ACABOU – do www.diretodaredacao.com

MINHA CÂMARA DE GÁS
.

São Paulo – Escrevo na véspera do final de uma temporada teatral muito especial. Uso essa palavra "especial" de forma especial mesmo, porque essa temporada no SESC Vila Mariana, rodando quatro espetáculos simultaneamente foi, para dizer o mínimo, a maior experiência da minha vida.

Mas maior não quer dizer necessariamente melhor.

Melhor quer dizer que tentei. Tentei dar continuidade a história. Ou seja: sou autor. Sou um autor que dirige seus próprios espetáculos. Em quantos países mesmo? Esqueci. Mas escrevo aquilo que vivo e o que vejo, o que penso e o que ouço pensarem alto e baixo, e sussurrarem e conspirarem e transpirarem ao meu redor e distante de mim, porque sou antenado no que aconteceu historicamente e no que acontece neste momento no planalto central ou na Indonésia: o aspecto global me interessa.

Voltar e revisitar a história não me interessa. O teatro é uma arte de risco, assim como todas as boas artes que se prezam. Não sei, mas acham que chamam isso de vanguarda. E digo logo: tenho nojo de gordos obesos e bilionários que contam com a mídia toda a seu favor e montam, de tempos em tempos, como se fosse um hobbyzinho, uma peça de Shakespeare ou algo semelhante. Algo que se diz "classico", algo que não representa os tempos de hoje, que não representa o mundo que Kronos leva para frente apesar da nossa eterna vontade de viver os tempos de outrora, aqueles que achamos maravilhosos, aqueles tempos invisíveis, que nunca existiram mas que imaginamos terem sido incríveis e, portanto, gloriosos.

Esta temporada se fecha com a glória de um Serginho Groisman sendo ovacionado em cena aberta como um novo ator que surgiu na cena nacional. E que ATOR com letras maiúsculas. Que orgulho. Que enorme orgulho!!!!! E essa temporada se fecha com uma Fabiana Gugli arrasando, atriz magistral como ela só, com o seu Juliano Antunes e uma compania nova que achei nos montes dourados de São Paulo, com seus Panchos uruguaios e seus Fabios e todos esses atores que não verei mais depois de amanhã…que loucura meu deus. Obrigado Danilo Santos de Miranda e obrigado Aloisio Vasconcellos por terem me proporcionado o maior risco da minha vida: o asterisco da História.

A minha câmara de gás: o meu enterro e meu renascimento. Como foi lindo tudo isso!

PS: Ontem, sabado, alias….com aquela casa lotada e num estado de nervos raramente tao a flor da pele como eu jamais estive…..acho que finalmente encontrei – pela primeira vez – o gosto gostoso de fazer o meu Asfaltaram o Beijo. Belissima despedida. Belissimo PUBLICO! Partabens pra eles. Obrigado a voces. Por um breve momento, me devolveram o humor e o prazer de estar em cena, estando, literamente olhando fixamente nos olhos de cada um de voces.

PS 2: Do MARAVILHOSO ator GERSON STEVES: O projeto Asfaltaram a Terra foi, uma grande experiência. Mergulhar de cabeça num proceso de criação feito de extremos: ansiedade, cansaço, pressa, risos, raiva, ódio, amor, carinho, sustos, surpresas, lágrimas, prazer e agonia, dúvidas e respostas tão rápidas quanto um raio. que bom reencontrar Gerald Thomas e o seu teatro, fazer parte dessa loucura e contribuir para uma criação tão cheia de detalhes. Que bom dividir o palco com tantos e tão interessantes artistas e técnicos. Um exercício como poucos de criação, desprendimento, humildade, desapego, convivência com as diferenças. Cada dia foi um, foi novo. Obrigado a todos os envolvidos. Obrigado GT pela oportunidade de resgatar um pedaço do meu passado e mirá-lo para o futuro. Beijos, fui!

19 Comments

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19 responses to “ACABOU – do www.diretodaredacao.com

  1. Flavia Juliana

    Caro Gerald,
    sinceramente nao consigo entender porque o senhor eh tao avesso a montagem de classicos shakespereanos e utiliza classicos wagnerianos em seus espetaculos…
    Qual a diferenca?

  2. Vera Cardoni] [Porto Alegre

    Lucas, sou da tua cidade, se for do teu interesse, tenho os livros.

  3. leticia] [rio de janeiro

    Caro Gerald !
    Sou uma especialista em crises.
    Isso mesmo, todos os tipos e formas de crise. Histéricas, fóbicas, de criação, de dramaturgia, e até mesmo de crises de crise, ou vice-versa.
    Também me ofereço para estar na próxima montagem crítica de qualquer espetáculo seu, anti-espetáculo, seja lá o que for.
    Enfim , tenho PHD em crises.
    Love,
    Let.

  4. Mauro Júnior] [Franca / SP

    Querido, Gerald, você é O TEATRO, a VANGUARDA nesse país que pensa TEATRO apenas como entretenimento e burro produto de mercado…
    Espero ainda estar contigo, trabalhar contigo…
    Preciso de um mestre, assim como Beckett para você…
    Esteja em paz e tenha certeza que você é o TEATRO, apenas isso…
    Merda, sempre!

  5. Rodrigo Contrera] [Sampa, SP, Brasil

    Lucas, tudo bem?
    muito bonita tua iniciativa. parabéns.
    desculpe corrigir-te aqui, não tenho teu email.
    em Terra em Trânsito, a Fabi alimenta um CISNE, não um ganso.
    não sei se Um Circo é mesmo considerado o maior sucesso do Gerald. se é, caberia dizer a fonte. só isso.
    de resto, parabéns. beijo
    Contrera

  6. Sandra Oliveira] [São Paulo-SP Brasil

    Foi um momento mágico.Sentada confortavelmente na poltrona, comendo um Sonho de Valsa eu ouvia o Gerald dizer do palco:
    -Sam! Sam!Sam!
    Fiquei chocada, parecia que ele estava me chamando,pois sempre me chamam de “Sam”.
    Tive de me conter para não subir ao palco: -Estou aqui, estou qui!.. e pagar um grande mico. Sei que isso é ridículo e tambem muito engraçado.
    A Arte é mágica…Obrigado!
    SAM
    Sandra Oliveira

  7. Lucas Sant'Anna] [Porto Alegre

    Gerald, querido. Tomei a liberdade de pesquisar no seu site e outros e expandir o seu artigo na wikipedia, http://www.wikipedia.org. Sei que há muito mais informação a acrescentar e o trabalho está pela metade, mas gostaria de te avisar, já que tomei alguns trechos do teu site. Fique livre para convidar pesoas com mais informação sobre sua vida e obra a colaborar. O link para o artigo é http://pt.wikipedia.org/wiki/Gerald_Thomas_Sievers

  8. Andres] [SP

    O que seria do Teatro e da Vida sem os riscos, o que conseguiriamos ser sendo estáticos.Como nos é necessário morrer e renascer sempre, todo dia, todo novo trabalho, com dor e amor. Kronos come seus filhos com toda sabedoria.
    Obrigado por poder morrer sua morte em cena!

  9. Rodrigo Contrera] [Sampa

    dispenso-me de assistir a qq coisa do gordo há muito, muito tempo. só.
    contrera

  10. Cristina] [poa

    passado,presente e futuro estão misturados.A filosofia oriental(O Tao por exemplo)(por motivo deste espaço ser limitado não me estenderei neste assunto por sua alta complexidade) explica muito bem essa sistemática que aliás é milenar(brincadeira).Espero que a peça venha ao sul para eu poder sentir todas essas sensações descritas neste espaço e entender mais da verdadeira arte de vanguarda.

  11. Sandra Oliveira] [Sampa-SP-Brasil

    Gente…, voces deram destaque ao meu comentário…Que surpresa!Que presente!
    A homenagem ao Beckett foi linda:acho a afetividade entre homens algo precioso em meio a tanta selvageria.
    O processo de criação é algo muito sofrido(talvez isso seja meio piegas.., exageramos na dose,e como diz Pessoa “fingimos ser dor/ a dor que deveras a gente sente”). Esse “sentir” faz parte do trabalho do artista.
    Ha muitos anos me formei em Teatro e me aventurei por várias áreas como a educaçao, as artes plasticas, a filosofia e a psicologia. Fiquei com a Ecologia (trabalho hoje com ecoturismo). A vida de teatro aqui na Repuplica das Bananas é dura, a qualidade estética das produções é baixa, tem a máfia local,então preferi me abster e virar platéia.Esse “tiatro” praticado aqui não deu pra mim.
    Querido Gerald: Go, go, go!
    O país do “pé na bola” é pequeno demais para uma mente brilhante como a sua. BY-Sam
    Sandra Oliveira

  12. ernani] [rio preto , sp

    Hi, Gerald. Vi uma entrevista sua na TV Cultura, em q dizia q peças foram filmadas e transmitidas por essa rede, vi inclusive alguns spots. Gostaria de saber aonde encontrar esse material na íntegra, se já lançaram em dvd. Abçs . E lei meu blog :
    http://drernani.blig.ig.com.br

  13. Fábio PInheiro] [Sampa

    Ah, Gerald…o que dizer diante de tudo isso que vivenciamos ou que vivenciei. Posso dizer com todas as letras que, acima de qualquer suspeita, foi algo muito sutil e delicado, especialmente especial. Foi e será extremamente sempre importante pra mim tudo, não só no hoje, pois sinceramente falando, o que sinto é um vazio depois que tudo terminou, não é, ainda não deu tempo de digerir tudo, enfim, mas será importante pra mim na vida. Obrigado, caríssimo, por tudo. Já sinto saudades tuas, muitas. Estou agora eu com um gosto de asfalto na boca mas de saudades. Sentirei muita falta do seu processo repleto de referências, citações, carinhos, aproximação, gargalhadas, amizade sincera, enfim, de você como um todo especial que é. Digo, querido: ainda quero (de verdade), revê-lo, sempre. Quero tirar esse gosto de despedida que sinto. Então, até, Gerald! Thank you! Love: Fábio Pinheiro!!!

  14. Ellen

    Olá Gerald! Preferia estar escrevendo um e-mail, mas vou tentar ser breve nesse comentário mesmo. Sou estudante de música na usp (toco oboé) e apesar de não interpretar peças teatrais, interpreto música. O que não me impede de admirar muito seu trabalho, pelo contrário, faz com que o aprecie ainda mais.
    Ontem, ao final da apresentação falei com um dos seus atores e ele me indicou esse blog, o qual não conhecia. Fiquei muito feliz, já que faz algum tempo que gostaria de conhecer melhor seu trabalho e não sabia como.
    Gostaria de, caso você permita, assistir um ensaio de alguma peça sua, já que estou morrendo de vontade de conhecer todo o processo da sua obra. Vou esperar muito ansiosa algum retorno seu. Muito obrigada pela sua arte. Um abraço sincero!

  15. Lousada

    Parabéns Gerald por conseguir um feito: FAZER TEATRO NO BRASIL. Só não entendo, porque soltar farpas contra os outros. Embora eleitista, o Jô Soares também cumpre um papel levando à elite ignorante do país, um pouco de Shakespeare. Não deixa de ser irônico, que essa classe “dominate” veja-se retratada no palco em Ricardo III- se bem que, suspeito, a ignorânca não lhes permita essa percepção – se bem que de alguma forma eles se deparem com sua própria podridão. Penso que, não é este tipo de público que você busca. Agora, dizer que Shakespeare não representa os tempos de hoje, é desconhecer sua essência. Ele é atemporal, Shakespeare fala do humano. Enquanto houver um ser vivo sobre a face da Terra (ainda que ela esteja asfaltada)Shakespeare estará presente.

  16. Rodrigo Contrera] [Sampa

    Ter liberdade criativa total. Escrever o próprio texto. Vê-lo encenado na peça em que o diretor, o próprio, estréia no palco. Ver-se catapultado ao palco. Ser aceito, mesmo com todos os erros – e acertos, frutos de esforço e acaso. Ver-se catapultado ao palco novamente, com platéia cheia, no espetáculo de encerramento da temporada. Ser incorporado ao elenco.
    Devo tudo isso – E MUITO MAIS – ao Gerald Thomas, pessoa, autor, diretor, confessor – e a toda a companhia que o acompanhou nessa maratona que foi Asfaltaram a Terra.
    Pergunto: quem mais poderia fazê-lo? quem mais tanto?
    Obrigado a todos. A história continua.
    beijos
    Rodrigo Contrera

  17. pancho] [sampa

    obrigado e vou sentir muitas saudades tuas.

  18. Gerson Steves] [Sampa

    O projeto Asfaltaram a Terra foi, uma grande experiência. Mergulhar de cabeça num proceso de criação feito de extremos: ansiedade, cansaço, pressa, risos, raiva, ódio, amor, carinho, sustos, surpresas, lágrimas, prazer e agonia, dúvidas e respostas tão rápidas quanto um raio. que bom reencontrar Gerald Thomas e o seu teatro, fazer parte dessa loucura e contribuir para uma criação tão cheia de detalhes. Que bom dividir o palco com tantos e tão interessantes artistas e técnicos. Um exercício como poucos de criação, desprendimento, humildade, desapego, convivência com as diferenças. Cada dia foi um, foi novo. Obrigado a todos os envolvidos. Obrigado GT pela oportunidade de resgatar um pedaço do meu passado e mirá-lo para o futuro. Beijos, fui!

  19. Rodrigo Contrera] [Sampa

    este sábado, houve, mesmo, calor humano. muito.
    como para quem toma sopas de recompensa. às vezes em abrigos de mendigos, outras em restaurantes chiques.
    foi ótimo e será ótimo. termina este domingo e segunda, um novo recomeço.
    Parabéns, Gerald. Parabéns a todos.
    beijos
    Contrera

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