New York- Estou escrevendo com o coração partido e lágrimas nos olhos. O vôo da Air France levava meu amigo, o regente/maestro Silvio Barbato.
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Mas vou escrever sobre algo que me deixou extremamente feliz também: a Justiça Brasileira determinou que o menino Sean Goldman deve ficar junto ao seu pai biológico, David Goldman. Esse Blog, já há meses, embarcou na campanha www.bringseanhome.org , chegando, inclusive, a publicar o blog deles na íntegra. Minha correspondência com Mark DeAgelis (coordenador da campanha aqui em New Jersey) é freqüente, muitíssimo freqüente.
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Parabéns à justiça brasileira pela decisão!
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Ao mesmo tempo, essa notícia me pega num dia onde não consigo superar a dor: Silvio Barbato foi meu maestro na mais controversa de todas as óperas que encenei: “Tristão e Isolda”, no Municipal do Rio. Sim, aquela em que acabei mostrando a bunda porque… ah, deixa isso pra lá!
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Olha só que loucura o destino: Fazia anos que Silvio e eu não nos falávamos. Cheguei de viagem, de volta pra NY, na Sexta passada. Surge um e-mail dele: “Posso te ligar pra fazer uma entrevista com você? Em que número te ligo?” Respondi na hora e às 5 da tarde do meu horário o Silvio me ligava da Rádio Roquette-Pinto, no Rio. “Oi cara, que prazer, há quanto tempo, etc..”
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Fomos companheiríssimos desde o “Navio Fantasma”, que dirigi no Municipal do Rio, em 1987, no qual ele era assistente do maestro Eugene Cohen, do Metropolitan, aqui de NY. Anos depois, já maestro, veio o “Tristão e Isolda”. A entrevista foi, primordialmente, sobre Wagner. Richard Wagner e o anti-semitismo. E o GIGANTISMO de Wagner e quantas óperas ainda poderíamos realizar juntos, como “Parsifal”, por exemplo.
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Ele me falou que andava mais fora do Brasil do que “dentro” e falou, repedidas vezes, em Belgrado. Foi uma das conversas mais legais, inusitadas e veio com uma promessa, agora interrompida (nossa, estou aos prantos!): “Vou te visitar ai em New York, cara! Mas depois vou pra ‘minha cidade, Chicago”. Eu te perdôo, Silvio, dizia eu, hoje Chicago é sinônimo de tudo que há de bom, pois é a CIDADE OBAMA.
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Agora veio essa bomba de notícia. O Gustavo Ariani me manda um email ainda ontem à noite dizendo: “perdemos o Silvio Barbato nesse vôo”. Fiquei perplexo, paralisado diante da tela e desabei a chorar, enquanto procurava seu nome em sites, etc.
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Como pode, em pleno século XXI, um Airbus novo ser derrubado dessa forma? Sumir do mapa? Ser controlado não por homens, mas por instrumentos?
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Eu vôo muito, como vocês já perceberam. E o pior, adoro turbulência. Pra mim é como cadeira de balanço! Sinto-me como se estivesse nos braços da minha mãe sendo colocado pra ninar.
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Gente, desculpa, mas não está dando pra continuar. A perda do Silvio é enorme. Não dá pra entender mais nada. Falávamos-nos e falávamos sobre a última ARIA de Tristão, aquela cantada por Isolda, o “LIEBESTOD”, essa palavra que não canso de repetir nesse blog: é o amor através da morte, o “amormorte”, a “morteamor”.
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Silvio, meu mais querido: onde quer que você esteja, nosso coração está com você! Que merda de vida é essa, caralho???? Não dá mesmo pra entender!
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Alguém, algum dia, por favor, me explique!
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And Sean Goldman: we wish you the best life in the world next to your real father, David. And we want you to know that all of América WELCOMES YOU with open arms, kiddo!
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Gerald Thomas
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. Maestro Silvio Barbato (Fotografia enviada por Sandra Barbato, filha do maestro)
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(O Vampiro de Curitiba na edição)
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PS. do Vamp: Pessoal, o Gerald escreveu este texto ontem, na parte da tarde. Ainda não sabíamos da decisão do Supremo de manter o menino Sean aqui no Brasil…
Vai ser complicado explicar para o pai do garoto e para todos os americanos, inclusive para o presidente Obama, como funciona nossa Justiça. Esse caso se desenrola há anos, mas o Supremo precisa de MAIS tempo para julgar. Incrível!!!
Foi só elogiar a Justiça e…
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