TRAIDOR – critica brilhante

“Chega de traidores!” – neste instante, havia um foco de luz apenas no rosto de Nanini e, por fulgor, eu vi Zé Celso no “Rei da Vela”. Dentre muitos temas do espetáculo, o próprio teatro é um, o ator, e ali a gente também pode especular ( ou especularizar?) em Nanini, um ator – um traidor? E a gente também se pergunta sobre a verdade, a das emoções, das nossas próprias tragédias, e do original em nós, não de genialidade inaugural, mas porque começa algo você… e do eu ao você, de si ao Outro, também ali a pergunta de quem é o Outro para mim: ele é um invasor? Virtual? Ou este que me contitui, que sou eu mesmo, que trai… como atuo e traio a mim mesmo? E como o próprio atuar ali alude a alguma verdade quando ironiza, quando nos faz rir das tragédias contemporâneas, quando se diz só, essencialmente… depois de ter sido excessivamente medicado, de já ter tomado o “crau” no divã do “anallistas”… Os destroços na obra de GT sempre me impressionaram, muito antes de em G.A.L.A. se dizer “Chega de Beckett”, houve tal “Dias felizes” soterratamentos, desmoronamentos… Em G.A.L.A. , apesar desse “chega” ainda há naufrágio, e…mais destroços. Então esse “chega” me parece também uma das ambivalências que a figura de TRAIDOR se diz ser: como “destrói para construir”… Penso que há também na própria figura do Traidor do espetáculo aquele que pode aludir a alguma verdade… Desta vez, há no palco vigas de construção (depois da guerra?) e uma estátua tombada, amarrada de um Nanini que resiste. Tantas perguntas e leituras não se fazem de modo fácil, continuamos, após os aplausos, a buscar com lanternas na escuridão este TRAIDOR, mas é possível fisgá-las entre a suntuosa platicidade de um museu em movimento no palco e associações mais que livres de palavras, temas, sons, rimas, aliterações, que se emendam fora do sentido, formando outros… Por fim, lançando mão aqui da expressão do psicanalista J-A Miller, penso que Gerald Thomas encena e nos dá prova de uma “salvação pelos dejetos”... FROM @ponto.pp

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