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DiZ-Certação DO LIVRO DO MARCIO AQUILES. “SIX-LOGUIE The Anti-Roman Cardinal SIN”

Escrevo esse ensaio na Sexta Feira da Paixão e, ao fechar um dos meus livros preferidos, “Fragmento de Um Discurso Amoroso” constato que o livro do Marcio Aquiles “Artefato Cognitivo Número 7VL0G5IE” estava escondido dentro dele. Escondido dentro dele e dentro de outros. Muitos outros como o “Anti–Édipo”, “Jeckyl and Hyde”, “Labirintos” de Borges, “The Long and Winding Road”, de Lennon-McCartney”, um pouco da massa cerebral de Arthur Koestler e de Tim Leary, partes de “Heart of Darkness” e…. Calma. Calma ! Isso não tem fim e não leva a lugar nenhum.
“LEVA SIM !!!!” Me interrompe a voz do interior !!! Vamos lá. Continue !!! ”
Ok. Além da enorme influencia Beatnik (leia-se William Borroughs), acho que “Cosmopolis de Stephen Toulmin aqui nesse livro do Marcio tem uma importância incrível, mesmo que ele não tenha noção disso. Ah sim e eu vou até citar um “rival” (por assim dizer) do Toulmin, o Rupert Sheldrake que é o pai da ressonância mórfica. O que é isso, você pergunta? É quando alguém inventa algo em um país, digamos, Inglaterra no ano de 1600 e, no mesmo ano, sem nenhuma comunicação, a mesma coisa é inventada na Asia. O mesmo acontece com o comportamento de animais. Enfim, Marcio Aquiles e Toulmin e a ressonância mórfica:
“Fato – Mandado – Prova – Refutação – Conclusão”
Esses seriam os códigos de mediação pós Wittgenstein que arbitrariam o meio de campo entre o absolutismo e o extremismo. Mas como argumentar que a escrita de Marcio Aquiles não é, em si extremista e inacessivel ? Porém, tirando o último fator, o “conclusão” dessa equação, alteramos essa possível realidade e tornamos mais provável.
“Por que tudo isso?”, pergunta a voz. “Aquiles não está sob julgamento. Não cometeu crime” criminoso.
Sim, cometeu. Quem escreve livros, quem se apresenta em teatros…quem, lida com o livre pensar está a um metro de se tornar um criminoso. Não era essa a teoria do Terceiro Reich? E por que descartar o Terceiro Reich?
(Meltdown. Breakdown. Fuck-up. O autor dessa resenha é 3⁄4 judeu e 1⁄4 Native American. Por que então sequer considerar essa merda?)
“Porque existiu PORRA!”
Fácil de responder, talvez. Não. Não tão fácil de responder.

Gerald em off –
“Porque eu sofri muitíssimo ao ler esse livro!”. “E quando se sofre muitíssimo ao ler algo, ao ver algo, ao ouvir e ao tocar em algo é porque esse “algo” é profundo”. “Sim, é isso”.
Fui e voltei de pagina em página, de capítulo em capitulo eu capitulei. Ler em português não é fácil para mim. Acho até jornal difícil. Veja só como é um dos primeiros parágrafos:
“Foi caminhando sem pressa, vendo a confeitaria amarelo-ocre abrir devagar, Catherine Deneuve a pedir no balcão francesinhas, e Mário de Sá-Carneiro, brioches; Simon Williamson tomando sua dose matinal no refúgio desalumiado de seu apartamento; o funcionário dos correios atabalhoado com várias encomendas an- siosas nas mãos; o salão de cabeleireiro cheio de bate-papos com a chegada de Peg Boggs; as crianças com olhos remelentos observando os carros pela janela. Repassou mentalmente as instruções dos nubívagos, porém achou estranho quando lembrou que tinha que virar à esquerda na esquina de uma avenida que era paralela àquela onde se encontrava”.
Eu lia mas não sabia como tratar aquilo do que se tratava. Diferente de Joyce onde eu fingia saber tratar do que se tratava, aqui eu enfrentei minhas barreiras e berrei: “LIVRO SOBRE LITERATURA, peça sobre o teatro olho sobre oftalmologia, música sobre musicologia e assim por diante…. bem-vindo ao cruzamento entre a latitude e a longitude da
metalinguagem com a libertação dela mesma, digo, da metalinguagem através da fantasia e de um ilusionismo bárbaro.
Bárbaro.
Mas e essas instruções?
“
Repassou mentalmente as instruções dos nubívagos, porém achou estranho quando lembrou que tinha que virar à esquerda na esquina de uma avenida que era paralela àquela onde se encontrava”.
Em que tempo era isso? Nas referencias acima evitei citar Kepler ou Copérnico, Einstein ou….Borges ou…Kafka… Galileu… São referencias óbvias assim como seria óbvio fazer menção a Jaipur !
(no posfacio achi uma luz a menos)
“O próprio périplo de Pietra se inscreve em um sistema lin- guístico com alto grau de entropia, em que níveis significativos de nonsense, aleatoriedade e liberdade compositiva imbricam-se em aparente desordem”.
O QUE ?
Quando Vladimir Krysinski escreveu uma bela resenha sobre meu trabalho “Les Theatres Stochastiques de Gerald Thomas” http://geraldthomas.com/images/pdf/krysinski.pdf eu comecei a me valer da inversão da “ordem”, para criar uma organização “alterada” que incomoda por ser atonal e uma desafinada desordem. Algo como um Schönberg ou – diriam alguns – algo como um Stockhausen. Mas Krysinksi escolheu Xenakis. Paciencia.
O problema é que eu já estava apaixonado pelo livro de Marcio Aquiles ! Fazer o que? O que me prendia aquilo ali?
“No entanto, tal convulsão nada mais é que matéria e energia linguísticas em estado de potência, a partir do qual se podem deflagrar múltiplos movimentos e um sem-núme- ro de novas e inusitadas possibilidades de distribuição e arranjo. Muitas das conexões não vêm prontas, embaladas em explicações, linearidades, regras reconhecíveis e relações usuais entre palavras. “
Eu não imaginei chegar tão longe. O que me prendia aquilo ali? Música. Isso mesmo! Música.
Odisseias se vencem ou são acompanhadas de músicas. Isso não é uma lei mas pode facilmente se tornar uma regra diante de tantas palavras (para mim) estranhas num idioma estranho, colocadas ali como se fossem verdadeiros obstáculos a serem pulados numa epopeia “equina”-cionada e propina-cionada propositalmente assim como a poesia concreta transformava as palavras – as vezes – em cubos de gelo baiano nos impedindo de atravessar os mares.
O livro de Aquiles é a verdadeira ARTE. Sim, ARTE. Aquela que Clement Greenberg defende como sendo subcutânea e, portanto, centímetros mais perto do coração e da mente. Expressionista e abstrata sim, sem ser “expressionista-abstrata”.
Na verdade, durante os dias (semanas) de leitura, eu não parei de ouvir uma trilha pirata de Hendrix superposta por uma versão de “Solar” do Miles no piano por Keith Jarrett.
Isso transformou a música numa tela do Joseph Albers e o Castelo de Aquiles Kafka num objeto (dessa vez) alcançável e não repressor. Sim, transformou totalmente a ótica de “meaning” de “castelo” em algo fluido em algo “riverrun” e as palavras em algo totalmente igualmente alcançável pois a percepção trilhava o som enquanto os olhos buscavam a compreensão “da mais absoluta perfeição”…..
A música me ajudava a focar e as letras. As letras entravam em labirintos familiares como se EU estivesse escolhendo as palavras, os assuntos. Eu me tornava o dono do livro. Talvez até o seu autor.
O que acharia disso o (verdadeiro) autor Marcio Aquiles?
É justamente aí que o livro de Aquiles se torna um aliado, um amigo inseparável. Você é que vê … digo…. é você que decide o que lê e quando
lê porque de repente… “O universo delirante (de Burroughs) consegue alcançar com mais profundidade certo tipo de realidade que é tão evocada e exigida pelas instituições
sociais. Mesmo sob o efeito de diversos psicotrópicos, o autor é capaz de ver com maior lucidez a real e per- versa natureza do ser humano”
Sim o ser humano.
O ser humano.
É de você que ele está falando. Você está lendo você.
Dai você cai da cadeira.
Caso haja cadeira.
Caso haja chão.
Gerald Thomas
New Paltz – New York May 2023
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