive masterpiece “The Tin Drum.” Critics hailed the audacious sweep of his literary imagination. A severed horse’s head swarming with hungry eels, a criminal hiding beneath a peasant woman’s layered skirts, and a child who shatters windows with his high-pitched voice are among the memorable images that made “The Tin Drum” a worldwide triumph.

In awarding Mr. Grass the Nobel Prize in 1999, the Swedish Academy praised him for embracing “the enormous task of reviewing contemporary history by recalling the disavowed and the forgotten: the victims, losers and lies that people wanted to forget because they had once believed in them.” It described “The Tin Drum” as “one of the enduring literary works of the 20th century.”

Although Mr. Grass was a playwright, essayist, short-story writer, poet, sculptor and printmaker as well as a novelist, it was his role as a social critic that brought him the most notoriety.

For much of his career, he campaigned for disarmament and social change. By the end of the 20th century, however, his uncompromising antimilitarism and his warnings that a unified Germany might once again threaten world peace led some of his countrymen to criticize him as a pedantic moralist who had lost touch with real life.

The revelation of his Nazi past led to accusations of hypocrisy. He revealed it himself, days before a memoir, “Peeling the Onion,” was to be published. Mr. Grass had long said that he had been a “flakhelfer” during the war, one of many German youths pressed to serve in relatively innocent jobs like guarding antiaircraft batteries. But in an interview with the newspaper Frankfurter Allgemeine, he admitted that he had in fact been a member of the elite Waffen-SS, which perpetrated some of the Nazi regime’s most horrific crimes. Yes, counter culture has different meanings in different societies.

“It was a weight on me,” said Mr. Grass, then 78. “My silence over all these years is one of the reasons I wrote the book. It had to come out in the end.”

In his memoir, Mr. Grass reflected on the vagaries of conscience and memory. “What I had accepted with stupid pride of youth I wanted to conceal after the war out of a recurrent sense of shame,” he wrote. “But the burden remained, and no one could lighten it.”

Although he was conscripted into the SS in 1944, near the end of World War II, and was never accused of participating in atrocities (and that is what both Ms Malina and I had doubted), the fact that he had obscured this crucial fact of his background for decades while flagellating his fellow Germans for their cowardice set off cries of outrage.

“Moral suicide,” said the newspaper Welt am Sonntag. The playwright Rolf Hochhuth said it was “disgusting” to recall that Mr. Grass had denounced President Ronald Reagan and Chancellor Helmut Kohl for their 1985 visit to a cemetery in Bitburg where Waffen-SS soldiers were buried, while hiding the fact that he had been in the SS himself.

Mr. Grass’s defenders argued that his social and political influence had been highly positive for postwar Germany, forcing the country to face and atone for its Nazi past. He might not have been able to play that role, they said, if he had been forthright about his own background.

With his mane of black hair and drooping walrus mustache, bifocals slipping down his nose and smoke curling from his pipe, Mr. Grass was almost a caricature of the postwar European intellectual. His books were all but inseparable from his public persona, giving him a unique position in German public life that stretched over more than half a century.

“The Tin Drum” became one of the most widely read modern European novels. It also made Mr. Grass a leading spokesman for a generation barely old enough to have recalled or participated in Nazi crimes.

The book’s hero, Oskar Matzerath, wills himself at the age of 3 to stop growing, and thereafter expresses himself only by pounding drums. He was viewed as representing a German nation so morally stunted that it could not find the courage to prevent Nazism.

An intense antinationalist, Mr. Grass viewed his country with emotions that could flare into fear and hatred. Some critics said the artificially small and weak Oskar Matzerath symbolized what he wanted for Germany.

In the 1960s and ’70s, much of Mr. Grass’s work dealt with the German themes of disillusionment, the militaristic past and the challenges of building a post-Nazi society. His greatest successes of the period were “Cat and Mouse” (1961), about a man whose unusually large Adam’s apple forever sets him apart from the rest of humanity, and the Joycean “Dog Years” (1963), which analyzes three decades of German history and suggests that the country has not progressed much. These two novels, together with “The Tin Drum,” make up what Mr. Grass called his “Danzig Trilogy.”

While he was writing these works, Mr. Grass also campaigned and wrote speeches for Willy Brandt, who was one of West Germany’s dominant politicians from 1957, when he was elected mayor of Berlin, to 1974, when he stepped down after five years as the country’s first Social Democratic chancellor.

Mr. Grass later demonstrated against the deployment of American nuclear missiles in Germany, denounced the German arms industry, and quit the Social Democratic Party, the Berlin Academy of Arts and the Lutheran Church, which he had joined as a teenager after renouncing Roman Catholicism. He criticized both the Lutheran and the Catholic hierarchies as “moral accomplices” of Nazism.

Mr. Grass was a tireless defender of Fidel Castro’s government in Cuba and embraced Nicaragua’s left-oriented Sandinista government in the 1980s. Yet he described himself as an opponent of revolution who viewed “humane socialism” as the ideal society.

He denounced repression in Soviet-bloc countries and attacked governments run by religious fundamentalists, but his criticism was often accompanied by scathing denunciations of Western and especially German capitalism. In opposing the first Persian Gulf war, for example, he focused his anger on his own country, accusing German companies of arming the Iraqi dictator Saddam Hussein.

“Once again, it is Germans who are designing and producing poison gas factories,” he said in an interview. “This is where you really see the German danger. It isn’t nationalism, and it isn’t reawakened neo-Nazis. It is simply the unchecked lust for profit.”

Many of Mr. Grass’s books are phantasmagorical mixtures of fact and fantasy, some of them inviting comparison with the Latin American style known as magical realism. His own name for this style was “broadened reality.”

“Günter Grass’s books present surprising and extremely contradictory combinations of opposites,” the Russian-German writer Lev Kopelev wrote in an essay on the occasion of Mr. Grass’s 65th birthday. “Minutely detailed presentations of real things and scientifically precise descriptions of historical events are melted together with fairy tales, legends, myths, fables, poems and wild fantasies to produce his own special poetical world.”

Mr. Grass was renowned for his wide-ranging tastes. He was an epicure who favored hearty peasant food, and his work exudes the aroma of home-cooked dishes like smoked goose breast and roast pork with sauerkraut and caraway seeds, the preparation and consumption of which he described in loving detail.

His fascination with animals was reflected in book titles like “The Flounder” and “From the Diary of a Snail.” He was a jazz lover, once worked as a jazz musician, and collaborated on “O Susanna,” an illustrated book on the subject published in 1959.

Some critics hoped Mr. Grass would produce a monumental novel encompassing all the great themes that have tormented Germany through its history, and felt betrayed when he did not. Many of his later works were met with both critical and popular indifference.

The dominant German literary critic during most of his career, Marcel Reich-Ranicki, who died in 2013, called him “greatly overrated” and once appeared on the cover of the magazine Der Spiegel ripping apart a copy of one Grass book he especially loathed, “Too Far Afield.” Greatly overrated he was. But now he’s dead and it remains for History to find a place for him in the world of art and fantasy since, so much of his life, played out in reality.

Gerald Thomas
NY – April 13, 2015

About Eduardo Galeano (from the New York Times)

RIO DE JANEIRO — Eduardo Galeano, the Uruguayan writer who blended literature, journalism and political satire in reflecting on the vagaries, injustices and small victories of history, died on Monday in Montevideo, Uruguay. He was 74.

The cause was complications from lung cancer, said his sister Teté Hughes.

Of his more than 30 books Mr. Galeano is remembered chiefly for “The Open Veins of Latin America: Five Centuries of the Pillage of a Continent,” an unsparing critique, published in 1971, of the exploitation of Latin America by European powers and the United States.

Leave a comment

Filed under Uncategorized